segunda-feira, 10 de junho de 2013

Du Baú - Madball entrevista (Empire album)



O que cada um de nós fazia com 7 anos de idade?  O que iniciamos com a mesma?  No caso de Freddy Cricien, vocalista do Madball, foi o início de uma história ao ser "arremessado" pelo irmão Roger Miret, lendário vocalista do Agnostic Front, ao palco para berrar ao microfone.  O público se impressionou ao ver aquele guri com uma voz tão potente.  Os membros do Maball se tornaram ícones do underground e desde 1988 vem sendo responsáveis pelos mais importantes lançamentos do gênero hardcore.  Após uma excelente sequência de lançamentos nos anos noventa a banda passou por um hiato de cinco anos no início da década passada, verdadeira hibernação onde muitos fãns já imaginavam, e acreditavam, num verdadeiro fim dos "Kings" de Nova Iorque.  Porém em 2005, com Legacy, a banda mostra sua melhor face para dois anos mais tarde "brincar" de adicionar peso ao seu estilo.  Após três anos desde Infiltrate the System em 2007 a banda assume de vez o apelido de "Reis" e lançam Empire , o primeiro disco pela renomada Nuclear Blast e apesar de seus constantes problemas para encontrar um baterista em definitivo o grupo continua mais brutal do que nunca.  Na mesma tarde em que tocaram com o Sick of it All na chamada turnê New York United e no meio da correria com a falta de tempo por estarem com pressa para assistir a uma partida de futebol, conseguimos um bom papo com Mitts, guitarrista da banda nos três discos que a mesma lançou na última década e que nos deu toda atenção do mundo naquela tarde, ainda que conseguimos contar com a participação de Freddy já no finalzinho e a caminho do estádio.






01 - Começaremos então conversando sobre o disco novo, Empire.  Como foi o processo de gravação, produção, etc?
Mitts - Os dois discos que fizemos anteriormente, Legacy e Infiltrate the System, foi com o produtor Zeus de New England nos Estados Unidos, e para o Empire ele estava indisponível.  Neste momento estávamos em busca de um e recebemos a recomendação de Eric Rutan, que originalmente foi guitarrisda do Morbid Angel e atualmente no Hate Eternal, tem seu próprio estúdio na Flórida e claro está acostumado a trabalhar com bandas de death metal, como Cannibal Corpse por exemplo.  Porém nunca tivemos dúvidas sobre trabalhar com ele ou não, sabíamos que seu lado técnico era muito bom.  Acho que hardcore e metal não tem tantas diferenças em termos de gravação.  Sabíamos que ele teria capacidade suficiente para trabalhar com uma hardcore como a nossa e também acredito que também queria provar para as pessoas que era capaz que produzir e bem um disco hardcore e  não somente death metal.  Então nos encaixamos perfeitamente.  Já nos conhecíamos um pouco anteriormente, passamos um tempo junto, o processo foi bem tranquilo e ficamos satisfeitos com o resultado.  

02 - Foram 3 anos de diferença entre Infiltrate the System e o Empire.  Por que tanto tempo?
Mitts - Opções pessoais que tivemos, coisas que temos que lidar a cada dia... 
...pensávamos inclusive que o Madball iria parar outra vez...
Mitts - definitivamente não, na verdade nunca paramos de viajar e tocar.  Tocamos durante todo este tempo que você mencionou.  Normalmente publicamos um disco a cada dois anos mas desta vez tivemos coisas que prefiro não mencionar, são pessoais como falei, porém coisas aconteceram dentro e fora da banda que fizeram com que tomássemos um ano mais.  Muita coisa aconteceu nestes anos, Freddy tem seu álbum solo de hip hop, mudamos de baterista algumas vezes, então não tinhamos nenhum motivo para lançar um álbum há um ano atrás, o momento não era propício.  De qualquer maneira, como disse, durante todo este tempo fizemos turnês, non stop.

