segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cuilla Barcelona 2013






CRUILLA BARCELONA 2013
Datas: 5 e 6 de Julho, 2013.
Bandas: Cat Power, Morcheeba, Suede, Snoop Dogg, entre outras.  

Texto e fotos: Mauricio Melo.  



Não é de hoje que o festival Cruilla Barcelona vem ganhando terreno dentre os grandes eventos da cidade Condal e, a cada ano que passa o favoritismo vem se confirmando.   Pelo segundo ano consecutivo estivemos presente neste honesto evento.  A palavra honesto encaixa com perfeição à proposta dos organizadores.  Um festival criado por pessoas locais para pessoas locais.  Nada de grandes poses fashion ou invasão britânica, entre outros turistas, mais preocupados com a estética e a foto da rede social do que com os artistas encima do palco.  Claro que existe uma boa fatia desta porcentagem com sabor e suor de "rockear" e levantar poeira no chão do Parc del Fòrum de Barcelona e o público do Cruilla é, sem dúvida, mais relaxado, mais verão.  Um público que vai ao evento de chinelos de dedo porque o mais importante é não passar calor.  Ah! o calor…Se no Primavera Sound passamos frio num inverno fora de época no Cruilla recebemos uma massa de ar quente que veio do Saara literalmente falando.


Outro fato que chama atenção no evento é, ao menos parece, a tendência de cada ano.  Se ano passado tivemos Iggy and the Stooges, The Specials, Gogol Bordello, Los Tiki Phantoms e Cypress Hill misturados a um nome e outro do soul como o The Pepper Pots, Sharon Jones e Nneka, além de muita banda local, este ano tivemos um festival mais light, muito mais folk e indie e tendo como referência rock, ao menos no que condiz de bandas internacionais, Suede.   Além nomes que já passaram por outros grandes festivais como o já citado Primavera Sound em anos anteriores e artistas recém aterrizados do Glastonbury 2013.  A diferença consiste em que o público deste não faz cara de intelectual interlocutores de música de culto e simplesmente se deixa levar pelas emoções.  Digo isto por quê?  Porque dentre as grandes atrações do festival estava Cat Power que outrora era considerada a nova musa do indie, folk, alternativo e sadcore entre  uma infinidade de definições.  Por muitos anos torci o nariz para a moça mas uma vez conquistado seu espaço dentro de minha cachola, será bem vinda sempre que quiser soltar sua voz.  O único inconveniente foi o horário, um quarto de hora antes das oito da noite, numa época do ano em que o sol ainda é apreciado no canto do palco e o público ainda não era tão forte, talvez tenha sido este o motivo, tentar fazer com que o público chegasse antes do previsto.  Nossa musa em questão pouco lembra a garota propaganda de uma coleção da marca Levi's há poucos anos atrás, em que aparecia com cabelos longos, franjinha e bem mais magra.  Atualmente, Power se apresenta de cabelos curtos, espetados e tingidos de loiro e sua inconfundível voz.  Outro fato que chamou atenção foi um constante "tique" nervoso que levava a cantora morder seguidamente o canto da boca, sem querer julgar, apenas comentar.  Por outro lado assistimos a um show impecável em que Cat emocionou com sua interpretação e possivelmente só conseguiu tal atuação por ela mesmo elevar seu sentimento interno.  Com claras referências ao Egito, que passa por complicações políticas no momento, e uma escrita no braço "Peaceful Muscle Music Egypt Today" , um colar com medalha de esfinge e "The Greatest" para iniciar o set, com o já comentado por do sol na lateral norte do palco, tocando o topo das montanhas catalanas…particularmente, o que pedir da vida? dinheiro?  Desculpa mas não há moeda capaz de comprar este momento.  Era o início de uma das, senão a melhor, apresentação do festival.  Consciência  de sobra para avaliar que os artistas em questão não estão dentro do perfil dos quais exibimos em nossa página mas não sejamos duros, relaxar é preciso.  Mesmo assim, quem achou que a musa se limitaria ao seu tranquilo som folk se enganou, "Cherokee" chegou quase dançante e "Silent Machine" já a deixou com guitarra em punho.  Daí por diante foi um pequeno desfile de bons temas e um show de interpretação.  

Se este era o princípio da jornada, mal poderíamos esperar para o encerramento com Suede.  E, entre o princípio e fim não passamos batido pelo meio ainda que Rufus Wainwright e James Morrison tenham um bom público e grande respeito, não sentiríamos a ausência de ambos em nosso "passeio" de fim de tarde se não fosse por dois motivos e ambos relacionado ao Rufus.  Primeiro que o músico tenha que pedir silêncio e um pouco de respeito durante sua apresentação, tamanho era o clima de bar ao ar livre que tomou conta do local, ainda que uma boa parte se aglomerasse diante do palco para prestigiar Wainwright.  Segundo foi a interpretação do mesmo em "Hallelujah" de Leonard Cohen em que o artista recebeu, com méritos, seus aplausos.  


