sexta-feira, 30 de setembro de 2011

San Miguel Primavera Sound 2010 c/ Pixies, The xx, Pavement, Autoramas, Superchunk, The Charlatans etc 27/05/2010 - Parc Del Fórum - Barcelona/Espanha

 San Miguel Primavera Sound 2010 c/ Pixies, The xx, Pavement, Autoramas, Superchunk, The Charlatans etc
27/05/2010 - Parc Del Fórum - Barcelona/Espanha

Cardápio de entrada: Pocket shows com Campesinos. 26/05/2010

O já tradicional festival Primavera Sound completou sua primeira década e para celebrar trouxe grandes nomes de variados estilos, revelou novos nomes do cenário independente e ainda incluiu duas bandas brasileiras que fizeram uma apresentação de tirar o chapéu, ainda que em situações bem distintas.

Antes mesmo de encerrar o festival, os organizadores já celebravam a quebra de todos os récordes que este festival poderia proporcionar. Mais de 240 apresentações além de um número de público superior aos cem mil. Não poderíamos esperar menos diante de nomes como Pixies, Pavement, Wilco, Orbital, Broken Social Scene, The Charlatans, Superchunk, Spoon, The Fall e novos baby booms da música internacional como The Drums, The XX e Dum Dum Girls. Sem contar com o Pet Shop Boys, que mesmo diante de muito nariz torcido demonstrou o porque de serem os escolhidos para fechar a festa de primeira década do evento.

Antes mesmo da grande festa no recinto do Fórum a Sala Apolo recebia seus primeiros shows na quarta-feira 26 de Maio, tendo como principal atração Los Campesinos, principal motivo de enormes filas para tentar um lugar na sala com aforo limitado. Há dois anos tocavam em outro festival em Barcelona e passavam praticamente desapercebidos. Atualmente, além deste estarão no Reading/Leeds como uma das principais atrações, além disso, estão com disco novo no mercado, "Romance is Boring" que parece ter sido bem recebido pelo público apesar das críticas negativas por parte da imprensa.

Dia 1 oficial - 27/05/2010 - Originários de Hell City e a missão

Difícil missão tiveram os mato-grossenses do Macaco Bong. O festival mal abria suas portas, ainda em ritmo de últimos ajustes para a grande festa, além de um considerável sol das cinco da tarde e lá estavam nossos brasileiros abrindo os trabalhos no palco Adidas Originals, dedicado a novas tendências nesta edição e não foi nenhuma surpresa de que o grupo fez um excelente show. Apesar do curto tempo, 45 minutos (máximo) para todas as bandas deste palco, Ruy, Bruno e Ynaiã foram responsáveis diretos pelo esvaziamento dos palcos concorrentes, ou seja, bandas que estavam em mesma situação e missão, perderam o pouco que tinham para os Bongs que ao final já contava com bom público. Num rápido encontro após o show, os brazucas estavam felizes pelo feito e disseram não se importar com contratempos. "Temos que começar de alguma maneira e esta é nossa primeira vez na Europa, não podemos conquistar tudo de primeira", comentou o batera. Já o guitarrista Bruno lamentava o fato da maresia e o vento terem atrapalhado um pouco sua performance, "a guitarra estava colante (risos), poderia ter feito melhor". Se ele não fala, ninguém iria perceber porque agradaram bastante.

Com um pouco mais de sorte estavam os rapazes do Sic Alps, que além de estarem num palco ao lado da entrada principal, o Pitchfork, ainda tocaram um pouco mais tarde, já recebendo maior público para apresentar seu lo-fi ao melhor estilo Beck. Porém a primeira grande agitação do dia partiu do grupo israelense Monotonix e seu coquetel molotov em forma de música. Imaginem um grupo que não utiliza o palco para apresentar-se, tudo acontesse no meio do público e o melhor é que não ficam em um único lugar, a cada duas ou três músicas colocam os instrumentos nas costas (incluindo bateria) e mudam de lugar. O vocalista tanto pode cantar no chão ou sentar nos ombros de alguém, de quebra segura uma parte da bateria e batuca. É impossível não sentir-se feliz num show destes. Só para concluir, o show acabou com o guitarrista na grade da barricada que supostamente serve para separar público do palco e o restante na arquibancada junto a integrantes do Macaco Bong, e o dia mal começara.

