quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ballantine's Leave an Impression Festival. Shout Out Louds & Ian Brown.



O Leave an Impression Festival, de Barcelona, está sendo realizado com um show por semana até o final do mês de abril, com artistas de diferentes estilos que, de alguma maneira, deixaram, deixam ou deixarão sua marca. Confira agora o show e entrevista com Shout Out Louds mais o show de Ian Brown (ex-StoneRoses).
Por Mauricio Melo
SHOUT OUT LOUDS
Ballantine´s Leave an Impression Festival
Sala 3 Razzmatazz, Barcelona
3/4/2008
Texto e fotos Mauricio Melo

No caso do Shout Out Louds, estão atravessando a ponte do “deixam para deixarão” a tal marca desejada. Em uma pequena sala com capacidade máxima para 300 pessoas, esta ótima banda se apresentou e deixou atônitos os que estiveram presentes. Ao apagar das luzes, usaram como introdução a instrumental "Ill Wills", do epônimo segundo trabalho. O grupo entrou pela mesma porta por onde momentos antes entrara seu público. Receberam uma calorosa ovação e retribuíram com um tímido boa noite. Abriram oficialmente com "You are Dreaming", deixando melodia e emoção tomarem conta do recinto.
No palco, uma decoração com diversas bandeiras com referência à capa do novo álbum. Na linha de frente, um fã mais dedicado fotografava com uma Polaroid e oferecia as fotos "fresquinhas" aos integrantes no decorrer das canções. Passo a passo, canção a canção, foram confirmando o posto de banda indie mais foguete do momento na Europa no que diz respeito ao circuito independente. Durante a execução de "Normandie", "Hard Rain", "100º", "Please Please Please", "Hurry Up Let´s Go", "Tonight I Have To Leave It", "South America", "Shut Your Eyes", entre outras, deixaram claro que podem deixar de ser promessa e virar realidade muito em breve.
Com uma hora de show, a banda se despediu, retornou sob aplausos para o bis, se retirou novamente, dessa vez em definitivo, mesmo sob os insistentes aplausos. Deixaram ótima impressão e a sensação de que para um próximo encontro já não terão uma entrada de palco tão simples assim. É esperar pra ver.
Após o concerto, tive a oportunidade de fazer uma rápida entrevista com o simpático Eric (baterista) que, ao alheio aos contratempos, me recebeu muito bem. Muito empolgado por estar concedendo uma entrevista para um veículo brasileiro, matou algumas curiosidades e disse que adoraria ter a oportunidade de um dia tocar no nosso país.
Para começar nosso bate-papo, uma pergunta que muitos devem fazer, na verdade é uma curiosidade. Qual é o significado de Howl Howl, Gaff Gaff?
Sim, vamos fazer um resumo para que todos possam entender melhor. Howl Howl é um simples How How e a letra L no final é para dar o sentido de extenso, de longo. E Gaff Gaff é uma brincadeira, mais ou menos como os cães fazem quando latem, em russo, por exemplo, para escrever o latido é algo como woof woof, ou em inglês bark bark, é mais ou menos isso. Também uma referêcia a um logotipo que tínhamos no inicio.
Em suas palavras, um pequeno resumo sobre a história da banda.
Foi formada em 2001, eu costumava tocar em outra banda. Nos conhecíamos desde o início, nos encontramos em uma festa e estávamos conversando sobre música (é claro), sobre instrumentos, coisas técnicas, Adam até se ofereceu a ensinar-me a tocar baixo (risos), Carl é um velho amigo e já tocava guitarra, Ted assumiu o baixo e a banda estava praticamente formada. Depois de quase um ano tocando queríamos então um tecladista e convidamos Bebban. Começamos com “100º” e... sim, este foi o primeiro single na Suécia, mas a primeira música que gravamos para divulgar nossa demo foi “The Comeback”.
O primeiro álbum, na verdade, é uma coletânea de singles e EPs...
Sim, concordo. Quando gravamos 100º, nossa música atravessou fronteiras, foi a primeira vez que atingíamos algum reconhecimento internacional. Fizemos uma versão sueca para o álbum, daí gravamos um novo EP com Bjorn (produtor) que incluiam "Oh Sweetheart" e "A Track and A Train" e quando para fazer o lançamento Howl... nos Estados Unidos e outros países da Europa, selecionamos as músicas que mais gostávamos com algum material inédito e lançamos.
Sobre seus álbuns. O primeiro é mais positivo, com letras positivas, alegres. O segundo vem mais entristecido, com letras mais deprê, amores perdidos, sem esperança. É isso mesmo ou é pura impressão? Foi proposital ou simplesmente aconteceu? Houve alguma influência do produtor?
Talvez você esteja certo. Quando escrevemos as músicas do primeiro disco, não pensamos exatamente nos temas. Para o segundo tivemos idéias de colocar mais percussão, trabalhar mais os instrumentos. Estávamos com a mente bem aberta quando começamos a gravar o segundo álbum, não sabíamos exatamente o que iria acontecer, simplesmente entramos em estúdio e compomos as músicas e o resultado foi esse, gostamos bastante. Claro, independente disso, o disco é muito bom. Simplesmente existe uma diferença nas letras, na forma de expressão da mensagem que a banda passa. Óbvio, na vida mudamos constantemente, atravessamos fases, evoluímos. No segundo álbum simplesmente retratamos uma fase que a banda atravessa, uma fase mais madura, as músicas não podem ser as mesmas de cinco anos atrás.
Muito se compara a voz de Adam à de Robert Smith, e o som da banda tem grande influência do Cure. Comparações, independente desta ou daquela banda, incomoda?
É inevitável a comparação, a voz de Adam realmente se parece com a de Robert Smith, e é claro que as pessoas tentam fazer comparações para dar uma definição ao som da banda, particularmente não me importo, é uma grande banda (The Cure).
