quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Du Baú - The Gaslight Anthem Entrevista por Mauricio Melo e Wlad Cruz em 20/07/2011



Acima, o que conseguimos salvar em vídeo e abaixo a entrevista completa com The Gaslight Anthem em 2011.

Barcelona, 13:23 do dia 7 de Julho de 2011. Exatamente neste dia, o The Gaslight Anthem visita pela primeira vez a cidade Condal como muitos a chamam na Espanha. Do lado de fora da sala Apolo um dia bem normal, um dia que se não fosse o papel formato A4 colado na porta informando o horário das apresentações poderia passar totalmente desapercebido. Um mesmo evento numa cidade como Londres e a coisa poderia ser bem distinta já que a banda foi responsável por lotar a Brixton Academy, entre outras, recentemente. O calor europeu apresenta seu cartão de visita. Uma pequena porta da Sala Apolo está aberta sem vigilância, o que credencia a qualquer ser humano o poder de entrar. Após dois lances de escada já é possível ver a banda, espalhada em diferentes pontos da sala concedendo entrevistas para diferentes veículos. Fomos bem recebidos pelos representantes da Side One Dummy na Europa como de praxe e ainda que quiséssemos ser discretos para não atrapalhar Brian e Alex junto a atual entrevista para uma revista espanhola, o simpático vocalista desvia levemente o olhar e nos cumprimenta como se fossemos amigos de longa data.
Entre este momento e o início de nossa entrevista, uma rápida pausa para fotos, estilo promocional e para fugir do ruido da passagem de som, fomos obrigados a deixar a comodidade do ar condicionado para ir ao terraço da Apolo. Ainda que tivéssemos sombra e água fresca, literalmente, Brian e Alex já davam sinais de cansaço após o show da noite anterior em que foram banda de abertura para o Foo Fighters num lotado ginásio em Madrid. Apesar de não perderem nunca a tão marcante simpatia e humildade, o desafio era de fazer com que a entrevista não soasse repetitiva, ainda que, por obrigatoriedade e por se tratar de uma banda à ser "apresentada" a uma grande parte do público brasileiro, algumas perguntas seriam óbvias mas nada que incomodasse ninguém nos 12 minutos que tivemos direito.
Por falar em apresentar a banda, um rápido highlight sobre eles. Até o ano de 2008 era uma desconhecida banda de New Brunswick (Nova Jersey), um pequeno bairro próximo onde cresceu Bruce Springsteen. Neste ano lançaram seu segundo disco, "'59 Sound" e a vida de Brian (voz) Alex Rosamilia (guitarra), Alex Levine (baixo) e Benny (bateria) mudou por completo. Elogios da imprensa mundial, uma abenção em pessoa e palco de Springsteen (que chegou a classificar o disco como melhor da década), apresentações no David Letterman e participações nos melhores festivais do mundo são alguns dos poucos exemplos que podemos dar do quarteto. Engana-se quem acha que com tudo isso os rapazes enlouqueceram ou se deixaram levar pela fama, muito pelo contrário, continuam levando sua vida com normalidade apesar de disfrutar de mais comodidades. Não mudaram de gravadora, nem de produtor e para a gravação de "American Slang" em 2010, compuseram o álbum num sótão de um amigo, sem essa de ir a uma ilha deserta.
Um pouco desta receita de sucesso, vocês podem descobrir agora. Com vocês, The Gaslight Anthem.




O The Gaslight Anthem está em turnê agora mesmo, bem, pra ser mais correto, finalizando a turnê já que hoje, em Barcelona, a banda encerra a American Slang UK / Europe Tour. Por outro lado vocês tem o The Horrible Crowes, este projeto poderá sair in turnê após uma pausa com o TGA ou ficará apenas na função de projeto?
Brian
 - Pensamos sobre isto, não temos certeza porque temos que começar o novo disco do The Gaslight Anthem, isto para começar. Não temos certeza de quanto este projeto pode sair em turnê, veremos. O que sabemos é que não podemos deixar de lado o TGA, teremos que estar focados nesta banda, enquanto isto ficaremos na vontade, tentaremos sim, quem sabe?