 Um dos palcos principais do evento recebia em seguida a primeira grande atração, The Fall subia ao San Miguel diante de um considerável público. Marc E. Smith demonstrou o porque após mais de três décadas continua adiando sua aposentadoria com temas como "I've Been Dumped" jogando na sequência "Strychnine". Pouco mais de uma hora depois e num verdadeiro choque de gerações, outro grupo britânico aparecia no outro cenário principal. Os jovens do The xx chegavam ao Primavera Sound com a moral de ter sido o grupo revelação do ano anterior, incluindo seu disco de estréia como o melhor debut por muitos veículos especializados do velho continente, além de serem considerados como uma das bandas mais promissoras do ano pela NME, ou seja, não é um hype à mais na situação. Para os fãs já conquistados foi um deleite, ainda mais tocando "Crystalised", "Islands" e "Heart Skipped A Beat" como as três primeiras canções. Para os indies mais radicais, teve gente torcendo o nariz mas nada grave.
 As dez da noite chegava o primeiro grande remanescente dos anos noventa no festival. Após quase uma década sem lançar um LP oSuperchunk, que já anunciou disco novo para este ano, demonstrou de vez ser uma das bandas mais queridas do indie norte-americano, com temas como "Cast Iron" e "Precision Auto" que teve a participação de Tim Harrington do Les Sav Fav, banda que se apresentou no dia seguinte. Não muito distante dali o Mission of Burma e o Crocodiles disputavam a atenção do público, o primeiro com seu post-punk mais explosivo e o segundo levantando poeira com seu shoegaze, além do Broken Social Scene que fizeram o show de apresentação de seu novo álbum, "Forgiveness Rock Record". Numa rápida tentativa de descanso no reservado da Adidas, após horas circulando de um palco a outro, acabei sendo pego de surpresa por uma dupla madrilenha chamada His Majesty the King, era totalmente impossível de ignorar aquela menina mandando ver na guitarra e microfones enquanto seu companheiro detonava nas baquetas, o descanço tinha ido para o espaço mas valeu a surpresa. Bonito também foi ver o forte abraço da dupla atrás do palco ao terminar o show comemorando o feito, que, segundo as palavras da jovem tudo tinha acontecido muito rápido e nem os mesmos esperavam tanta atenção.
 Porém, o grande momento do dia (ou da noite) tinha chegado. Os também norte-americanos do Pavement fizeram um dos shows mais esperados do festival e porque não da década. Talvez a mais doce revanche de um grupo indie, rejeitados por muitos em sua época real, adorados por outros que afirmavam que a banda estava adiante de seu tempo. Responsáveis diretos pela invasão lo-fi e de utilizar o ruído como ferramenta de expressão artística, levaram o público ao delírio com canções como "Cut Your Hair" e "Gold Soundz" num setlist que incluiu facilmente mais de vinte músicas, revisitando assim um vasto repertório de deus cinco discos oficiais de estúdio lançados da década de noventa mas inteiramente calcados em "Crooked Rain Crooked Rain", outra boa pedida foi "Unfair". Grande destaque também para o baixista Mark Ibold que apresentou grande forma, vale lembrar que até ha pouco o mesmo estava como "convidado" no Sonic Youth e ano passado tocou no mesmo palco com esta banda e também para Bob Nastanavich, com certeza o membro mais aclamado do quinteto tocando uma segunda bateria, gaita e até brinquedos. Não faltaram músicas do primeiro trabalho como "Trigger Cut" por exemplo. Não temos dúvidas que todos os fãns foram atendidos nesta bela apresentação mas para muitos a noite não acabaria junto ao Pavement. Uma das opções para fechar a noite eram os britanicos do Fuck Buttons com sua mejestosa barulheira e camadas distorcidas. Uma coisa é certa, a dupla toca alto, muiiiitooo alto numa jam que durou mais de hora sem intervalos.

Dia 2 Oficial - 28/'5/2010 - Pixies esgota entradas e Autoramas levanta poeira com Bacalhau

Neste segundo dia oficial de festival, o que podemos destacar já de cara é a lotação máxima dos ingressos, algo inédito para o Primavera Sound e por um único motivo. O Pixies faria sua segunda aparição na história do festival, seis anos após sua única visita em 2004. Porém não era estrela única do dia apesar de maior, outros grandes nomes marcaram o dia, boas surpresas e também nosso trio brasileiro Autoramas fez um ótimo show. Vamos por partes.

