segunda-feira, 3 de junho de 2013

Primavera Sound 2013


Primavera Sound 2013
Parc del Forum - Barcelona
De 22 a 25 de Maio 2013


Fotos: Mauricio Melo
Texto: Mauricio Melo, Gustavo Melo e Ana Paula Soares

A expectativa gerada pelo anuncio antecipado (23 de Janeiro) do cartaz completo para a edição deste ano do Primavera Sound foi tão grande quanto seu êxito e de mesmo tamanho coisas que com um pouco de paciência e consideração merecem ser corrigidas.
Por primeira vez em seis participações, podemos confessar que passou pela cabeça a sensação de que o festival poderia ter mudado de nome, este ano de 2013, de Primavera tivemos pouco já que o gélido vento que vinha do Mar Mediterrâneo golpeou com força nossas orelhas e caixa craniana, a ameaça de chuva foi constante mas que ao final São Pedro aliviou.  Utilizamos casacos, toucas, cachecóis, caminhamos, cansamos, demos uma volta na roda gigante, etc, etc.  O que sim tivemos muito foi o Sound do Primavera e aí, neste momento, tudo vale à pena.  
Ter a oportunidade de estar frente à frente com verdadeiros mitos da música indie, além de muitas e promissoras novidades.  Rir das figuras alheias, fazer rir porque também somos figuras…




Quarta-Feira 22 de Maio.

Tudo começou de mansinho, na quarta-feira 22 de Maio, dia em que o festival abriu suas portas de maneira gratuita para o público em geral.  
Horário oficial para o primeiro acorde se deu às 18:00 e para quem chegou com a intenção de assistir os jovens do The Bots, acabou surpreendido com a energia oferecida pelos "locais" do Aliment.  Grupo este que acaba de publicar o primeiro disco (Holy Slap) e que fez bonito com seus três acordes de seu garage/punk/rock e uma atuação que de cara te faz lembrar os Ramones.  Músicas rápidas, bem tocadas e se aguçássemos os ouvidos até dava para escutar o 1, 2, 3, 4, entre uma música e outra. Já a duplinha mencionada acima e totalmente influenciada por The White Stripes e Black Keys prezou por sua mistura de rock, blues e punk.  Após deslumbrar os Estados Unidos e arrebatar o prêmio do All Indie Music Awards ano passado, Mikajah e Anaiah Lei desceram a madeira na galera.  

Talvez a banda mais deslocada naquele momento foi o Guards, não que a apresentação tenha sido fraca, muito pelo contrário, mas seu som pop mais serviu de respiro para um público pra lá de aquecido naquele momento.  Mas quem definitivamente não deu respiro algum foi o The Vaccines.  Quem acompanhou nossa cobertura da versão de inverno do evento, chamado Primavera Club e mais ainda que esteve presente pela recente passagem da banda em terras tupiniquins sabe do que estamos falando.  Atitude de palco, musicas emendadas uma nas outras e seus refrões "chicletes", daqueles fáceis de decorar e que funcionam muito bem ao vivo como "Wrekin' Bar (Ra Ra Ra)", "If You Wanna" e "I Always Knew", entre outras.  Foram pouco mais de quarenta minutos em cima do palco, o suficiente para saírem ovacionados pelo grande público que já havia se formado no palco Ray-Ban para assisti-los, antes de finalizar a noite com Delorean mas que não acompanhamos por considerar que tínhamos uma verdadeira maratona nos dias que estavam por vir.    


Quinta-Feira 23 de Maio.

Começamos o dia de leve, conferindo parte da apresentação de Wild Nothing no palco principal do evento, o Heineken, que este ano assumiu o mando como patrocinador oficial.  Apesar da linda "Live in Dreams" ter ficado de fora do setlist, sempre será um prazer assistir ao quarteto liderado por Jack Tatum e entendemos bem que, diante do recém lançado Nocturne a vontade de tocá-lo seja maior do que relembrar "velhas" canções.  Outra que apareceu como novidade para parte do público foi White Fence, banda totalmente recomendável.  Liderada pelo guitarrista/vocalista Tim Presley e exibindo nítidas influencias de Velvet Underground, fizeram um show honesto e para não passarem despercebidos, um dos guitarristas mais parecia a Emilia do Sitio do Pica-Pau Amarelo, nada mais normal para quem vem de San Francisco e aterriza em Barcelona para um show no Primavera Sound, o coquetel era perfeito.  
Por falar em coquetel.  Recebidos como os novos queridinhos da imprensa indie, os australianos do Tame Impala exibiram todas as cores de seu psicodelismo no palco principal e para um público que apesar do dia e da hora, podia ser considerado como de bom tamanho.  Dependendo da música que se escuta, tanto podemos pensar que estamos diante de uma nova banda de Stoner Rock como é o caso de "Elephant" ou mudarmos de opinião diante de "Alter Ego".  Apesar de jovens, fizeram uma apresentação de gente grande.