Seguindo com o Horrible Crowes. Acreditam que algumas músicas poderiam encaixar ou influenciar na composição do novo disco do TGA?
Brian
 - As vezes acho que sim mas... não realmente (olhando para Alex), talvez não? Talvez "Behind the Hurricane"?
Alex - Sim
Brian - Ainda não sei, é um pouco lento para pertencer ao The Gaslight Anthem. 

Em Glastonbury vocês apresentaram uma música nova, "Biloxi Parish" e há alguns minutos falaram em disco novo do TGA, então matem nossa curiosidade.
Brian
 - Está ficando bom e já temos quatro músicas. Já estamos nos movendo e começamos há três semanas. Possivelmente será lançado em Maio ou Junho do próximo ano. Não temos pressa para um lançamento, queremos lançar algo realmente bom.

Igualmente neste festival podemos conferir uma grande diversidade no público da banda, haviam jovens de 18 anos e pessoas bem mais velhas com 40 ou até 50 anos cantando todas as letras. Podemos considerar que o TGA por ter um público mais variado, tem um público mais sólido? Ou seja, não é um grupo que desperta a atenção somente dos jovens, as letras atingem diferentes faixas etárias?
Brian
 - Estes são nossos shows, todas as idades.
Alex - Acredito que esta variação, esta mistura, é um ponto forte.
Brian - É uma "construção" sólida. Pelo fato de não sermos tão jovens muita gente se identifica, é como se estivéssemos falando ao mesmo nível
Alex - Isso notamos desde o princípio. Na tour do 59 Sound tocávamos para pessoas que se pareciam conosco mas de uma hora para outra notamos gente mais jovem e muitos outros mais velhos, era incrível ver tudo isto, pais e filhos, pessoas de outros grupos, etc.
Brian - O curioso é que não sabemos como chegamos a esta mistura, a este público. O melhor de crescer aos poucos é que evita que pensem que somos estrelas do rock, sei que nossa carreira é relativamente curta mas nada foi da noite para o dia. Não somos um grupo punk mas talvez tenhamos esta ética, é um relacionamento que temos com nosso público, uma identificação.

Sabemos que a Side One Dummy não coloca pressão mas após "59 Sound", internamente, houve alguma pressão para o fato de conseguir superar este disco?
Brian
 - Sim, sempre existe pressão para o próximo disco.
Dentro da banda quero dizer...
Alex
 - não diria entre nós mas acho que coloco pressão em mim mesmo e Brian faz o mesmo e os outros membros também, esta é a idéia. Se você quer fazer a próxima coisa melhor que a última é assim que tem que ser. Após '59 Sound' foi a primeira vez que as pessoas esperavam algo de nós porque até então éramos um grupo desconhecido da maioria. Simplesmente escrevíamos, gravávamos e saíamos em turnê. Com 'American Slang' a coisa não funcionaria assim, sabíamos que tinha que ter o mesmo nível ou melhor que o anterior e que comparações seriam inevitáveis.

Alguma multi-nacional já entrou em contato?
Alex
 - Algumas sim mas nenhuma nos atraiu muito. Acredito que tenhamos que fazer o que mais convenha, te podem oferecer muito dinheiro em algum momento mas isto pode acabar com sua carreira.

Invitável pergunta: como lidar com as situações da internet? Sabemos que recentemente vocês tiveram um problema com um DJ de radio por utilizar uma das músicas do The Horrible Crowes sem permissão...
Brian
 - O que aconteceu é que...o cara...se querem tocar algo na rádio, tudo bem, pode tocar o que quiserem. Podem tocar suas músicas favoritas mesmo que estas não sejam músicas de trabalho ou algo parecido, sem problemas. Mas não coloque na internet! Porque a rapazeada vai baixar, porque vai...isso vai..."matar" todo o processo. Odeio a internet quando se trata de música (e Alex começa a rir). Se quero lançar singles como muitos fazem, tudo bem, mas não é assim porque nós lançamos álbuns e gostamos de todo o processo dos álbuns. Não quero que as pessoas pensem que tenho a mentalidade "Ooooh! É meu negócio, eu escrevi!" mas no fundo é nosso disco. Temos o direito de decidir quando as pessoas irão escutar todo o disco ou uma única música. É o único direito que temos como banda, e fazemos álbuns, somos umas das últimas bandas que ainda se dedica a fazer um conceito de álbum.

