segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Summercase 08 - Barcelona.




Diante de tantas ofertas no cardápio de festivais europeus, marcamos presença no Summercase que, em sua terceira edição, já pode confirmar seu posto como um dos mais celebrados e disputados do mercado. São menos artistas porém muita qualidade e bom gosto.


Texto e Fotos Por Mauricio Melo


SUMMERCASE 2008
Parc del Fórum, Barcelona 18 e 19 de Julho 2008

Com artistas e público mais seletos, o Summercase Festival acontece de forma simultânea nas duas principais cidades espanholas, Madri e Barcelona. Sempre em uma sexta-feira e sábado, o line-up de sexta em Barcelona é o de sábado em Madri e vice-versa, tudo muito bem organizado, planejado e estruturado.


Haviam três palcos e uma lona para as apresentações. Nos palcos Movistar e Walkman se apresentavam os grandes nomes. No palco Converse, alguns DJs, experimentalismos e emergentes da cena pop/rock/indie. Na lona Levi's rolavam muitos DJs e apresentações de bandas locais e, vale citar, estava sempre lotada. Em stands de patrocinadores havia diversão para todos: lançamentos do Guitar Hero, simuladores de bateria, penteados loucos e exclusivos para o público curtir o festival no estilo.


1º Dia - Sexta-Feira 18/7

Apesar do dia ter começado cedo para muitos, às 16h45, com EASY SNAP no palco Converse, seguido de outros bons nomes como EL GUISANTE MÁGICO e WE ARE SCIENTISTS, foi somente no show de IAN BROWN que a coisa começou a tomar forma. Mesmo o pequeno atraso (coisa não habitual por aqui) não tirou o ânimo do fiel público que se aglomerou diante do palco para cantar e dançar ao som do ex-líder do Stone Roses que, para surpresa geral, não abriu seu set com a habitual “I Wanna Be Adored”, do álbum The Stone Roses [1989], hino na época, mas com a morna “The Sweet Fantastic”, Solarized (2004).

Ainda figuraram no setlist do mítico vocalista “Sister Rose”, do último trabalho, The World is Yours (2007), “F.E.A.R.”, do Music of Spheres (2001), entre outras. Já para o final de sua apresentação recebeu a participação mais do que especial de Gary Mounfield, atual baixista do Primal Scream, ex-membro original do Stone Roses. Não poderia sair nada mais do que uma seqüência para relembrar velhos tempos com “Elephant Stone”, “Waterfall”, “Made of Stone” e “I Am Ressurrection”, todas do primeiro disco daquela que foi banda ícone da geração Madchester.

Um pausa para um respiro até a entrada do GRINDERMAN. Liderado pelo eterno mal- humorado Nick Cave, acompanhado de alguns membros de sua banda atual, os Bad Seeds e ainda ex-integrantes do Cramps. Um projeto paralelo que vem dando certo, algo no formato garage-punk-blues muito barulhento. Uma diversidade de instrumentos no palco, todos tocando vários ao mesmo tempo, o próprio Cave se desdobrando entre piano e guitarra, além de sua inconfundível e grave voz; Warren Ellis tocando guitarra e chocalhos ao mesmo tempo. Abriram com “Get it On”, simplesmente destruidor, ainda que passassem pela lista músicas como “Love Bomb” e “Go Tell the Women”, todas de seu único disco, Grinderman (2007). Excelente.

Apesar de não ser conhecida por seu mau humor como Nick Cave ou exigências extrapolantes, Debby Harry e sua banda BLONDIE fez uma exigência com relação à imprensa: não deixou os fotógrafos se aproximarem do palco, ou seja, trabalhar na área reservada. Quem quisesse que fotografasse do meio do público e conseguisse o melhor ângulo. As más línguas diziam que era para esconder a idade.

Independente do ano de nascimento de Debby, abrir um show com “Hanging on the Telephone”, cover do The Nerves foi para deixar qualquer um satisfeito. Em seguida, “One Way or Another”, do álbum Parallel Lines (1978), mesmo álbum que contém a cover citada, foi a prova que apesar dos anos a voz de Debby continua tão em forma quanto a própria, que trajava um vestido justo, exibindo uma silhueta bem atraente para uma senhora.


