quarta-feira, 31 de julho de 2013

Du Baú - Comeback Kid entrevista (2009)



Engana-se profundamente quem acha que a cena hardcore norte-americana se resume aos EUA.  Um pouco mais acima existe um enorme país, mais conhecido pelo tenebroso frio do que por sua musica, o Canadá.  Neste país podemos encontrar uma diversidade cultural tão grande quanto seu espaço físico e nesta diversidade existe uma nova geração hardcore que vem ganhando força com o passar dos anos.  O Comeback Kid é um destes nomes.  Iniciando suas atividades em 2002 como um projeto paralelo de Andrew Neufeld e Jeremy Hiebert's, ganharam tanta notoriedade que este projeto virou realidade em suas vidas.  Já no ano seguinte lançavam seu primeiro trabalho, Turn it Around e dois anos mais tarde o aclamado Wake the Dead.  A partir daí os canadenses começaram a fazer parte da elite do hardcore em turnês junto a bandas como Bad Religion, Madball, Sick of it all, Terror, entre outros e lançaram o bom Broadcasting.  Na mesma tarde de verão que Billy do Biohazard nos recebeu, tivemos a oportunidade de encontar Andrew Neufeld, atual vocalista do Comeback Kid e antigo líder do Figure Four.  Num bem humorado papo descobrimos um pouco mais sobre a cena daquele pais, o atual lançamento Throught the Noise, projetos futuros e a imensa vontade de tocar (novamente) no Brasil.


1 - Como está a cena atual no Canadá.  Morei neste país por dois anos no início desta década e me parecia que bandas locais não tinham tantas oportunidades, pareciam estar escondidas, existia um movimento mas sem a mesma força do país vizinho.  Como está a cena atual, alguma banda nova que merece atenção?
Claro, desde então existe muita coisa acontecendo.  Mesmo nesta época acho que já acontecia bastante coisa, o Figure Four que foi minha antiga banda estava em atividade.  Tocávamos com frenquência na cidade.  Em geral a cena hardcore canadense vem crescendo bastante, muita gente aparecendo.  Os shows estão sempre lotados, provavelmente uma banda chamada Fucked Up você deve conhecer (N.R: Tocaram no Primavera Sound Festival deste ano) e que atualmente é uma das mais conhecidas bandas no estilo do nosso país, apesar de não ser totalmente hardcore.  Existe uma banda da costa oeste chamada Grave Maker que merece bastante atenção, fazem um hardcore de qualidade.  

2 - Muitas vezes recebemos muito material dos EUA e pouco do Canadá que está logo ao lado...
Acredito que mais por distribuição e gravadoras.  Especialmente no hardcore você tem que trabalhar duro para que as coisas aconteçam, mesmo vivendo nas grandes cidades.  Morei um tempo em Toronto e é igual, tem que trabalhar para isto.  E seja o tipo de música que for você tem que trabalhar forte, não pode ficar esperando que caia do céu.  Existe muita música no momento, muita opção no mercado e se você não trabalhar, não rende.  

3 - Realmente, integrantes de bandas consagradas vem comentando a mesma coisa, o excesso de música no mercado...
Pessoalmente admiro bastante que integrantes de bandas das quais sou fã também tenham uma visão parecida.  Cresci nos anos noventa e muitas das bandas que escutava hoje já podem ser consideradas lendárias e ter a mesma visão com menos tempo de estrada é sempre interessante.  


4 - Os EUA estão ao lado e o movimento aí é bem forte.  Porém há um lado mais original no Canadá.  Muitas vezes vejo muita molecada que mais parece estar de moda do que realmente participando de um movimento.  No Canadá o movimento pode ser considerado mais original?
Definitivamente.  Porém acredito que modismo exista em todos os lugares e especialmente no hardcore.  Já viajei meio mundo em turnê e vejo um garoto no Brasil vestido da mesma maneira que em Los Angeles, hoje em dia com a globalização, internet, etc, etc, fica difícil de ter uma originalidade ou de que cada país ou cidade tenha um perfil distinto.  Mas tenho que concordar que nos EUA existe uma grande parte que vai no modismo mais que em outros lugares.  Mas está tudo em casa, é legal ver uma molecada caprichada no visual também, acho que não incomoda ninguém, não acha? 

