segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Summercase 08 - Barcelona.




Diante de tantas ofertas no cardápio de festivais europeus, marcamos presença no Summercase que, em sua terceira edição, já pode confirmar seu posto como um dos mais celebrados e disputados do mercado. São menos artistas porém muita qualidade e bom gosto.


Texto e Fotos Por Mauricio Melo


SUMMERCASE 2008
Parc del Fórum, Barcelona 18 e 19 de Julho 2008

Com artistas e público mais seletos, o Summercase Festival acontece de forma simultânea nas duas principais cidades espanholas, Madri e Barcelona. Sempre em uma sexta-feira e sábado, o line-up de sexta em Barcelona é o de sábado em Madri e vice-versa, tudo muito bem organizado, planejado e estruturado.


Haviam três palcos e uma lona para as apresentações. Nos palcos Movistar e Walkman se apresentavam os grandes nomes. No palco Converse, alguns DJs, experimentalismos e emergentes da cena pop/rock/indie. Na lona Levi's rolavam muitos DJs e apresentações de bandas locais e, vale citar, estava sempre lotada. Em stands de patrocinadores havia diversão para todos: lançamentos do Guitar Hero, simuladores de bateria, penteados loucos e exclusivos para o público curtir o festival no estilo.


1º Dia - Sexta-Feira 18/7

Apesar do dia ter começado cedo para muitos, às 16h45, com EASY SNAP no palco Converse, seguido de outros bons nomes como EL GUISANTE MÁGICO e WE ARE SCIENTISTS, foi somente no show de IAN BROWN que a coisa começou a tomar forma. Mesmo o pequeno atraso (coisa não habitual por aqui) não tirou o ânimo do fiel público que se aglomerou diante do palco para cantar e dançar ao som do ex-líder do Stone Roses que, para surpresa geral, não abriu seu set com a habitual “I Wanna Be Adored”, do álbum The Stone Roses [1989], hino na época, mas com a morna “The Sweet Fantastic”, Solarized (2004).

Ainda figuraram no setlist do mítico vocalista “Sister Rose”, do último trabalho, The World is Yours (2007), “F.E.A.R.”, do Music of Spheres (2001), entre outras. Já para o final de sua apresentação recebeu a participação mais do que especial de Gary Mounfield, atual baixista do Primal Scream, ex-membro original do Stone Roses. Não poderia sair nada mais do que uma seqüência para relembrar velhos tempos com “Elephant Stone”, “Waterfall”, “Made of Stone” e “I Am Ressurrection”, todas do primeiro disco daquela que foi banda ícone da geração Madchester.

Um pausa para um respiro até a entrada do GRINDERMAN. Liderado pelo eterno mal- humorado Nick Cave, acompanhado de alguns membros de sua banda atual, os Bad Seeds e ainda ex-integrantes do Cramps. Um projeto paralelo que vem dando certo, algo no formato garage-punk-blues muito barulhento. Uma diversidade de instrumentos no palco, todos tocando vários ao mesmo tempo, o próprio Cave se desdobrando entre piano e guitarra, além de sua inconfundível e grave voz; Warren Ellis tocando guitarra e chocalhos ao mesmo tempo. Abriram com “Get it On”, simplesmente destruidor, ainda que passassem pela lista músicas como “Love Bomb” e “Go Tell the Women”, todas de seu único disco, Grinderman (2007). Excelente.

Apesar de não ser conhecida por seu mau humor como Nick Cave ou exigências extrapolantes, Debby Harry e sua banda BLONDIE fez uma exigência com relação à imprensa: não deixou os fotógrafos se aproximarem do palco, ou seja, trabalhar na área reservada. Quem quisesse que fotografasse do meio do público e conseguisse o melhor ângulo. As más línguas diziam que era para esconder a idade.

Independente do ano de nascimento de Debby, abrir um show com “Hanging on the Telephone”, cover do The Nerves foi para deixar qualquer um satisfeito. Em seguida, “One Way or Another”, do álbum Parallel Lines (1978), mesmo álbum que contém a cover citada, foi a prova que apesar dos anos a voz de Debby continua tão em forma quanto a própria, que trajava um vestido justo, exibindo uma silhueta bem atraente para uma senhora.


O fundo de palco também fazia referência à capa do álbum em questão - esta turnê celebra os 30 anos do disco. Não faltaram os clássicos mais pop como “The Tide is High”, do álbum Autoamerican (1980), e “Union City Blue”, do Eat to the Beat (1979). Vale citar que estava lotado e com certeza foi um dos shows mais celebrados e cantados da noite principalmente na música “Maria”, do No Exit (1999), disco que marcou o retorno da banda depois de um hiato de 17 anos.

No palco Movistar, exatamente as 22h30, figuraram os nova-iorquinos do Interpol, cumprindo as expectativas de seu público que estava vestido a caráter e os aguardava com ansiedade. Com seu já manjado setlist que vem sendo executado na turnê do terceiro e recente álbum, Our Love to Admire (2007), abriram como de hábito com “Pionner to the Falls”. Sempre com pouca iluminação de palco e postura fria, logo na introdução de “Slow Hands”, Antics (2004) parte da bateria se soltou e foram obrigados a interromper a apresentação por alguns minutos, Banks em um bom castelhano quebrou o gelo com "Agora todos já sabem qual música será tocada".

Em um show de setenta minutos, coube ao Interpol fazer uma seleção do que eles têm de melhor, se é que eles possuem algo de ruim. Lá estavam “C'Mere”, “Narc”, “Evil” e “Take You On a Cruise”, do álbum Antics (2004), “No I in Threesome”, “Mammoth”, “Rest My Chemestry” e “The Lighthouse”, do último trabalho, e “PDA”, “Obstacle 1” e ainda “Say Hello to the Angels”, do primeiro album, Turn on the Bright Lights (2002). Antes de terminar a apresentação, Banks deu provas de que seu castellano não era de palavras decoradas e ressaltou "Não tinha reparado que de frente a nossos olhos e atrás de vocês está o mar - que privilégio estar tocando em um lugar assim.” Saíram do palco ovacionados.
Muito bem encaixado entre as apresentações principais da noite estavam os britânicos do MÁXIMO PARK. Originários de New Castle, esta banda vem conquistando seu espaço com velocidade, vale citar que um ano atrás, ainda em outro festival, tocaram em uma lona onde só cabia a banda e o público se acotovelou para vê-los. De lá pra cá, um par de apresentações mais e um segundo disco já foram o suficiente para fazê-los ainda maiores a ponto de estarem no palco Walkman após o Interpol e antes do The Verve, fazendo com que o público tivesse tempo de curtir o show.
Destaque absoluto para o vocalista Paul Smith, que por aqui já foi comparado a Mick Jagger com sua performance de palco. Muito simpático, comunicativo e agitado, como suas músicas. O primeiro álbum, A Certain Trigger (2005), é bem garage rock e o segundo, Our Earthly Pleasures, veio um pouco mais elaborado. “Graffiti” e “Going Missing”, do primeiro trabalho, “Books from Boxes”, “Parisian Skies” e “Our Velocity”, do segundo, fizeram a alegria dos presentes e confirmou a banda no merecido posto de uma das mais aplaudidas do festival.

Depois de anos de espera e o receio de que talvez não pudéssemos mais vê-los tocando ao vivo, tinha chegado o momento mais esperado da noite (e para muitos presentes, dos últimos meses, desde o anúncio de sua reunião no final de 2007). A princípio Richard Ashcroft (voz), Simon Jones (baixo), Nick McCabe (guitarra) e Peter Salisbury (bateria) se reuniriam somente para três noites na Inglaterra e nada mais. Parece que deu certo e decidiram então colocar THE VERVE na estrada novamente e já anunciaram novo trabalho ainda para este ano.

Com uma introdução ao estilo folk e uma excelente iluminação do palco Movistar, o público delirou ao ver Ashcroft entrar em cena bem em seu estilo, óculos escuros, jaqueta de couro, cabelos desalinhados e anunciar gritando “This is Music”, do segundo álbum A Nothern Soul (1995). Daí em diante foi uma seqüência inesquecível com “Slide Away”, do álbum Storm In Heaven (1993), “A New Decade” do já citado segundo álbum, e, é claro, muitas músicas do aclamadíssimo Urban Hymns (1997) como “The Drugs Don`t Work”, “Weeping Willow”, “Lucky Man”, “Sonnet” e “Bittersweet Symphony”. Era visível a emoção nos olhos dos fãs que cantavam cada palavra das letras. Terminando a apresentação, “Love is Noise”, o novo single que estará no trabalho a ser lançado este ano e se chamará Forth.


2º Dia - Sábado 19/7


Apesar de muitos terem apontado o primeiro dia como o melhor, por conter bandas com mais nome no mercado, o sábado não ficou pra trás. Com a presença de muitas bandas novas e emergentes na cena pop/indie atual, alguns nomes já conhecidos do grande público e até a presença [mais uma] da velha-guarda, o último dia também veio forte.


Começou com a sadia batalha entre THE KOOKS e SHOUT OUT LOUDS. De um lado, os jovens britânicos se apresentavam no palco Movistar e ainda durante a apresentação, os suecos do Shout Out Louds iniciavam seus trabalhos no palco Converse. O público ficou um pouco dividido mas com certeza ninguém saiu decepcionado. Os Kooks agradaram os mais pop com “Ooh La” e “She Moves in Her Own Way”, do disco Inside In/Inside Out (2006), e apesar de estarem lançando o também bom Konk (2008) as músicas do primeiro emplacaram mais.


Já no Converse os suecos apresentaram toda sua mistura de melancolia e positividade que figuram em seus dois álbuns, Howl Howl Gaff Gaff [2005] e Our Ill Wills (2007), com temas como “Please Please Please” e “Hurry Up Let's Go”, do primeiro, “Hard Rain”, “You Are Dreaming” e “Shut Your Eyes”, do segundo, foram algumas que agradaram em cheio. Em entrevista recente, o baterista Eric se disse muito interessado em um dia poder tocar no Brasil e parece que ao que tudo indica a banda está mais próxima do que nunca de nosso lindo país - olho neles porque são maravilhosos.


Retornando ao palco Movistar já estava em sua apresentação o BREEDERS, apresentando todo lado alternativo que ainda corre nas veias de Kim Deal. Um show morno que teve ponto alto na esperada “Cannonball”, do álbum Last Splash (1993). No Walkman THE STRANGLERS também fazia uma apresentação de respeito, deixando velhos fãs com um largo sorriso em suas caras.