Para finalizar o dia tivemos dois dinossauros do rock.  O primeiro leva faz referencia aos bichos já no nome, Dinosaur Jr. atravessou o oceano uma vez mais e tocou para seus velhos fans músicas como "The Lung" e "No Bones", passeou por "Feel the Pain" e brilhou com "Out There" e sua linda distorção melódica nas guitarras de J. Mascis.  Apesar do fundo de palco exibir a capa de seu último lançamento (I Bet On Sky) apenas "Rode" fez parte do set.  


Para finalizar em alto estilo e com a nostalgia lá em cima, conferimos o bom show de Bob Mould.  O ex-Sugar e Husker Du mostrou mais uma vez que está em ótima forma.  Talvez o único ponto negativo que podemos ressaltar e já antes de começar a apresentação foi a proibição de fotógrafos na barricada, que cá entre nós, nesta altura do campeonato, com uma carreira sólida construída aos riffs de guitarra que só Mr. Mould pode oferecer, esse pequeno detalhe ofuscou sua visita.  Talvez tenha se redimido por tocar meio álbum do Sugar já de cara.  Na mesma seqüência de estúdio, Copper Blue deu o tom primaveral que todos esperávamos, esquecemos do frio, cansaço e fomos cantar e relembrar bons momentos vividos em que este disco foi a trilha sonora favorita de uma geração e para quem não lembra da seqüência deixaremos por escrito "The Act We Act", "A Good Idea", "Changes", "Helpless" e "Hover Dam", covardia com os cardíacos de plantão.  Assim como o Dinosaur Jr., Mould chegou ao festival com o recém lançado Silver Age porém poucas canções foram aproveitadas, entre elas "The Descent" e "Star Machine" e sim, tivemos seqüência de Husker Du em reta final de apresentação.  


Sexta-Feira 24 de Maio.

Saindo do nada e já sendo considerado a "next big thing", uma especialidade da imprensa britânica e lá fomos nós conferir de perto o mais novo fenômeno de Birmingham, Peace.  Aquela postura marrenta ostentada por muitos frontmans britânicos já presente nos primeiros acordes e uma boa pedida para o mundio indie pop, porém teremos que esperar um pouco mais para saber se o êxito se repete nos anos que se seguem, de momento agradam e já com hit ecoando aos quatro cantos, "Follow Baby".


Como somos insistentes, corremos para conferir mais uma proposta da terra da rainha.  O Django Django surgiu daquele velho clichê, estudantes de arte numa escola em Edimburgo que resolveram fazer música de qualidade.  Com muito mais simpatia que seus compatriotas do show anterior, os uniformizados rapazes ofereceram ao público toda a mistura possível entre o rock, pop, indie, guitarras, teclados, num dos melhores shows daquela tarde.  Impossível ficar parado diante de "Hail Bop".  


Apesar do grande domínio Made in UK  do dia, outro momento esperado deste segundo dia oficial foi a apresentação do The Breeders tocando na íntegra seu disco de maior sucesso, Last Splash, que este sopra vinte velinhas.  Como as coisas mudam de um dia para outro, ou melhor dizendo, de alguns anos para outros.  Há poucos a banda tocou num já extinto festival espanhol, numa tarde ensolarada do mês de Julho e com apenas alguns curiosos dispostos a conferir o que as irmãs Deal tinham a oferecer, já naquela ocasião boa parte do Last Splash foi tocado e as palmas foram tímidas.  Desta vez a força das palmas foram mais fortes e o show foi à altura de sua celebração.  Disco tocado do inicio ao fim e com direito a algumas canções para completar o setlist entre elas "Shocker in the Gloomtown" do Guided By Voices, além da beleza de Invible Man para fugir um pouco do clichê de que Last Splash ser considerado álbum de um único sucesso, Cannonball.  


