sexta-feira, 3 de outubro de 2008

God Save The Kings!

Foto tirada durante o festival Summercase Barcelona 2008 - Mauricio Melo

God Save the Kings!
Kings of Leon Lançam quarto disco e conquistam o Reino Unido
por Mauricio Melo - Barcelona, Espanha[24/09/2008]

Desprezados por parte da imprensa, mas elogiados por um grande público. É com esse estigma eterno que o Kings of Leon apresentam, no próximo dia 23 de Setembro, seu quarto disco, Only by the Night [2008]. A família Followill, nativa de Nashville (Tenessee - EUA), enfrentou grandes desafios para finalmente conquistar o Reino Unido: deixar para trás a sombra dos Strokes, manter assombrado seus leais seguidores, provar que não faz mais shows por pura diversão e esbanjar altas doses de profissionalismo, como fizeram em Barcelona no festival Summercase e em Glastonbury, onde foram headliners.
Mas antes de chegar ao atual estágio, a banda passou por diversas transformações. Com Youth and Young Manhood [2003], ela deu seu tiro de partida que culminaria em Aha Shake Heartbreak [2005] – o álbum levou-a a ser convidada de honra na turnê do U2. Na seqüência, Because of the Times [2007] deu mostras de um rock moderno com pinceladas que iam do punk ao progressivo, apresentando uma banda mais madura. Por fim, Only by the Night. O álbum foi gravado em somente um mês e meio, na própria Nashville, e parece trazer maior concretude nas idéias e um som mais amplificado.
Qualidade que se reflete na procura por ingressos. Em Glastonbury a banda tocou para mais de cem mil pessoas, nos os próximos meses está com uma turnê marcada para grandes estádios no Reino Unido. É possível que nem eles imaginassem tamanho reconhecimento em tão pouco espaço de tempo. O sucesso provavelmente foi ocasionado por Because of the Times, um marco para a banda que a transportou do chamado rock de roça para os grandes palcos.
De todo modo, nem tudo é tão simples e glorioso para os sulistas. Em seu próprio país, o reconhecimento ainda não chegou – e talvez ainda demore um pouco. Mesmo que seja grande o acesso a boas bandas e movimentos culturais, boa parte dos norte-americanos ignora este privilégio. Alguns só se tornam grandes depois de serem reconhecidos na Europa. E pelo andar da carruagem, os Kings parecem realmente ter intenções de conquistar de vez o velho continente, embora não tenham desistido ainda de seu país de origem.
Com relação ao novo disco, analisado a partir de algumas faixas antecipadamente lançadas para iPods, é visível a evolução musical dos ex-caipiras. Closer abre o disco e dá a nítida sensação de se escutar uma continuidade de Because of the Times, com um perfil mais progressivo e moderno. Na seqüência, Crawl é um petardo com uma sonoridade de guitarra e baixo – são zumbidos que lembra o U2 quando deixou de lado seu rock 80's e apresentou ao mundo Achtung Baby [1991]-, mostrando que o convívio ensina muitas coisas e os Followills não são tão matutos quanto pareciam. A terceira faixa, single no mundo inteiro e que chegou a primeiro do ranking europeu, é Sex on Fire. Talvez seja um único sopro do antigo Kings of Leon, lembrando as músicas de Aha Shake Heartbreak com uma roupagem mais moderna.
Se já não o é, Use Somebody será o novo hit do disco. Acerta em cheio, é pegajosa e dá margens para o coro de fundo da multidão em um show. Outro exemplo da já citada evolução é Manhattan, que adiciona som de castanholas para decorar a canção. Seguindo o formato da faixa anterior, Revelry tem uma definição muito básica, bonita letra [até certo ponto inocente] e certa beleza na simplicidade de como é tocada, mais puxada para o pop. Não fosse cantada com o forte sotaque sulista de Followill, poderia causar um efeito muito diferente.
17 segue misturando pop, rock e, com uma introdução ao som de sinos, dá o tempero setentista que a banda vem utilizando com freqüência – vale lembrar que em recente apresentação no citado festival Summercase, o grupo utilizou No Quarter do Led Zeppelin como introdução. Em Notion, ao invés de sinos utilizam piano, dando mais uma mostra de maturidade musical. Be Somebody, por mais que pareça absurdo e não encaixe com o perfil do grupo, é praticamente uma música post-punk, com baterias tribais que muitas bandas utilizaram nos anos 80 [citaria Cure entre elas], riffs de guitarras e baixo marcado lembrando bastante duas bandas de uma única formação: Joy Division e posteriormente New Order [a primeira no decorrer da canção e a segunda no refrão].
I Want You e Cold Desert são as músicas mais extensas do disco, a primeira antes de Be Somebody, que apesar de lenta tem tom animado. Cold Desert fecha o disco em tom de despedida, lenta, arrastada mas sem se tornar chata.
Os fans mais antigos podem até torcer o nariz, porém era inevitável que a mudança acontecesse. Quando surgiu, a banda tinha muito potencial, mas um conhecimento cultural e musical até certo ponto limitado. Ao sair pelo mundo excursionando com grandes bandas e tendo a oportunidade de devorar novas culturas, ela naturalmente avançaria o feijão-com-arroz. A mudança não se reflete somente na música da família Followill. No último fim de semana, ela tocou no Saturday Night Live e em nada lembravam aqueles meninos caipiras, com camisas xadrez, jeans esfarrapados e barbas por fazer.
Talvez o Kings of Leon tenha sido injustamente taxado por participarem de uma geração que surgiu em meio a bandas como The Strokes e The White Stripes. Também influenciou certo preconceito, por serem uma banda sulista [coisa comum nos Estados Unidos]. Mas se as bandas citadas perderam um pouco de força, apesar da incontestável qualidade, o Kings of Leon seguiu caminho oposto, principalmente na Ilha Cinzenta – como é chamada por aqui o Reino Unido.
Only by the Night tem como datas oficiais de lançamento 22 e 23 de setembro, a primeira no Reino Unido e a segunda mundial. Além de algumas músicas já disponíveis no MySpace da banda, boa parte já vazou na web. O disco que prometia um retorno às raízes na verdade é uma mistura de tudo que já fizeram: tem algo dos dois primeiros melhor elaborado, fazendo o perfil do trabalho anterior. God Save the Kings!
Também publicado em Revista Paradoxo www.revistaparadoxo.com
Mais fotos sobre os Kings of Leon - www.flickr.com/photos/mauriciomelo

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