Ainda sob a luz do dia veio a primeira "grande" banda do sábado, o KINGS OF LEON (foto) e seu rock and roll da roça. Utilizando “No Quarter”, do Led Zeppelin, como introdução, o quarteto entra em cena e, claro, não decepcionou em nenhum momento. Misturando músicas dos seus três álbuns tocaram “Wasted Time”, “Molly`s Chambers”, do álbum Youth & Manhood (2003), esta segunda em versão mais lenta do que a de estúdio. “Pistol of Fire” e “King of the Rodeo”, do álbum Aha Shake Heartbreak (2005), e do trabalho mais recente, que veio mais limpo e progressivo, Because of the Times (2007) tocaram, entre outras, “Charmer” e “On Call”. Apesar da mudança visual e do último trabalho também apresentar mudanças, já anunciaram que um novo disco vem sendo trabalhado e que voltarão às raízes.


Descendo para o palco Walkman era a hora de conferir MOGWAI e seu estilo shoegaze que, assim como o post-rock teve seu revival com bandas como Interpol e Editors, por exemplo, vem ganhando força novamente e principalmente depois da reaparição do my bloody valentine em palcos. O Mogwai apresentou em exclusividade para o Summercase o álbum Young Team (1997) tocado na íntegra, em comemoração a uma década de lançamento do aclamado disco, que teve relançamento recente com faixas bônus e apresentações ao vivo da época. Viagem total.


Marcado para as 23h20, os SEX PISTOLS anteciparam sua apresentação em dez minutos, ainda bem que a organização anunciou o adianto. Fazendo parte das estranhas exigências, John Lydon, Steve Jones, Glen Matlock e Paul Cook também fizeram uma pré-seleção dos fotógrafos que iriam ficar na linha de frente, ou seja, mesmo sendo credenciado ainda havia os selecionados entre os escolhidos, algo raro para uma banda punk. Com quilos a mais e vestido com uma roupa que o fez parecer um pé-grande, Lydon provou que ainda tem sarcasmo o suficiente para liderar os Pistols. Bem mesmo estava Jones, de bermudas e camiseta velha como que chegado da padaria, ou melhor, de um boteco, bem à vontade e se livrando do calor que fazia naquela noite.

“Liar”, “Problems”, “God Save The Queen”, “Anarchy in the U.K.”, todas do Never Mind the Bollocks Here's the Sex Pistols (1977), marcaram presença, para delírio dos britânicos que invadiram Barcelona para vê-los - e cantavam “No Fun, No Fun”, era demais. Pouco mais de uma hora de show foi o suficiente para provar que as pistolas sexuais continuam atirando por aí. Muitos jovens presentes ficaram impressionados ao ver pelo telão Lydon sem alguns dentes - essa rapaziada indie ainda tem muito punk para aprender.

Em seguida, porém no palco Walkman, hora de conferir de perto a badalada banda brasileira CANSEI DE SER SEXY. Capa de várias revistas na Europa e considerados um fenômeno musical, não decepcionaram. Com uma decoração de palco bem animada, balões de festa espalhados e músicas como “Off the Hook”, “Alala” e “Patins”, do álbum CSS (2006), demonstraram seu lado indie/pop/rock/eletrônico roubando a cena da noite em definitivo.

O local virou uma pista de dança e as arquibancadas já não tinham espaços. Estão lançando Donkey agora e deixaram escapar também que estariam em Barcelona gravando um novo videoclipe no dia seguinte após o show. Muito seguros no palco e comunicativos, tentando falar em castelhano, mesmo que não tão bem, o público entendia perfeitamente e aplaudia o esforço e a aquelas alturas, já valia tudo. Conquistaram tal espaço que não era qualquer erro de palavra ou conjugação que iria esfriar a galera. Destaque total para a vocalista Lovefoxxx que, com seus modelitos ousados arrancava gritos de “gostosa” da fila do gargarejo.

Mesmo tendo tocado na edição passada do festival, o KAISER CHIEFS participou do momento “vale a pena ver de novo” e demonstrou toda sua força. Seu animado vocalista Ricky Wilson começou a apresentação da forma mais inusitada possível. Chegou pedindo que o público gritasse o nome de sua banda quando perguntava "vocês sabem quem somos?". Uma vez que o volume da resposta foi suficientemente alto, desceu ao fosso que separa o palco da platéia para abrir a noite com “Everything is Average Nowadays”, do segundo álbum, Yours Truly, Angry Mob (2007), enquanto tigres infláveis voavam do público em sua direção.
Deste segundo álbum também apresentaram “The Angry Mob” e o hit “Ruby” mas a festa aconteceu mesmo ao som de “Na Na Na Na Naa, Eveyday I Love You Less and Less” e, é claro, “I Predict a Riot”, do primeiro álbum, Employment (2005). Como de hábito, a apresentação se encerrou com Wilson escalando as estruturas do palco. Sem ser anunciado, Kele Orekele, vocalista do Bloc Party, tocava uma percussão de maneira bem discreta ao fundo do palco - teria sido ainda mais discreta se ele não tivesse se envolvido em uma confusão no backstage com John Lydon. Dizem que a confusão começou por parte dos Pistols.

Já entrando pela madrugada de domingo, subiram ao Walkman os britânicos do FOALS com sua mistura de techno/rock ou math/rock e fizeram uma apresentação brilhante principalmente nas músicas “Cassius”, “The French Open” e “Balloons”, todas do seu único disco Antidotes (2008). Se continuarem neste ritmo vão dar muito o que falar, principalmente por este estilo vir ganhando muita força aqui na Europa, com bandas como Minus the Bear, por exemplo.


Para finalizar a noite os escolhidos foram LOS PLANETAS, uma banda com bastante força local. Com um post cantado em castelhano, levou muita gente à frente do palco Movistar. As três da manhã de domingo muito pareciam um concerto às nove da noite, tamanha a empolgação dos numerosos fãs. Muito interessante e um bom exemplo de que, apesar dos grandes nomes internacionais, quem fechou a noite em grande estilo e prestigiada pelo público foi uma banda nacional, coisa que em nosso país raramente se vê. Que sirva de exemplo.
Mais fotos do festival em www.flickr.com/photos/mauriciomelo

The Hives comandam festa de poses - Sustentando velhos hábitos, os suecos agitam a platéia em espanglês em Barcelona




Texto e Fotos: Mauricio Melo

Barcelona, Espanha - O grupo sueco The Hives retornou a Espanha depois de deixar um gostinho de quero mais na última edição do festival FIB Heineken, em 2007, onde saíram do palco sob enorme ovação do público. 7 de Abril de 2008 foi a data escolhida para saciar aquele gostinho, mais exatamente em um dos teatros do Complexo Apolo, em Barcelona, que aliás do equipamento de som e acústica impecáveis, ostenta uma bela arquitetura anos 50, que casou perfeitamente com o perfil e o visual da banda.

O show faz parte da turnê de The Black and White Album [2007], título que parodia discos do Metallica e The Beatles, e que salvo algumas novidades sonoras, não se diferencia muito do trabalho anteriormente apresentado pela banda. As entradas já estavam esgotadas com semanas de antecedência, o que deixava claro a ansiedade e o desejo do público por revê-los. Ao apagar das luzes, com um fundo de palco negro e somente uma luz neon vermelha com a inscrição The Hives acesa, dava-se início ao espetáculo, que foi aberto com Abra Cadave, do álbum Tyrannosaurus Hives [2003]. E bem poderia se chamar Levanta Cadáver, já que é duvidável acreditar que mesmo os mortos descansem em paz numa execução ao vivo como essa.

Com suas poses manjadas, porém contagiosas, o quinteto já ia ganhando a noite com facilidade. Main Offende rolou logo em seguida e sem anúncio prévio, já deixando claro que não era mesmo pra alguém ficar parado. Das novidades Tick Tick Boom e Try it Again [a segunda mais ainda] funcionaram perfeitamente. Walk Idiot Walk, um garage-punk latente também agradou bastante. E com tanta agitação, os trajes do quinteto foram aos poucos despencando pelo palco. Até porque, nesse dia em Barcelona bateu um calor repentino de matar, e lá pela terceira música, boa parte dos músicos ainda vestiam a gravata, mas seus terninhos e as camisas abotoadas até os punhos já estavam do avesso.

Com um spanglish bem intencionado e compreensível, o vocalista Howlin Pelle Almqvist ia arrancando boas risadas da platéia. Aliás, no quesito animação os Hives são um verdadeiro espetáculo: se auto promovem, se dizem lindos - a melhor banda do planeta, mandam beijos para a platéia e tudo definem tudo que é positivo como "Very Hives". Assim, a noite se torna uma autêntica festa onde os animadores são os protagonistas.

Talvez, a nota negativa do espetáculo esteja exatamente nesta animação. Em uma oportunidade anterior, mais exatamente em 2002 na cidade de Montreal (Quebec/Canadá), estive num show da turnê de lançamento de Veni Vidi Vicious [2000]. Naquela ocasião, era realmente encantadora a performance da banda, que tinha até direito a uma paradinha, como se estivessem sido repentinamente congelados no meio de uma música. Mas confesso que 6 anos depois, presenciar a mesma pecinha, não cola mais. Mas enfim, pelo menos os sucos finalizaram a noite com I Hate To Say I Told You So depois de pouco mais de uma hora de show. Autênticos ou não, apesar de tudo, eles são "Very Hives!”

domingo, 17 de agosto de 2008

Bad Religion - Grafin comanda rebanho em Barcelona.

Bad Religion
Cidade: Barcelona
Data: 18/06/2008
Local: Sala Razzmatazz
Promotora: Cap-Cap.


Texto e foto: Mauricio Melo


A Cap-Cap manteve a fama de trazer a terras espanholas excelentes bandas e mais uma vez não decepcionou. Ao ser anunciado para meados de Junho, em meio a zilhões de festivais, um show do Bad Religion com a pequena desculpa de estar lançando New Maps of Hell, logo veio a dúvida: valeria à pena mesmo já tento assistido aos californianos em outras oportunidades?




Pobre do insano que ainda pode fazer esta pergunta, a única resposta viável esmaga aos ouvidos nos primeiros acordes de "21st Century Digital Boy", o quinteto - que as vezes se torna um sexteto com a participação pra lá de especial de Mr. Brett - demonstra toda a experiência de quem é ícone do punk-hardcore-melódico Made in California. "New Dark Ages" do último disco veio logo em seguida, deixando claro que o Bad Religion não é banda de um único integrante, fica nítida a participação de todos, Jay Bentley se tornou um dos maiores baixistas (não vocalista) a ter postura de frontman, é incrível a participação dele nas músicas, segurando as bases com tranquilidade, experiência e com uma cara de satisfação de um principiante.




