sábado, 2 de fevereiro de 2013

Du Baú - Biohazard entrevista 2009 - Texto, Video e Fotos






Entrevista realizada durante a turnê de reunião, com os membros originais do grupo, em 2009 na sala Razzmatazz em Barcelona.
Abaixo segue a entrevista por completo em texto e o que conseguimos salvar em vídeo.  Na verdade a entrevista em vídeo foi gravada sem intenção de publicação e sim como arquivo.  Mas seria uma pena desperdiçar tal material.




BIOHAZARD ENTREVISTA - JULHO 2009

Inventores de um estilo!  Quem nunca sentiu vontade de quebrar tudo ao escutar Shades of Grey?  Quem, por mais radical que seja nunca gingou ao som misturado de Slam, Judgement Night ou How it is quando misturaram com o rap de Onix e Cypress Hill?  Por algum tempo esquecemos do quanto foi bom escutar esta formula que os nova-iorquinos deram para o mundo, apesar que esta mistura com o rap ja existia antes, porem sem tanta intensidade.  Tudo bem, temos que concordar que nem todos os discos sairam tao bons quanto os primeiros, que na verdade os responsaveis por colocar o Biohazard entre os grandes nomes da musica pesada.  O que nao podemos esquecer e que o quarteto original esta reunido desde 2008 e o que era para ser um flashback virou a mais pura realidade.   
Numa tarde de Segunda-Feira na cidade de Barcelona, fomos (uma vez mais) bem recebidos pelo ja amigo Billy Graziadei, quem nos concedeu esta entrevista.  Conversamos um pouco sobre politica, gravadora, erros do passado e recomeço.  
Neste mesmo dia, Biohazard tocou para 150 pessoas numa minuscula sala e um calor que superava os 40º, tudo parece estar encaixado perfeitamente dentro do grupo e os melhores momentos deste encontro voces conferem agora. 
Por Mauricio Melo

1 - Em um texto publicado no MySpace, diz que a banda esta reunida para uma serie de shows no verao de 2008.  Ja estamos no verao 2009, podemos considerar que o grupo esta solido em definitivo e nao mais para uma celebraçao de vigesimo aniversario?
Sim, totalmente.  Como foi dito em outras entrevistas e o fato que todos sabemos.  Nos juntamos, nos tornamos amigos outra vez e reunimos para alguns shows.   Não tinhamos nada planejado mas funcionou desta maneira.  Os shows foram ótimos e estar juntos outra vez também.  Fomos tocando e não paramos.  
Temos coisas diferentes acontecendo, eu com o Suicide City e o estúdio.  Danny tem seu trabalho, porém ao retornar descobrimos que era muito fácil pra gente porque só tivemos boas energias.  Quando nos juntamos atualmente, viajamos por duas ou três semanas.  Retornamos as nossas respectivas casas, familias e tocamos nossos projetos em separado.  Então, quando saimos em turnê mais parece umas férias, não existe aquele compromisso ou pressão.  
Por causa disso e também porque aprendemos com os erros do passado, não nos importamos mais com estes detalhes.  Apenas nos reunimos e  fazemos nossos shows.  É muito mais divertido desta maneira... Após 20 anos vocês não necessitam de pressão...   e fica frio. (arriscando algumas palavras em português).     

2 - Atualmente falando.  Estive com Max uns meses atrás e ele deu a entender que por mais que peçam não pretende reunir o Sepultura, já separado há mais de década.  O Biohazard é diferente, se separou recentemente mas a formação original igualmente tem mais de década separada.  A intenção é somente reviver bons momentos do passado ou vem material novo?  você comentou em entrevista anterior que entraria um novo material mas até o momento nada? 
(Com um sorriso no canto da boca, talvez por não acreditar muito na previsão do Max)  Sabe, tenho que dizer isto.  Nunca imaginei que um dia poderíamos estar juntos novamente.  Por anos e da maneira que aconteceu ficou difícil.  Por muito tempo desejei isto e quando deseja algo e nunca acontece, automaticamente você começa a esquecer ou pelo menos deixar de lado, esfriar com tal desejo.  E como não acontecia tive que me mover, e foi o que fiz.  
Porém aconteceu, e penso que a mesma coisa pode acontecer com o Sepultura.  Acredito que quanto mais pedirem pior.  Um dia, quando menos esperarem pode acontecer.  É coisa do destino.  Tudo na vida se torna um círculo, quanto mais envelheço mais tenho esta convicção.  Seja de maneira familiar seja dentro de uma banda.  Biohazard também passou por isto.  Chegamos tão longe e agora nos vemos no mesmo ponto de onde iniciamos porém com mais experiência.  Quando começamos não sabíamos nada sobre as músicas que estavam nas ruas e fizemos tantas besteiras e agora que estamos do mesmo ponto de onde iniciamos, apenas não nos importamos com muita coisa.  Tocamos onde temos vontade, não existem gravadoras ou negócios por trás disto, são apenas shows.  Também serve para demonstrar as pessoas o que o verdadeiro Biohazard é.  Com relaçao ao novo material, temos muita coisa gravada que pode ser aproveitada.  Muita imagen nunca lançada antes e que estão bem gravados.  Coisas do início da carreira, pensamos em fazer uma caixa e lançar tudo isto.  

