segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Circuito Banco do Brasil - Detonautas, Raimundos, Titãs, Yeah Yeah Yeah's e Red Hot Chili Peppers. 09/11/2013 - Rio de Janeiro - Brasil.


Mudanças.  Esta pode ser a palavra exata para definir muitas coisas no Rio de Janeiro atualmente, ainda que num geral não vimos tantas.  O "novo" Brasil ainda está distante de ter a qualidade de vida que merece e percorrer 20km com tantas obras pré Mundial e Olimpíadas, pode ser uma aventura de no mínimo duas horas de carro, ainda mais num   lindo dia em que as praias estavam lotadas.  



Por outro lado, uma vez dentro do Circuito Banco do Brasil, a última coisa a reclamar era a falta de organização ou infra-estrutura.  Perdemos o show de Rodrigo Amarante e Tom Zé mas tivemos a oportunidade de conferir de perto o campeão mundial de skate vertical, Bob Burnquist, arriscar várias manobras.  

Não muito distante deste momento conferimos o rock básico dos Detonautas, banda que possui alguns hits entre os mais jovens e algumas músicas com mensagens mais políticas.  Tico Santa Cruz fez vários discursos contra a corrupção e foi aplaudido pelo público.   Na seqüência, os Raimundos subiram ao palco principal para tocar os principais temas da carreira calcado sobre tudo em músicas dos dois primeiros discos, álbuns que levaram a banda a um bom momento de mainstream durante alguns anos em terras tupiniquins.  Quem ainda não havia assistido o grupo sem seu vocalista original se surpreendeu com a força com que Digão supre esta ausência.  O público foi insano, abriu rodas de pogos e a tarde se tornou hardcore por um momento, como se não houvesse amanhã e só teve tempo para respirar durante o show da banda Scracho Boto Fé no palco secundário, banda vencedora de um concurso e que teve lá seus minutos de atenção oferecendo boa música.  

Com o pôr do sol chegaram os astros Rei da fatia nacional do evento, os Titãs.  O quarteto paulista com direito a baterista de apoio pode se dar ao luxo de perder quatro integrantes originais e ainda assim serem considerados tais.  Foi um desfile de clássicos que provou o porque de, após 31 anos de estrata, ainda  serem um dos principais grupos do país e músicas como "Flores", "Desordem", "AA UU", "Cabeça Dinossauro", "Homem Primata" e porque não "Polícia" que se tornou mundialmente conhecida quando passou a ser parte do setlist do Sepultura, além de "Desordem" que como disse o próprio Sérgio Britto, parece ter sido escrita há meses atrás quando na verdade parte do público ali presente nem havia nascido quando a mesma foi composta, a prova mais sensata de que o país pouco mudou (na melhor das opções).
Karen O. e os Yeah Yeah Yeahs chegaram com bastante força ao palco mas a grande verdade é que só empolgaram o grande público na música "Heads Will Roll", possivelmente a única que chegou às rádios comerciais.  Quando surgiram no cenário mundial, muita gente apostou na força dos Yeahs mas o grupo parece ter sido corrompido ao longo da estrada percorrida.    


Os Red Hot Chili Peppers não tiveram dificuldades em colocar o público no bolso com Flea e seus cabelos de cor lilás junto a Josh Klinghoffer e Chad Smith numa empolgada jam instrumental que fez Anthony Kiedis saltitar como um pugilista em prévio aquecimento antes de "Can't Stop" iniciar a noite de maneira oficial seguida de "Dani California" com direito a uma jam quase hardore entre Chad e Flea, "Otherside" e assim foram os primeiros trinta minutos de apresentação para um público jovem e com todos estes hits de formato mais pop na ponta da língua em que pouco lembra os velhos Chilis com suas meias de futebol no pênis de duas décadas atrás.  A prova mais latente disto foi quando a banda resolveu repassar sua fase mais antiga e tocou "Blood Sugar Sex Magik", a música título do disco que catapultou o grupo ao mainstream praticamente passou desapercebida assim como outras do mesmo álbum, "Suck My Kiss" foi uma delas e nem mesmo "Higher Ground" que há anos atrás era o ponto alto do show foi capaz de levantar o público.  A banda fez sua escolha quando optou por um lado mais pop e o resultado é esse, navegar num mar de boas músicas para um público jovem mas que nem de perto conhece as verdadeira história dos californianos.  Um público que utiliza bonés do OFF! para imitar Kiedis mas não sabe que se trata do grupo de Keith Morris e companhia, amigos de longa data dos Peppers.  Antes de "Under the Bridge" uma outra jam foi tocada como intro e o público voltou a se animar.  Para fechar a noite, o baixista Flea que já tinha dado seu show à parte e elogiado aos montes o público brasileiro retorna ao palco plantando bananeira e como se não bastasse saltou como nunca em "Give it Away" como se no video clipe original estivesse.

Mudanças... O Detonautas pediu com palavras, o Raimundos mudou de vocalista, os Titãs mudaram mas continuam originais, Yeah Yeah Yeahs passaram de ser uma promessa indie e mudaram para um som mais eletrônicos e os Red Hot Chili Peppers deixaram o funk de lado, as meias no pênis, as drogas e viraram bons moços dedicados a um público juvenil...
E o Brasil?  Este sim queremos que mude.

Texto e Fotos: Mauricio Melo.






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