sábado, 26 de janeiro de 2013

ENTREVISTA THE BRONX


ENTREVISTA THE BRONX
by Mauricio Melo

Os californianos do The Bronx passaram por Barcelona no início do mês de Dezembro como banda de abertura para o The Hives.  Para quem não conhece se trata de uma banda californiana que não sabemos em que estilo encaixar, se punk, punk-rock, hardcore ou mesmo mariachi.  Sim, aquele estilo de música mexicana que se toca como seresta.  Engana-se também quem acha que se trata de um grupo de jovens formado há pouco tempo, nada disso.  A banda já atinge uma década e está prestes a lançar seu quarto disco, The Bronx IV.  A mesma lançou dois mais como Mariachis El Bronx e ainda uma primeira experiência como The Drips ainda no início da década passada.  Desta vez com os Hives, anteriormente com o Gogol Bordello e em algumas ocasiões junto ao Refused.  O que será que tem este grupo para ser tão requisitada por grupos tão diferentes entre si?
Para entender um pouco da história deste quinteto, nos sentamos à borda do palco da sala Razzmatazz em Barcelona, antiga sala Zeleste onde os Ramones gravaram o Loco Live e o Sepultura seu primeiro video oficial, Under Siege, durante a turnê do Arise.  
Apesar do curto tempo, tivemos o simpático vocalista Matt por diante, numa fria tarde de início de inverno.  Conversamos um pouco de tudo e sobre as possibilidades de um dia a banda visitar nosso país.
Os melhores momentos desta entrevista vocês conferem agora.  
Por Mauricio Melo

1 - Disco novo:  Poderia nos adiantar algo?
Como foi gravado, onde, etc?

Matt - Sai em Fevereiro.  Antes de mais nada gostaria de dizer que estamos bem orgulhosos do que conseguimos gravar.  Provavelmente o mais simples e básico álbum de The Bronx.  Não criamos nenhuma expectativa em torno do disco porque na maioria das vezes o resultado não é o que imaginávamos.  E uma das coisas que queríamos era simplificar.  Decidimos então fazer algo estilo Ramones mas ao melhor estilo The Bronx e acho que conseguimos, é um bom disco e estou ansioso pelo lançamento.  Também levou muito tempo entre um e outro.

2 - Sim, esta é outra pergunta que temos.  Cinco anos entre o terceiro e o quarto.  Porque tanto tempo?

Matt - Primeiro porque El Bronx Mariachi foi algo sensacional para a gente.  .  Saimos em turnê, tocamos em diferentes países e tivemos a oportunidade de tocar com muitas e diferentes bandas que sempre respeitamos e tocar em cidades que nunca havíamos tocado antes.  Então quando chegou o momento de decidir entre gravar um segundo disco do Mariachi ou um novo disco do The Bronx ainda estávamos muito conectados com o Mariachi El Bronx e não fazia sentido escrever um disco do The Bronx naquele momento porque nossa inspiração girava entorno do Mariachi.  Então, decidimos escrever o segundo disco do El Bronx.  Então claro que todo este ciclo que compor um disco, gravar e lançar te ocupa por uma ano e meio ou até dois.  Tudo bem que demorar cinco anos é louco, eu acho.  Mas como estamos sempre em atividade seja como uma banda ou como outra não temos a sensação de tanto tempo mas sim, é um tempo considerável sem lançar um disco  e quando finalmente terminamos a última turnê do El Bronx Mariachi todos estávamos ansiosos e desejando ir ao estúdio para gravar o novo The Bronx, foi exatamente o que queríamos.  Todos inspirados, com vontade de plugar os instrumentos e tocar alto.  

3 - Acabamos de comentar sobre a dupla identidade da banda. Poderia contar um pouco sobre El Bronx Mariachi para os brasileiros?  Tipo, como surgiu a idéia, etc.

