sexta-feira, 4 de abril de 2014

Du Baú - Kreator Entrevista (Hordes of Chaos)


Após passarem por Londres, onde também foram abordados pelo Rockonnection, o Kreator desembarcou na Espanha para três shows – sendo um deles em Barcelona na chuvosa e fria noite de um Domingo. Antes do concerto destruidor, fomos muito bem recepcionados pelo tour manager Richard, que nos levou ao backstage para a segunda e definitiva parte da entrevista, desta vez com Ventor (que já nos aguardava tranquilamente na sala reservada à banda. Coincidência ou não, foi exatamente na ausência de Ventor (um dos fundadores do  Kreator) que a banda passou por seus momentos mais nebulosos, ou melhor dizendo, diferentes. Junto ao retorno deste membro original, o Kreator também reencontrou seu caminho e somente nesta década lançou 3 álbuns de estúdio de tirar o fôlego.​  


Por Mauricio Melo



Poderia contar um pouco sobre o processo de produção e gravação deste novo disco? Como foi trabalhar com Moses Scheneider (Beatsteaks); algum detalhe durante este processo?
Sim, definitivamente. É um álbum ao vivo de estúdio, onde gravamos todos ao mesmo tempo. Toda experiência que acumulamos nestes anos gravando em estúdio e ao vivo (Live Kreation) utilizamos agora da maneira mais poderosa que pudemos. E Moses costuma trabalhar com gravações ao vivo, ainda que a especialidade dele não seja este estilo de música – ele inclusive já trabalhou com gravações de orquestras e música clássica. Era o que buscávamos para soar diferente. Ele sentava no meio do estúdio com todo o equipamento necessário e dizia "Toquem, quero sentir isso" e se tivesse algo com que ele não se sentisse satisfeito, parava tudo e tentava encontrar o que faltava, nem que fosse um pouco mais de energia. Foi algo muito interessante; um círculo no meio do estúdio, auto-falantes, bateria, guitarra, tudo pronto como se fosse uma apresentação ao vivo, e o resultado foi excelente.

 
Apesar de toda característica live, o disco também está bem técnico. Uma das músicas que deixa isso bem claro é “Demon Prince”, que possui uma introdução que é algo nos moldes do metal tradicional para em seguida dar entrada ao som característico do grupo. Também nos vocais, tanto nesta música quanto em “Warcurse”, nota-se algo bem gutural; seria isso mais um tempero no som da banda?
Acredito que sim, este é o caminho que queremos seguir. Não somente sentar num estúdio e gravar alguma coisa bem técnica e no final soar igual ao que já foi feito. Especialmente quando você está na estrada por 25 anos, isto é algo que deve-se levar em consideração.

 
Poderia comentar um pouco sobre a utilização de aparelhagem em 3D e o trabalho de iluminação da turnê atual?
Claro, você vai poder conferir esta noite e entender melhor. É uma artista de iluminação chamada Margarida Moreira (Portugal) e ela tem muita sensibilidade e percepção para as coisas. Passávamos as idéias e alguns trechos das músicas e ela já vinha com tudo pronto, exatamente como buscávamos. A Margarida está acostumada a trabalhar com grandes montadoras de automóveis e outros tipos de publicidade e por isso tem idéias mais extensas.

 
Uma das combinações que leva a música do Kreator é o conteúdo político em suas letras. O título Hordes of Chaos, dea alguma forma, está relacionado a essa crise econômica financeira que tanto vem incomodando a Europa e o Mundo?
Nem tudo é político. Tentamos não ser tão precisos com o tema das letras, pois não queremos dizer as pessoas o que elas tem ou não tem o que fazer; apenas mostrar o que acontece a nossa volta. Definitivamente não queremos dizer que as coisas deveriam ser assim ou assado. “Crie sua própria opinião”, é o que tentamos passar com as letras. Com relação ao assunto financeiro, acho que vem incomodando a todos os setores no planeta e não somos diferentes de ninguém.