Para deixar claro que o setlist seria de A a Z, logo tocaram "Suffer" que para os fãs mais antigos dispensa qualquer comentário. Ainda marcaram presença "Stranger Than Fiction", "No Control", "Come Join Us", "Big Bang", "News From the Front", "You", "Recipe for Hate" entre outras, é impossível relatar com exatidão a seqüência de clássicos executados pela banda. Greg Hetson parecia ter molas nos pés e decolava de um lado a outro com sua guitarra, Brian Baker perfeito nas bases e o atual baterista Brooks Wackerman fez um excelente trabalho apesar do forte calor local e do visível desgaste sofrido por ele durante a apresentação. O que dizer de "I Want to Conquer The World" seguida de "Let Them Eat War" esta última do álbum The Empire Strikes First, só pelos títulos já sabemos que mensagem Mr. Greg Graffin quer passar, apesar desta última ser mais leve do que a anterior. Por falar nesta figura chamada Grafin, é impressionante a postura e a simplicidade deste frontman que segue a risca sua ideologia de não querer se tornar nenhum ícone ou símbolo dentro da música mesmo já o tendo feito, deixando claro que suas palavras são mais importantes do que sua imagem. Qualquer outro frontman que tivesse o peso e a importância deste estaria (como muitas bandas) associando sua imagem para conseguir patrocínios, marcas de roupa ou produtos personalizados. Não no caso Graffin, uma pessoa simples, com roupas simples, que sobe ao palco com uma incrível serenidade e despeja protestos em forma de poesia e punk rock. Muitas vezes parece um pastor comandando seus fiéis de uma "má" religião, e podem ter certeza, seus seguidores são fiéis. O que ficou nítido na última música da noite "Sorrow", que apesar de ser bem leve tem uma letra à altura, que faz muita gente pensar enquanto Grafin canta "Well then I do imagine there will be sorrow", seu rebanho o acompanha com "Sorrow no more!".

Mais fotos sobre o show em www.flickr.com/photos/mauriciomelo


Também publicado por Rock Brigade.

Vans Tour 08 - Sick of it All & Ignite.


Se na coleção passada a marca apresentou nomes como Parkway Drive (Austrália) e Comeback Kid (Canadá), entre outros, desta vez o festival Vans Tour 2008 veio com nada mais nada menos do que oito bandas em um só dia, destaque para Ignite e Sick of it All.
Por Mauricio Melo
VANS TOUR 2008
Sala Apolo, Barcelona 26/4/2008
Mauricio Melo, texto e fotos
No cast deste ano estiveram Hook, Twenty Fighters, Burn the 8 Track, Windom in Chains, Death Before Dishonor, Subterranean Kids e, para fechar a noite em alto estilo, Ignite e Sick of it All. O único erro da organização foi realizar um festival com tantas bandas em um sábado com início as 16h30, levando em consideração que Barcelona é uma cidade que não pára e provavelmente muitos não puderam assistir todas as atrações. Fazendo parte destes muitos, não pude chegar a tempo de assistir aos shows anteriores.
Ao chegar à sala do Clube Apolo, o grupo Ignite (foto) já estava apresentando seu desfile e como modelito principal o último álbum, Our Darkest Days (2006). Para grande parte da imprensa especializada foi considerado um dos melhores discos de punk/hardcore melódico dos últimos tempos, o que rendeu à banda um patrocínio da própria marca organizadora do festival.
Além das ótimas músicas do disco anterior, A Place Called Home (2000), como "Who Sold Out Now?" e "Fill in the Blanks", o setlist foi praticamente todo em cima de Our Darkest Days, destaque para "Bleeding", "Let it Burn" e "Poverty for All". Era impressionante ver a cara de satisfação do público cantando junto à banda. O grupo ainda tocou a cover "Sunday Blood Sunday", do U2, e finalizou com uma seção acústica para as músicas "Live for Better Days" e "Slowdown".
Sem muito suspense entrou em cena o Sick of it All. O que mais impressiona, antes de mais nada, é ver como uma banda hardcore não-melódico conseguiu atingir um nível de admiração tão grande, independente do perfil do público. Outros grupos, como Agnostic Front, têm lá o seu respeito conquistado e uma posição intacta na cena hardcore, porém é um público mais direcionado, mais definido. O S.O.I.A. não, é admirado tanto pelos radicais quanto pelos fãs do hardcore melódico. Uma banda que inclusive ganhou um (bom) disco tributo ainda em vida, já que normalmente os tributos são feitos in memoriam.
Com mais de vinte anos de carreira e uma dezena de discos lançados, os irmãos Peter e Lou Koller, guitarrista e vocalista respectivamente, acompanhados de Armand Majidi na bateria e Craig Setari no baixo, desde o lançamento de Scrach the Surface (1994), desfilaram novos e velhos modelitos, alguns clássicos e muita simplicidade. Com a habitual entrada "Somos o Sick of it All da cidade de Nova York", que já serve de senha para o despejo do poderoso peso, não deixaram a peteca cair em nenhum momento.
As já tradicionais "Good Lookin' Out" e "Built to Last", do álbum Built to Last (1997), confirmaram presença no já esperado setlist da banda. Do primeiro álbum, Blood, Sweat and No Tears (1989), a já clássica "Injustice System" se fez presente. Durante a execução de "Busted", espetacularmente cantada pelo baixista Craig Setari, um roadie ainda segurava um megafone para dar mais ênfase ao vocal.
Das mais recentes, apresentaram "Take The Night Off" e "Uprising Nation", ambas do álbum Death to Tyrants (2006), "Relentless", do Life on the Hopes (2003), e ainda "District", do álbum Yours Trully (2000), entre outras. Para os fãs mais antigos e tradicionais, vale informar que ficaram de fora do set list "Scratch the Surface" e "Just Look Around", consideradas clássicas e que até recentemente faziam parte das músicas indispensáveis.
Saldo positivo e destaque absoluto para Peter Koller que, com sua guitarra em punho, salta, dança, corre a até gira no ar com seu instrumento, praticamente executando um golpe de capoeira ou algo semelhante. Seguindo este ritmo a banda prova que ainda tem muita passarela por diante, e que assim seja.

Infectious Grooves - Meet the Groove Family!!!


Após uma longa espera a praga está de volta e desta vez pra valer. Oito anos depois de seu último lançamento oficial, Mas Borracho (2002), Mike Muir e seu atual dream team anunciaram a turnê Back to the Funk - Meet the Groove Family!!!
Por Maurício Melo
INFECTIOUS GROOVES
Sala Apolo, Barcelona17/4/2008
Mauricio Melo, texto e fotos
Esta banda de metal, super-funk ou funk-metal, como queiram chamar, se originou em 1989 como grupo paralelo de Mike Muir e Robert Trujilo, que na época era baixista oficial do Suicidal Tendencies (atualmente no Metallica). Neste período, completavam o projeto Adam Siegel (Excel) e Stephen Perkins (Jane's Addiciton) e Dean Pleasants, guitarra, bateria e guitarra solo respectivamente. Dois anos mais tarde, lançaram The Plague That Makes Your Booty Move... It´s Infectious Grooves e, assim como todo projeto paralelo, o Infectious dependia, e ainda depende, diretamente de que o Suicidal Tendencies esteja inativo para poder dar continuidade ao trabalho ou mesmo sair em turnê, mesmo que em seus primórdios o grupo paralelo abrisse para o principal. Pois bem, o Infectious tem uma formação bem voltada ao Suicidal como era de se esperar, além de Muir e Pleasants, guitarrista original dos Grooves, mas com algum tempo em definitivo no ST, o grupo ainda conta com o talentoso Steve Brunner no baixo (também no ST).
Completando a formação vem o excelente guitarrista Tim Stewart e o grande baterista (em todos os sentidos) Eric Moore, um gigante que faz o instrumento parecer um brinquedo em suas mãos. Apresentando faixas de seus quatro discos, estes músicos insanos de estilos personalizados fizeram a alegria dos presentes. Tudo muito relaxado, apesar de profissional, mas deixando claro que não estavam ali como um compromisso, se divertiam tanto como quem estava assistindo, eles simplesmente faziam a trilha sonora da festa e até convidaram fãs para fazer os vocais na música "Therapy", que na versão original conta com Ozzy. O que ficou mais latente durante a apresentação foi o comportamento de Mike Muir. Para quem conhece sua performance no palco sabe que este frontman não fica parado nem um minuto sequer durante seus shows. Porém, desde o princípio se portava de maneira mais recuada, deixado que os músicos de frente fizessem um belo trabalho. Grooves após grooves, a postura se manteve, hora mais recuado, hora com uma ginga e outra e até por consideráveis momentos fazia companhia ao baterista.
O set list inteiro foi executado mas Mike Muir não retornou para o bis, que teve uma longa jam instrumental e "Subliminal", do Suicidal Tendencies, cantada por um roadie da banda - e mesmo assim o público vibrou. Os boatos pós show se confirmaram oficialmente no dia seguinte: o restante da turnê européia havia sido cancelada devido aos já freqüentes problemas lombares de Mike Muir, mais precisamente no nervo ciático. Problema semelhante já afetou os fãs brasileiros quando o Suicidal Tendencies cancelou suas apresentações durante o festival Claro que é Rock em 2005, no Rio de Janeiro e São Paulo. É torcer para uma rápida recuperação, lembrando que o Suicidal tem datas previstas para o Brasil em agosto, caso contrário mais uma vez fica de fora da festa.
O setlist Infectado foi:
1-These Freaks are Here to Party
2-You Lie... and Yo Breath Stank
3-Turtle Wax (Funkaholics Anonymous)
4-Stop Funkin with my head
5-Punk it Up
6-Get United
7-Boom Boom Boom
8-Rules go out the Window
9-Monster Skank
10-Therapy
11-Good Times are out to Get You
12-Violent and FunkyBis
13-Infectious Grooves (versão instrumental)
14-Subliminal (Suicidal Tendencies)
Mais fotos sobre o show em www.flickr.com/photos/mauriciomelo

The Mars Volta - Brincando com espíritos.

