quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Du Baú - Soulfly entrevista (2009)


Soulfly entrevista 2009

Vamos dar tempo ao tempo. Está aí uma frase que escutamos com freqüência, vez ou outra a mesma adentra nossos ouvidos. E foi para falar em tempo, em datas e em dar tempo ao tempo que mais uma vez encontramos Max Cavalera e Soulfly, desta vez em Barcelona durante a turnê européia do álbum Conquer. Como sempre, fomos muito bem recebidos por este (acima de tudo) brasileiro. Como falávamos em datas, talvez há pouco mais de 10 anos Max Cavalera e seus antigos companheiros tenham sofrido (dado e recebido) golpes simultâneos, tipo estas lutas em que os gladiadores se nocauteiam ao mesmo tempo. Sentados cada um em seus cantos no ringue do dia-a-dia, foram respirando e recuperando suas forças. É inegável dizer que recentemente Soufly e Sepultura tenham recuperado ou chegado a sua melhor forma após acontecimentos em que todos estamos cansados de saber e com ótimos lançamentos. No caso do Soufly com Dark Ages e Conquer, superando outros bons
discos, o mesmo acontecendo com sua antiga banda.




Foi assim, conversando sobre datas, curiosidades recentes e um pouco do futuro que gastamos o nosso precioso tempo. Digo precioso porque acabou sendo curto diante de tanta coisa para conversar como futebol, saudades de casa, dos amigos, etc.
Por Mauricio Melo – Barcelona - Espanha

1 - Numa entrevista concedida em Junho de 2008, existia toda uma expectativa com o lançamento do Conquer. O disco estava fresco no mercado e sendo muito bem recebido pelo público e imprensa. Praticamente um ano após este bate-papo, o Conquer (disco e turnê) confirmou as expectativas?
Ta legal. Acho que foi meio de surpresa porque o Conquer veio logo após o Inflikted, então muita gente ficou até meio "caraio! já botou outro disco aí?". Teve gente até comentantando que o Inflikted foi sobra de estúdio do Conquer... Aí é foda (risos). Eu gosto muito dos dois trabalhos, sem essa que um é sobra de outro. Mas acho que o Conquer tem uma grande força mesmo, tipo a primeira música "Blood, Fire, War, Hate" é muito doida que já começa com um hino e o legal é que a molecada começa a cantar o refrão 10 minutos antes do início do show, isso nunca aconteceu antes, nem no Sepultura. Não existia uma música que o público cantasse o refrão, sempre era o nome da banda que era chamada e não uma música.

2 - Num dos shows desta turnê, em Oxford (Inglaterra), você entrou encapuzado exatamente na música "Blood Fire War Hate". É de se confessar que dá um visual distinto e de certa forma bem agressivo mas sem agredir ao público. A primeira coisa que vem na cabeça, de alguma maneira é um protesto contra a violência. Algum motivo específico por entrar encapuzado? Alguma referência a guerra que se iniciava naquele momento, Palestina, Gaza?
Resolvi incrementar um pouco. Não foi pensando nestes problemas atuais que entrei encapuzado no palco mas acabou servindo e se for positivamente fica melhor ainda. Ao mesmo tempo a música "Blood, Fire, War, Hate" é "terrorista". É maior porrada, o mosh pit começa logo
de cara e pensei no que dava para fazer para incrementar mais. Um dia estava na Holanda assistindo o filme Cidade de Deus e logo após tinha um documentário chamado Notícias de uma Guerra Particular e a entrevista que rolava neste documentário era com uns caras com capuz e tive esta idéia, esse documentário apesar de já ser antigo é muito foda. Em seguida fui numa loja de esportes de inverno e pedi um capuz terrorista, o cara não entendeu nada e perguntou "aqueles pra roubar banco?". Essa aí mesmo respondi, me dá dois! Fiquei um pouco preocupado porque os shows seguintes eram na Inglaterra e Irlanda e lá eles tem problemas com o IRA, mas por outro lado o pessoal não é tão chato quanto outros tipos de música que fica dissecando as coisas e encara tudo na boa. É isso que acho legal neste estilo de música e até porque não é um lance totalmente político. Sabe que é até punk-rock e leva na brincadeira. Se fosse nos Estados Unidos nem pensar. Lá você faz uma foto com um turbante e já era, no dia seguinte tá todo mundo te procurando, querendo saber qual a sua ligação com Bin Laden, etc.