5 - Alguma visão política e/ou religiosa na banda ou sua particularmente, sabemos que o Figure Four tinha forte ligação com o cristianismo?
Politica sim, religião atualmente não, com o CBK não.  Crescemos com alguma educação religiosa.  Particularmente tive muita ligação com o cristianismo mas atualmente não sou praticante.  Duas pessoas na banda acreditam em Deus e em Jesus Cristo, outros três não.  Não somos agnosticos mas pensamos de maneira diferente atualmente.  E somos tão diferentes como banda que resolvemos não levar temas religiosos para dentro do CBK.  Politicamente, não somos nenhum ativista mas tento colocar algumas mensagens, tento estar mais conectado.  Claro que hoje, com vinte e oito anos de idade tenho mais visão do que quando garoto, ver a maneira que os politicos manipulam as coisas e manipulaçao por parte da midia tambem.  As vezes tento não me preocupar muito, acabo ficando paranóico, acho que tenho visto muito filme sobre conspirações (risos)

6 - Continuamos entao com temas politicos.  Como vocês vêem esta tentativa de independência por parte do Quebec?  Faz algum sentido quando se vive fora desta província ou este é um tema do qual você prefere não comentar?
Particularmente acho que seria estranho chegar em Quebec me apresentar como uma pessoa estrangeira e ainda ter que trocar dinheiro pela moeda local.  Até porque gosto muito de visitar a provincia e se tivesse que viver lá ainda teria que pedir permissão, pra mim seria um pouco estranho.  De qualquer forma não apoio sentimento nacionalista ou coisas do tipo, seja no meu país ou fora dela.  Não represento uma bandeira, acredito em um único mundo.  Gosto de viajar, de conhecer novas culturas e particularmente não gosto de políticas de imigração.  Dai que não é nada pessoal com o Quebec mas simplesmente não gosto de fronteiras.  Como amigos de algumas pessoas que querem a independência da província eu respeito muito mas por opinião individual e simplesmente porque não tenho valores tradicionais que eles talvez tenham.  Porém se querem seguir com isso tudo bem, como disse antes respeitarei bastante.  

7 - Fale um pouco do DVD Throught the Noise para a molecada do Brasil que ainda não teve acesso ao material?
É um documentário contando a história do Comeback Kid, desde quando começamos, as turnês, processos de gravação e pessoas que passaram pelo grupo.  Como muita gente sabe eu era o guitarrista da banda nos dois primeiros discos, então mostramos também entrevistas com o antigo vocalista e de antigos membros que como ele sairam da banda.  Além do documentario tem um show gravado na Alemanha.

8 - Como é estar em tour com Biohazard, especialmente agora que estão celebrando o vigésimo aniversário e com a formação original?  Sabemos que não é uma turnê inteira com eles, somente alguns shows e hoje é o primeiro.  Alguma lição em especial por isto?
Bem, eles nos conhecem? (risos).  Nem posso imaginar que alguem do Biohazard possa conhecer algo de nossos trabalhos.  Posso te garantir que existe uma mistura de sentimentos por isto; nervosismo, ansiedade, etc.  
Tocamos com o Soulfly no início desta turnê e depois tocamos com o Iggor Cavalera como DJ, só para voce ter uma idéia de quanta mistura existe nesta turnê, e foi muito estranho encontrar os dois de maneira separada apesar do projeto Cavalera Conspiracy.  Uma coisa interessante nisto tudo e que você tem três opções de escutar músicas do Sepultura ao vivo.  O Soulfly toca, o C.C. e claro o proprio Sepultura tocam as mesmas musicas (risos).  Sabemos disto porque também tocamos com o Sepultura nesta turnê.    