Porém, existe o outro lado da moeda. 99% do público que o The Gaslight Anthem possui no Brasil provém da internet já que o iTunes não é oficialmente aberto no mercado e os discos chegam através de exportação...
Brian
 - O download em si não é um problema. Claro que gosto que as pessoas comprem o disco em sua forma física, todos gostam. Porém, se o lançamento do disco é num 1º de Janeiro e as pessoas baixam a partir do dia 2, sem problemas, de verdade. O problemas é quando baixam antes, me sinto roubado, é como abrir um presente de aniversário uma semana antes da data. No caso do Brasil, com os custos altos para os discos e a falta de iTunes, que façam downloads, não nos importamos com isto, apenas façam isto após o dia de lançamento e por favor que baixem todo o disco e não duas ou três canções.

A idéia de "Great Expectations" vem do livro de Dickens. Para o novo disco, alguma nova inspiração do tipo?
Brian
 - Para o novo disco teremos bastante de filmes do David Lynch e romances, romances dark. Também voltei a morar em Nova Jersey e tem bastante coisa sobre a "magia" local.

Existe algo pessoal por trás do vídeo de 59 Sound?
Brian
 - é sobre um homem olhando para o passado, para sua vida e tendo lembranças através das fotos e finaliza quando este homem no final é o garoto do início do vídeo. O garoto que segura a foto do homem no inicio é o homem que segura a foto do menino no final. É sobre um homem envelhecendo, nada pessoal com ninguém da banda.



Em seu blog, Cassetes on the Mailbox, você menciona que vem de uma familia religiosa. Esta influencia é utilizada para se expressar quando compõe as músicas? Acredita que suas letras podem ajudar a outras pessoas?
Brian
 - Sempre, sempre utilizo. Está sempre dentro de sua cabeça, nós estudamos numa escola católica (apontando para Alex), cresci protestante mas vejo bastante similaridade com a católica. Está sempre conosco. Cresci cantando hinos religiosos e foi importante para mim, acho que tudo isso teve a ver com nosso exito, falo por mim mas é o que me mantém concentrado. Penso muito sobre de onde vim e para onde vamos quando tudo se acaba, é isso que procuro, e não procuro as festas, badalações ou as drogas e talvez por isso passei de pedreiro da construção com pouco estudo, a estar num grupo de música conhecido. Não sei se todos pensam assim, como disse opino por mim.
Alex - Acabamos de chegar da Sagrada Família, é impressionante.
Brian - Com relação as letras não as escrevo pensando em ajudar ou salvar alguém mas se ajuda à alguém, se tem este lado positivo, não podemos nos queixar, fico feliz.

Nos dois primeiros discos as letras falavam de experiencias de terceiros, em American Slang os temas estavam mais pessoais. Porque esta mudança?
Brian
 - Envelhecemos. Daí começa a pensar em outras coisas, tudo muda quando você começa a conhecer pessoas, países, viajar, etc. Quando está em turnê começa a se deparar com um monte de coisas inéditas em sua vida. Por um lado existe um sacrifício para chegar ao ponto que você quer, quando atinge ao exito, tem que aprender a lidar com questões que existem dentro de você. Quando se chega a uma idade, nos damos conta que alguns sonhos não são tão importantes quanto sua família e pessoas a seu redor.

Qual relação vocês tem com o Jersey Shore Sound e todas as bandas que vem de lá como Springsteen, Bon Jovi, Bouncing Souls, Lifetime, etc?
Brian
 - É perfeito, adoramos...é a nossa coisa.

Existe algo dos velhos tempos do qual vocês sentem saudades?
Brian e Alex
 - (risos) Não, muito sofrimento!
Alex - não sinto falta de trabalhar no mercado.
Brian - não sinto falta de sofrimento.

Vocês tinham idéia de que existe um bom público brasileiro à espera do The Gaslight Anthem?
Alex
 - Nunca me passou pela cabeça.

Alguma chance de nos fazer uma visita?
Brian
 - Definitivamente!
Alex - quero ir para a Copa do Mundo. Principalmente para assistir aos jogos do Brasil se possível.

Obrigado a ambos...
Brian
 - Obrigado a vocês pela oportunidade.


Nós é quem agradecemos.  

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