Download por internet: o que vocês acham? Vocês não acreditam que pode ser muito mais útil para uma banda como Shout Out Louds, que não tem os discos lançados no Brasil, ter seu trabalho conhecido através da internet? Levando em consideração que os discos só poderiam ser encontrados em lojas de importação, o que sairia muito mais caro do que aqui. Através do download gratuito a banda pode atravessar fronteiras de forma mais rápida mesmo que isso de alguma forma represente um "prejuízo"?
Bem, as duas coisas. Tem um lado bom e outro muito ruim. É interessante como você mesmo disse, pessoas no Brasil podem tomar conhecimento do nosso trabalho através da web, claro que é bom. Por outro lado é difícil, especialmente para as bandas pequenas, de cena independente. Por exemplo: para Madonna ou U2 é ruim num contexto de que ao invés de vender dez milhões de disco, venderão cinco milhões, perderão metade das vendas mas mesmo assim ainda venderão milhões. Para os pequenos não é bem assim, qualquer perda é uma perda considerável, uma unidade que seja é algo que se perde, principalmente para os pequenos selos. De quebra, na internet você ainda concorre com um monte de música ruim, tá todo mundo na web, o que acaba confundindo um pouco quem busca novidades. É uma opinião bem difícil, um tema muito complicado de discutir, se souber utilizar a favor pode ser ótimo, se não, as coisas complicam um pouco.
O que você conhece do Brasil (em geral), algum músico, personagem, escritor? Qualquer informação que não seja futebol.
Gilberto Gil particularmente gosto bastante. Bandas em geral, no momento não conheço nenhuma. Musicalmente, o que conheço são as informações básicas como, por exemplo, algum tipo de música como o samba. Sabemos que é um país muito grande, o maior da América do Sul, que o Lula é o presidente e coisas assim, bem básicas.
Para finalizar, planos para o futuro: continuar no circuito independente ou tentar ser uma banda mundialmente reconhecida? Estar em uma gravadora grande, por exemplo?
Não temos nenhum planos para isso, apenas continuar nosso trabalho como está sendo feito no momento, compondo, fazendo shows. O crescimento e o reconhecimento vêm com o tempo. Com relação a gravadoras, muitas vezes pode ser interessante mas ainda acho que é melhor estar em gravadoras menores. Já tocamos para dez mil pessoas quando abrimos para bandas maiores ou tocamos em festivais mas acho que perde um pouco da energia, pela falta de proximidade com o público. Ou de repente vender milhões de discos e... se perde algo, não?! No momento ainda achamos melhor tocar para 500 pessoas e estar no palco todos os dias fazendo o que mais gostamos.
Shows no Brasil?
Adoraríamos! Tenho certeza de que seria inesquecível.
IAN BROWN
Ballantine's Leave an Impression Festival
Sala Razzmatazz 1, Barcelona
12/4/2008
Texto e fotos Mauricio Melo
Apresentando novo trabalho, Ian Brown chegou ao festival Ballantine's Leave an Impression como um dos artistas escolhidos por ter sido, e para muitos continuar sendo, um ícone de uma geração. Um bom show, com uma participação pra lá de especial em algumas músicas, e um gostinho de quero mais.
Ele lançou quatro álbuns - Unfinished Monkey Business (1998), Golden Greats (2000), Music of Spheres (2001) e Solarized (2004) -, com destaque maior para os dois últimos. Pouco mais de uma década após o término do grupo que o projetou, contou com convidados especiais como Steve Jones e Paul Cook (Sex Pistols) e ainda Andy Rourke (Smiths), entre outros, para a gravação de seu mais recente álbum. The World is Yours (2007) vem com letras mais maduras e uma sonoridade que esse artista vem polindo há algum tempo e já pode ser considerado seu melhor trabalho até aqui.
Para quem ainda não associou o nome do artista às obras, o cantor Ian Brown, não é ninguém menos, ninguém mais, do que o ex-vocalista da mítica banda The Stone Roses. A prova de que sua antiga banda tem sua história cimentada na música ficou latente logo na primeira canção da noite, quando "I Wanna Be Adored" (um dos hinos da geração madchester) foi então iniciada e cantada em uníssono.
Com sua pose cool, exibindo boa forma e o eterno pandeiro nas mãos, foi comandando seu público de forma magistral. "Destiny of Circumstance" (Solarized-2004) deu seqüência ao setlist. Um fã mais exaltado tentava insistentemente trocar seu par de tênis pelo de seu ídolo - pode até parecer engraçado mas Mr. Brown ficou um pouco irritado com a tal proposta e quase saiu do sério.
Os músicos que o acompanhavam davam ótimo suporte, mas a grande surpresa da noite foi a participação de Mr. Andy Rourke no baixo nas músicas "Keep What You Got" (que na versão de estúdio tem a participação de Liam Gallagher, do Oasis), "Goodbye To The Broken" e "On Track. O setlist ainda teve mais duas canções de seu antigo grupo, "Waterfall" e "I Am The Ressurection". A noite teve um grande fim com "F.E.A.R". do álbum Music of Spheres (2001), um dos seus maiores sucessos em carreira solo.
Após o concerto, aconteceu um aftershow com Andy Rourke como DJ, tocando músicas de variadas épocas. A grande curiosidade era se ele tocaria ou não alguma música de seu antigo grupo, e a dúvida logo foi tirada com os primeiros acordes de Johnny Marr em "This Charming Man" para delírio geral.
Também publicado por www.portalrockpress.com.br
Mais fotos sobre os shows - www.flickr.com/photos/mauriciomelo

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