segunda-feira, 9 de março de 2015

Can't Keep Us Down Barcelona 2015

CAN’T KEEP US DOWN – BARCELONA 2015


Texto e fotos: Mauricio Melo

Dia 1 - 30/01/2015

Visitamos pelo segundo ano consecutivo o festival hardcore (bastante independente) CAN’T KEEP US DOWN, realizado em Barcelona e muito bem organizado pela galera local.  Sem grande pretensões e muito menos patrocinadores, o evento conta com a “colaboração” do Ateneu Popular Nou Barris, para entender melhor, uma espécie de Centro Cívico / Centro Cultural.  Uns colaboram com os cartazes, outros com fotos e vídeos de edições passadas, o tema vai sendo passado no verdadeiro boca à boca através das redes sociais, mensagens, etc.  Com direito a desconto para quem compra entradas antecipadas para as duas noites, uma oportunidade única de ver reunido em um só fim de semana alguns dos melhores grupos hardcore (de vários estilos) da Espanha além de algum visitante gringo.  

Antes mesmo das portas abrirem a concentração do lado de fora já prometia.  Logo ao entrar, as opções de comida vegana para alimentar a galera eram muitas, afinal uma larga noite se aproximava e estar alimentado era algo imprescindível, ainda que nem todos os alimentados fossem veganos.  Tradicionais barraquinhas de merchandising disponíveis, os tradicionais vinis tanto em LPs quanto as pequenas bolachas 7”, havia para todos os gostos.

Fang
E para todos os gostos também haviam shows, um cartaz bastante interessante que começou com uma banda local, o Fang.   Abrir uma noite é sempre difícil, ainda mais tendo essa uma grande variedade de bandas por diante.  Ainda que o público presente fosse numeroso o local ainda estava frio, tanto de ânimos quanto literal.  Um hardcore sujo, rápido e de composições pouco sofisticada.  Boas letras, isso sim mas apesar do bom show, como foi dito antes, tarefa difícil.  Com um público um pouco mais receptivo, por sua presença constante nos últimos meses em diversos shows, que inclusive cobrimos, o Golem mostrou sua intensidade de sempre.  Berrado, pesado, porrado e colocando a galera para agitar de um lado a outro diante do baixo palco ao som de suas músicas que quase não superam um minuto de duração como por exemplo “Excuses” que não chega aos 30 segundos.  O grupo já prepara seu primeiro 7” e sua demo recebeu a etiqueta de sold out.  
 
Golem
Marcando presença por mais uma edição o punk rock do The Gundown deu o primeiro toque de grupo mais técnico da noite e a experiência falou mais alto.  Com uma postura de palco digna de quem leva tempo no movimento, com um guitarrista de alta qualidade e um baterista que, além da habitual vibração que possuem os instrumentistas do estilo, ajuda e muito nos vocais.  Abriram o set com versões plugadas do recente EP acústico intitulado Thunders, “Broken Earphones”, seguindo com “Troublemakers of the United World” do mesmo EP e fechando o trio de abertura com “Need Our Pride Back”.  Um bom show que fechou com “New Age”, cover do Blitz.  Não! nada de batatas fritas, esses eram outros.  

The Gundown
O Mindtrap foi o único representante estrangeiro da noite, um grupo com origens alemã e russa ao melhor estilo hardcore anos 80.  Seco, sem firulas e com mensagens diretas no queixo.  Um setlist curto totalmente apoiado no recém lançado Life Among Liars and Thieves.  Vocalista diretamente no chão, puxando o público de um lado a outro e mesmo quem não conhecia a fundo sua músicas foi contagiado pelos riffs.  “Two Faces” e Only Warning” foram algumas que por lá passaram.  
 
Mindtrap
A noite já havia passado da metade quando o Col.lapse pisou no palco.  Assim como o The Gundown a experiencia atropelou e deixou nítido que Barcelona já é pequena para o grupo.  Com ex-integrantes do lendário grupo Cinder, o Col.lapse abriu o set com “No Importa” que habitualmente fechava suas apresentações e que levou o público ao delírio, este cantava todas as letras junto ao vocalista Joan que saltou, gritou e compartilhou o microfone com a linha de frente.  Músicas bem compostas e executadas ao vivo, o grupo é quase um dream team que conta também com o baixista e vocalista do The Gundown e o experiente Eric Altimis nas baquetas, além o imparável Jaume Orriol nas seis cordas de uma boa Gibson.  Um set recheado de músicas do disco Enfosat mas também com alguma composição nova.  O grupo está bem, chama atenção tocando ao vivo e o público agradece.  

Col.lapse
Algo bem parecido podemos dizer do Constrict, outro grupo que figura muito em nossas publicações “made in Barcelona”.  O público está no bolso, o disco que já era para estar publicado mas que conta com um bom atraso já está composto e o quinteto, que ano passado abriu o festival, mostrou que a estrada já foi asfaltada.  Show intenso, com muita vontade e stage dives, vocal berrado e guitarras pesadíssimas ao melhor perfil Integrity.  Para fechar a noite tivemos o lendário 24 Ideas, um antigo grupo que voltou à ativa há pouco tempo e que, como muitos dizem, não vive de passado compondo novos temas e já planejando disco para 2015.  O show?  bruto ao na melhor das hipóteses.  O baixista Jaume Orriols que também é guitarrista no Col.lapse que havia se apresentado há pouco, deu um verdadeiro show.  O vocalista rolando pelo palco, chão e sendo carregado nos braços.  Aquele velho estilo hardcore/street nunca esteve tão presente e bem representado no festival, pelo menos nessa primeira noite.  
 