O fundo de palco também fazia referência à capa do álbum em questão - esta turnê celebra os 30 anos do disco. Não faltaram os clássicos mais pop como “The Tide is High”, do álbum Autoamerican (1980), e “Union City Blue”, do Eat to the Beat (1979). Vale citar que estava lotado e com certeza foi um dos shows mais celebrados e cantados da noite principalmente na música “Maria”, do No Exit (1999), disco que marcou o retorno da banda depois de um hiato de 17 anos.

No palco Movistar, exatamente as 22h30, figuraram os nova-iorquinos do Interpol, cumprindo as expectativas de seu público que estava vestido a caráter e os aguardava com ansiedade. Com seu já manjado setlist que vem sendo executado na turnê do terceiro e recente álbum, Our Love to Admire (2007), abriram como de hábito com “Pionner to the Falls”. Sempre com pouca iluminação de palco e postura fria, logo na introdução de “Slow Hands”, Antics (2004) parte da bateria se soltou e foram obrigados a interromper a apresentação por alguns minutos, Banks em um bom castelhano quebrou o gelo com "Agora todos já sabem qual música será tocada".

Em um show de setenta minutos, coube ao Interpol fazer uma seleção do que eles têm de melhor, se é que eles possuem algo de ruim. Lá estavam “C'Mere”, “Narc”, “Evil” e “Take You On a Cruise”, do álbum Antics (2004), “No I in Threesome”, “Mammoth”, “Rest My Chemestry” e “The Lighthouse”, do último trabalho, e “PDA”, “Obstacle 1” e ainda “Say Hello to the Angels”, do primeiro album, Turn on the Bright Lights (2002). Antes de terminar a apresentação, Banks deu provas de que seu castellano não era de palavras decoradas e ressaltou "Não tinha reparado que de frente a nossos olhos e atrás de vocês está o mar - que privilégio estar tocando em um lugar assim.” Saíram do palco ovacionados.
Muito bem encaixado entre as apresentações principais da noite estavam os britânicos do MÁXIMO PARK. Originários de New Castle, esta banda vem conquistando seu espaço com velocidade, vale citar que um ano atrás, ainda em outro festival, tocaram em uma lona onde só cabia a banda e o público se acotovelou para vê-los. De lá pra cá, um par de apresentações mais e um segundo disco já foram o suficiente para fazê-los ainda maiores a ponto de estarem no palco Walkman após o Interpol e antes do The Verve, fazendo com que o público tivesse tempo de curtir o show.
Destaque absoluto para o vocalista Paul Smith, que por aqui já foi comparado a Mick Jagger com sua performance de palco. Muito simpático, comunicativo e agitado, como suas músicas. O primeiro álbum, A Certain Trigger (2005), é bem garage rock e o segundo, Our Earthly Pleasures, veio um pouco mais elaborado. “Graffiti” e “Going Missing”, do primeiro trabalho, “Books from Boxes”, “Parisian Skies” e “Our Velocity”, do segundo, fizeram a alegria dos presentes e confirmou a banda no merecido posto de uma das mais aplaudidas do festival.

Depois de anos de espera e o receio de que talvez não pudéssemos mais vê-los tocando ao vivo, tinha chegado o momento mais esperado da noite (e para muitos presentes, dos últimos meses, desde o anúncio de sua reunião no final de 2007). A princípio Richard Ashcroft (voz), Simon Jones (baixo), Nick McCabe (guitarra) e Peter Salisbury (bateria) se reuniriam somente para três noites na Inglaterra e nada mais. Parece que deu certo e decidiram então colocar THE VERVE na estrada novamente e já anunciaram novo trabalho ainda para este ano.

Com uma introdução ao estilo folk e uma excelente iluminação do palco Movistar, o público delirou ao ver Ashcroft entrar em cena bem em seu estilo, óculos escuros, jaqueta de couro, cabelos desalinhados e anunciar gritando “This is Music”, do segundo álbum A Nothern Soul (1995). Daí em diante foi uma seqüência inesquecível com “Slide Away”, do álbum Storm In Heaven (1993), “A New Decade” do já citado segundo álbum, e, é claro, muitas músicas do aclamadíssimo Urban Hymns (1997) como “The Drugs Don`t Work”, “Weeping Willow”, “Lucky Man”, “Sonnet” e “Bittersweet Symphony”. Era visível a emoção nos olhos dos fãs que cantavam cada palavra das letras. Terminando a apresentação, “Love is Noise”, o novo single que estará no trabalho a ser lançado este ano e se chamará Forth.