03 - Quando o Legacy foi lançado, foi muito bem recebido por público e imprensa como um disco a verdadeira identidade do Madball.  Já Infiltrate the System o disco veio mais pesado mas perdendo um pouco desta identidade.  Empire coloca o Madball de volta a seu estilo, a sua verdadeira identidade?
Mitts - Muito bom escutar isso.  Madball tem um estilo, bem único até.  Digo isto pelo tempo que levo na banda e pelo tempo antes de entrar na mesma, de quando éramos apenas amigos.  Madball tem um som único, um pouco metal, hardcore com muito groove, muito ritmo.  Fizemos Legacy e foi o primeiro disco desde que tivemos aquele "intervalo"  e queríamos fazer um disco totalmente Madball, com todos os elementos possíveis.  Daí quando fomos para o Infiltrate the System, queríamos testar um pouco para ver o que acontecia, como você mesmo disso, um pouco mais pesado, mais metal mas não metal-core, apenas um tempero.  Com o Empire é um retorno à fórmula que normalmente usamos.  Um pouco de tudo, colocamos groove, old school hardcore, e até acredito que é mais old school do que o Legacy.  

04 - Qual é a mensagem direta do Empire, tanto como título quanto nas letras que o disco contém?
Mitts - O título e as letras é uma continuação do que foi Infiltrate the System que foi falar de como nossa geração, os garotos da geração hardcore, membros das bandas que conhecemos, nossos amigos e famílias, crescemos participando de um "estabelecimento" e agora estamos mais envolvidos.  Temos pessoas em posições de poder, pessoas que antes iam aos shows e que agora promovem os shows.  Antes íamos assistir as bandas e agora somos as bandas, sabe, exemplos como este.  Temos pessoas em gravadoras, outras que promovem shows, que gerenciam clubes, etc.  Empire é a continuidade disto, agora temos pessoas em todos os lugares do mundo.  Temos pessoas de nossa geração que agora controlam todo o movimento.  

05 - A música The End vem falando sobre o vazamento de petróleo no Golfo do México.  Como a banda vem sentindo na pele toda uma nova administração e acontecimentos nos Estados Unidos?
Mitts - Madball nunca foi uma grande banda política.  Nunca pregamos política ou incentivamos direita ou esquerda, todas estas escolhas são pessoais e deixamos que assim seja.  A única coisa que sempre vamos escrever é quando algo nos chama atenção e Freddy escreve duas músicas em cada disco que foge um pouco do perfil que é falar das ruas e de experiencias pessoais, que na verdade é 90% do que escrevemos é sobre experiencias pessoais. Porém a música The End surgiu porque o vazamento aconteceu enquando escrevíamos música para o disco e acho até que a música não é diretamente sobre isto, é um exemplo do que acontece.  Na verdade ela fala muito sobre a cobiça humana e da maneira que as pessoas vivem, em geral, sem pensar no que acontece em sua volta e na verdade somos todos um pouco culpados de tudo.  Não são somente grandes empresas, também tem sua contribuição pessoal aí.  

06 - Sempre que o Madball lança um álbum sempre esperamos o melhor do hardcore.  Atualmente com tanta concorrência no mercado, qual o segredo para sempre lançar um disco que não pareça "batido" ou repetitivo? 
Mitts - Musicalmente não é difícil já que sempre bebemos de diferentes fontes.  Todos crescemos com o hardcore, eu e Hoya gostamos bastante de metal e o Freddy já sabemos que vem de uma família hardcore, algo de infancia.  Porém todos escutamos diferentes tipos de música, tudo o que você possa imaginar, rock, pop, hip-hop e até mesmo música clássica.  Todas as coisas que você puder imaginar e quando penera isto tudo dá para se manter em alta.  Se alguém escutar sempre hardcore ou metal a coisa não vai a lugar nenhum, quando você olha para trás e quer algo diferente além do que você já fez, isso te mantem "fresco".  
Falando em suas influências, hoje em dia é fácil descobrir uma banda e você como chegou ao hardcore?
Mitts - Como quase todo mundo.  Quando jovem gostava de Led, Black Sabath e metal em geral.  Daí uns amigos chegaram com D.R.I. e S.O.D..  Me disseram que era hardcore e acreditei, até que um amigo de Nova Iorque me apresentou Agnostic Front e Cro-Mags apesar de nunca ter deixado de gostar do metal.  