Os marcianos e sua tripulação desembarcaram em Barcelona, dispensando banda de abertura e dando pista de que o ritual seria extenso. O que se testemunhou na sala Razzmatazz foi algo para realmente não ser esquecido.
Texto e fotos: Maurício Melo
THE MARS VOLTA
Sala Razzmatazz, Barcelona1/3/2008
Brincando com Espíritos
Omar Rodriguez Lopes (guitarrista) e Cedric Bixler Zavala (vocalista), podem orgulhar-se de novamente fazer parte de uma das grandes e influenciadoras bandas do momento. O mais uma vez se deve ao fato de serem ex-integrantes de uma das melhores e merecidamente reconhecidas bandas de post-hardcore que existiram, o At-The Drive In. O momento mais difícil aconteceu quando a banda acabou e a dupla embarcou neste então projeto chamado The Mars Volta. Os primeiros shows, quando ainda lançavam De-Louse in the Comatorium [2003], eram marcados por um público de curiosos e de "viúvas" do ATDI. A gravação e produção do quarto álbum de estúdio, The Bedlam In Goliath [2008], um disco mais direto e agressivo do que os anteriores, foram marcadas por curiosos fatos. O canhoto guitarrista Omar Rodrigues adquiriu uma tábua de Ouija (uma superfície plana com letras, números ou outros símbolos em que se coloca um indicador móvel, utilizada supostamente para comunicação com espíritos. No Brasil, algo parecido com a brincadeira do copo ou da tesoura). Após jogar com essa tábua, uma série de fatalidades se seguiu: inundações de estúdio, vocalista com inexplicáveis doenças, e mais, o engenheiro de som simplesmente enlouqueceu, dizendo que a banda havia gravado músicas diabólicas com intenção de enlouquecer pessoas e fazer mal ao mundo e tentou destruir as masters das gravações - o material foi recuperado à tapa. Por fim, o tabuleiro foi enterrado (mesmo o grupo dizendo não acreditar “nessas histórias”) e no encarte do disco foram colocadas fotos de santos para limpar o astral.
Sob essa expectativa, jogada de marketing ou não, o Mars Volta e sua tripulação desembarcou em Barcelona, dispensando banda de abertura e dando pista de que o ritual seria extenso. O que se testemunhou na sala Razzmatazz foi algo para realmente não ser esquecido. Com suas fusões de estilos, improvisando jazz, progressivo, uma criatividade e fantástica evolução musical, um verdadeiro voodoo sonoro. Indescritível a sensação de arrepio que subia da cabeça aos pés ao apagar das luzes dando início a esta experiência musical da qual faziam parte banda e público.
Abrindo com "Roulette Dares" (The Haunt of) do álbum De-Loused in the Comatorium [2003], Omar Rodriguez e Cedric-Zavala duelavam em jams que pareciam infinitas, Zavala vestido a caráter setentista, camisa negra de bolinhas brancas, entrava em êxtase com uma performance que lembrava Robert Plant no auge do Led Zeppelin. Ao lado, Omar se contorcia, cambaleava nos momentos mais distorcidos e violentos de sua guitarra para em seguida relaxar em calmaria. Dando sequência com "Viscera Eyes", do disco Ampucteture [2006], a esta altura já éramos todos marcianos, a euforia se apoderou do público de forma inexplicável. Colocando em prática novos experimentos como "Wax Simulacra" e "Ouruborous", ambos do já citado disco de lançamento, a recepção foi calorosa. Juan Alderete (baixo), Ikey Owens (teclados), Marcel Rodrigues Lópes (percussão), Tomas Pridgen (bateria), Adrian Terrazas (saxofone tenor, flauta, clarinete baixo, e percussão adicional) e Pablo Hinojos Gonzáles (engenheiro de som, percussão) davam um show à parte, principalmente os dois últimos, que se revezavam entre muitos instrumentos. A trupe não trocava uma palavra no palco, nem mesmo se comunicava com o público, trocavam olhares ou atiravam pequenos objetos uns aos outros. Ao centro, a dupla protagonista dava um show extra, o som ecoava de maneira sólida e preenchia todas as partes do recinto, alimentando quem estava ali, ávido. Após duas horas de concerto, quando "Cygnus...Vismund Cygnus", do álbum Frances The Mute [2005], foi então executada, algo a mais foi posto em prática, na metade da música, quando começa uma tranqüila viagem: Zavala parece enlouquecer, golpeava o pedestal ao solo, agitado, caminhava sem direção, gritava ao além, escalou uma coluna de amplificadores, arremessou copos (plásticos), retornou ao palco, chutou um banco e depois se debruçou nele e finalmente deu um stage dive. Enquanto isso, Omar observava tudo alheio, extraindo de sua guitarra tudo o que ela podia oferecer. Àquela altura tudo era possível, parecia o fim de tudo - mas não. O ritual ainda seguiu por mais uma hora, com direito a uma seção acústica em castelhano para "Asilos Magdalena" cantada em uníssono, simplesmente emocionante. Seguiram com a melancólica "Miranda That Ghost Just Isn´t Holy Anymore" [Frances the Mute]. Se despediram com "Day of the Baphomets", Amputechture [2006] depois de três horas de show e uma experiência única nos dias atuais. Por fim, uma saudação ao público, Omar colocou seus óculos, se despediu com um simpático sorriso e com a cara de que por ele, ficaria ali, tocando sua guitarra até o dia amanhecer.
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Primavera Sound 2008










O festival espanhol Estrella Damm Primavera Sound 2008 apresentou figuras conhecidas e muita tendência, confirmando sua proposta de levar ao público seu ecletismo, música independente, sem deixar de lado a presença de grandes nomes.




Por Mauricio Melo


PRIMAVERA SOUND 2008
Barcelona, Espanha

Mauricio Melo, texto e fotos

O início não oficial, ou seja, uma preliminar, teve lugar dia 24 de maio com shows em estações de metrô da cidade de Barcelona. Porém, somente na terça-feira 27 de maio é que o Portal Rock Press abriu seus trabalhos na pequena sala Sidecar com dois shows muito interessantes e distintos.

O primeiro da noite foi TWIN KRANES, um trio de Dublin que faz um rock eletrônico/psicodélico ou progressivo pop. Um guitarrista, um tecladista e o baterista/vocalista (apesar das músicas terem poucas ou nenhuma letra). Assim como suas raras palavras em suas canções o grupo é pouco comunicativo, simplesmente chegou, tocou e deixou o público boquiaberto. Em seguida veio VOICE OF THE SEVEN WOODS, outra atração do Reino Unido, que, ao contrário do show anterior, chegou ao palco com violão, banquinho e rodeado de pedais. Dava bases acústicas, ativava pedal, um solo e pedal, mais bases graves e ativava pedal novamente até formar uma parede sonora, dando a impressão de ter no palco vários músicos quando na verdade era um simples e tímido sujeito com sua aparência "vim tocar bossa", genial.

Na noite seguinte, foi a vez de conferir o indie pop do CLIENTELE, mais um grupo britânico que agradou, apesar do excesso de melancolia. Porém, quem mais agradou foi LA ORQUESTRA DEL CABALLO GANADOR, e foi perfeito para utilizar a velha frase "de onde menos se espera...". Sem firulas, sobem ao palco seis jovens com aparência universitária. Dois bateristas, dois guitarristas, um saxofonista e um maestro que logo de cara deu suas coordenadas, "quando eu levantar o braço esquerdo todos devem rir, podem rir da gente se quiserem", "braço direito e todos conversam", "dois braços e todo mundo sacode as chaves de casa que carregam no bolso" - já dá para imaginar o que foi o show? Parece piada mas é uma maçaroca sonora das boas, de qualidade, divertida, sem compromisso mas que só dá certo ao vivo, muito interessante.




Dia 1 - 29/5/2008 - Recinto Fòrum

Depois de imensas filas para conseguir entrar, foi o momento de começar a conferir o que de melhor poderia oferecer o festival, isso tendo em conta que seria impossível de cobrir todas as ofertas, 150 shows em três dias. Ainda sob luz de dia se apresentou no palco Vice Jägarmeister o trio nova-iorquino ENON, com sua proposta que mistura indie, noise, um acabamento punk e agradou em cheio, destaque para a baixista Toko Yasuda. Em seguida, no palco CD Drome, ERIC'S TRIP deu as cartas com seu pop noise dos anos noventa, após um período de separação que durou uma década [1996-2006] o quarteto fez um show básico, sólido e preencheu as expectativas de seu público.

Retornando ao Palco Vice Jägermeister, foi a vez de conferir BRITISH SEA POWER (foto), um quinteto britânico que, ao lançar seu primeiro álbum, The Decline of British Sea Power [2003], se tornou um dos favoritos da imprensa local. Atualmente apresentando Do You Like Rock Music [2008] fizeram um show perfeito e apesar do novo trabalho ser mais limpo o quarteto apresentou músicas de seu primeiro disco, com bastante post-punk. Das novas a mais marcante foi “No Lúcifer” e ao final do show o guitarrista surfou nos braços da galera após um stage dive. Saíram ovacionados do palco.

As 22h30 chegou o momento de conferir a primeira grande atração do festival no palco Rockdelux, o segundo maior do festival. O grupo de hip-hop PUBLIC ENEMY chega ao PS08 celebrando duas décadas de It Taks A Nation of Millions to Hold Us Back com uma versão mais modernizada, com guitarra, baixista e baterista, além do tradicional DJ e sua tropa militar que marcha no palco. O tempo parece não passar para Chuck D e Flavor Flav, muito fôlego e voz em perfeitas condições já desde cara com "Bring the Noise" e "Don't Believe the Hype". A única nota negativa do show foi a introdução que ficou por conta da dupla de DJs do Bomb Squad - teria funcionado perfeitamente se não durasse quase meia hora, o que cansou um pouco o público.

Na seqüência e no mesmo palco, entra o que, para muitos, era o grande nome do festival, PORTISHEAD. Doze anos depois de sua primeira e única apresentação em Barcelona e após uma década de mistério sobre seu fim (?!), o trio de Dublin supera as expectativas com seu show fantasmagórico, enquanto "Cowboys" e "Glory Box" eram apresentadas, no telão somente a silhueta distorcida de seus integrantes era exibida e de quebra teve até uma participação relâmpago de Chuck D na música "Machine Gun".


Depois, houve uma debandada generalizada do público e o local ficou praticamente vazio. Levando em conta que a apresentação seguinte seria do DE LA SOUL (foto), ficou a pergunta no ar: os nova-iorquinos deveriam ter se apresentado antes do Public Enemy e do Portishead, em outro palco ou em outro dia? Ficou explícito o desconforto de quem estava presente, tanto no público como no espaço reservado para imprensa de que aquilo não poderia estar acontecendo: lendas do hip-hop prestes a se apresentar para meia dúzia de gatos-pingados. Porém, logo que começou a dar as bases o DJ começou a anunciar que o De La Soul estava na área e como num desabafo perguntava onde estavam os fãs do Public e do Porti.