2º Dia - Sábado 19/7


Apesar de muitos terem apontado o primeiro dia como o melhor, por conter bandas com mais nome no mercado, o sábado não ficou pra trás. Com a presença de muitas bandas novas e emergentes na cena pop/indie atual, alguns nomes já conhecidos do grande público e até a presença [mais uma] da velha-guarda, o último dia também veio forte.


Começou com a sadia batalha entre THE KOOKS e SHOUT OUT LOUDS. De um lado, os jovens britânicos se apresentavam no palco Movistar e ainda durante a apresentação, os suecos do Shout Out Louds iniciavam seus trabalhos no palco Converse. O público ficou um pouco dividido mas com certeza ninguém saiu decepcionado. Os Kooks agradaram os mais pop com “Ooh La” e “She Moves in Her Own Way”, do disco Inside In/Inside Out (2006), e apesar de estarem lançando o também bom Konk (2008) as músicas do primeiro emplacaram mais.


Já no Converse os suecos apresentaram toda sua mistura de melancolia e positividade que figuram em seus dois álbuns, Howl Howl Gaff Gaff [2005] e Our Ill Wills (2007), com temas como “Please Please Please” e “Hurry Up Let's Go”, do primeiro, “Hard Rain”, “You Are Dreaming” e “Shut Your Eyes”, do segundo, foram algumas que agradaram em cheio. Em entrevista recente, o baterista Eric se disse muito interessado em um dia poder tocar no Brasil e parece que ao que tudo indica a banda está mais próxima do que nunca de nosso lindo país - olho neles porque são maravilhosos.


Retornando ao palco Movistar já estava em sua apresentação o BREEDERS, apresentando todo lado alternativo que ainda corre nas veias de Kim Deal. Um show morno que teve ponto alto na esperada “Cannonball”, do álbum Last Splash (1993). No Walkman THE STRANGLERS também fazia uma apresentação de respeito, deixando velhos fãs com um largo sorriso em suas caras.


Ainda sob a luz do dia veio a primeira "grande" banda do sábado, o KINGS OF LEON (foto) e seu rock and roll da roça. Utilizando “No Quarter”, do Led Zeppelin, como introdução, o quarteto entra em cena e, claro, não decepcionou em nenhum momento. Misturando músicas dos seus três álbuns tocaram “Wasted Time”, “Molly`s Chambers”, do álbum Youth & Manhood (2003), esta segunda em versão mais lenta do que a de estúdio. “Pistol of Fire” e “King of the Rodeo”, do álbum Aha Shake Heartbreak (2005), e do trabalho mais recente, que veio mais limpo e progressivo, Because of the Times (2007) tocaram, entre outras, “Charmer” e “On Call”. Apesar da mudança visual e do último trabalho também apresentar mudanças, já anunciaram que um novo disco vem sendo trabalhado e que voltarão às raízes.


Descendo para o palco Walkman era a hora de conferir MOGWAI e seu estilo shoegaze que, assim como o post-rock teve seu revival com bandas como Interpol e Editors, por exemplo, vem ganhando força novamente e principalmente depois da reaparição do my bloody valentine em palcos. O Mogwai apresentou em exclusividade para o Summercase o álbum Young Team (1997) tocado na íntegra, em comemoração a uma década de lançamento do aclamado disco, que teve relançamento recente com faixas bônus e apresentações ao vivo da época. Viagem total.


Marcado para as 23h20, os SEX PISTOLS anteciparam sua apresentação em dez minutos, ainda bem que a organização anunciou o adianto. Fazendo parte das estranhas exigências, John Lydon, Steve Jones, Glen Matlock e Paul Cook também fizeram uma pré-seleção dos fotógrafos que iriam ficar na linha de frente, ou seja, mesmo sendo credenciado ainda havia os selecionados entre os escolhidos, algo raro para uma banda punk. Com quilos a mais e vestido com uma roupa que o fez parecer um pé-grande, Lydon provou que ainda tem sarcasmo o suficiente para liderar os Pistols. Bem mesmo estava Jones, de bermudas e camiseta velha como que chegado da padaria, ou melhor, de um boteco, bem à vontade e se livrando do calor que fazia naquela noite.