3 - Como voce ve a cena atual, em tour com Comeback Kid por exemplo?  Uma vez o Ventor (baterista do Kreator) e me disse que o que incomoda ele e o excesso de banda.  Atualmente existem muitas no mercado e fazendo a mesma coisa, nao existindo aquela originalidade de 15 ou 20 anos atras.  Como voce ve este movimento atual, pertencendo a uma banda que praticamente criou um estilo?
Acredito que sempre vai existir boa música e música ruim.  Bandas copiando estilos de outras mas de qualquer maneira as bandas surgem e dão o que o público necessita.  Protest Hero por exemplo é uma banda legal.  Existem um monte de bandas legais surgindo, pessoas legais e interessantes.  E existe outras tantas que surgem "pegando emprestado" estilos antigos.  Mesmo assim é bom ver bandas surgindo com qualidade e a molecada tendo oportunidade de mostrar seu talento.

4 - Algum conselho para bandas que saem de gravadoras independentes para uma maior?
Bem, quando se trata de negócios e palavra se traduz em uma só, sucesso.  Isso é tudo que importa e nada mais.  Quando descobri em minha carreira que nas gravadoras pequenas as pessoas trabalham com verdadeira paixão pela música, foi o que realmente importava pra mim.  
Nas grandes gravadoras, as pessoas também amam a música, você conhece muita gente legal mas a situação é muito delicada.  As pessoas tem mais medo de perder seus empregos e sua estabilidade do que qualquer outra coisa.  Com a economia, a música que toca nas ruas e com todo este tema de internet (downloads), é difícil sobreviver.  E o que acaba acontecendo é que as gravadoras independentes acabam obtendo mais sucesso, mais êxitos em suas atividades.  Porque eles nunca investem tanto dinheiro quanto as grandes gravadoras, até mesmo porque não possuem.  Gastam o pouco que tem em produções realmente boas, fazem tiragem limitadas de seus lançamentos e de acordo com suas demandas.  Os preços são mais acessíveis e acabam tendo mais sucesso no final das contas com relação investimento e retorno.  Por isso que gravadoras independentes e de diferentes estilos são melhores.  

5 - State of the World Address, o primeiro por uma grande gravadora pode ter influenciado para a saida de Hambel naquele momento?
Acho que quando fomos para a Warner gravar este disco, foi tudo muito estranho.  Como disse antes e agora vou dar o exemplo.  Todos da Warner que trabalharam neste disco perderam seus empregos, todos saíram.  Todos que gostavam da banda naquela gravadora saíram de uma maneira ou de outra, despedido ou pediram para sair.  Então várias coisas aconteceram quando nos separamos de Bob.  Trabalhamos com um produtor que talvez não tenha entendido o espírito do Biohazard e não ajudou muito.  O mesmo aconteceu com outras pessoas da gravadora que não entenderam a proposta ou simplesmente não gostavam da banda, porque os que gostavam saíram.  Dai complicou o trabalho seguinte.   Igualmente foi uma época em que a música pesada já não era considerado tão legal, uma fase difícil pra muita gente e este disco talvez tenha saído num momento errado de nossa carreira, apesar de ser um bom disco.  

6 -  Atualmente com seu estúdio, o Biohazard pode entrar de vez na independência ou ainda necessita estar em uma gravadora para garantir melhor distribuição dos discos?  Ou com a atual fase da internet a distribuição não è tão importante quanto ha uns anos atrás?
Particularmente, quando iniciei o Suicide City foi minha idéia.  Parei de trabalhar com gravadoras e de toda gente que ganhava dinheiro em cima, principalmente com o Biohazard.  A diferença é absurda, ganham 7 dólares e nós 70 centavos.  Com o Suicide não queria que isso se repetisse e fiz meu próprio negócio, ou seja, gravar e lançar a própria música, controlar tudo e consequentemente ter mais lucro em cima de meu próprio trabalho de maneira mais honesta.  Principalmente controlar o preço que chega ao consumidor, não é necessário cobrar os preços que estão nas prateleiras.  Porém chega um momento que é difícil, com tantos compromissos controlar tudo isso, definitivamente a independência não pode ser total.  Necessitamos de pessoas (uma gravadora) por trás para fazer este trabalho.   

7 -  Você fala bastante no Suicide City.  Pode nos contar um pouco mais dessa sua nova paixão com todo este retorno do Biohazard?
Claro.  Disco novo sai em Agosto, chamado Frenzy, sai pela gravadora The End.  E o que aconteceu, ao menos no meu ponto de vista, foi exatamente o que comentamos antes nesta entrevista.  As coisas cresceram demais para e não pude controlar tudo, tive que assinar com uma gravadora.  Sair em turnê com as duas bandas, ter meu próprio estúdio, a família vem em primeiro lugar, todas estas coisas acumularam.   Entao tive que buscar um manager e gravadora para me ajudar.    