Resultado: subiram ao palco como se fosse o último show de suas vidas, dando o máximo e contagiando quem passava pelo local. Foi como se o hip-hop da paz ecoasse pelos cantos do recinto e buscasse um público que parecia ter esquecido de como era bom o show do trio. Em quinze minutos o local encheu, pessoas descalças dançando, felizes como se voltassem na máquina do tempo, voltaram a ser crianças, adolescentes e lembraram de uma época marcante. O De La Soul entrou no final do segundo tempo e virou um jogo que já estava praticamente perdido. Nota dez.

Quando a noite parecia finalmente terminada e muitos já tomavam o caminho de casa, um fenômeno parecia estar acontecendo. Às 2h30 da manhã havia uma marcha em massa em direção ao palco Vice, estavam todos indo fechar a noite (apesar de ainda rolarem outros shows) com VAMPIRE WEEKEND (foto), outro grupo nova-iorquino, considerado o boom atualmente pela imprensa norte-americana. Uma mistura de pop, uma pitada de punk, injetando espirais rítmicas africanas e cadências reggae fez todo mundo dançar apesar do pouco espaço livre, até as escadarias que dão acesso ao local estavam lotadas e o trio acabou eleito a grande revelação do festival na primeira noite.




Dia 2 - Recinto Fórum - 30/5/2008
IT'S NOT NOT abriu o dia no palco Vice. Grupo espanhol que mistura hardcore/punk/indie/pop fez um excelente show e com destaque total para seu frontman, que deu um show à parte. Pouco ficou no palco, passou a maior parte do tempo cantando e dançando na pista junto aos seus fãs.

Em seguida foi a vez da estréia do Palco Estrella Damm, considerado o maior do festival e quem teve a honra de cortar a fita foi o trio britânico THE CRIBS, que com apenas dois anos de estrada já gravou três discos, com participações de Lee Ranaldo (Sonic Youth), produção de Alex Kapranos (Franz Ferdinand). Ainda este ano entram em estúdio para gravar um EP com ninguém mais ninguém menos que Johnny Marr (The Smiths). Muito à vontade no palco, com seu rock simples e direto mataram a curiosidade de muitos presentes. Um show à altura do tempo de estrada e da pouca idade dos rapazes, muito bom, e se seguirem assim ainda vão dar muito o que falar.

De volta ao palco Vice, os suecos THE MARY ONETTES recém chegados de sua tour norte-americana, se declararam muito felizes por estar em Barcelona, tocando de frente para o mar em um lindo dia de sol. Com sua fusão de A-Ha e Jesus and Mary Chain, apresentaram um setlist recheado de boas músicas como "Lost", "Void", passeando pelo post-punk com "Under the Guillotine". Pra quem gosta das influências citadas é um prato cheio.

Abrindo o palco Rockdelux para este segundo dia, os escolhidos foram BISHOP ALLEN com seu pop/indie em estado puro. The Broken Strings, o segundo disco destes nova-iorquinos (New York invadiu o PS08) é simplesmente o antídoto para conter os excessos experimentais dos dias atuais. Com sua música leve e agradável, como em "Click Click Click", "Rain" e "Little Black Ache", o grupo dá a sensação de ter acontecido décadas atrás. O público prestigiou em massa o show dos rapazes e não saiu decepcionado.


Quase que atropelando um show no outro, no Estrella Damm já soavam os primeiros acordes dos SONICS (foto), talvez o grupo mais injustiçado da cena punk - já tocavam punk antes de Stooges, por exemplo, mas demoraram a receber o merecido reconhecimento. O PS08 lhes deu a oportunidade de demonstrar que ainda há tempo para reconhecê-los, oferecendo o maior palco do festival que estes senhores souberam aproveitar como se estivessem em casa, apresentando "Dirty Robber", "Louie Louie", "Have Love Will Travel", entre outros. Saíram ovacionados do palco, simplesmente emocionante.

THE BOB MOULD BAND, liderada pelo mítico Bob Mould, ex-líder do Hüsker Dü, título aliás de que não consegue se desvencilhar apesar de seus lindos trabalhos em carreira solo e com sua banda Sugar. A expectativa era grande e o palco não poderia ser melhor, CD Drome, o menor do festival e que talvez tenha dado um toque mais íntimo entre Mr. Mould e seus fãs. Apresentou um show à altura de sua brilhante carreira dividido em três partes: um show de uma hora, vinte minutos dedicados ao Sugar com músicas como "The Act We Act", "The Good Idea" e "Hoover Dam", outros vinte minutos (ou um pouco mais) de sua carreira solo, atualmente lançando o álbum District Lines e músicas como "Return to Dust", "Circles" e, na reta final, uma seqüência de Hüsker Dü como "Something I Learn Today" e "Never Talk to You Again", um simpático boa noite e uma apresentação inesquecível.

No palco All Tomorrow's Parties figurou o trio californiano AUTOLUX, com seu estilo indie/noise muito bem elaborado. Com apenas um único disco no mercado, o bom Future Perfect, apresentaram temas como "Robots in the Garden" e a indiscutível "Turnstile Blues".

Apresentados como a grande atração da noite, surgem no palco Estrella Damm os senhores do DEVO para confirmar de uma vez por todas seu posto na história da música. Vestidos a caráter, com seus uniformes amarelos que parecem ter saído de uma experiência na NASA, quase três décadas depois da aparição de Q: Are We Not Men? A: We Are Devo! e com mais de uma década sem lançar nenhum álbum de estúdio, não deixaram pedra sobre pedra ao apresentar temas como "Mongoloid" e "Whip It".


Parece mesmo que o palco Vice se tornou celeiro das revelações do festival. Na segunda noite foi a vez de A PLACE TO BURY STRANGERS (foto) confirmar presença. Autoproclamada a banda mais barulhenta de Nova York e deixando claras suas influências como Jesus and Mary Chain, my bloody valentine, Bauhaus e até The Cure, ainda que a lista de influências seja interminável, estrearam em Barcelona com um shoegaze espetacular e muito barulhento como era de se esperar.
Pouca luz no palco, muita distorção, voz praticamente oculta e um público vibrante. Combinação perfeita apesar do local não estar tão cheio quando na noite anterior quando Vampire Weekend se apresentou. Destaque para as músicas "Breath", "To Fix the Gash in Your Head", "I Know I'll See You" e "Never Going Down". Excelente.

Para finalizar o segundo dia, o palco Rockdelux ainda recebeu a visita de THE RUMBLE STRIPS com seu pop açucarado e muito bem tocado. Apesar do adiantado da hora (3h30 da manhã) o público até que compareceu em bom número para prestigiar o sopro de ar fresco dado por estes britânicos.




Dia 3 - Recinto Fórum - 31/5/2008

O terceiro e último dia do festival no recinto Fòrum ainda reservava bons nomes e algumas novidades, entre elas o grupo catalão MADEE. Mesmo já estando em seu quarto álbum e figurar em capas de revistas especializadas locais se apresentou no palco CD Drome, o menor do festival, porém fez um show de muita qualidade apresentando músicas de seu novo trabalho, L'antartica.

Mais adiante no Rockdelux e ainda sob luz do dia estava BUFFALO TOM (foto) representando os sobreviventes da época dourada do indie, lançando Three Easy Pieces. Depois de praticamente uma década em silêncio os americanos marcaram presença e confirmaram que não esqueceram a fórmula da boa música.


Logo após veio o que seria para muitos o show mais esperado da noite, DINOSAUR JR (foto). Assim como o Buffalo Tom ficaram uma década sem lançar disco. Tocaram na edição de 2006 do festival, um ano após sua reunião. Desta vez lançando Beyond, a expectativa era ainda maior. J. Mascis, Louw Barlow e Murph fizeram um bom show mas não correspondeu às expectativas.

Sem pausa para respirar entrava no palco All Tomorrow's Party o que seria o show da noite - mesmo que horas antes o quarteto de Seattle KINSKI tenha arrasado o local com seu estilo Sabbath, sobrecarregando distorção com riffs repetitivos e monolíticos. Todd Trainer, Bob Weston e Steve Albini retornaram ao festival três anos após testarem as estruturas do recinto Fòrum em uma atuação que ficou marcada na história do Primavera Sound. Com os intrumentos ligados e luzes apagadas Weston e Albini estavam a mercê do vampiresco baterista Trainer, que, de costas para a platéia, terminava tranquilamente de fumar.


Todos sabiam que ao arremessar a guimba do cigarro e pendurar sua jaqueta de couro com tachinhas ao lado da bateria a porrada ia comer e não deu outra, parecia um terremoto - era o anúncio de que o Shellac (foto) iniciava seus trabalhos. O lugar estava lotado e a grande sorte de quem chegou atrasado foram as rampas de acesso ao palco que eram em níveis mais altos do que a pista e dava tranquilamente para assistir o show independente da distância, ao centro já não cabia mais ninguém. A banda confirmou e superou as expectativas no show de lançamento do seu Excellent Italian Greyhound. Nota 10 e melhor da noite.




Primavera Sound aos parques - Parque Joan Miró - 01/6/2008

Os dias oficiais no Recinto Fórum terminaram na noite anterior, porém o festival ainda se estendeu e terminou oficialmente no domingo 1º de junho com alguns shows gratuitos no Parque Joan Miró. Boas bandas se apresentaram nestes dias, mereciam até estar entre os grupos escolhidos para os dias do Fòrum, porém alguns grupos, como os suecos TORPEDO (foto), tocaram neste dia por chegarem, digamos, "atrasados" na lista do festival.

No Joan Miró havia dois palcos, enquanto alguém ocupava um o outro era preparado para o show seguinte. Desta maneira, seis grupos se apresentaram entre quatro da tarde e oito da noite. EXTRAPERLO, LE PIANC, MANOS DE TOPO, APRIL'S FOOL DAY, THE RADIO DPT e o já citado e com destaque absoluto Torpedo. Com apenas um disco lançado (ainda inédito em alguns países, incluindo a Espanha) In The Assembly Line, este excelente grupo pop/rock/post apresentou material como "Time Machine", "In Assembly" e "Hospital". Se não fosse o atraso na chegada, Pontus, Andreas, Love, Martin e Erik estariam tranquilamente tocando nos palcos principais do festival. Felizes os que compareceram e tiveram a oportunidade de assistir um show de qualidade, sentados sob as palmeiras, sem gastar um centavo.


Mais fotos sobre o festival em www.flickr.com/photos/mauriciomelo






Morcheeba - Mergulhando Fundo.

