terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Du Baú - The Black Pacific entrevista




Sei que é um erro apresentar uma entrevista ou matéria, qualquer que seja, em primeira pessoa, mas dessa vez vou quebrar o protocolo.  Sabia que um encontro com Jim Lindberg não seria impossível quando a banda confirmou presença no Eastpak Antidote Tour 2010.  Igualmente fiquei surpreso em conseguir sem dificuldades tal encontro.  Tudo bem que contamos com um apoio mais que absoluto da Side One Dummy para estas missões e como The Black Pacific está jogando no time deles tudo acabou sendo facilitado.  Organização do evento igualmente nota dez, já que na noite anterior telefonou para confirmar minha presença e entrevista.  Ao desligar o telefone a ansiedade começou, "maldito" telefonema.  
Cheguei tão cedo que ainda vi o ensaio da banda, logo, fui o primeiro a entrar no backstage e incomodar Lindberg conectado a internet.  Pensei "putz! como te persegui e segui...".  Estive em vários shows do Pennywise e esperava cada lançamento da banda desde que a conheci com Unknown Road.  Quantas vezes a trilha sonora de Hermosa Beach California foi a escolhida para as minhas e porque não, nossas aventuras?  Quem nunca colocou o bonézinho com o bermudão e saiu por aí cantando algum refrão cantado por Jim Lindberg?  Algo que se faz quando se é jovem mas não se arrepende quando atinge a uma certa idade porque nem o tempo apaga tais atos.  Esse sou eu, após a entrevista e ao show, retornei pra casa com um brilho nos olhos, foi como voltar no tempo e descobrir que ainda há tempo pra muito.
Espero que quem leia esta entrevista, goste dela tanto quanto eu.  Gostaria de ter conversado muito mais com o The Black Pacific mas tive vinte minutos que passaram assombrosamente voando.  O que pude perceber é que Jim Lindberg está feliz com sua nova banda e a mesma feliz com ele.  Deseja tudo de positivo aos antigos companheiros e que em breve estará chegando a América do Sul.  
Zona Punk pode se orgulhar de ser o primeiro ou um dos primeiros veiculos no Brasil e na América Latina dedicado ao estilo a publicar uma entrevista com The Black Pacific.
E como ele mesmo disse, Pennywise for life!!! 

Começamos então apresentando a banda?  The Black Pacific já existia como idéia antes de sua saída do Pennywise ou foi algo totalmente recente?
Jim Lindberg: Começou logo após minha saída.  Não queria mais estar na banda, já não era o que foi um dia estávamos discutindo uma série de coisas sobre isto.  Decidi saí mas isso não quer dizer que queria parar de fazer música.  Praticamente na mesma semana que decidi sair da banda telefonei para Alan (Vega) que tinha conhecido numa Vans Warped Tour, excelente baterista e o projeto iniciou.  Foi algo que comecei após o Pennywise mas quero deixar claro que sempre compus músicas enquanto estive na banda, músicas para mim ou para a mesma e algumas das músicas que agora estão com The Black Pacific já tinha escrito há praticamente dez anos, "Kill Your Idols" é uma delas e "No Purpose" que fecha o disco também.  Alan tem um estúdio e logo iniciou a trabalhar nas músicas, participei um pouco mais e as coisas funcionaram muito bem.  Nesta época estávamos com o baixista Davary Latter, um amigo mas que já toca com sua banda e não conseguiu conciliar as duas e teve que sair.  Após gravar o disco, ficamos satisfeitos com o resulstado e conversamos com a Side One Dummy para lançar e adicionamos dois novos integrantes na banda, Marc Orrel na guitarra e Gavin Caswell no baixo e assim demos um início definitivo no The Black Pacific.

Apesar da boa experiência que vocês tem na estrada, Marc como ex-integrante do Dropkick Murphys por exemplo, como é estar numa banda com Lindberg e com toda "bagagem" que ele tem no punk rock melódico?
Alan Vega: Excelente.  Digo, musicalmente acho que nos encaixamos muito bem.  Com tudo que já fizemos por aí, chega a este ponto e as coisas não falham.  
Marc Orrel:  É realmente bom trabalhar com Jim pelo fato dele ser um pioneiro no punk-rock californiano mas não só por isso, particularmente é um cara legal e tudo funciona muito bem.  
Jim:  Estamos todos na mesma banda, tocando a mesma música e até o momento as coisas fluem fácil e confortavelmente, trabalhamos juntos, é isso.  

Quando se fala em Pennywise, Bad Religion ou Biohazard o que vem em mente é uma banda.  Quando integrantes de bandas saem das suas e tem uma nova banda sempre tem aquela marca "a nova banda do..." como Soulfly por exemplo que por mais de década foi a "nova banda do Max Cavallera" até que atualmente já passou desta fase.  Você tem algum receio de que o The Black Pacific se torne de alguma maneira a nova banda de Jim Lindberg, deixando de lado o nome The Black Pacific?
Jim - Definitivamente não.  Sei que vão haver conparações porque minhas composições giram em torno de um estilo, ainda que tenham guitarras punk-rock ou distorcidas pelo fato de ter uma voz marcante sempre haverão comparações.  Porém ao mesmo tempo sinto que esta é uma banda própria e acredito que com cada álbum aconteça o mesmo que aconteceu com o Soulfly.  Porém é impossível ignorar certos fatos, Marc também esteve com o Dropkick Murphys e sempre vão mencionar nossas bandas antigas quando tiverem oportunidades.  Com certeza este disco vai receber muitas comparações mas já no próximo a poeira baixa um pouco.  