Constrict
24 Ideas


Dia 2 - 31/01/2015

Blanes
Os responsáveis por abrir a segunda noite foi o grupo local Blanes, que conta com membros do Constrict, Golem e Appraise, ou seja, uma mistura de bandas locais que resulta num bom punk rock melódico.  O vocalista Matt, que se não me engano é americano residente em Barcelona, defendeu muito bem o set apresentado, baseado na primeira demo do grupo, At a Loss que conta com temas como Kings and "Quens of the Masquerade Ball" e "Outbound".  Outro grupo que representou bem sua recém publicada demo foi o quarteto punk feminista Siega.  Apesar de curto, o set foi intenso com a vocalista Amy berrando ao microfone diretamente da pista, junto ao público.  O mesmo podemos dizer do NO, a pista foi definitivamente a extensão do palco.   Mais um set curto mas igualmente intenso.  
 
Siega
NO
O público ainda curtia uma preguiça e reservava forças para o que estava por vir e não demorou a se animar.  Na sequência tivemos o Appraise, que assim como ano passado fez uma excelente apresentação porém com alguns diferenciais que merecem destaque.  Gabi, o vocalista do grupo e organizador principal do evento, está muitos quilos à menos e esta boa forma refletiu numa apresentação de luxo.  O vocalista do Blanes, Matt, que também é baixista do Constrict compõe o quinteto (ano passado era um quarteto) deixando o outro guitarrista, Joan, mais solto durante seus riffs.  Também podemos somar na apresentação deste ano o fato do grupo já haver lançado seu primeiro LP, Deeper Than That.  Vale lembrar que em Março o quinteto em questão vai participar da renomada Rebellion Tour que contará com grupos como Madball, Strife, Backtrack e Rise Of The Northstar e que nesta apresentação o baixista Miguel, que compôs a primeira formação do grupo, fez participação em boa parte do show.  No Can’t Keep Us Down, Gabi comandou a apresentação, chamou o público que já conhece muito bem as letras e refrões de músicas como “Deeper Than That” e “No Foundation” além de um cover do Minor Threat, demolidor.  
 
Appraise
Na sequencia tivemos o Minority Of One.  A curiosidade fica por conta do quinteto ter participado do festival em 2014 quando ainda eram o Truth Through Fight.  Sim, o quinteto do TTF deixou o hardcore mais extremo de lado e assumiu o até então projeto Minority Of One como banda principal.  O estilo mudou mas a intensidade e a mensagem do punk rock melódico atual é a mesma do TTF.  O vocalista Fede Edge continua voando no palco.  Suas expressões faciais é o reflexo do que vemos e ouvimos enquanto o grupo está no palco.  O público já vibra com a banda como se esta já fosse veterana no cenário e as músicas do disco Glory Days já estavam na ponta da língua, é o hardcore de Andalucía fazendo história.  Quem também repetiu atuação de gala foram os Valencianos do Poder Absoluto.  O vocalista Fácil e suas luvas ao melhor estilo Raybeez comandou o público que demonstrou sua força, em alguns momentos a pista ficou tensa e alguns ânimos exaltados.  Como mesmo a banda se define, isso não é Boston ou Nova Iorque, é hardcore feito em Valencia e assim apresentaram temas como “Violencia” e “Solución Final” além do hino Poder Absoluto.  
 
Minority Of One
Poder Absoluto
Somente uma banda como The Flex poderia elevar ainda mais a intensidade que respirava o ambiente, ou seja, a banda ideal para finalizar o set hardcore do festival.  Os britânicos estremeceram as estruturas local e o público agradeceu.  Quando digo estremeceram o local não me limito a dizer sonoramente, ou seja, vale lembrar que o vocalista The Boots (seu apelido) é um verdadeiro armário e que passa boa parte da apresentação saltando no palco o que literalmente sentimos o chão tremer.  Músicas como “The New Blood” e “Waste My Time” figuraram no set.  As fotos tiveram que ser feitas de trás do palco pois era impossível estar junto ao publico durante toda a apresentação.  

The Flex
Para finalizar a noite e o festival tivemos Belgrado, uma banda local de post-punk ao melhor estilo Bauhaus.  Engana-se quem acha que o público foi embora ou que torceu o nariz por fazerem um perfil completamente diferente das demais bandas que por lá passaram, guitarras com bastante efeitos de flanges, fuzz e echoes para todos os lados, linhas de baixo continuas e bem marcados e uma vibrante vocalista.  Ao final do set o público pediu bis e a banda atendeu, um final ideal para um fim de semana perfeito.  Um festival que não depende de grandes patrocinadores para seguir existindo.  Tudo feito na boa vontade e colaboração, bandas que conciliam trabalho com o sonho de transmitir suas mensagens.  Um exemplo a ser seguido e que venham muitos outros.  
Can’t Keep Us Down 2016, iniciamos a contagem regressiva.
Até.  


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