3 - Você comentou na mesma entrevista, ano passado, que o título do trabalho atual representava uma conquista após um conflito pessoal que durou 10 anos. Exatamente o mesmo tempo de vida do Soulfly e todo o ocorrido que todos já estamos cansados de saber. Nestes 10 anos Soulfly e Sepultura percorreram caminhos distintos. Com a chegada de Conquer e o Cavalera Conspiracy você(s) reassumem o posto ou entram em um novo estágio?
Aí uma pergunta que nem sei te responder ao certo. O lance que rolou com o Conquer e com o Inflikted, que inclusive venho tocando "Sanctuary", particularmente uma música marcou muito porque foi a primeira que fiz com o Iggor e tem aquele refrão do "...everybody die tonight..." um refrão forte, e é a segunda música do show atualmente mas não é tocada inteira é só um trecho e acho bem legal. Mas estes dois discos, Conquer e Inflikted, em termos de metal e de quem curtiu a melhor fase do Sepultura, são os que mais se aproximam daquela fase. Meu trabalho agora é tentar melhorar para o próximo. Acho que o Cavalera Conspiracy ocupa um novo posto e nada de tentar repetir algo, está aí uma coisa que não gosto e de bandas que tiveram seus momentos há uns anos tentar renascer com músicas do passado.

4 - O primeiro disco do Soulfly saiu em 1998. Durante muito tempo o Soulfly era conhecida como a banda do Max, hoje em dia um pouco mais de 10 anos do lançamento do primeiro trabalho, o Soulfly já é conhecida como uma banda e não mais como a nova banda do Max...A Velha banda do Max! (interrompendo e rindo). Você teme que seu grupo com o Iggor passe pelo mesmo processo?
Sim, você está completamente certo. A galera hoje vem assistir ao Soulfly mesmo com as mudanças de formação o público vem assistir a banda e não somente ao Max. Acho que com o Cavalera Conspiracy é um pouco diferente porque sou eu e o Iggor e tem aquela história por trás e tudo tão novo ao mesmo tempo. Confesso que no início do Soulfly eu ficava até meio chateado, era até irritante porque ninguém dizia o nome da banda e sempre se referia ao Soulfly como um projeto, projeto, projeto... e demorou mesmo até que o reconhecimento chegasse. Mas acho que é o processo e temos que passar por esta fase com o Cavalera também.

5 - Na tour atual há uma constante troca de camisetas, Morbid Angel, Cannibal Corpse...
Sim, é a minha nova mania. A cada turnê tenho uma mania. Na última eu mesmo pintava as camisetas e ficavam bem toscas, achei legal mas cansei um pouco de pintar. Para esta turnê eu e meu filho tivemos umas idéias, ele é maior fã de grindcore e death metal. Encontramos num baú uma coleção de camisas antigas que trocávamos quando encontrávamos as bandas durante
as turnês, quanto tocávamos juntos em festivais e etc. Claro que as camisas já não dão mais em mim, então cortamos e ao invés de costurar, prendemos com alfinetes nas jaquetas pra ficar bem punk e acabou ficando legal. Esta mania agora está legal, mais ligada a outras bandas e ao metal porque as da turnê anterior eram mais viajando e me davam mais trabalho. E ficou melhor porque é feita em conjunto com meu filho. Isso demonstra acima de tudo o bom relacionamento do Soulfly com outras bandas deixando para trás a eterna vaidade que tanto assombra o mundo do metal?
É infelizmente existe essa vaidade né. Sabe um lance que acho bem legal, tem uma banda chamada Justice Snare na França, os caras estão estourando aí. Pra dizer a verdade eu nem curto muito o som deles, o Iggor é que escuta mais, é um som eletrônico. Os caras colocaram uma foto minha e do Iggor dentro do encarte do cd e é um som que não tem nada a ver com o metal mas eles são fã do Sepultura e do nosso trabalho atual. Fizemos uma foto com eles após o show e tiveram atitude de colocar a foto no cd deles mesmo sendo estilos de música diferentes, achei bem legal. Infelizmente no metal ainda tem muita vaidade mas pelo menos tenho bom relacionamento com muita gente. Inclusive o Mitch Harris (Napalm Death) tinha sido convidado para participar do Cavalera Conspiracy, porém estava muito ocupado na época mas ainda quero contar com ele no futuro.