07 - A experiência de gravar um video clipe no Brasil, na verdade dentro de uma comunidade?
Mitts - Foi incrível!  Posso dizer que foi uma das maiores experiencias de minha vida.  Gravamos numa favela em São Paulo e a idéia original era ter uma gravação num lugar louco, num gueto.  Daí quando começamos a gravar chegaram umas crianças e quanto mais o dia passava mais e mais crianças chegavam.  E a coisa que mais mudou em mim, que mais me faz pensar até hoje foi que existiam crianças totalmente descalças, por opção ou não, acho que muitas delas realmente não podem ter um sapato para brincar e outro para isso e outro para aquilo.  Estavam jogando bola e a bola tinha um buraco e claro a bola nem quicava, alguns vivem em casas de tijolo mas outra vivem até com paredes de papelão improvisada, algumas até sem eletricidade mas foram as crianças mais felizes que vi na minha vida, estavam todas felizes.  Cara, viemos dos Estados Unidos onde...por favor não me leve à mal, tenho muito orgulho do meu país mas nos EUA, existem pessoas com celular, carrões, televisões, milhões e milhões de coisas e nunca estão felizes.  E vimos estas crianças que não tinham nada e só por fazer parte das gravaçãoes já foi o suficiente para faze-los felizes.  Isso mudou a minha vida, de verdade.  Não existe um dia desde então, que em alguma parte do dia as coisas não são boas ou não saem como quero, que eu não pense que ainda tenho sorte por ter três refeições ao dia se eu quiser, durmo numa cama quentinha, tenho uma casa com eletricidade, etc.  Somos inacreditavelmente sortudos.  Parte de mim se sente mal por eles mas por outro lado não posso me sentir mal porque eles estão tentando fazer o máximo que podem com o que tem e é isso que nos faz menores com relação a eles, nós é que deveríamos extrair o melhor com o que temos e não é assim.  

08 - Igualmente, vocês estiveram no Brasil outra vez em 2009 com o Agnostic Front.  Como foi então?
Mitts - Excelente como esperávamos.  Já tocamos umas quatro vezes no Brasil desde que estou na banda e é sempre muito bom, os fãs são muito atenciosos, os shows são ótimos e a comida também.  Algumas imagens destas turnês no Brasil, tinham que supostamente serem utilizadas para um DVD, não?
Temos muita coisa gravada desde que gravamos o 100% em 2006.  Originalmente tinha uma idéia de fazer um DVD sobre esta viagem.  Ainda temos muita coisa gravada desta época mas não decidimos o que fazer.  Tenho certeza que um dia lançaremos algo oficial e que contará toda a história da banda, há anos conversamos sobre isto, vai acontecer.  

09 - Podemos dizer que o Madball, que nesta década lançou três discos, é uma banda sólida atualmente?
Mitts - Definitivamente.  Não vamos parar desta vez, seguiremos adiante.  Falo do meu ponto de vista, estou na banda com outras duas pessoas já que de momento estamos sem baterista.  
   
Ao final da entrevista encontramos com membros do Sick of it All em outro bate-papo e num encontro geral, descendo as escadarias seguimos conversando e "pescando" nossas respostas.

10 - Hardcore, antes e agora.  Como vocês analizam tudo isso?
Freddy - A cena sempre foi multi-cultural.  Era inevitável descobrir coisas novas e cada um com suas histórias.  Existe gente que pensa que antes era unidimensional mas era muito diversificada do ponto de vista religioso, étnico e social.  A de agora não é tão diferente, pobres, ricos, classe média, de tudo um pouco.  

11 - Ter a dois grupos como Madball e S.O.I.A. juntos significa mais do que uma turnê?
Freddy - Somos quase uma família.  Tínhamos amigos em comum ainda que eles começaram antes.  Craig Setari tocava com Agnostic Front antes e jantava na casa de minha mãe.  A relação é bem estreita e com muito respeito.  Sempre fomos amigos.

12 - Após tantos anos na estrada, já passou pela cabeça parar com tudo isso e ter uma vida "normal"?
Freddy - Existem coisas difíceis na vida e muitas vezes ficamos irritados.  Por outro lado temos muita sorte de ser o que somos.  O hardcore nos escolheu e não nós a ele.
  
Agradecimentos especiais a Rob Franssen e M.A.D. Tourbooking.

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