Matt - O The Bronx é uma banda considerada punk, algo agressivo, banda punk.  Soa bastante punk, tanto como música quanto de mentalidade.  Mariachi El Bronx é nossa versão da tradicional música estilo Mariachi, algo que crescemos escutando já em em Los Angeles onde a cultura latina é muito grande.   Um dia decidimos tocar algumas músicas ao estilo Mariachi porque estávamos sem fazer nada no estúdio e se tornou algo inspirador.  Então é como que todas as músicas que tocamos naquele momento, foi feita por nós, tocamos os instrumentos, aprendemos muito com estes discos.  Muitos instrumentos acústicos, a maioria dos Mariachis não tocam bateria, nós tocamos bateria no disco, todos os integrantes do The Bronx tocam no Mariachi El Bronx e se converteu em algo interessante, é como ter dupla identidade.  E acho que agora com as duas bandas estamos completos, todos os tipos de emoção e coisas da vida, entre as duas bandas temos uma visão de 360º de como o mundo é louco e de o quanto é louca a vida.  Realmente é muito bom, até onde sei somos o único grupo de pessoas que realmente tem duas bandas de maneiras tão separadas tão diferentes.  
Foi muito bem aceito pelo público.  è um momento muito bom para a música atualmente no momento.  Acho que as pessoas definitivamente estão abertas para novidades.  O público está pronto para que os músicos façam algo diferente e não esperar que o artista publique o mesmo álbum sempre.  A mentalidade está muito aberta com relação à arte e música do que há cinco anos atrás.  

4 - Voltando ao disco novo.  Quanto tempo demorou a ser gravado?

Matt - Demorou um mês mais ou menos, escrevemos por e gravamos em nosso próprio estúdio em Los Angeles na cidade de Venice.  Mas compomos o disco em lugares diferentes por estarmos em turnê.  Escrevemos o disco e tivemos mais ou menos uma semana e meia de pré-produção com 7 ou 8 músicas escritas. Então saímos em turnê, voltamos… e fizemos mais umas 6 ou 7 músicas em uma semana, uma semana e meia.  Após fomos ao estúdio e gravamos 14 músicas e doze estarão no disco, foi fácil.  Realmente foi bem legal porque o mundo é louco e sempre temos coisas acontecendo em nossas vidas e esta foi a primeira vez que fomos capazes de... estávamos focados somente em nossa música não existia nada de fora e nada em nosso caminho.  Então foi realmente bom e um momento inspirado para gravar um disco.  

Produtor?
Ele fez nosso primeiro disco, acho que tínhamos umas onze músicas gravadas e Beau…Beau  Burchell que fez The Bronx IV, ele fez seis músicas no primeiro disco do The Bronx, o que significa que ele é um amigo de longa data, ele gravou nossas primeiras músicas em sua garagem.  Então imaginamos que seria legal estar com ele outra vez.  Primeiro porque ele é um excelente engenheiro, segundo por que sabe muito de música e terceiro porque nos conhecia e era como ter um amigo por perto, fácil de lidar e se nos chocássemos com um muro nos ajudaria a contornar.  Foi legal.  

5 - Como você mesmo disse o The Bronx e Mariachi El Bronx tocaram com muitas bandas de respeito como Refused, Gogol Bordello e agora com o The Hives, por exemplo.  Claro que cada uma destas bandas tem um público distinto.  O setlist por exemplo vai de acordo com o público ou o The Bronx é o mesmo independente do público, seja Hives ou Refused?

Matt - The Bronx é o mesmo em qualquer situação.  Tocamos o que queremos, claro que nestes casos tocamos algumas músicas que as pessoas gostam mais, não seremos sacanas de ser radical diante de um público que não é especificamente o nosso mas seremos sempre o que somos, não montamos um setlist de acordo com A ou B porque no final das contas soaremos como The Bronx.  Apenas queremos tocar e nos divertir, não tocar a mesma coisa sempre e sempre.  Tocamos coisas antigas e coisas novas.

6 - E o The Drips? 
Matt - Esperamos que saia algo em breve, estamos trabalhando em cima.  

7 - Estranho porque o The Drips é muito parecido ao The Bronx mas não funcionou.  Alguma explicação?