Antes da apresentação do The Jesus and Mary Chain, a palavra receio era a mais latente na mente de muitos.  Primeiro, havia uma cruz com luzes ao fundo do palco, para os fotógrafos o grande medo era de que aquelas fossem as únicas lâmpadas a serem acesas durante toda a apresentação, o que seria um desastre fotográfico.  Segundo, considerando todas as "desgraças" que falaram das últimas apresentações dos irmãos Reid nos últimos anos a coisa piorava porque além de não conseguir imagens ainda íamos conferir um show ruim.  Nada disso aconteceu e o sofrimento por antecipação foi desnecessário.  O show, em nossa opinião, foi de bom nível, com acordes bem encaixados em suas devidas distorções, a iluminação de palco esteve entre as melhores das aceitáveis e ainda tivemos a participação de Bilinda Butcher do My Bloody Valentine nos vocais de "Just Like Honey", talvez a única oportunidade de escutar a feminina voz em questão já que durante o show de sua banda, ou o microfone estava desligado ou foi completamente soterrada pelas distorções de Kevin Shield, optamos pela segunda conclusão.  "Snakedriver", "Head On" e "Cracking Up" foram algumas do bom cardápio oferecido ao público.  


Como de hábito o público metal não fica sem seu presente primaveral e este ano quem disse "hola" foram os californianos do Neurosis exibindo a criatividade que os diferenciam das demais bandas do estilo e com dez discos no currículo.  Talvez escutar ao Neurosis na sala de casa possa parecer uma eterna viajem, para alguns algo chato mas no palco entendemos em definitivo o significado e a proposta da banda.  Apenas seis músicas ocuparam os 60 minutos da banda no palco ATP, com certeza não passaram desapercebidos.

Logo ao lado, no palco da Heineken, chegávamos ao momento ápice do festival, a apresentação do Blur.  Banda esta que foi a primeira a ser anunciada pelo festival ainda no mês de Outubro do ano passado e num festival onde tem Blur, o cartaz não pode ser fraco.  Como bela surpresa, tivemos um pequeno momento com The Wedding Present que tocou num mini palco montado entre o ATP e o Heineken, bem diante de uma roda gigante de bom tamanho.  Apenas duas músicas foram tocadas mas para quem já estava posicionado para o show do Blur, ser surpreendido com esta bela banda, é realmente de tirar o chapéu, coisas do Primavera.  



Não faremos rodeios, apenas confirmaremos que o quarteto britânico fez o show mais redondo do festival.  A banda sabia exatamente o que o público esperava deles e vice-versa.  Damon Albarn e companhia ofereceram festa já na abertura com "Boys & Girls", um som mais rápido com "Popscene", uma volta ao passado da geração Madchestes com "There's No Other Way" apesar de não pertencerem oficialmente a este movimento.  Proporcionou gritos aos primeiros acordes de "Beetlebum", sorrisos abertos em "Coffee & TV", emoção em "Tender" e retorno à festa com "Parklife".  Damon, Graham, Alex e Dave confirmaram de vez que são os donos do Britpop, comandaram com maestria um grande público e não demonstraram estrelismo, tudo honestamente declarado até o grande finale ao som de "Song 2" quando público e banda se deram por satisfeitos.  Foi como ter a sensação de um aperto de mão onde um diz obrigado e outro responde, eu é quem agradeço.  

Sábado 25 de Maio.  

Chegar a um Sábado de Primavera Sound  após maratonas de shows, fotos e videos amadores como pequenos registros de sua existência passa a ser um ato heróico.  Totalmente derrotados pelo cansaço, frio, joelhos e tornozelos estourados de tanto subir e descer escadas, caminhar na terra, cimento, etc.  Uma das soluções oferecidas pelo evento este ano e que embarcamos de vez na idéia foi um serviço de "taxi".  Carros de diferentes modelos da marca Mini à disposição do público e que facilitava o deslocamento entre os palcos principais, num circuito que passava pelo backstage e que por alguns momentos foi de grande ajuda na economia de força motora humana para finalizar o evento.  
Uma das principais atrações do evento veio a cancelar a apresentação na última hora.  O grupo Band of Horses se viu obrigado a cancelar tanto o show do festival como outros que estivessem na agenda na mesma semana devido aos problemas climáticos na cidade de Oklahoma.  Sabemos que um furacão arrasou a cidade e cancelou todos os vôos.  Sendo assim, Deerhunter, grupo liderado por Bradford Cox e que já tinha oferecido um dos melhores shows do festival entrou como tapa buraco e de verdade, ninguém reclamou.  A escolha não poderia ter sido mais adequada.