As seis da tarde os texanos do Harlem apresentava músicas de seu recém lançado "Hippies" com seu garage rock com pitadas de rockabilly, mas o que chamava a atenção mesmo era a grande fila que se formava ainda do lado de fora do recinto para conferir de perto o show do Low no auditório do Fórum, situado no subsolo do Parc. Vale lembrar que os shows neste local apresentam um perfil mais intimista, acesso limitado, cadeiras confortáveis além de uma expetacular acústica. Quando o mundo descobriu o estilo definido como slow core, que demonstravam que os susurros podem ser mais estrondosos que os gritos, o grupo Low já estava na estrada há muito, e nesta edição apresentaram na íntegra o disco "The Great Destroyer" e desde já podíamos classificar como um dos shows mais bonitos apresentados neste décimo aniversário.
Logo em seguida e já dentro do Parc del Fòrum duas boas opções dividiam o público. A primeira é o Condo Fucks que talvez você nunca tenha ouvido falar mas com certeza conhece seus integrantes. Condo Fucks não é ninguém menos que Yo La Tengo sob outro nome e claro outra proposta, um garage rock setentero no qual Ira Kaplan, Georgia Hubleye e James McNew estão se divertindo aos montes e tocando em palcos mais alternativos do que nunca com seu disquinho recém lançado, o "Fuckbook". A segunda era um pouco mais sofisticada, Spoontambém chegava sob a batuta de banda grande e público à altura. Igualmente com novo disco no mercado o "Transference" defenderam bem o posto de banda melhor valorisada da década. Músicas como "Don't Make me a Target" do aclamado "Ga Ga Ga Ga Ga" e "Written in Reverse" do mais recente foram muito bem recebidas. Na sequência tivemos outra banda muito aguardada, o Wilco também apresentou seu recém e autointitulado álbum em sua terceira visita ao festival com seu tradicional american rock-country se é que podemos definir assim. Um dos pontos altos foi "Jesus, Etc" de "Yankee Foxtrot Hotel", para fugir um pouco das distorções.
Ainda com o Wilco em reta final de show, nosso Autoramas botava todo mundo no Adidas para dançar o bom rock and roll. Bacalhau, Gabriel Thomaz e a estilosa baixista Flavia Couri levantaram a poeira noite catalana levando músicas em inglês e claro no nosso bom português como "Paciencia". E mesmo quando o trio pensava em encerrar as atividades chegou a notícia que ainda rolaria uns minutos, deu até para levar aquela versão suingada de "Bacalhau" deixando de vez o clima de festa no ar, melhor impossível. Foi um grande orgulho ver as bandas brasileiras chegarem num festival com tantos outros nomes da cena idependente, e o melhor de tudo, agradar em cheio mas a noite estava um pouco distante de acabar.

Duas potências do festival dividiam o público, ainda que alguém pudesse pensar que o Pixies roubaria todo o protagonismo, o Sheelac de Steve Albini fazia sua terceira visita consecutiva ao festival e a quinta num total de dez e garanto que a galera se acotovelava para ver, ignorando Frank Black e sua trupe. Entre os dois palcos, enquanto fazíamos fila para o limitado número de fotógrafos a entrar na barricada, dava para escutar e ver pelo telão Marc Almond levando talvez a música que o consagrou quando fazia parte do Soft Cell, "Tainted Love", música para todos os gostos.
Enfim, chegava o grande momento e uma fotógrafa a meu lado confessava a emoção de estar ali quando as luzes se apagaram e após seis anos o Pixies visitavam novamente Barcelona e o festival que os viu resuscitar em 2004 numa reunião que se tornou um dos acontecimentos da década e que somente ao vivo muita gente se dá conta do que realmente representa o Pixies para o mundo da música. Abrindo com "Cecilia Ann" do "Bossanova" numa sequência que também incluiu "Rock Music" também do mesmo álbum num perfeito convite para uma noite de gala. Noite esta que incluiu uma infinidade de clássicos como "Alec Eiffel", "Debaser" com Kim caprichando no seu contrabaixo, "Where's My Mind" onde dezenas de milhares de pessoas reproduziram o grito de fundo desta música e que com certeza ecoou nos quatro cantos da cidade. Aliás, acredito que todas as músicas foram recepcionadas de igual maneira, "Monkey Gone to Heaven" e porque não "Here Comes Your Man", ambas de "Doolitle". Poderíamos ficar citando canções após outras e a lista seria de dar inveja mas não queremos provocar este sentimento e sim relatar os fatos. Após uma apresentação como esta o jogo estava ganho mas não terminado. Ainda teríamos por diante um Sábado e um encerramento no Domingo.