Como o público vem recebendo as músicas de Hordes of Chaos? Por exemplo, ontém a noite em Bilbao.
Está perfeito. As novas músicas encaixam perfeitamente no setlist junto às antigas. O show de ontém foi excelente.

 
Várias bandas que tiveram seu auge nos anos 80 e parte dos 90 – com uma fase experimental às vezes mal compreendida pelo público – estão de volta com força total, como é o caso do Exodus, Testament, Death Angel e, claro, o Kreator. A que se deve este retorno com tanta força, alguma inspiração em especial ou aprendizado com experiências passadas? O Kreator lançou 3 álbuns de alto nível somente nesta década, sem contar o ao vivo.
O retorno às raízes foi necessário, apenas sentimos que tínhamos que fazê-lo. Achamos que já tínhamos experimentado o suficiente e que deveríamos voltar a fazer aquelas coisas unidas ao que aprendemos. Até mesmo a formação que temos agora é perfeita. Não existem limitações, o que nos dá a oportunidades de fazer o que quisermos.

Qual o motivo de sua saída da banda ainda nos anos 90?
Prefiro dizer que foram motivos pessoais que fizeram com que me afastasse da banda
neste período. Se pensar bem, um pouco de cada coisa; cansado de tocar, cansado da estrada...

 
O Hordes of Chaos chegou à internet antes de aparecer nas lojas. Perguntar se a banda se importa com downloads é até desnecessário... Porém, até aonde isso ajuda ou prejudica o Kreator, gravadora e as pessoas que trabalham em torno da banda? O que podemos fazer com relação aos downloads nos dias de hoje?
Acredito que as gravadoras vêm tentando apresentar aos consumidores algo diferente. Estão tentando porque no final das contas todos perdem um pouco de dinheiro com os downloads.

Já são praticamente 3 décadas de estrada, com altos e baixos, sendo que atualmente o Kreator mantém-se no topo como um dos maiores nomes do thrash mundial. O que você pensa da cena atual e novas bandas? Algo realmente te chama atenção ou fica a impressão que os grandes nomes ainda vão se manter por muito tempo no topo?
Espero que sim, estamos no caminho. Sabe do que mais gosto? Vamos tocar aqui e com certeza vamos encontrar pessoas de todas as idades curtindo o show. Desde garotos de 14 anos de idade até fãs mais antigos com seus 40 ou até 50.
Minha opinião atual sobre bandas novas é que existem muitas bandas no mundo. Vinte e cinco anos atrás surgiam bandas que chamavam mais atenção e eram mais diferenciadas. Hoje tem muita banda por aí, mas não existe tanta diferença entre elas. É assim que as coisas são e não podemos evitar.

 
Dois álbuns favoritos do Kreator; um antigo e um desta década?
Extreme Aggression e Hordes of Chaos.

 

Durante a turnê de Coma of Souls no início dos anos 90 o Kreator passou pelo Brasil (se não me engano) pela primeira vez. Não muito distante deste momento a banda tocou num programa de televisão (Matéria Prima) com transmissão em rede nacional às 5 da tarde, o que foi muito interessante para o metal no Brasil. Você se lembra de alguma coisa desta turnê, dos shows ou deste programa? Ainda tem amigos por lá?
Sem muito contato infelizmente, acho que pela distância. O que realmente me lembro sobre estes shows é de um público apaixonado pela música, uma valorização que não se encontra em qualquer país. Lembro-me de tocar e sentir a vibração da galera invadindo o palco, algo bem intenso. Na Alemanha o público apenas fica lá, imóvel. Talvez porque a cada álbum lançado fazemos uma turnê pela Europa, então se não assistirem ao show desta vez, assistem na próxima – ou já assistiram no festival do ano passado. No Brasil é diferente, as pessoas sabem que não é fácil para a gente ir tão longe, então há uma maior valorização. Esperamos que esta turnê chegue à América do Sul e ao Brasil.

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