Numa coisa podemos concordar, é sempre difícil num festival como  o Primavera Sound, consolidado como referencia do público indie, introduzir bandas de estilos marcados como o Metal e o Hip Hop e em mais uma destas apostas o Wu-Tang Clan subiu ao palco Primavera para oferecer  um pouco de suas rimas.  Diante de um público com boas intensões, porém relativamente difícil.  Digo difícil por não contar com um público especializado e amante do estilo.  Que o mesmo conheça e respeite as músicas do Wu-Tang Clan, disso não temos dúvidas mas ainda que este tenha boas intenções a recíproca não chega em alto nível.  Tecnicamente o show foi bom e até a inclusão de "C.R.E.A.M." entre as primeiras da noite não foi o suficiente para fazer a massar vibrar.  Mais adiante o coletivo investiu no público novamente com uma versão de  "Come Together" dos The Beatles.  A festa foi bonita, a animação foi positiva mas a tarefa nada fácil. 


Sábado também foi marcado como o dia das restrições entre bandas e imprensa.  Nick Cave and the Bad Seeds foi uma destas e isso era mais do que esperado já que muitos sabem que o velho australiano, declaradamente odeia aos fotógrafos.  Havia um contrato a ser assinado onde Cave, sua banda e empresa recebia o direito de, em caso utilizar uma de suas fotos em benefício próprio, pagaria ao fotógrafo a bagatela de 1 Libra.  Além disso, apenas 60 fotógrafos entrariam na barricada o que nos obrigaria em abandonar o bom show do Wu-Tang Clan para fazer fila na tentativa de fotografar Mr. mal-humorado Cave.  Encaramos como piada, dispensamos a fila e assistimos ao show sem estresse já que o senhor em questão visita Barcelona com certa freqüência.  Em cima do palco os Bad Seeds deram um show à parte junto a Nick que apesar de seus 56 anos exibe uma energia Iggy Popiana, hora dançando e jogando a perna ao melhor estilo Michael Jackson, hora tocando piano antes de se levantar com microfone em punho e descer ao público que o recebeu de braços abertos.  Lamentamos nos haver confundido com os horários e perder o show do Meat Puppets que rolou ao palco ao lado.
Após um momento de descanso, entramos nas voltas finais em busca de um lugar ao pódio.  Ignoramos advertências dos boxes, passamos reto em vários palcos e voltamos ao principal para conferir My Bloody Valentine com seu recém lançado MBV debaixo dos braços, mais de vinte anos após lançar o incomparável Loveless.  Assim como na edição de 2010, Kevin Shields e sua turma vetaram os fotógrafos.  Ainda assim, registramos um par de imagens para a posteridade.  Abriram com "I Only Said" soterrando vozes, estourando tímpanos e vimos até algumas pessoas saindo aborrecidas no meio do show, talvez por não escutar uma só letra do que era cantado, talvez por não aguentar a porrada que a parede sonora dava no público.  Nós não arredamos pé e por muitas vezes achamos lindas as melodias oferecidas, já valia tudo.   "When You Sleep" apareceu junto a "New You" do disco novo mas o público gosta mesmo é de receber "Only Shaloow" e "You Never Should".  Só achamos que o quarteto poderia ter tocado mais cedo porque diante do frio e do cansaço o público já era reduzido.


O mesmo podemos dizer para a apresentação de Hot Chip, mesmo sendo uma banda dançante e perfeita para um bom encerramento, entrar ao palco praticamente as quatro da manhã do último dia do evento foi o mesmo que entregar a alma, pernas, ouvidos e outras cositas mais para o além.  Animadíssimos, levantando o público desde a primeira música com "How Do You Do?", exibindo seu maior sucesso "Over and Over" e ainda assim poderia ter sido melhor se entrassem no palco um par de horas antes, seria perfeito mas como se comentava por lá, alguém tem que apagar as luzes.
Sempre lembrando que este ano o evento reuniu 170 mil pessoas somando os quatro dias de festival.  Ainda que pareça pouco se compararmos com outros mega festivais que existem pelo mundo afora, temos que considerar que são bandas pouco convencionais e que apenas uma pequena parcela destas tem vagas em rádios e televisão.  Não estamos falando de um festival que reúne bandas do mundo mainstream, salvo algumas exceções.  Por esta e outras é que o Primavera Sound continua sendo e será por muito referencia em matéria de festival independente.  
Até.       
  
Videos
Wu-Tang Clan


The Vaccines



       




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