Dia 3 Oficial 29/05/2010 e encerramento definitivo 30/05/2010

Já em ritmo de encerramento, deixando saudades antecipadas, a organização caprichou nas novidades e em velhos conhecidos do pop. Tivemos por exemplo os catalães do Mujeres com seu garage rock que lotou a pequena arena onde se situava o Adidas. Também as meninas do Dum Dum Girls que além do show principal no Pitchfork ainda tocaram em versão acústica numa tenda Ray-Ban e gratuitamente no Domingo na versão Primavera al Parc, realizada no parque Joan Miró de Barcelona. Tanto os rapazes catalães quanto as americanas fizeram autênticos shows rock and roll. Porém, das revelações do dia a mais aguardade era as dos nova-iorquinos do The Drums. Uma banda que explodiu para público e crítica antes mesmo de ter um LP, bastou um EP e duas canções para se tornarem os queridinhos do mundo no ano de 2010, principalmente com o single "Let's Go Surfing". A grande verdade é que não decepcionaram nos quarenta e cinco minutos que ficaram no palco. O disco será oficialmente lançado nas próximas semanas.


Built to Spill igualmente fez grande apresentação mas teve que dividir o público com outra banda que também celebrava vinte anos de seu primeiro lançamento e que está excurcionando com o formato de tocar o primeiro disco na íntegra: The Charlatans. Alguns fãs saíram decepcionados da tenda Ray-Ban após esperarem a banda por mais de meia hora e passar um certo calor para conferir de perto uma suposta apresentação acústica dos britânicos. O que se viu naquela tarde que antecedia ao show principal foi um par de perguntas com respostas "sim" ou "não" e apenas duas músicas "The Only One I Know" e "Vanity". A banda saciaría mais tarde o desejo dos fãs, ainda que isso não apagasse aquela pontinha de decepção da tarde. No show principal, quebraram o protocolo, tocaram todas a músicas de "Some Friendly" como previsto mas mudaram as ordens das músicas mesmo abrindo com "You're Not Very Well" e terminando com "Sproston Green".

Ainda restavam dois grandes nomes para o fim da festa, os Pet Shop Boys e Orbital. Os primeiros, apesar da rejeição inicial por parte do público ao serem anunciados meses antes, fizeram jus a sua história tocando grandes clássicos do synth-pop dos anos oitenta e noventa, e porque não, dando um toque de despedida e celebração ao décimo aniversário do evento. Com toda uma produção de palco, bailarinos, figurinos e projeções considerada recentemente pelo The Times como a turnê mais deslumbrante do ano, produzido por Es Devlin que arrebatou prêmios de melhor desiner de cenários no ano passado. Tocaram clássicos como "New York City Boy", "Domino Dancing" e já no bis com "Being Boring" e "West Ending Girls", neste que foi o primeiro show da turnê mundial Pandemonium. As três da manhã Orbital também entra para dar seu recado abrindo a noite com "Satan" (convidativo não?) e impressionantes projeções de palco.




Domingo e último dia de maratona, os Black Lips que ano passado estiveram na grande festa, este ano encerraram. Sala Apolo lotada e uma fila de dar voltas no quarteirão na esperança de entrar, por parte do público, e a já esperada loucura desatada no cenário. Garage Rock com letras maiúsculas, copos de cervejas arremessados, stage-divers e muita distorção. A temperatura dentro do recinto superava os quarenta facilmente, "Take My Heart", "Short Fuse", "Drugs", estavam todas lá num show que acabou a capacidade do palco esgotada devido a uma invasão em massa e os integrantes sendo carregados nos ombros.

Parabéns Primavera Sound, pela década realizada e pela festa oferecida, não existe dúvida que este evento já é referência no mundo.










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