CAN’T KEEP US DOWN – BARCELONA 2015
Texto e fotos: Mauricio Melo
Dia
1 - 30/01/2015
Visitamos
pelo segundo ano consecutivo o festival hardcore (bastante independente) CAN’T
KEEP US DOWN, realizado em Barcelona e muito bem organizado pela galera local.
Sem grande pretensões e muito menos patrocinadores, o evento conta com a
“colaboração” do Ateneu Popular Nou Barris, para entender melhor, uma espécie
de Centro Cívico / Centro Cultural. Uns colaboram com os cartazes, outros
com fotos e vídeos de edições passadas, o tema vai sendo passado no verdadeiro
boca à boca através das redes sociais, mensagens, etc. Com direito a
desconto para quem compra entradas antecipadas para as duas noites, uma
oportunidade única de ver reunido em um só fim de semana alguns dos melhores
grupos hardcore (de vários estilos) da Espanha além de algum visitante gringo.
Antes
mesmo das portas abrirem a concentração do lado de fora já prometia. Logo
ao entrar, as opções de comida vegana para alimentar a galera eram muitas,
afinal uma larga noite se aproximava e estar alimentado era algo
imprescindível, ainda que nem todos os alimentados fossem veganos.
Tradicionais barraquinhas de merchandising disponíveis, os tradicionais
vinis tanto em LPs quanto as pequenas bolachas 7”, havia para todos os gostos.
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Fang |
E
para todos os gostos também haviam shows, um cartaz bastante interessante que
começou com uma banda local, o Fang. Abrir uma noite é
sempre difícil, ainda mais tendo essa uma grande variedade de bandas por
diante. Ainda que o público presente fosse numeroso o local ainda estava
frio, tanto de ânimos quanto literal. Um hardcore sujo, rápido e de
composições pouco sofisticada. Boas letras, isso sim mas apesar do bom
show, como foi dito antes, tarefa difícil. Com um público um pouco mais
receptivo, por sua presença constante nos últimos meses em diversos shows, que
inclusive cobrimos, o Golem mostrou sua intensidade de
sempre. Berrado, pesado, porrado e colocando a galera para agitar de um
lado a outro diante do baixo palco ao som de suas músicas que quase não superam
um minuto de duração como por exemplo “Excuses” que não chega aos 30 segundos.
O grupo já prepara seu primeiro 7” e sua demo recebeu a etiqueta de sold
out.
Marcando
presença por mais uma edição o punk rock do The Gundown deu o
primeiro toque de grupo mais técnico da noite e a experiência falou mais alto.
Com uma postura de palco digna de quem leva tempo no movimento, com um
guitarrista de alta qualidade e um baterista que, além da habitual vibração que
possuem os instrumentistas do estilo, ajuda e muito nos vocais. Abriram o
set com versões plugadas do recente EP acústico intitulado Thunders, “Broken
Earphones”, seguindo com “Troublemakers of the United World” do mesmo EP e
fechando o trio de abertura com “Need Our Pride Back”. Um bom show que
fechou com “New Age”, cover do Blitz. Não! nada de batatas fritas, esses
eram outros.
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The Gundown |
O
Mindtrap
foi o único representante estrangeiro da noite, um grupo com origens alemã e
russa ao melhor estilo hardcore anos 80. Seco, sem firulas e com
mensagens diretas no queixo. Um setlist curto totalmente apoiado no recém
lançado Life Among Liars and Thieves. Vocalista diretamente no chão,
puxando o público de um lado a outro e mesmo quem não conhecia a fundo sua
músicas foi contagiado pelos riffs. “Two Faces” e Only Warning” foram
algumas que por lá passaram.
A
noite já havia passado da metade quando o Col.lapse pisou no palco.
Assim como o The Gundown a experiencia atropelou e deixou nítido que
Barcelona já é pequena para o grupo. Com ex-integrantes do lendário grupo
Cinder, o Col.lapse abriu o set com “No Importa” que habitualmente fechava suas
apresentações e que levou o público ao delírio, este cantava todas as letras
junto ao vocalista Joan que saltou, gritou e compartilhou o microfone com a
linha de frente. Músicas bem compostas e executadas ao vivo, o grupo é
quase um dream team que conta também com o baixista e vocalista do The Gundown
e o experiente Eric Altimis nas baquetas, além o imparável Jaume Orriol nas
seis cordas de uma boa Gibson. Um set recheado de músicas do disco Enfosat mas também com alguma composição
nova. O grupo está bem, chama atenção tocando ao vivo e o público
agradece.
Algo
bem parecido podemos dizer do Constrict, outro grupo que figura
muito em nossas publicações “made in Barcelona”. O público está no bolso,
o disco que já era para estar publicado mas que conta com um bom atraso já está
composto e o quinteto, que ano passado abriu o festival, mostrou que a estrada
já foi asfaltada. Show intenso, com muita vontade e stage dives, vocal
berrado e guitarras pesadíssimas ao melhor perfil Integrity. Para fechar
a noite tivemos o lendário 24 Ideas, um antigo grupo que voltou
à ativa há pouco tempo e que, como muitos dizem, não vive de passado compondo
novos temas e já planejando disco para 2015. O show? bruto ao na
melhor das hipóteses. O baixista Jaume Orriols que também é guitarrista
no Col.lapse que havia se apresentado há pouco, deu um verdadeiro show. O
vocalista rolando pelo palco, chão e sendo carregado nos braços. Aquele
velho estilo hardcore/street nunca esteve tão presente e bem representado no
festival, pelo menos nessa primeira noite.