“Liar”, “Problems”, “God Save The Queen”, “Anarchy in the U.K.”, todas do Never Mind the Bollocks Here's the Sex Pistols (1977), marcaram presença, para delírio dos britânicos que invadiram Barcelona para vê-los - e cantavam “No Fun, No Fun”, era demais. Pouco mais de uma hora de show foi o suficiente para provar que as pistolas sexuais continuam atirando por aí. Muitos jovens presentes ficaram impressionados ao ver pelo telão Lydon sem alguns dentes - essa rapaziada indie ainda tem muito punk para aprender.

Em seguida, porém no palco Walkman, hora de conferir de perto a badalada banda brasileira CANSEI DE SER SEXY. Capa de várias revistas na Europa e considerados um fenômeno musical, não decepcionaram. Com uma decoração de palco bem animada, balões de festa espalhados e músicas como “Off the Hook”, “Alala” e “Patins”, do álbum CSS (2006), demonstraram seu lado indie/pop/rock/eletrônico roubando a cena da noite em definitivo.

O local virou uma pista de dança e as arquibancadas já não tinham espaços. Estão lançando Donkey agora e deixaram escapar também que estariam em Barcelona gravando um novo videoclipe no dia seguinte após o show. Muito seguros no palco e comunicativos, tentando falar em castelhano, mesmo que não tão bem, o público entendia perfeitamente e aplaudia o esforço e a aquelas alturas, já valia tudo. Conquistaram tal espaço que não era qualquer erro de palavra ou conjugação que iria esfriar a galera. Destaque total para a vocalista Lovefoxxx que, com seus modelitos ousados arrancava gritos de “gostosa” da fila do gargarejo.

Mesmo tendo tocado na edição passada do festival, o KAISER CHIEFS participou do momento “vale a pena ver de novo” e demonstrou toda sua força. Seu animado vocalista Ricky Wilson começou a apresentação da forma mais inusitada possível. Chegou pedindo que o público gritasse o nome de sua banda quando perguntava "vocês sabem quem somos?". Uma vez que o volume da resposta foi suficientemente alto, desceu ao fosso que separa o palco da platéia para abrir a noite com “Everything is Average Nowadays”, do segundo álbum, Yours Truly, Angry Mob (2007), enquanto tigres infláveis voavam do público em sua direção.
Deste segundo álbum também apresentaram “The Angry Mob” e o hit “Ruby” mas a festa aconteceu mesmo ao som de “Na Na Na Na Naa, Eveyday I Love You Less and Less” e, é claro, “I Predict a Riot”, do primeiro álbum, Employment (2005). Como de hábito, a apresentação se encerrou com Wilson escalando as estruturas do palco. Sem ser anunciado, Kele Orekele, vocalista do Bloc Party, tocava uma percussão de maneira bem discreta ao fundo do palco - teria sido ainda mais discreta se ele não tivesse se envolvido em uma confusão no backstage com John Lydon. Dizem que a confusão começou por parte dos Pistols.

Já entrando pela madrugada de domingo, subiram ao Walkman os britânicos do FOALS com sua mistura de techno/rock ou math/rock e fizeram uma apresentação brilhante principalmente nas músicas “Cassius”, “The French Open” e “Balloons”, todas do seu único disco Antidotes (2008). Se continuarem neste ritmo vão dar muito o que falar, principalmente por este estilo vir ganhando muita força aqui na Europa, com bandas como Minus the Bear, por exemplo.


Para finalizar a noite os escolhidos foram LOS PLANETAS, uma banda com bastante força local. Com um post cantado em castelhano, levou muita gente à frente do palco Movistar. As três da manhã de domingo muito pareciam um concerto às nove da noite, tamanha a empolgação dos numerosos fãs. Muito interessante e um bom exemplo de que, apesar dos grandes nomes internacionais, quem fechou a noite em grande estilo e prestigiada pelo público foi uma banda nacional, coisa que em nosso país raramente se vê. Que sirva de exemplo.
Mais fotos do festival em www.flickr.com/photos/mauriciomelo

2 comentários:

ANA PAULA disse...

VOCÊ É DEMAIS!!!!!

Unknown disse...

E ai meu amigo morales blz? dando a sua contribuição na formatação de textos sobre shows e etc.
é isso cara o talento brazuca amostra !!!!