Existe algo interessante por trás do nome The Black Pacific?
Jim - Acredito que sim.  Praticamente cresci na praia, como todos sabem em Hermosa Beach e o Pacifico sempre representou uma grande parte na minha vida.  Tinha a vista do oceano diariamente.  Representa grandes lembranças de minha infância mas também um reconhecimento de algo escuro de todas as coisas.  O Pacífico é um nome que fala por si e ao mesmo tempo é imenso e profundo de onde podem vir os maiores medos das pessoas, uma mistura de tudo.

A banda iniciou as atividades como um trio, o que te colocava como guitarrista.  Atualmente como um quarteto, você abandonou a guitarra ou temos duas guitarras no palco, o que deixa o som mais pesado?  Igualmente, como está sendo esta nova experiência?
Jim:  Estou habituado a compor com a guitarra, fiz o disco todo e muita coisa com Shaun Lopez que foi nosso produtor mas sempre soube que quando chegasse o momento de sair em turnê, por não ter experiencia no palco, achamos melhor adicionar um segundo guitarrista.  Como trio, durante as gravações foi legal mas na estrada, dividir o microfone com a guitarra durante todo um show seria complicado então pedi ao Marc para me resgatar.  

Como foi trabalhar com Shaun Lopez?
Jim: Foi fantástico.  Ele teve uma banda bastante conhecida chamada Far, eram bem parecido ao Deftones.  Particularmente gosto muito das guitarras destas duas bandas, são bastante densas.  Ele tem muitos equipamentos vintage (antigos), customisa e personalisa muitos de seus equipamentos o que dá a oportunidade de criar um som diferenciado.  Além de trabalhar muito rápido, ele sabia o que queria desde o princípio.  Sabia como criar os sons de guitarra para nos ajudar onde queríamos chegar e confesso que a primeira vez que escutei as guitarras super densas disse a ele "cara isso é muito e acho que o baixo não vai encaixar, etc", mas ele sabia exatamente o que estava fazendo.  E esta é a vantagem de estar com Shaun, é bastante respeitado, um grande guitarrista e vi de perto durante as gravações.  Muitas vezes tentava umas vinte vezes e sentia que ele tinha vontade de pegar a guitarra e gravar no primeiro take (risos).  

Dois lados de uma mesma moeda.  Por um lado a banda já começa grande, participando de bons festivais como este (Eastpak Antidote Tour) e outros e por outro "abrindo" para o SUM 41 que há anos atrás mais serviriam para abrir para vocês.  É um pouco estranho tudo isso ou apenas uma outra perspectiva?
Alan:  Nos traz uma certa energia porém já não temos nada a provar a cada noite.  Normalmente achamos legal que as pessoas reconheçam nosso valor anterior mas por outro lado é bom estar numa "briga" para chamar atenção para algo novo.
Jim:  Iremos ao palco de qualquer maneira, seja abrindo ou de banda principal.  

Jim, você é bem conhecido por suas letras políticas e músicas como Society, Fuck Authority, duras críticas ao governo Bush.  Por coincidência, este senhor colocou à venda ontem sua auto-biografia e vendeu 220 mil cópias no primeiro dia.  Você vai ler?
Provavelmente sim porque será interessante ver e descobrir quais foram as razões para suas decisões.  As coisas que lembro quando você tem uma banda como Pennywise e fala sobre Bush ser eleito e dizia que as coisas iriam piorar (risos).  Acho que atualmente, olhando para trás, historicamente falando, pessoas terão idéias diferentes.  O problema com os americanos que não se envolvem com a política, é que eles não vêem o mundo da mesma maneira que nós, apenas olham para o próprio umbigo, para o próprio país e não sabem ou imaginam que isso pode afetar ou o quanto pode afetar pessoas de outros países e as vezes são arrogantes ou nos vêem assim.  Me lembro há quinze anos atrás que todos gostavam dos americanos e quando Bush chegou passamos a ser odiados ou mais odiados.  Porém muitos de nós discordamos de sua política e de muitos outros.  Acho que expressei muitas destas opiniões com o Pennywise e com esta banda nova será menos politica ou com uma diferente perspectiva de criticar política.  Bem, isto em meu caso, não deixar pessoas com criar todas as leis e controlar nossa liberdade.  Os americanos falam muito de liberdade mas não temos liberdade de saúde pública, educação, no que os militares fazem, etc.  Estamos atrapados no sistema e é sobre isto que quero escrever agora.  Já o atual presidente está numa situação bastante complicada, herdou um país detonado na crise.  Tem tudo perfeitamente feito?  Claro que não, porém acho que suas intenções são honrosas e tem tentado fazer algo.  É um problema econômico que quase ninguém sabe a solução.  Tivemos altas complicações econômicas e agora é uma situação difícil de reverter.  Acreditamos que ele está fazendo o melhor que pode mas tem muita oposição e não pode fazer muita coisa.  A situação é complicada, política é algo complicado e tinham que juntar forças ao invés de medir extremas direitas e esquerdas, temos que encontrar respostas e soluções para muitos deste problemas. 