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24 Ideas |
Dia
2 - 31/01/2015
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Blanes |
Os
responsáveis por abrir a segunda noite foi o grupo local Blanes, que conta com
membros do Constrict, Golem e Appraise, ou seja, uma mistura de bandas locais que
resulta num bom punk rock melódico. O vocalista Matt, que se não me
engano é americano residente em Barcelona, defendeu muito bem o set
apresentado, baseado na primeira demo do grupo, At a Loss que conta com temas
como Kings and "Quens of the Masquerade Ball" e "Outbound".
Outro grupo que representou bem sua recém publicada demo foi o quarteto
punk feminista Siega. Apesar de curto, o set foi intenso com a vocalista
Amy berrando ao microfone diretamente da pista, junto ao público. O mesmo
podemos dizer do NO, a pista foi definitivamente a extensão do palco.
Mais um set curto mas igualmente intenso.
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NO |
O
público ainda curtia uma preguiça e reservava forças para o que estava por vir
e não demorou a se animar. Na sequência tivemos o Appraise, que assim como
ano passado fez uma excelente apresentação porém com alguns diferenciais que
merecem destaque. Gabi, o vocalista do grupo e organizador principal do
evento, está muitos quilos à menos e esta boa forma refletiu numa apresentação
de luxo. O vocalista do Blanes, Matt, que também é baixista do Constrict
compõe o quinteto (ano passado era um quarteto) deixando o outro guitarrista,
Joan, mais solto durante seus riffs. Também podemos somar na apresentação
deste ano o fato do grupo já haver lançado seu primeiro LP, Deeper Than That.
Vale lembrar que em Março o quinteto em questão vai participar da
renomada Rebellion Tour que contará com grupos como Madball, Strife, Backtrack
e Rise Of The Northstar e que nesta apresentação o baixista Miguel, que compôs
a primeira formação do grupo, fez participação em boa parte do show. No
Can’t Keep Us Down, Gabi comandou a apresentação, chamou o público que já
conhece muito bem as letras e refrões de músicas como “Deeper Than That” e “No
Foundation” além de um cover do Minor Threat, demolidor.
Na
sequencia tivemos o Minority Of One. A curiosidade fica por conta do quinteto
ter participado do festival em 2014 quando ainda eram o Truth Through Fight.
Sim, o quinteto do TTF deixou o hardcore mais extremo de lado e assumiu o
até então projeto Minority Of One como banda principal. O estilo mudou
mas a intensidade e a mensagem do punk rock melódico atual é a mesma do TTF.
O vocalista Fede Edge continua voando no palco. Suas expressões
faciais é o reflexo do que vemos e ouvimos enquanto o grupo está no palco.
O público já vibra com a banda como se esta já fosse veterana no cenário
e as músicas do disco Glory Days já estavam na ponta da língua, é o hardcore de
Andalucía fazendo história. Quem também repetiu atuação de gala foram os
Valencianos do Poder Absoluto. O vocalista Fácil e suas luvas ao melhor
estilo Raybeez comandou o público que demonstrou sua força, em alguns momentos
a pista ficou tensa e alguns ânimos exaltados. Como mesmo a banda se
define, isso não é Boston ou Nova Iorque, é hardcore feito em Valencia e assim
apresentaram temas como “Violencia” e “Solución Final” além do hino Poder
Absoluto.
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Poder Absoluto |
Somente
uma banda como The Flex poderia elevar ainda mais a intensidade que respirava
o ambiente, ou seja, a banda ideal para finalizar o set hardcore do festival.
Os britânicos estremeceram as estruturas local e o público agradeceu.
Quando digo estremeceram o local não me limito a dizer sonoramente, ou
seja, vale lembrar que o vocalista The Boots (seu apelido) é um verdadeiro
armário e que passa boa parte da apresentação saltando no palco o que
literalmente sentimos o chão tremer. Músicas como “The New Blood” e
“Waste My Time” figuraram no set. As fotos tiveram que ser feitas de trás
do palco pois era impossível estar junto ao publico durante toda a
apresentação.
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The Flex |
Para
finalizar a noite e o festival tivemos Belgrado, uma banda local de
post-punk ao melhor estilo Bauhaus. Engana-se quem acha que o público foi
embora ou que torceu o nariz por fazerem um perfil completamente diferente das
demais bandas que por lá passaram, guitarras com bastante efeitos de flanges,
fuzz e echoes para todos os lados, linhas de baixo continuas e bem marcados e
uma vibrante vocalista. Ao final do set o público pediu bis e a banda
atendeu, um final ideal para um fim de semana perfeito. Um festival que
não depende de grandes patrocinadores para seguir existindo. Tudo feito
na boa vontade e colaboração, bandas que conciliam trabalho com o sonho de
transmitir suas mensagens. Um exemplo a ser seguido e que venham muitos
outros.
Can’t
Keep Us Down 2016, iniciamos a contagem regressiva.
Até.
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