Para encerrar a primeira jornada em alta, conferimos a excelente apresentação do Suede.  Poucos dias antes do festival, num entardecer junto à um amigo britânico, comentei sobre a visita da banda ao festival e o mesmo, além de surpreso ainda deixou escapar que estavam velhos demais para um show à altura do que já foram um dia.  Pois ele deveria estar lá para descobrir que shows de alto nível não dependem de certidões de nascimento e que, muito bem calcado dentro do que foi construido nos anos 90, o quinteto londrino deixou claro que ainda energia de sobra para desfilar umas duas dezenas de canções com imenso destaque para Brett Anderson aos vocais e Richard Oakes nas seis cordas ao lado esquerdo do palco.  Anderson saltou, se ajoelhou, desmunhecou e suou bicas para oferecer o melhor que podia diante de seu fiel público.  Já podemos classificar músicas como "Animal Nitrate", "We are the Pigs", "So Young" e claro "Beautiful Ones" como verdadeiros clássicos de uma geração, ainda que a banda tenha aberto a apresentação com músicas novas, uma boa tática para conquistar o espaço para futuros clássicos, aproveitando a empolgação inicial.  O público, completamente contagiado pelos acordes e voz de nossos personagens, se entregou de corpo e alma.  Não foi de se estranhar que boa parte desta galera tenha partido para suas residências após  a apresentação ou até mesmo, tenha ocupado as mesas da praça de alimentação para curtir uma cerveja entre amigos.   Ao acabar o encontro não tínhamos dúvidas, para o bem do rock and roll, Suede já tinha conquistado o posto de melhor show do evento e era a banda a ser batida, e não foi.  


Convictos da vitória antecipada do já comentado Suede, tínhamos que cumprir roteiro.  Uma passagem rápida para conferir o que Maia Vidal tinha a oferecer na confortável e fresca lona do Jornal El Periódico com um sistema de ventilação perfeito para o calor "Saharento" e não demoramos a conquistar posição para conferir de perto a visita do Morcheeba.  Um verdadeiro privilégio de poder assisti-los com a vocalista Skye Edwards após sua inexplicável saída por  diferenças com os irmãos Godfrey há alguns  anos.  Ainda que os brothers tenham a substituído por outras boas vozes, a grande verdade é que Skye foi feita para cantar no Morcheeba e vice-versa.  Inexplicável sensação de poder desfrutar dos acordes de "The Sea" e "Friction" do excelente disco Big Calm, que se tornou objeto obrigatório em minha mesa de cabeceira por muito tempo há pouco mais de uma década, e me ajudou muito a dormir de maneira mais confortável, foi definitivamente, como voltar no tempo.   Com "Trigger Hippie" Ross Godfrey deixou claro quem manda nos riffs de guitarra na redondeza, o cidadão conseguir extrair umas camadas sonoras de arrepiar, fez bico, entortou a sobrancelha e sorriu no final sabendo que olhares atentos e pontos de interrogações voavam pelos ares e muitos guitarristas de plantão, por dentro de suas consciências não paravam de ofender a mãe do rapaz.  Também pudera, Skye estava feliz com seu customizado vestido, enquanto o resto da banda brindavam seus copos com uma boa garrafa de tequila e passava de mão em mão para não deixar copos vazios, o astral geral estava nas alturas.  



Faltava a chave de ouro e esta foi incumbida ao sr. Snoop Dogg…ou seria Snoop Lion?  Talvez tenha sido Snoop Dogg Lion porque o quarentão chegou ao palco soltando fumaça, vestido com a camisa do Barça personalizada com seu nome, claramente optando por Dogg, óculos escuros para "dichavar" a situação, um microfone repleto de diamantes (não sabemos se verdadeiros) onde se apreciava uma figura de um leão um cordão de ouro com um skate, dourado é claro, tudo isso após o DJ aquecer o público com "California Love" e "Still D.R.E. de 2Pac e Dr. D.R.E. respectivamente e estes não seriam os únicos covers da noite.  Começava a confusão mental que somente o magrão pode realizar.  Com "Here Comes the King" e umas dançarinas no palco, Dogg ou melhor, Lion deu inicio à sua festinha particular com mulheres, música, público dançante e muita maconha.  Para ser sincero, prefiro guardar na memória os bons momentos que Snoop Doggy Dogg era escrito desta maneira e foi assim que encarei "Tha Shiznit", "Gin and Juice" e "Who Am I (What's my name?)", além de alguns covers de D.R.E. do disco The Chronic, responsável direto pela projeção do rapper rumo ao reconhecimento.   Claro que a fase mais dançante figurou entre os temas, afinal todo o luxo exibido necessita de vendas e o caminho foi este.  A parte destas, voaram covers de Akon, 50 Cent e até mesmo House of Pain com "Jump Around.  Acredito ainda que Snoop possa, um dia, ter um show dedicado somente à seus albuns mas no momento, apesar do tom de festa, tenha sido abaixo do esperado para os verdadeiros fãs do Rhythm and Poetry presentes no local.  Para sair de fininho, o DJ lançou "Jamming" de Bob Marley, todos dançaram com braços ao céu e o malandro virou fumaça.  Não podemos deixar de lado o engraçado da festa, completamente chapado, chamou a galera de motherfuckers e reclamou de não ser convidado mais vezes para vir a Barcelona, já que segundo suas palavras, ele adora a cidade.  Também pudera, tem tudo o que o puto gosta.     

Ficamos por aquí…cambio, desligo.







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