Grupo inglês sai ovacionado em show do novo disco, em Barcelona
Por Mauricio Melo.
Fotos: Mauricio Melo.
Às vésperas do badalado festival Primavera Sound, Barcelona ainda teve tempo de receber o grupo Morcheeba, dos irmãos Paul e Ross Godfrey, na sexta-feira 23 de Maio, no Espacio Movistar. Apresentando a turnê do sexto álbum Dive Deep, lançado em fevereiro deste ano, eles provaram de vez que a criatividade não tem limite quando se trata de boa música e bons músicos.
Apos a saída da vocalista Skye Edwards, que gravou os quatro primeiros discos que deram ao Morcheeba todo o respeito no mundo da música e fez com que os fãs mais fiéis torcerem o nariz quando a também boa vocal Dayse Martey gravou The Antidote [2005], o grupo mergulhou fundo em busca de sua tradicional fórmula. Neste novo trabalho os Godfrey inovaram mais uma vez. Gravaram um ótimo disco com a participação de vários vocalistas escolhidos através do Myspace, o que e acabou dando muito certo, inclusive com a participação de vozes masculinas.
Mas apesar da fluidez das vozes masculinas, quem mais se destacou foi a da francesa Manda, que acabou ficando em definitivo [ao menos para esta turnê] por ter conseguido a espontaneidade buscada pelos Godfrey. O título Dive Deep não é por acaso, já que as gravações deste álbum serviram como terapia para Paul Godfrey, que atravessava uma pesada depressão e resolveu se dedicar ao máximo, passando até 16 horas em estúdio trabalhando e fazendo referência ao engajamento que tem com projetos de proteção ao mar e contra pesca destrutiva.
Com esta jogada de vários vocalistas para as gravações, o Morcheeba apagou de vez os resmungos de troca-troca de vocalistas após a saída de Skye e concentrou seu público no que melhor pode oferecer, seu trip-hop ou folk eletrônico. Com este clima subiram ao palco em Barcelona e foram muito bem recebidos pelos catalães. Logo na primeira sequência de músicas, Ross ofereceu Part of the Process, do aclamado álbum Big Calm [1998], a Albert Hoffmann, inventor do LSD, declarando que graças a esta invenção ele pode ter incríveis experiências em sua vida. Do mesmo álbum ainda tocaram The Sea, Blindfold e Shoulder Holster, caudando dúvidas sobre a preferência da cantora original. Ross provou que é um excepcional guitarrista, deixando transparecer todo seu talento com verdadeiras viagens sonoras de seu instrumento.
Do novo álbum os destaques foram Run Honey Run, cover de John Martyn lindamente tocada e cantada pelo baixista Bradley Burgess [por mais que o grupo tenha tentado polir ou modernizar a música a seu perfil, continua tão pura quanto a original] e Gained The World, com Manda provando mais uma vez o porquê foi escolhida para acompanhar a banda dentre os vocalistas participantes. Apesar da suavidade que o perfil do Morcheeba exige, em alguns momentos ela soltou a voz e demonstrou que por trás de toda aquela suavidade existe um trovão a ponto de explodir. Enjoy the Ride veio logo em seguida e com o anúncio que será o novo hit da banda.
A seqüência de ótimas canções não pararam por aí. Otherwise do álbum Charango [2002] também marcou presença, assim como Aqualung. Para terminar a noite em alto nível e fazendo do Espacio Movistar uma verdadeira pista de dança, eles mandaram Rome Wasn't Built in A Day do disco Fragments of Freedom [2000], com o tecladista Andy Nunn assumindo o saxofone e dançando muito no palco. Melhor impossível.
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Napalm Death - Religião? No Thanks!




Poucas bandas conseguiram fazer o que reis do grindcore fazem até hoje: seguir fiéis à sua própria invenção, demonstrando que está longe de ter um fim. Vinte e seis anos após sua formação e de apresentar ao mundo uma verdadeira revolução da música extrema, o Napalm Death tem quinze álbuns lançados e nenhum membro original na banda.
Por Mauricio Melo
NAPALM DEATH
Sala Mephisto, Barcelona / Espanha
19/5/2008


Quase três décadas de brutalidade
Mauricio Melo, texto e fotos

O Napalm Death tem quinze álbuns lançados em sua larga e sólida discografia, sendo dois deles ao vivo (sem contar EPs ou coletâneas), nenhum membro original na banda, mas uma formação sólida desde Utopia Banished. Antes deste álbum somente o baterista Mick Harris era membro original desde a gravação de Scum. Depois de Utopia a única baixa foi de Jesse Pintado que, antes das gravações de The Code is Red... Long Live the Code, deixou o grupo após mais de uma década para se dedicar ao projeto paralelo Terrorizer. Faleceu logo após as gravações do segundo disco deste projeto, Darker Days Ahead.
Com Shane Embury no baixo (o único a ter alguma participação nas gravações de Scum, sem ser então integrante oficial do grupo), Mitch Harris na guitarra, Danny Herrera na bateria e com o incrível Mark Barney Greenway nos urros, o Napalm Death visitou Barcelona uma vez mais na última segunda-feira 19 de maio na sala Mephisto, em um show que não precisamente faz parte da turnê de lançamento do álbum Smeal Campaign mas um show "avulso, que vale de aquecimento para o próximo disco.
Pelo que já adiantou Barney em alguns momentos de comunicação com o público, entram em estúdio ainda este ano e o tema, que não poderia fugir ao perfil do grupo, será sobre política e religião, lembrando ainda que a banda uma postura totalmente anti-guerra e participa de campanha em projetos em defesa dos animais.
Utilizando a mesma vinheta de abertura do último álbum, Smeal Campaing, "Weltschmerz", seguida de "Sink Fast, Let Go", "Instinct of Survival" (do álbum Scum) e "Unchallenged Hate" (do segundo disco, From Enslavement to Obliteration), que fez os fãs mais antigos enlouquecerem. Com "Suffer The Children", de Harmony Corruption, a banda confirmou que o setlist seria recheado com clássicos de cada álbum. "Continuing War on Stupidity" foi a única do bom álbum Order of the Leech e "Necessary Evil", do Enemy of the Music Business.
Barney parece sempre estar levando descargas elétricas e algumas vezes perde o fôlego com seus discursos políticos ou anti-religiosos e até contra punks nazistas, antes de anunciar a cover dos Dead Kennedys "Nazi Punks Fuck Off!", deixando o "Fuck Off!!!" pra galera berrar - o que dá mais méritos ao grupo, pois além de criar um estilo musical próprio, conseguiu ganhar respeito de todas as cenas underground, seja entre os fãs de death metal, hardcore e até do próprio grind, sendo uma das poucas do gênero convidadas a participar de tributos a bandas punk/hardcore como o Sick of it All e o citado DK.
Falando nisso, eles também gravaram um tributo às bandas que os influenciaram, Leaders Not Followers Pt.2, que inclui covers do Discharge, Agnostic Front e Cryptic Slaughter, porém nenhuma cover deste álbum entrou no setlist, o que certamente daria um tempero a mais.
Ainda marcaram presença as músicas "Scum", "Life", "The Kill" e a relâmpago "You Suffer", todas do disco Scum. Já na reta final "I Abstain", do Utopia Banished, e "Siege of Power" (Scum). Fim de noite e se despedem com um até breve, deixando claro que Barcelona estará incluída na rota de próxima turnê sem sombra de dúvidas.
Mais fotos sobre o show - www.flickr.com/photos/mauriciomelo
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Down - Superando Tragédias. - Barcelona 2008.


O Down deixou de ser projeto paralelo para se tornar prioridade na carreira destes excelentes músicos que, com suas bandas oficiais (Corrosion of Conformity, Pantera, Crowbar), fizeram história. Down III: Over the Under é o terceiro disco em doze anos, porém somente agora pisam em terras espanholas, deixando bem claro que New Orleans não produz somente jazz e blues de qualidade.
Por Mauricio Melo
DOWN
Clube Apolo, Barcelona
24/4/2008
Texto e fotos Mauricio Melo
Com apenas uma alteração ao longo de todos estes anos de estrada - o baixista Todd Strange (integrante do Crowbar) foi substituído por Rex (Pantera) - o restante da formação é a mesma que deu início ao projeto e que gravou o primeiro disco, NOLA (1995): o guitarrista Keenan Pepper (Corrosion of Conformity), Phil Anselmo nos vocais (Pantera), Kirk Windstein na guitarra base e Jim Bower na bateria (ambos do Crowbar).
O atraso na gravação deste terceiro álbum e que deixou o Down de férias forçadas, se deve a duas tragédias: uma natural, que foi o furacão Katrina, que arrasou a cidade de New Orleans, e o assassinato (no palco) do guitarrista Dimebag Darrell, que, na época já sem o Pantera, tocava com sua atual banda Damageplan. Em entrevista recente o guitarrista Keenan deixou claro que com todos os acontecimentos, o grupo tinha muita raiva guardada e que, apesar de tudo, conseguiram superar juntos as dificuldades e que tinha chegado o momento de colocar pra fora toda esta raiva. O próprio título do novo disco deixa clara a necessidade de deixar a negatividade para trás.
Foi com nessa expectativa que o Down chegou a Barcelona para lotar a sala do Clube Apolo. A noite não teve uma banda de abertura e sim um telão onde foram exibidas imagens da banda em suas viagens entre um vídeoclipe e outro de bandas históricas como AC/DC, Scorpions, Black Flag, Black Sabbath e a própria protagonista da noite. Como era de se esperar, ao subirem os créditos do vídeo o palco começou a liberar a tradicional fumaça.
O telão subiu rapidamente e a banda já estava no palco para a execução de "Lysergik Funeral Procession", de seu segundo álbum, Down II (2002), em seu melhor estilo Black Sabbath. Quando soaram os primeiros acordes de "Lifer" e Anselmo dedicou a música a Darrell a sala estremeceu.
Apresentando ótimo humor, a banda parou uma das músicas para que uma fotógrafa no fosso reservado à imprensa, subisse ao palco para uma foto exclusiva. Largaram seus instrumentos e posaram, a senhorita então abusou e ainda pediu um minutinho para trocar de lente, fazendo com que Anselmo ainda brincasse e pedisse um petisco caso a moça demorasse um pouco mais.
Foto realizada, o grupo continuou a despejar peso com músicas como "Rehab", "Temptations of Wings", "Underneath Everything" e "3 Suns and 1 Star". No meio do show ainda experimentaram um momento Wando, quando um sutiã foi arremessado no palco. Como a peça íntima foi bem recebida, começou então uma chuva de sutiãs e até uma calcinha foi parar no braço da guitarra do engraçado Kirk Windstein - menos mal, ainda bem que não foi uma cueca.
Músicas do novo álbum foram muito bem recebidas, destaque para "The Path" e "N.O.D.". Já na reta final, apareceram no setlist a tranqüila "Learn From This Mistake" e a pesadíssima "New Orleans Is a Dying Whore". Para o bis a banda tocou, a pedidos, "Eyes of the South", "Losing All" e finalizaram com "Stone The Crow". Deixando a música mais extensa, os músicos foram trocando de instrumentos, Kirk largou a guitarra e assumiu a bateria, as guitarras foram assumidas por roadies da banda enquanto Anselmo, Jim e Keenan se despediam de seus fãs.
Talvez tenha faltado “Beautifully Depressed” para completar a noite ou pode ser que a banda não toque esta música para que Anselmo não lembre de um recente passado do qual parece fazer questão de esquecer. Que continuem assim, com mais discos e menos tragédias.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Danko Jones - Never Too Loud - Barcelona 08 - Cap-Cap Promotions.