9 - Agora, com alguns anos de estrada e mais consolidado.  Principais influências antes e atualmente?
As influencias são varias.  Atualmente vamos absorvendo experiências com outras bandas e não necessariamente influencias.  E as antigas vem de vários estilos como Nirvana, Cult of Luna, The Suiciders, bandas canadenses que não são hardcore como Arcade Fire.  Tivemos bastante influencia fora do hardcore porém a principal influencia do CBK e o Propaghandi e muitas outras que poderia ficar aqui relacionando para você mas não posso atribuir a algumas bandas somente.  

10 - As vezes a banda é comparada ao Bane, como você vê esta comparação?
Não incomoda.  Quando iniciamos prestávamos bastante atenção no som do Bane porque realmente gostávamos do som deles mas nos últimos anos mudamos bastante, tocamos juntos muitas vezes e pode ser que haja alguma similaridade e talvez por isso existam as comparações.  

11 - Melhor e pior momento quando se está em tour?
Melhor momento por estar em turnê e estar em Barcelona tocando com o Biohazard por exemplo.  E o pior momento é quando se está sem um centavo no bolso, chovendo, com lama ao redor e não ter nenhuma opção que não seja dormir na van junto aos intrumentos porque nem dinheiro para um hotelzinho tem (risos).  E ainda ter que procurar um lugar para as necessidades basicas, passei por isto recentemente com minha outra banda.

12 - Fale um pouco sobre sua outra banda.
Se chama Sights and Sounds, lançamos um disco há pouco tempo chamado Monolith e de momento nao temos nenhuma distribuição na Espanha e Brasil.  Tem um som bem diferente do CBK.  E mais trabalhado, com bastante melodia e moderno.  Não é uma banda hardcore e sim de rock.  

13 - Atualmente vocês já vivem da banda ou necessitam trabalhar em empregos normais quando não estão em tour?
Vivo da música atualmente.  Não tenho muitas contas a pagar porque passo oito meses do ano em turnê e não gasto muito em casa.  A conta mais cara é de internet e telefone, é claro.  

14 - Um sonho possível e um quase impossível?
Um sonho possível e poder retornar ao Brasil por exemplo, não e puxação de saco não.  Estive lá em 2000 com minha antiga banda, ano passado com o CBK e é definitivamente um dos meus lugares favoritos.  
Um quase impossível (espero que ninguém roube minha ideia) porque isso envolve tempo livre e algum dinheiro, são duas coisas que não tenho.  É passar um ano ou mais viajando pelo mundo e gravar uma música em cada país misturando minhas influências com a cultura local e poder lançar um disco com este material.  Juntar energias e culturas de diferentes países e poder fazer um trabalho interessante.  Se alguém roubar esta ideia, tentarei fazer melhor (risos).   

15 - Algum significado especial nas tattoos?
Sim, tenho o nome da minha namorada tatuado e terminamos recentemente, que besteira.  Tenho uma perna tatuada em diferentes paises por exemplo.  Tenho uma feita em Piracicaba.  Muita coisa com influencias do anos 90, estilo new school.  Tenho tattoos feita em Austrália e algumas com nomes da banda, outras em conjunto com amigos, como a de um amigo do Cancer Bats por exemplo.  Acabam tornando-se cartoes postais personalizados.

16 - Quando vivi no Canda, as pessoas locais tinham hábito de sentar-se ao sol.  Pareciam traumatizados com o frio e sei muito bem o porque.  Estar em Barcelona em pleno verão pode ser um dos melhores momentos desta tour?
Estou com você meu amigo, realmente somos traumatizados com o frio.  Sentamos no sol porque queremos um pouco de cor na pele, parecemos uns fantasmas.  Porém não posso tomar muito sol, tenho a pele sensível pela falta do mesmo.  Nosso baterista sim gosta de sentar-se ao sol mas gosto de ficar no ar condicionado sempre que posso.

17 - Alguma mensagem para quem curte a banda no Brasil?
Brasil é um dos meus paises favoritos como já mencionei antes e esperamos retornar e tocar em mais cidades e não somente em São Paulo e Coritiba como na última vez.  Gostaríamos de ir ao Rio, Belo Horizonte e Vitória.  Estive em Vitoria com o Figure Four e gostaria de retornar a esta cidade, tem uma cena muito forte por lá.  




Nenhum comentário: