sexta-feira, 4 de abril de 2014

Du Baú - Born From Pain (Entrevista)




Com mais de uma década na estrada, o Born From Pain foi uma das primeiras bandas européias a representar de metalcore e como sinônimo de trabalho vem ganhando espaço e respeito.  Durante a década passada acumulou cinco lançamentos, algumas mudanças de formação mas nada que afetasse o desempenho musical da banda.  Mesmo quando o vocalista original deixou a banda, os integrantes encontraram força suficiente para seguir adiante.  Com o lançamento de Survival a banda confirmou esta força e superação.  Recentemente tivemos duas oportunidades de encontrar alguns integrantes.  A primeira antes de um show e a segunda quando acompanhavam o Madball em sua mais recente visita ao velho continente e conversamos sobre o disco novo The New Future.  O guitarrista Karl Fieldhouse nos recebeu na van da banda e respondeu pacientemente todas as perguntas e curiosidades que tínhamos naquele momento.  No segundo momento, o vocalista Rob nos contou detalhes do novo disco, abrindo assim uma nova década.  Os melhores momentos destes encontros vocês conferem agora.
Por Mauricio Melo

O último disco da década passada, responsável por fechar e bem uma década de dedicação foi Survival em 2008 e como já esperávamos, veio forte.  Como foi a turnê deste disco desde então?
 
Karl - Bem.  Como sempre, a estrutura e rotina na banda vem sendo lançar um disco, viajar por dois anos, lançar outro e voltar para a estrada, somos uma banda bastante ocupada.  Para o Survival tudo vem funcionando bem, foi muito bem recebido como você mesmo comentou, fizemos a Persistence Tour na Europa com bandas de alto nível do hardcore como Heaven Shall Burn, Sick of it All e Terror.  Após tocar praticamente todas as noites sem descansar nesta turne fomos para a América do Norte.  Em Julho fomos  para a Ásia incluindo shows no Japão, China pela primeira vez, Tailandia, Nova Zelandia, Filipinas.  Foram  três semanas na Ásia e esperamos que à parte de cansativo foi  divertido também.  Já estivemos no Japão anteriormente  outros países mencionados.  Tocamos em alguns festivais por lá.

Considerando que o Born From Pain lançou um disco por ano com exceção do Survival que demorou dois anos com relação ao anterior, War, e agora um pouco mais, com quatro anos de espera.  O que podemos esperar do The New Future?
 
Rob - Primeiro de tudo, gostaria de dizer que estamos satisfeitos do como as coisas aconteceram.  Trabalhamos duro e por muito tempo tentando desenvolver ou tentando soar da maneira mais original possivel, trabalhando nos minimos detalhes e estamos satisfeitos com o resultado.  O processo de gravação foi bastante rápido a partir do momento que entramos no estúdio.  Contamos com Igor Wounters (nosso antigo baterista) tanto para gravar as partes de bateria quanto para trabalhar como produtor, engenheiro e mixar o disco e o resultado foi o que ja descrevi acima, satisfatório.  Após quatro discos com Tue Madsen optamos por uma mudança na tentativa de renovar o som e acho que encontramos o que queríamos.  Não que estivéssemos insatisfeitos com Madsen mas que definitivamente necessitávamos algo novo.  Com relação aos quatro anos de espera foi que estávamos preparando um disco novo mas não era o que queríamos, já existiam muitas músicas gravadas e compostas mas decidimos jogar tudo fora e começar do zero e com certeza isso ocupou mais tempo do que imaginávamos.  Acho que não vamos demorar tanto para um próximo.
Gravadora?
Rob - Colocamos o disco na internet para as pessoas baixarem gratuitamente.  Para as pessoas que ainda se satisfazem comprando um disco original, tanto cd quanto vinil, temos a GSR Music (mesmo selo que lançamos nossos dois primeiros discos) e atualmente já está disponível em todos os formatos. 


E o titulo, se é que contém e o motivo do mesmo?  Lembrando que os titulos anteriores era War, Survival, In Love with the End…
Rob - Desta vez tentamos dar mais positividade no titulo.  Desde que realmente acreditamos que como pessoas podemos chegar a um futuro melhor se escolhermos o caminho correto.  O significado disso é que existem um monte de alternativas para ser mais saudável, mais livre e satisfeito na vida do que já tivemos até agora.  Existe um grupo minúsculo no poder, deixando famintos uma grande maioria e tentando nos manter distante de uma melhor vida que na verdade deveriamos ter, nos oprimindo com miséria, leis e guerras.  Acreditamos que quanto mais o tempo passa mais pessoas vão enxergando a verdade.  O que significa que as pessoas já não são os seguidores destes poderosos.  Acreditamos que isso é o motivo de ter melhores vidas no futuro e daí o título The New Future. 
Alguma mudança na formação para este disco?
Rob - Sim, tivemos algumas baixas na formação.  Agora temos um bom baixista, Pete (ex-Black Friday 29) e um novo bateirista além do retorno de Serve que tocou na banda quando lançamos Reclaiming The Crown, estamos reforçados. 


Quando passaram por Barcelona anteriormente, Rob (vocal) teve um problema nos olhos.  O que realmente aconteceu?
Karl - Ele utiliza óculos e na maioria das vezes está com lentes de contatos.  De vez em quando não acorda bem numa manhã dessas se deu conta que tinha um pouco de sangue nos olhos.  Não se sentia bem, foi ao médico que lhe comentou que uma demora de vinte quatro horas a mais poderia ter custado a visão de um dos olhos e foi operado de emergência.  Isso, porém, foi uns sete meses antes da turnê com o Terror e exatamente quando estávamos nesta turnê o outro olho teve o mesmo problema, o que fez ele perder parte das apresentações porque teve que passar por todo processo de cirurgia outra vez.  Ao final acho que teve muita sorte por ter tido duas vezes o mesmo problema e conseguir solucionar.  Só temos a agradecer ao David (baixista do Terror) por toda a ajuda, foi nosso vocalista em quase todos os shows, é um grande amigo que temos.  Ficamos um pouco sem graça com a situação mas acredito que as pessoas entederam nossa situação e o esforço para seguir tocando.  Acho que seria pior se tivessemos que abandonar a turnê mas conseguimos dar uma solução. 
O que existe por trás do título Survival?
Karl -  É mais direcionado a como sobreviver no mundo atual.  Existem muitas coisas acontecendo e temos que ser um sobrevivente para resistir a tudo isto a todas as coisas e mentiras que as corporações espalham pelo mundo.  Em 2008 quando foi lançado o disco ou mesmo agora em 2012 pessoas são levadas a acreditar em algo.  Sabemos que são tempos difíceis mas Survival foi mais para alertar, para dizer chega a tanta mentira.  Então levamos aos extremos para dar um sentimento mais apocalíptico a situação.  Qualquer pessoa pode perder seu emprego ou sua casa atualmente.  Há uns anos atrás, se alguém não estava satisfeito com seu emprego, saía e procurava outro.  Atualmente pessoas pensam muitas vezes antes de tomar certas atitudes.  Pessoas não conseguem pagar suas contas e outras tantas não sabem que pequenas coisas como comprar comida.  Somente agora, diante de uma crise mais forte as pessoas vão descobrindo o lado escuro das coisas, aos poucos vão descobrindo porque ainda existem muitas pessoas que não sabem ou vivem à margem disto.  A vida já não é tão fácil quanto há alguns anos atrás e muitas empresas e corporações parecem querer dificultar as coisas.  Por isso escolhemos o título Surival, porque necessitamos ter este instinto para seguir adiante. 

Pode nos explicar algo sobre a música New Hate?  Algumas pessoas relacionam esta canção como um novo hino nazista ou com referências sobre o tema, como explicar esta confusão?
Karl - A música New Hate definitivamente não tem nada a ver com neo-nazistas ou algo do tipo.  Óbviamente somos totalmente contra este tipo de atitudes.  Acho incrível que no ano de 2012 ainda existam pessoas que olham e julgam outras pela cor da pele ou do país onde nasceram e tenham algum tipo de preconceito, igualmente posso dizer sobre a homofobia.  Simplesmente não entendo como atualmente pessoas conseguem pensar desta maneira.  The New Hate é uma música sobre como os políticos controlam as pessoas através da mídia.  Se você assistir canais como Fox News, CNN ou quem seja, as notícias se repetem a cada sete ou dez minutos, principalmente quando estas notícias são negativas, criando um círculo negativo e amedrontando as pessoas, controlando através do medo.  Tivemos evidências recentes na Holanda durante as eleições, sou britânico mas vivo neste país há anos porém não posso votar mas presenciei coisas.  Existia um candidato de extrema direita que utilizava a questão do medo para manipular as opiniões sobre o voto.  É o tipo de pessoa que apóia a não chegada de imigrantes de países como Marrocos, Turquia e países que não são europeus e espalhou medo a seus eleitores dizendo que o que fazem estes imigrantes são coisas ruins.  Os ricos das cidades pequenas que nunca se relacionaram com imigrantes ou que tem pouca experiência sobre este temas étnicos por não terem imigrantes em cidades pequenas, simplesmente acreditaram que o que falava este político era certo.  Porém se você for a Rotterdam ou Amsterdam por exemplo que tem todos os tipos de pessoas vivendo por lá, todos votaram nos partidos de esquerda.  O que fez este político de direita foi uma tentativa de criar algum tipo de racismo ou algo parecido ao invés de promover a entrada de novas culturas no país.  O cara espalhou medo massivo através do medo "se vocês não me escutarem, estarão em sua cidadezinha provocando a desordem...", chegou a ser patético mas algumas pessoas votaram nele porque não sabiam o que fazer por falta de experiência, então naturalmente acreditaram no medo e é disso que falamos em New Hate.  É totalmente sobre o controle do medo exercido pela midia e governos, "se você não fizer isso, coisas ruins irão acontecer".  Algo que os americanos fizeram com o terrorismo após as torres gêmeas, colocaram toda cultura mulçumana como farinha do mesmo saco e as pessoas com medo aceitaram sem discutir, é ridículo.  Mais se aproxima na tentativa de educar as pessoas em talvez pensar sobre no que vem sendo dito e não acreditar em todas as coisas que disseram na tentativa de controlar ou espalhar o medo e nada a ver com racismo ou nazismo. 
Após uma resposta assim podemos dizer que conspirações fazem parte das crenças do Born From Pain?
Karl - Bem, em opinião particular poderia dizer que acredito em alguma coisa.  Os atentados terroristas de 11 de Setembro por exemplo, assisti muitos documentários sobre o caso e vi muita coisa por internet também e acredito que muita coisa que foi dita não é verdade ou que o governo fez tudo o possível quando na verdade poderia ter feito mais.  Quando você descobre todos os detalhes sobre planos de vôo, estruturas que suportam demolições e que as mesmas pudessem ter "desmontado" de outra maneira com o choque dos aviões, etc, etc, todas estas pequenas coisas que me fazer duvidar um pouco.  Não digo que tudo é verdade mas que fazem mais sentido para mim, sem os ataques de 11 de Setembro a guerra não existiria no Iraque e tampouco no Afeganistão e isso já leva anos.  Tudo o que querem é uma guerra sustentável, por que?  Porque podem controlar maior quantidade de pessoas, podem fazer mais dinheiro e com todo o militarismo nas ruas e todo dinheiro que rende tudo isso.  As empresas que estão por trás disso tudo fazem dinheiro porque oferecem infraestrutura para todos os países envolvidos, etc.  Então, tudo isso faz mais sentido para mim do que fazer com que as pessoas acreditem que outros tentaram destruir um país matando e destruindo dois edificios nos Estados Unidos, é óbvio que eles não iriam ruir com isto.  Pessoas deveriam olhar o mundo a seu redor e tirar suas conclusões, não acredite no que eles dizem e igualmente no que digo, faça você sua avaliação.

Seguimos então maltratando os governos e empresas.  Podemos dizer que para muitos a crise financeira veio bem à calhar, já que estão justificando a mesma para cortar e diminuir gastos, demitir, reduzir?
Karl - Claro, utilizam isso bem facilmente.  Se as pessoas estão quebradas financeiramente é muito fácil de manipulá-las.  Se a situação financeira ajuda o povo se sente forte para fazer o que bem entende.  Se você não tem recursos financeiros vive eternamente com uma nuvem negra na cabeça e passa a pensar duas vezes antes de perder o pouco que tem.  Até chegar ao ponto em que todos estão quase perdendo o que tem e se unem com um único objetivo, é estranho mas é assim que acontece.  Governos e empresas tem sempre algo sinistro por trás e somente umas poucos com boas intenções.  Os governos não existem para ajudar pessoas, são como os bancos, te dá algo em troca mas a intenção é sempre ganhar mais do que dá.  As eleições americanas por exemplo, alguma coincidência que existisse uma mulher com ótimas chances de ganhar e um candidato negro em melhor posição?  Após Bush e todo desastre que um burro como ele pode proporcionar, pessoas tentaram manipular, teremos um presidente negro ou uma mulher para presidente, ambos casos inéditos.  Daí ninguém pensa em nada mais, estão todos focados nessa discussão por meses, alienados, manipulados.  As empresas estão sempre posicionadas atrás destas coisas e estão aí para fazer dinheiro, não importa como e é para isso que existem.  As vezes é até difícil escolher no que acreditar...   
E com toda essa crise na Europa, ajuda na hora de escrever, não?
Rob - Normalmente é fácil escrever sobre coisas reais.  A realidade é minha maior inspiração e sempre será.  Nos tempos atuais em que os banqueiros estão arruinando países, um atrás de outro, com seus esquemas financeiros a minha resposta é sim e como já disse existe uma miséria enorme no mundo.  O disco novo é mais político e crítico do que nunca.  Sentimos responsabilidade por cantar estes temas.  Existem mais coisas escondidas e mais cedo ou mais tarde a verdade aparece e trabalharemos nas mudanças e sempre estaremos felizes em dar nossa pequena contribuição.

Então o presidente americano é apenas mais uma máscara de político? 
Karl - Não tenho dúvidas e não sou o único que pensa assim.  Não conheço em detalhes seus projetos mas aposto que tem muita coisa que prometeu e já ficou para trás.  É claro que sempre existem exceções, prometeu a retirada dos americanos do Afganistão, já nem lembramos quanto tempo faz que ele se candidatou para presidente se no ano passado ou retrasado mas esta foi uma de suas promessas e tenho certeza que as tropas continuarão por lá por um bom tempo.  Obama está lá para pacificar as pessoas mas depois de um tempo se dá conta de que ele não está fazendo correto.  Diz que vai fazer porque alguém o controla como um fantoche e tudo segue igual. 
Recentemente o mundo assistiu a mais um capítulo de Gaza e outro da Síria, quando por exemplo um navio de ajuda humanitária turco foi atacado por Israel sem motivos convincentes e que resultou em mortes de algumas pessoas.  Independente de citar ou culpar um ou outro.  Até quando estaremos dispostos a ver isso?
Karl - Sabe, existe muita coisa bonita e pessoas impressionantes tentando melhorar o mundo, sacrificando suas próprias vidas para ajudar outros e no entanto coisas assim seguem acontecendo.  Quero ter saúde suficiente para ver como tudo isto vai terminar porque vai chegar a um ponto em que tudo vai virar cinzas.  Do jeito que as pessoas ou países lutam uns com os outros ou detonam o planeta.  Olha agora o que vem acontecendo no Golfo do México, não dá nem para calcular o desastre ecológico que se vem derramando por lá com tubos cuspindo óleo vinte e quatro horas por dia.  É muito louco porque nós temos uma vida especial, nos adaptamos, buscamos soluções, proteções, etc.  Os animais e a natureza não.

DVD?
Karl - Não sabemos ainda, talvez.  Tenho que admitir que somos um pouco preguiçosos para organizar filmagens e coisas do tipo.  Se fossemos um pouco mais construtivos com as filmagens e mais constantes com alguém trabalhando conosco podería funcionar mas nunca fazemos, é terrível (risos).
Alguma possibilidade da banda retornar ao Brasil e quais as lembranças que vocês tem do nosso país?
Sim, tivemos quatro shows no Brasil.  São Paulo, Belo Horizonte e nunca lembro de outras duas cidades que também foram muito bons...Coritiba e Porto Alegre? Sim! Poxa, que vergonha (risos) gostei tanto de lá mas sempre esqueço os nomes.  Foi excelente, quatro shows em sete ou oito dias e nos sentimos em casa definitivamente.  Esperamos retornar ao Brasil porque além do bom ambiente os shows foram brutais, a garotada estava enlouquecida e...enlouquecida (risos), adorei o país, os restaurantes self-services de São Paulo de todos os tipos de comida, que loucura (muitos risos).  Fomos num rodízio de pizza com karaoke mas tinha até pizza de banana, nunca tinha visto algo assim e quando você se distraía o garçon colocava outro pedaço no seu prato (risos).  Realmente foi muito bom e esperamos voltar. 

Muito obrigado Karl e Rob.
Obrigado a vocês, realmente foi muito legal ter este bate-papo.

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