O power trio de Danko Jones (g /v), John Calabrese (bx) e Dan Cornelios (b) retornou à Barcelona para o lançamento oficial de seu sexto álbum, Never Too Loud (2008), que já pode ser considerado o mais popular do grupo. O disco pode decepcionar os fãs mais fiéis por não ter a mesma pegada dos anteriores - talvez pela presença de Nick Raskulinecz na produção (Foo Fighters e Velvet Revolver, entre outros).
Por Mauricio Melo
DANKO JONES
Sala Apolo, Barcelona
18/4/2008
Com um disco mais sofisticado, Danko Jones salva a noite com antigos sucessos
Texto e fotos Mauricio Melo
Formado em 1996 na cidade de Toronto e debutando oficialmente com um EP epônimo dois anos mais tarde, este trio canadense conquistou espaço com seu estilo básico, poderoso e ritmicamente agressivo até o lançamento de seu segundo álbum, We Sweat Blood (2003), já por uma grande gravadora, e confirmou sua popularidade com a música "I Want You". Porém, não é por terem um produtor mais famoso e um álbum mais sofisticado que o grupo mudou sua postura no palco.
Vestidos de negro como de hábito e mostrando que ao vivo o estilo cru e básico continua presente, Danko e sua banda despejaram peso, bom humor e muito rock and roll durante sua apresentação. Embora o novo álbum ainda não tenha caído nas graças da galera, o setlist veio recheado de músicas dele, desde a abertura com "Code of the Road". Não demorou muito para as mais empolgantes, como "Sticky Situation" e "Baby Hates Me", do álbum Sleep is the Enemy (2006), darem o ar de suas graças - porém entre elas o grupo tocou a meio morna "King of Magazines", do novo disco.
Uma rápida piada sobre primeiros encontros amorosos para em seguida soarem os primeiros acordes de "First Date", o suficiente para deixar o ambiente fervendo novamente. "Play The Blues", "Lovercall" e "Way to My Heart", do primeiro álbum, Born a Lion (1999), também marcaram presença de forma positiva. Para baixar a temperatura de novo e fazer com que muitos torcessem o nariz foi incluída mais uma do Never Too Loud (2008), desta vez "Take me Home".
"Wait a Minute" e "Forget My Name", do aclamado We Sweat Blood (2003), recolocaram o ambiente em ordem, dando seqüência com "Invisible", do álbum Sleep is the Enem (2006), e mesmo incluindo um par de músicas a mais de Never Too Loud, incluindo a faixa-título, a noite fechou com saldo positivo.
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Ballantine's Leave an Impression Festival. Shout Out Louds & Ian Brown.



O Leave an Impression Festival, de Barcelona, está sendo realizado com um show por semana até o final do mês de abril, com artistas de diferentes estilos que, de alguma maneira, deixaram, deixam ou deixarão sua marca. Confira agora o show e entrevista com Shout Out Louds mais o show de Ian Brown (ex-StoneRoses).
Por Mauricio Melo
SHOUT OUT LOUDS
Ballantine´s Leave an Impression Festival
Sala 3 Razzmatazz, Barcelona
3/4/2008
Texto e fotos Mauricio Melo

No caso do Shout Out Louds, estão atravessando a ponte do “deixam para deixarão” a tal marca desejada. Em uma pequena sala com capacidade máxima para 300 pessoas, esta ótima banda se apresentou e deixou atônitos os que estiveram presentes. Ao apagar das luzes, usaram como introdução a instrumental "Ill Wills", do epônimo segundo trabalho. O grupo entrou pela mesma porta por onde momentos antes entrara seu público. Receberam uma calorosa ovação e retribuíram com um tímido boa noite. Abriram oficialmente com "You are Dreaming", deixando melodia e emoção tomarem conta do recinto.
No palco, uma decoração com diversas bandeiras com referência à capa do novo álbum. Na linha de frente, um fã mais dedicado fotografava com uma Polaroid e oferecia as fotos "fresquinhas" aos integrantes no decorrer das canções. Passo a passo, canção a canção, foram confirmando o posto de banda indie mais foguete do momento na Europa no que diz respeito ao circuito independente. Durante a execução de "Normandie", "Hard Rain", "100º", "Please Please Please", "Hurry Up Let´s Go", "Tonight I Have To Leave It", "South America", "Shut Your Eyes", entre outras, deixaram claro que podem deixar de ser promessa e virar realidade muito em breve.
Com uma hora de show, a banda se despediu, retornou sob aplausos para o bis, se retirou novamente, dessa vez em definitivo, mesmo sob os insistentes aplausos. Deixaram ótima impressão e a sensação de que para um próximo encontro já não terão uma entrada de palco tão simples assim. É esperar pra ver.
Após o concerto, tive a oportunidade de fazer uma rápida entrevista com o simpático Eric (baterista) que, ao alheio aos contratempos, me recebeu muito bem. Muito empolgado por estar concedendo uma entrevista para um veículo brasileiro, matou algumas curiosidades e disse que adoraria ter a oportunidade de um dia tocar no nosso país.
Para começar nosso bate-papo, uma pergunta que muitos devem fazer, na verdade é uma curiosidade. Qual é o significado de Howl Howl, Gaff Gaff?
Sim, vamos fazer um resumo para que todos possam entender melhor. Howl Howl é um simples How How e a letra L no final é para dar o sentido de extenso, de longo. E Gaff Gaff é uma brincadeira, mais ou menos como os cães fazem quando latem, em russo, por exemplo, para escrever o latido é algo como woof woof, ou em inglês bark bark, é mais ou menos isso. Também uma referêcia a um logotipo que tínhamos no inicio.
Em suas palavras, um pequeno resumo sobre a história da banda.
Foi formada em 2001, eu costumava tocar em outra banda. Nos conhecíamos desde o início, nos encontramos em uma festa e estávamos conversando sobre música (é claro), sobre instrumentos, coisas técnicas, Adam até se ofereceu a ensinar-me a tocar baixo (risos), Carl é um velho amigo e já tocava guitarra, Ted assumiu o baixo e a banda estava praticamente formada. Depois de quase um ano tocando queríamos então um tecladista e convidamos Bebban. Começamos com “100º” e... sim, este foi o primeiro single na Suécia, mas a primeira música que gravamos para divulgar nossa demo foi “The Comeback”.
O primeiro álbum, na verdade, é uma coletânea de singles e EPs...
Sim, concordo. Quando gravamos 100º, nossa música atravessou fronteiras, foi a primeira vez que atingíamos algum reconhecimento internacional. Fizemos uma versão sueca para o álbum, daí gravamos um novo EP com Bjorn (produtor) que incluiam "Oh Sweetheart" e "A Track and A Train" e quando para fazer o lançamento Howl... nos Estados Unidos e outros países da Europa, selecionamos as músicas que mais gostávamos com algum material inédito e lançamos.
Sobre seus álbuns. O primeiro é mais positivo, com letras positivas, alegres. O segundo vem mais entristecido, com letras mais deprê, amores perdidos, sem esperança. É isso mesmo ou é pura impressão? Foi proposital ou simplesmente aconteceu? Houve alguma influência do produtor?
Talvez você esteja certo. Quando escrevemos as músicas do primeiro disco, não pensamos exatamente nos temas. Para o segundo tivemos idéias de colocar mais percussão, trabalhar mais os instrumentos. Estávamos com a mente bem aberta quando começamos a gravar o segundo álbum, não sabíamos exatamente o que iria acontecer, simplesmente entramos em estúdio e compomos as músicas e o resultado foi esse, gostamos bastante. Claro, independente disso, o disco é muito bom. Simplesmente existe uma diferença nas letras, na forma de expressão da mensagem que a banda passa. Óbvio, na vida mudamos constantemente, atravessamos fases, evoluímos. No segundo álbum simplesmente retratamos uma fase que a banda atravessa, uma fase mais madura, as músicas não podem ser as mesmas de cinco anos atrás.
Muito se compara a voz de Adam à de Robert Smith, e o som da banda tem grande influência do Cure. Comparações, independente desta ou daquela banda, incomoda?
É inevitável a comparação, a voz de Adam realmente se parece com a de Robert Smith, e é claro que as pessoas tentam fazer comparações para dar uma definição ao som da banda, particularmente não me importo, é uma grande banda (The Cure).
Download por internet: o que vocês acham? Vocês não acreditam que pode ser muito mais útil para uma banda como Shout Out Louds, que não tem os discos lançados no Brasil, ter seu trabalho conhecido através da internet? Levando em consideração que os discos só poderiam ser encontrados em lojas de importação, o que sairia muito mais caro do que aqui. Através do download gratuito a banda pode atravessar fronteiras de forma mais rápida mesmo que isso de alguma forma represente um "prejuízo"?
Bem, as duas coisas. Tem um lado bom e outro muito ruim. É interessante como você mesmo disse, pessoas no Brasil podem tomar conhecimento do nosso trabalho através da web, claro que é bom. Por outro lado é difícil, especialmente para as bandas pequenas, de cena independente. Por exemplo: para Madonna ou U2 é ruim num contexto de que ao invés de vender dez milhões de disco, venderão cinco milhões, perderão metade das vendas mas mesmo assim ainda venderão milhões. Para os pequenos não é bem assim, qualquer perda é uma perda considerável, uma unidade que seja é algo que se perde, principalmente para os pequenos selos. De quebra, na internet você ainda concorre com um monte de música ruim, tá todo mundo na web, o que acaba confundindo um pouco quem busca novidades. É uma opinião bem difícil, um tema muito complicado de discutir, se souber utilizar a favor pode ser ótimo, se não, as coisas complicam um pouco.
O que você conhece do Brasil (em geral), algum músico, personagem, escritor? Qualquer informação que não seja futebol.
Gilberto Gil particularmente gosto bastante. Bandas em geral, no momento não conheço nenhuma. Musicalmente, o que conheço são as informações básicas como, por exemplo, algum tipo de música como o samba. Sabemos que é um país muito grande, o maior da América do Sul, que o Lula é o presidente e coisas assim, bem básicas.
Para finalizar, planos para o futuro: continuar no circuito independente ou tentar ser uma banda mundialmente reconhecida? Estar em uma gravadora grande, por exemplo?
Não temos nenhum planos para isso, apenas continuar nosso trabalho como está sendo feito no momento, compondo, fazendo shows. O crescimento e o reconhecimento vêm com o tempo. Com relação a gravadoras, muitas vezes pode ser interessante mas ainda acho que é melhor estar em gravadoras menores. Já tocamos para dez mil pessoas quando abrimos para bandas maiores ou tocamos em festivais mas acho que perde um pouco da energia, pela falta de proximidade com o público. Ou de repente vender milhões de discos e... se perde algo, não?! No momento ainda achamos melhor tocar para 500 pessoas e estar no palco todos os dias fazendo o que mais gostamos.
Shows no Brasil?
Adoraríamos! Tenho certeza de que seria inesquecível.
IAN BROWN
Ballantine's Leave an Impression Festival
Sala Razzmatazz 1, Barcelona
12/4/2008
Texto e fotos Mauricio Melo
Apresentando novo trabalho, Ian Brown chegou ao festival Ballantine's Leave an Impression como um dos artistas escolhidos por ter sido, e para muitos continuar sendo, um ícone de uma geração. Um bom show, com uma participação pra lá de especial em algumas músicas, e um gostinho de quero mais.
Ele lançou quatro álbuns - Unfinished Monkey Business (1998), Golden Greats (2000), Music of Spheres (2001) e Solarized (2004) -, com destaque maior para os dois últimos. Pouco mais de uma década após o término do grupo que o projetou, contou com convidados especiais como Steve Jones e Paul Cook (Sex Pistols) e ainda Andy Rourke (Smiths), entre outros, para a gravação de seu mais recente álbum. The World is Yours (2007) vem com letras mais maduras e uma sonoridade que esse artista vem polindo há algum tempo e já pode ser considerado seu melhor trabalho até aqui.
Para quem ainda não associou o nome do artista às obras, o cantor Ian Brown, não é ninguém menos, ninguém mais, do que o ex-vocalista da mítica banda The Stone Roses. A prova de que sua antiga banda tem sua história cimentada na música ficou latente logo na primeira canção da noite, quando "I Wanna Be Adored" (um dos hinos da geração madchester) foi então iniciada e cantada em uníssono.
Com sua pose cool, exibindo boa forma e o eterno pandeiro nas mãos, foi comandando seu público de forma magistral. "Destiny of Circumstance" (Solarized-2004) deu seqüência ao setlist. Um fã mais exaltado tentava insistentemente trocar seu par de tênis pelo de seu ídolo - pode até parecer engraçado mas Mr. Brown ficou um pouco irritado com a tal proposta e quase saiu do sério.
Os músicos que o acompanhavam davam ótimo suporte, mas a grande surpresa da noite foi a participação de Mr. Andy Rourke no baixo nas músicas "Keep What You Got" (que na versão de estúdio tem a participação de Liam Gallagher, do Oasis), "Goodbye To The Broken" e "On Track. O setlist ainda teve mais duas canções de seu antigo grupo, "Waterfall" e "I Am The Ressurection". A noite teve um grande fim com "F.E.A.R". do álbum Music of Spheres (2001), um dos seus maiores sucessos em carreira solo.
Após o concerto, aconteceu um aftershow com Andy Rourke como DJ, tocando músicas de variadas épocas. A grande curiosidade era se ele tocaria ou não alguma música de seu antigo grupo, e a dúvida logo foi tirada com os primeiros acordes de Johnny Marr em "This Charming Man" para delírio geral.
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Mais fotos sobre os shows - www.flickr.com/photos/mauriciomelo