Matt - Acho que não se trata de que funcionou ou não.  Acho que definitivamente não nos dedicamos tanto a nossa primeira banda.  Gravamos um disco muito rápido, acho que fizemos tudo em cinco dias e foi para fazer algo.  Me sinto feliz por ter feito e que anos depois as pessoas continuem gostando.  Faremos outro já que não teremos pressão, nem expectativas nem nada com o The Drips.  Quando sair, saiu e quatro de nós estamos tão ocupados e também bons amigos com duas bandas e turnês, etc, que não temos tempo para dedicar a algo mais.  Não tenho dúvidas que voltaremos a gravar algo

8 - Se fala muito sobre a crise financeira na Europa atualmente.  Até mesmo aqui na Espanha onde as coisas mudaram muito...Sabemos que as bandas punks americanas não se interessam tanto pela política, a atitude fala mais alto.  Ainda assim, como a banda vê tudo isso?

Matt - São coisas pessoais, cada um vê de um jeito.  Temos muita sorte de ter a vida que temos e poder viajar tanto.  Podemos conhecer novas culturas, diferentes economias e hierarquias sociais.  O que nos deixa triste com estas viagens é que em poucos lugares conseguimos ficar mais do que 24 horas.  Então se torna impossível ter um conhecimento mais profundo da situação.  Hoje mesmo caminhamos por Barcelona por umas três horas, visitamos a praia, a catedral, etc e na verdade que parece estar tudo igual que dois anos atrás quando sabemos que a economia está muito pior.  Claro que me importa saber se as pessoas estão bem ou não mas não é o mesmo que "vi com meus próprios olhos".  Porque temos o conhecimento mas não sentimos as situações, vamos embora amanhã.  Nos importamos porque é algo mundial, não é só aqui.  Uma das coisas que acho realmente legal é sobre o estado atual do mundo.  Parece como há um tempo atrás quando era mais jovem no Estados Unidos, vivendo na América somente pensa sobre a América, só se tem um pensamento e não te importa o resto do mundo e acho  que agora mais do que nunca existe uma ideologia que todos pensamos globalmente.  Você não quer que um mal sistema econômico aqui seja o mesmo sistema econômico ruim em sua "casa" então quando um se machuca se machucam todos e fora isso, por outro lado toda esta situação inspira músicos, poetas e tanta coisa boa pode sair de um momento ruim, como Los Angeles 92.  Sou uma pessoa muito positiva, tenho como já comentei uma sorte de estar viajando e acho que isso me amedronta.  Quero que todos lugares, que a maçã inteira seja boa, não quero que somente os Estados Unidos esteja bem ou que somente Londres seja a melhor cidade, quero que todos se sintam bem.  

9 - Falando em Estados Unidos.  Como você ou a banda vêem a reeleição de Obama?

Matt - Legal.  Exatamente o que falávamos.  Obama é um presidente global.  Ele é bom com o restante do mundo em relações com os Estados Unidos.  O candidato da oposição era um candidato a presidente americano dedicado aos interesses dos americanos, não era um pensador global.  Do tipo: "Esta é nossa maneira de ser e quem quiser que nos aceite".  Obama foi muito inteligente e quando foi eleito o mundo não gostava dos Estados Unidos, levávamos anos numa guerra, um presidente de merda e todos nos odiavam onde quer que fôssemos.  E ele foi inteligente ao restabelecer o nome dos Estados Unidos antes de tudo.  Ele fez isso antes e depois começou a trabalhar em nossa restruturação econômica.  Não é divertido ser destratado por ser americano a qualquer lugar que íamos e foi ótimo que ele tenha feito isso pelos americanos.  Agora, tenho a sensação de que em muitos lugares já não somos o alvo, não somos odiados pela nossa nacionalidade.  Acho que entre outras coisas ele tem feito progressos para que tudo seja comum, público.  

10 - Para finalizar.  Brasil um dia?

Matt - Deus, espero de verdade.  Adoraríamos ir e fazer  El Bronx e The Bronx, tocar duas vezes.  Abrir com o Mariachi e detonar tudo com o The Bronx na segunda parte.  Esperamos de verdade ter a oportunidade em tocar lá.  Quem sabe com o disco novo?

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