sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Du Baú - A Place to Bury Strangers entrevista.



A Place to Bury Strangers - New York
O final da década de oitenta trouxe a decadência do new wave e a explosão das bandas de Manchester um novo movimento que arrombou portas, tímpanos e que por algum motivo, ou atropelado pela avalanche grunge, ficou soterrado e quase esquecido. Este quase esquecido foi o suficiente para dar nova vida ao shoegaze atual, principalmente com o reaparecimento de My Bloody Valentine aos palcos.
Como naquele final de década,muitas bandas seguiram o rastro do MBV e agora não poderia ser tão diferente. A sensível diferença é que a influência deixada pela banda e seu mítico álbum Loveless fez com que uma nova geração antecipasse esse ressrgimento do shoegaze e não seguissem a trilha simplesmente.
Entre os novos nomes está A Place to Bury Strangers, um trio do Brooklyn que já leva o título de banda mais barulhenta da cidade e já avisam:"A cena atual no Brooklyn já não possui clichês, sem essa de que é para rappers e com todo respeito a outras cenas do mundo como Barcelona, Londres, Rio ou São Paulo, mas Nova Iorque é o lugar". A banda, formada por Oliver Ackrmann (guitarra/voz), Jono Mofo (baixo) e Jay (bateria) não apresenta nada de revolucionário. Utiliza a fórmula de camadas sobre camadas de guitarra para dar a atmosfera psicodélica e barulhenta nas canções.
O único diferencial é que Oliver Ackermann cria seus próprios pedais de efeitos, o que dá ao som da banda algo mais personalizado e ao dizer aos rapazes que era notável influências como Cure, Bauhaus e até Sisters of Mercy fui quase carregado nos braços por não compará-los ao Jesus and Mary Chain, que é a comparação mais lógica e direta que a banda recebe, porém deixaram bem claro que nenhuma comparação incomoda e assumem tais influencias; "eram as bandas que escutávamos antes de começar a nossa".
De uma maneira geral, a banda não parece muito preocupada com o amanhã. A postura mais se assemelha a uma banda punk, deixando claro que planos nem sempre saem como desejam. O trio passou por Barcelona três vezes e já tem uma quarta data marcada.  Conferimos de perto tais apresentações e até trocamos as tradicionais perguntas por respotas e os melhores momentos desta entrevista você confere agora. 

Enquanto preparava o gravador numa mesa de bar onde o garçon estipulava um mínimo a ser consumido, começamos a entrevista de outra forma, acabei sendo surpreendido por Oliver com a primeira pergunta.  Como um antigo conhecido perguntava como estavam as coisas em Barcelona e queria saber um pouco mais do Brasil e da Espanha, essas curiosidades e outros detalhas vocês conferem agora.

Nos encontramos pela primeira vez no Primavera Sound 2008 e desde então a banda vem tocando praticamente todos os dias do ano.  A pergunta é óbvia, quando e onde encontraram tempo para trabalhar o disco novo, Exploding Head, podería nos dar detalhes das gravações?
Tivemos dois meses de "férias" e aproveitamos este momento para gravar o disco.  Algumas canções já vinham sendo compostas enquanto estávamos em turnê.  Temos um amigo com um estúdio que acabou nos sedendo naquele momento.  Tivemos tempo para trabalhar com tranquilidade.  Algumas músicas foram finalizadas nesta época, outras trabalhadas durante uma sessão de rádio que tivemos a oportunidade de fazer e o restante do material foi arrematado em dias.  Inclusive algumas músicas foram feitas uma semana antes de terminarmos as gravações.  Tudo dentro destes dois meses que afinal de férias não tiveram nada, trabalhamos bastante.  

É curioso escutar isto, porque estivemos com o Art Brut há uns meses atrás e nos contou exatamente o contrário, que o terceiro disco saiu melhor por não compor na estrada e ter mais tempo para trabalhar...
Bem, não podemos levar ao pé-da-letra quando dizemos que o disco inteiro foi feito em dois meses.  Sempre estive envolvido com gravações. Durante todo este tempo, entre o primeiro disco e o segundo vinhamos gravando coisas, ainda que não fossem as músicas em definitivo.  Sempre se grava algo experimental, um solo ou um riff.  Tudo isto ficou guardado para quando tivéssemos este tempo livre, e pudéssemos trabalhar com tranquilidade.  O mesmo aconteceu com uma banda que tive antes, foram dois anos trabalhando todos os dias, sempre criando, gravando e regravando, mixando alguma coisa.  Mas também acho que muitas músicas ficam boas a base do improviso e feitas no último momento, até porque quando se tem um projeto na cabeça e por mais que não tenha nada gravado sabe exatamente o que fazer e tudo funciona muito bem.  

Já que tocou no assunto, vamos voltar as raízes e sua antiga banda?  Conte-nos um pouco sobre seu início?
Claro, Skywave era o nome desta banda e acabou exatamente quando me mudei para o Brooklyn.  Nesta época, nenhum membro do Skywave estava muito a fim de fazer shows.  Estavam mais interessados em tocar musica para eles mesmos.  Éramos muito amigos e foi difícil deixá-os, até porque musicalmente nos encaixavamos muito bem.   Tudo era muito bom mas quando se está em Fredericksburg, Virginia, e só existem umas 5 pessoas que valem a pena na cena musical de sua cidade as coisas podem não ser tão legais.  O que queria mesmo era tocar todos os dias e estar em constante progresso com meus projetos e a cidade não me favorecia.  Então me mudei e agora estou aqui com vocês.  