The Cure 4 Tour 2008


Vinte e um anos se passaram desde a primeira visita do Cure ao nosso país, em 1987, no Maracanãzinho, o que seria então o meu primeiro show ao vivo. Um reencontro com a 'Cura' se deu no extinto Hollywood Rock, desta vez em 1996. Uma vez mais, e em uma década diferente, tenho uma nova oportunidade de presenciar esta incrível banda. O tempo passa rápido, porém, para alguns, parece não passar.
Por Maurício Melo
THE CURE
Palau Saint-Jordi, Barcelona
10/3/2008
Texto Maurício Melo


Ao longo de mais de três décadas de carreira e com o tanto de hits que colecionam, não seria difícil de imaginar se o show do Cure seria bom ou ruim, esse 'jogo' já estava ganho, difícil mesmo era saber qual tática seria adotada para a vitória. Porém, o talentoso (quase cinqüentão) Robert Smith, que continua com sua melancólica voz mais afinada do que nunca, não decepcionaria. Voando alto em composições inesquecíveis e dando rasantes nos mais variados sucessos, deixou seu público esgotado, e com certeza, agradou a gregos e troianos.
A abertura da noite ficou por conta do 65 Days of Static. A grande curiosidade é que tocam um estilo industrial/experimental, somente instrumental, algo bem diferente que valeu a pena conferir. Com uma formação bem atraente, com Simon Gallup no baixo e Porl Thompson na guitarra (que tiveram participações em grandes discos da banda ainda nos anos 80), e ainda Jason Cooper na bateria (na banda desde 1995), o Cure nos dias de hoje pode dar-se ao luxo de sair em tour sem ao menos lançar um novo disco, o que, aliás, não acontece desde Bloodflowers (2000).
4 Tour 2008 é o nome e já basta para que os ingressos se esgotem da noite para o dia, deixando bem claro que não estão tocando em simples salas, mas em ginásios com capacidade para quinze ou vinte mil pessoas, o que demonstra que a banda tem seu reconhecimento pra lá de merecido dentro da história. Meia hora antes do início, o que se ouvia no ginásio era a reprodução de ondas do mar ao invés de um típico DJ. Na platéia, mistura de novos e velhos (velhos, não, originais seria a palavra mais correta) seguidores, aguardavam com ansiedade o início da noite. Os 'originais', bem mais a caráter que os novos.
O show começa com a bela “Plainsong (Desintegration)”, emocionando os mais eufóricos, foi como dar boa noite tranquilamente, contendo a euforia sem deixar de lado a beleza e alegria, como um apaixonado brinde. Com um jogo de luz perfeito, o que é corriqueiro em seus shows, e um telão de fundo com projeções que variavam entre desenhos, fotos ou até imagens de alguns clipes, foram aos poucos satisfazendo os presentes.
A obscura “Prayers For Rain” vem logo em seguida, e daí em diante foram alternando entre “Love Song”, “Friday I´m Love”, “High”, “The Blood”, “The Baby Scream”, “Lullaby” (com teias e aranhas no telão), ou seja, ótimas músicas que não foram single de rádios e outras que sim, até chegar ao set dos 80, uma seqüência com “Inbetween Days”, “A Forest”, “Play For Today”, “Primary”, “Let´s Go To Bed”, “The Walk” e “A Night Like This” e... fim? Nem pensar! Ainda faltavam hits e mais hits.
Mr. Smith e cia. não estavam dispostos a encerrar a noite àquela altura. Uma hora mais de sucessos alternados até um tímido boa noite e em seguida retornada para o primeiro dos três bis, incluindo nesta reta final clássicos como “Close to Me”, “Push”, “Boys Don´t Cry”, “Jumping Someone Else´s Train” (com a alucinante projeção do clipe ao fundo), “The Love Cats”, fechando com “Killing An Arab” depois de mais de três horas de concerto. O jogo foi ganho de goleada.
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The Mission encerra atividades - The Farewell Tour



Vinte e dois anos é o tempo que separa a primeira e a já anunciada Farewell Tour do The Mission. Como já diz o nome, a despedida. Neste período, altos e baixos, trocas de line-up, férias prolongadas, mas ao final, uma aposentadoria que muitos gostariam de ter.
Por Maurício Melo.
THE MISSION
Sala Bikini, Barcelona
8/2/2008
Texto/ Fotos Maurício Melo
A abertura da noite ficou por conta dos Dead Guitars que, lançando o primeiro álbum, Airplanes, vale ressaltar, fez um show muito agradável. Com um estilo indie/alternativo e algumas baladas melancólicas, surpreendeu aos que por curiosidade chegaram antes para prestigiar ou mesmo aqueles que tentavam um lugar na primeira fila para o show principal.
Mas apesar da boa abertura a noite era mesmo do Mission. Havia um clima de alegria, ansiedade e tristeza entre o público. Ao apagar das luzes, uma introdução ao melhor estilo gótico, alguns fãs de mãos dadas, e logo soaram os primeiros acordes de "Wasteland". Hussey com seus quase indispensáveis óculos escuros, e inconfundível voz, entrou em cena. Sem pausa, continuaram com "Hands Across the Ocean" e "Grip Disease", aí, sim, um simpático “boa noite”.
"Keep in the Family", do último álbum, God is a Bullet, marcou presença entra as novas. "Kingdom Come" foi inicialmente tocada em voz e piano, para depois constar em versão original. Outra que mereceu destaque foi "Butterfly on a Wheel", com uma iluminação de palco que fazia referência ao seu videoclipe. Antes vieram "Love me to Death", "Dream on" e "Hungry is the Hunter". Apresentaram um pouco de cada álbum, mas claro que os quatro primeiros, Gods Own Medicine, The First Chapter, Children e Carved in Sand ocuparam grande parte do setlist. Finalizaram em grande estilo com “Tower of Strenght”, em versão mais extensa que a original, e com Hussey solitário no palco na parte final da música.
Com datas marcadas para praticamente todos os dias de fevereiro, o Mission chegou ao fim no dia primeiro de março, reservando as quatro últimas apresentações para Londres, onde receberam convidados especiais, ex-membros da banda, e apresentaram a cada noite os quatro primeiros álbuns tocados na íntegra (um por noite), incluindo seus respectivos lados-B para completar o setlist. A anunciada aposentadoria chegou com muita dignidade e a certeza de... Missão cumprida.