Após tantos anos com Epitaph, como é estar numa nova casa, Side One Dummy?
Jim - Gavin é um grande amigo da galera de Side One Dummy e pode responder melhor esta pergunta.  
Gavin Caswell - São dois selos diferentes e consequentemente trabalham de formas diferentes.  Side One é menor, pouca gente e pessoas que trabalham nela são totalmente apaixonadas pelo que fazem.  
Jim - Side One dedicam-se bastante as bandas assim como a Epitaph apesar e menor e acredito que escolhem as bandas que gostam e não bandas que vendem.  Assinam com bandas que com certeza nunca serão número um da Bilboard ou algo do tipo mas fazem um contrato porque gostam da banda, das pessoas que estão nela e não porque apostam que a banda será a nova sensação ou a futura.  

Ao mesmo tempo que estamos conversando aqui, o Pennywise está com malas prontas para tocar no Brasil.  Existe uma grande discussão entre antigos e novos fãns da banda sobre ir ou não ao show.  Uns dizem que a banda nunca será a mesma, outros dizem que pode funcionar, etc, etc.  
Jim - É uma situação dificil pra mim porque o que aconteceu no Pennywise foi uma discordância de opiniões e numa infinidade de pontos de vista e não em um, tanto em estúdio quanto em turnês.  Chegou a um ponto em que minha "voz" já não era ouvida dentro da banda.  Era impossível pra mim decidir algo porque nossas idéias já não encaixavam.  Então, me senti à vontade, forte e orgulhoso da maneira de como saí da banda.  Nos juntamos e disse que as coisas não funcionavam pra mim, já não tinha sentido.  Disse que poderia seguir com a banda se eles concordassem com certas coisas, senão eu mesmo ajudaria a encontrar um novo vocalista, sei que querem sair em turnê por dez meses e merecem fazer isso e não quero segurar ninguém se não quero fazer e depois vocês vão ficar putos comigo.  Porque não quero fazer isso ou não quero gravar no mesmo momento que vocês.  Ajudo a encontrar alguém e sugeri Zoli como vocalista e até adaptalo nas bases de voz para o estilo da banda.  Não foi uma situação pra mim tipo "foda-se galera, odeio vocês!".  Não foi assim.  Disse que se queriam seguir adiante, que o façam.  Se as pessoas querem ir aos shows e escutar músicas do Pennywise e não estou lá, tudo bem.  Ao mesmo tempo para mim é muito estranho em ter uma pessoa cantando músicas que escrevi sobre experiências, sentimentos e visões particulares sobre alguns temas.  É estranho mas ao mesmo tempo sei que Zoli é um excelente vocalista e que podem seguir tocando já que assim escolheram.  Já disse várias vezes que toco este tipo de música desde que tinha doze anos de idade com influências de Descendents e Black Flag e me juntei ao Pennywise com vinte um anos.  Continuarei tocando música do meu estilo, fiz um bom trabalho enquanto estive com Pennywise mas não é porque saí da banda que vou parar de tocar, é algo que vou seguir.

De alguma maneira, sempre vem a tona a palavra divergência de idéias com sua antiga banda.  Alguma mais grave?
Jim - Após todos estes anos com Pennywise talvez nunca tenha me recuperado da morte de Jason (antigo baixista).  Muitas vezes me senti triste, tentava esqueçer e seguir adiante mas a verdade é que quando estávamos em turnê já não era tão divertido assim, foi uma terrível tragédia.  Para os fãns, escutar "Bro-Hymn" é legal, música marcante e tal, sobre amizade, irmandade igualmente foi pra mim um dia.  Porém ir ao palco a cada noite e lembrar de tudo o que aconteceu era muito duro para quem viveu aquele momento.  Outra coisa é que agora tenho família, que começou na mesma época, meu primeiro filho nasceu na mesma época e não tive tempo para processar tudo e minha vida se tornou, pelo menos nos dez anos seguinte, extrema felicidade por ter uma nova família, esposa, filho e paralelamente rara tristeza com tudo que aconteceu.  Tenho muito respeito por eles e por tudo que fizemos e simplesmente já não funcionava.  Queria mudar e acho que fiz a coisa certa, me sinto renovado.  

A pergunta que todo mundo quer ler.  The Black Pacific no Brasil?
Jim - Sim, definitivamente.
Alan - Eventualmente

Alguma mensagem pra galera?
Jim - Pennywise for life e The Black Pacific será uma nova banda a somar na cena musical e acredito que as pessoas de mente aberta irão gostar do que estamos fazendo.  



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