O primeiro lançamento de vocês foi praticamente uma coletânea de EPs.  Podemos considerar que Exploding Head é o primeiro disco oficial da banda?
Não sabemos ao certo.  Venho tocando este tipo de música há muito tempo e podemos dizer que o primeiro álbum foi um projeto a longo prazo.  Você pega cada um, coloca novas idéias e trabalha o melhor que pode em cima das mesmas e daí podem sair centenas de outros projetos.  Com Exploding Head foi diferente, tinhamos mais idéias, trabalhamos em cima delas com o objetivo único, então podemos considerar que este é oficialmente um primeiro álbum.   


Algum motivo especial para trabalhar com Andy Smith na produção?
Foi produzido por mim e Andy Smith.  Ele nos ajudou mais no final da produção, quando gravamos as vozes.  Ele também nos ajudou em alguns dos EPs antigos e já nos conheciamos.  Porém desta vez trouxe toda uma acessibilidade pop diferente da que estávamos acostumados e de coisas que realmente não conseguiria fazer sozinho.  Foi um dos responsáveis ao resultado final do álbum e foi satisfatório.  

As letras também estão mais trabalhadas já que podemos perceber e escutar melhor sua voz, alguma inspiração especiap para as mesmas?
Bem, podemos dizer que é uma combinação de todas estas coisas.  As vezes atravessamos maus momentos em nossas vidas, todas as coisas ruins parecem acontecer ao mesmo tempo e algumas pessoas acabam encontrando aí inspirações para compor.  Também pode acontecer ao contrário, estarmos atravessando um momento maravilhoso e estarmos inspirados para seguir com o trabalho.  Ao final é uma mistura de emoções muito fortes e tanto faz se as coisas ruins acontecem em Nova Iorque ou em qualquer lugar, se o momento não é bom para você...acaba sendo um pouco como na música "Dead Beats".  Tudo isso faz parte de nossas vidas e a minha não é diferente. 
Também não podemos negar que livros ou filmes podem te influenciar em alguma coisa mas particularmente nunca fiz algo direto sobre um livro, nada temático.  Muitas vezes você descobre sua vida refletida em outras vidas ou através de algum personagem de livro, lê histórias incríveis mas que de fato já é criação de outro autor.  Acho que não temos nada que tenha sido diretamente influenciado por um livro.  Acredito que "Exploding Head" é um disco de experiências bastante pessoal, é uma combinação de coisas que vem acontecento comigo em especial durante alguns anos, coisas do dia-a-dia.  A vida é uma inspiração.  

Como foi estar no Reading e Leeds Festival em 2009?
Bem, foi incrível e uma honra tocar em festivais tão tradicionais como estes mas tocamos num dia que o line-up não fazia muito nosso perfil, como o Fall Out Boy e todas estas bandas miseráveis (risos).  Não posso negar que passei bons momentos e conheci muita gente mas poderíamos ter tido outro público.  Foi legal num modo geral, ao menos encontramos o Black Lips que também estava "perdido" naquele dia.  Esperamos ser convidados novamente.  

Alguma banda ou disco recente que merece destaque?
Difícil relacionar algo, existem muitas influências mas ultimamente venho escutando discos de bandas muito desconhecidas.  Pessoas que vou conhecendo quando estou em turnê e que acabam trocando discos com a gente, nenhuma banda grande no momento chama atenção.

Como estão seus projetos com a eletrônica, seus pedais personalizados e também sua empresa, Death by Audio? Parece que você tem ótimos clientes.  Como foi o início desta empresa?
Funciona muito bem no momento, como você mesmo disse já é uma empresa e não mais um projeto.  Por questões óbvias não trabalho nela como antes, existem pessoas que trabalham para mim mas ainda responsável pelos designs dois pedais.  Também respondo perguntas, ou melhor, tiro dúvidas quando alguém quer informações mais concretas sobre os pedais.    Sim, tenho alguns bons clientes como Wilco por exemplo.
Iniciei a empresa porque queria encontrar novos sons para minha guitarra.  Comecei a fazer experiencias sem ter a mínima idéia do que podia acontecer e demorou uns dois anos até conseguir algo e neste tempo estraguei algum material.  Antes da nossa primeira viagem para Europa estava focado nisto, queria ter pedais que ninguém tivesse.  Nem tinha idéia de ter uma empresa de pedais mas acabou dando certo.  Na época escrevi um artigo sobre meu primeiro pedal, Total Sonic Annihilation e enviei para Harmony Central que é a comunidade numero um dos músicos na internet.  Fiz umas cópias do artigo e distribui pelas lojas de intrumentos, daí começou tudo.

Um pouco do dia-a-dia da banda, ou pelo menos aqui em Barcelona que vocês tocaram por dor dois dias seguidos e tiveram um pouco mais de tempo livre...
Sim, normalmente viajamos a Europa inteira mas não conhecemos nada porque a cada dia estamos em uma cidade e mal dá tempo de dormir.  Desta vez visitei um museu, almoçei num restaurante e até fiz a tradicional "ciesta" espanhola.  

Falando um pouco do futuro real, saindo de Barcelona já em ritmo de fim de ano, quais os planos para 2010?
Bem, os últimos shows do ano são na Inglaterra e estamos anciosos para estar lá e depois descansar também.  Sairei de férias familiares com meus pais e irmão, vamos a Jamaica passar uns dias, escapar do inverno e da realidade.  

Se acontecesse da banda passar pelo mesmo processo do Nirvana, sair do Underground e chegar ao sucesso da noite para o dia mesmo sem ter vontade de fazê-lo, por mais que esta comparação pareça absurda, estariam prontos para lidar com tal coisa?   
Acredito que sim porém não tenho nenhuma ilusão de que isto aconteça conosco.  E se acontecesse acredito que seria de outra meneira e com certeza não me daria um tiro.  Espero ter nossa própria história e possivelmente eles (Nirvana) também tiveram a mesma opinião no início de tudo, nunca imaginaram que poderiam ser o que foram ou que são.

















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