8 - De momento é visto como um projeto ou igualmente ao Biohazard é oficialmente uma banda?  É o foco principal.
Não é um projeto, é uma banda definitivamente.  Quando estou aqui estou com o Biohazard, sou Biohazard e quando estou com Suicide City passo a jogar em outro time.   

9 - Visão política neste momento que tanto se fala em crise mundial e os EUA tem um novo presidente.  Alguma esperança ou a esperança é como dizemos no Brasil "para inglês ver"?
As coisas estão ruins para todos os lados.  O fato das pessoas tratarem os EUA como o centro das atenções se deve ao fato de você não conseguir escapar da americanização.  A "américa" está estampada em todos os lados.  Para onde você vai tem McDonald´s ou Burger King por exemplo.  Em frente a praia em Barcelona tem uma loja dessas.  Visitamos uma igreja hoje (N.R. provavelmente a Sagrada Familia) e ao lado tem um Starbucks.  Então a influência americana está espalhada ao redor do mundo, tem essa fama de super-poderosa e muita gente gosta de falar bobagem sobre isso.  Politicamente não vejo tanta melhora, porém tenho muito orgulho de ser americano e de meu país.  Esperança...se as coisa mudarem... há anos vem mudando, parece que não mas te digo que sim.  Quanto mais você grita mais as coisas parecem ser as mesmas.  Descobri coisas como de quando minha filha retorna à casa da escola, vai escovar os dentes e me diz "fecha a torneira porque está desperdiçando água", este é o momento em que se descobre mudanças.  Atravéz de novas gerações e ensinando o certo para quem assumirá o futuro é a maneira de mudar algo a longo prazo, porque não mudará da noite para o dia.  Uma planta crescendo por exemplo, você não consegue vê-la crescendo sentando em frente todos os dias, o dia inteiro.  Mas se você espera e de vez em quando tira uma foto, pode perceber todo o crescimento e ver que realmente acontece.  É difícil quando você senta e reclama que isso tinha que ser desta ou daquela maneira mas quando você dá tempo para as coisas acontecerem, as mudanças aparecem.  Então, como pai tenho visto muita coisa incrível com minha filha.  Ela faz parte de uma geração, que através de educação, ensinando os passos corretos pode fazer do mundo um lugar melhor, isso é esperança.

10 - Atualmente você se encontra em LA.  Como é carregar um orgulho nova iorquino no outro lado do país?
Aprendi muitas coisas com o Biohazard e uma delas foi fazendo turnês.  Descobri por exemplo que Nova Iorque não é o centro do universo.  Quando se é jovem e não vê o mundo fora, acha que sua casa, sua rua, bairro, cidade, seja de onde seja é o centro de tudo, principalmente numa cidade como a nossa, enorme, com muita gente.  Quando saí de Nova Iorque em turnê foi incrível, descobri que existia um mundo muito maior do outro lado da ponte.  Daí começa conhecer pessoas, outras culturas, aprender sobre diferentes maneiras de viver.  Vejo diferença entre o lado leste e oeste mas pessoas são diferentes em todos lugares, aqui na Espanha, no Brasil. 

11 - Atualmente o que voces vem escutando e o que ou quem poderia influenciar num novo trabalho?
Nunca deixo nada novo ser uma influência.  As minhas já estão enraizadas desde a juventude.  De Black Sabbath a Minor Threat, de Agnostic Front a Bad Brains.  Punk rock em geral e algum metal, estas são a minha influências.  Já não posso ser influênciado por uma banda nova.  Não que sejam ruins, existem boas bandas atualmente mas não posso ser influenciado por uma delas.  Uma coisa que acontece é quando você evolui como músico e volta no tempo para escutar bandas que antes rejeitava mas com o passar dos anos sente a necessidade de finalmente descobrir aquilo, seja clássico, metal, hardcore ou até country.  

12 - Biohazard ja fez tour com bandas de diferentes estilos que vao do mais original hardcore, passando por metal como Slayer e bandas completamente diferentes das mencionadas.  Alguma banda que gostaria de estar em tour novamente?
Pantera, Sepultura, Metallica, Slayer, Cypress Hill, U-Tan Clan todas são bandas das quais fizemos ótimas turnês e que gostaria de estar na estrada outra vez.

13 - Vocês já pensaram em gravar algo no Brasil com participações de amigos e bandas brasileiras?  Aproveitando que você tem um estúdio por lá?
Claro, retornaremos em breve.  Daqui ha uma semana retornamos a casa, continuamos o novo trabalho que será lançado em 2010.  O Brasil sempre estara na agenda.


by Mauricio Melo - www.500px.com/starpicturesproject





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