6 - Em 2009, Beneath the Remains completa 20 anos, um disco que abriu definitivamente o caminho do Sepultura. O que mudou, se é que mudou, do Max de 20 anos atrás e do Max de hoje à frente de sua banda definitiva, Cavalera Conspiracy e com outros projetos na cabeça. E como tocamos anteriormente no assunto da vaidade no mundo do metal, você, apesar do estilo musical extremo e das mensagens bem definidas, sempre passa uma imagem de humildade e simplicidade, com um semblante tranquilo e não com aquele velho clichê de caretas e gestos, como definir este comportamento dentro destes 20 anos desde Beneath the Remains?
Estou mais feio, mais barbudo, continuo não tomando muito banho e tocando Inner Self (risos), acho que não mudei muito não. Com relação ao meu estilo, acho que é coisa de brasileiro né?! Pode ser que algum artista brasileiro tenha alguma vaidade mas acho que a maioria tem esse comportamento diferente e sem vaidades, conhecemos uma outra realidade e não podemos esquecer disso. Particularmente nunca me imaginei como uma estrela do rock, acho que é até ao contrário. Quando saio em turnê ou participo de festivais vejo uns caras agindo de umas maneiras estranhas, com seguranças até no camarim quando não tem ninguém por perto. Tem outros que andam com 10 seguranças e nego nem dá bola pra eles, pra que isso?



7 - Planos para o futuro: O Soulfly, mesmo após uma tour recente, pode vir a participar de festivais de verão ou se retira para gravar material novo?
Com certeza segue em turnê, inclusive o Cavalera Conspiracy também. Este ano vai ser praticamente para shows e ano que vem já podemos trabalhar no material novo, tenho enviado umas bases para o Iggor. Espero logicamente fazer alguns shows no Brasil, estou em dívida com a galera.

8 - Por falar em Brasil. Fugimos um pouco do assunto de música e vamos expor um problema que aos poucos vai atingindo várias áreas de trabalho. Esta crise econômica mundial atrapalha em alguma coisa com relação a uma tour mais extensa que a banda queira atingir. Tipo, ir a América do Sul e conseqüentemente ao Brasil, ficou mais difícil?
Espero que não. Tem gente que pergunta pra gente desta crise e eu acabo brincando dizendo que o Brasil está sempre em crise. O metal e o rock está em crise desde que a internet começou. Acho que a crise est'a atingindo outras áreas de trabalho no momento, porque isso já nos atingia antes e não é novidade pra mim. Por outro lado, acho que não afeta as viagens e os shows porque a música acaba sendo a válvula de escape pra muita gente. O público vai ao show para estravazar e esquecer um pouco dos problemas. Espero que não atrapalhe uma visita ao Brasil, tenho muita saudade de lá e de coisas pequenas como tomar um caldo-de-cana por
exemplo.

9 - Não queria tocar neste assunto mas foram muitos os pedidos sobre uma notícia que rolou na internet recentemente de uma reunião com o Sepultura, que no caso reuniria membros mais antigos da banda, integrantes que participaram do início de tudo. Até que ponto esta possibilidade existe?
Acho que foi o que comentamos no início, já existe uma história que ficou marcada. Mas se tivesse que rolar seria com um pessoal mais antigo, com o Jairo que foi o guitarrista do Morbid Visions. Encontrei o Jairo ano passado na Áustria e acabei pensando nisso. Vamos ver como vai ficar, o Iggor acabou de sair do Sepultura e isso é coisa para o futuro. Só Deus sabe como vai ficar.

2 comentários:

Unknown disse...

Pô!... Muito bom meu querido Maurício... Que Deus abençoe seu caminho sempre, por aqui sou mais na torcida!! Abraços!!
Átila Sá

Black Flash by Snap Live Shots disse...

Valeu Sr. Sá.