sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Du Baú - Walls of Jericho entrevista (2010)




Sem Pressão!
Walls of Jericho supera uma década de brutalidade musical de forma honesta e definitivamente não quer saber de pressão por parte de gravadoras.  Há anos sem lançar nada, guitarrista e baixista da banda atendem  ao Substance Barcelona 
para deixar claro que disco novo sairá quando a banda desejar e não quando houver um limite imposto por empresas.  Também conta detalhes do verdadeiro título, The American Dream, e do suposto DVD com imagens gravadas no Brasil, que ao final nunca foi lançado.
Por Mauricio Melo



Walls of Jericho já tem mais de uma década na estrada, melhor dizendo que está entrando em seu décimo terceiro ano em atividadade.  Vocês acreditam que o tempo passou muito rápido se dermos uma rápida olhada para trás?

Mike Hasty - Sim, quase não pensamos nisso mas se olharmos para trás e pensarmos no estávamos fazendo há treze anos é como "é maneiro mas nem tanto"

Aaron - Se olharmos pelo lado das mudanças parece até que foi há muito mais tempo.  Quando começamos não existia toda essa internet que existe hoje, então parece que foi há muito mais que treze anos.  Aí sim podemos dizer que houve muitos progressos por exemplo.

Hasty - Foi exatamente no final de uma era...

Aaron - Isso, fomos uma das últimas bandas daquele momento "antigo".

Hasty - Ao invés de estarmos fazendo CDs demos ou lançando músicas online no myspace como fazem atualmente ainda estávamos na época de gravar demos em fitas cassetes...

Aaron - Fizemos milhares de cassetes para distribuir para as pessoas que gostassem de nossas músicas.

Hasty - Falávamos disto outro dia com os integrantes do Biohazard.  Quando o hardcore começou para eles nos anos 80 nunca imaginaram que poderiam chegar tão longe.  Você inicia uma banda, independente de seus objetivos, algumas nem tem objetivos, seja como for, comparado a uma banda agora que tem tantos recursos e tantos meios para colocar seu nome no mercado, etc.  Atualmente somos bastante felizes por tocar, sabíamos no início de tudo que teríamos capacidade para fazer shows e tínhamos esperança de estar numa gravadora um dia e fazer uma ou duas turnês.  Me lembro que só em imaginar a possibilidade já era incrível, agora necessita de quinze braços pra dar conta do recado...
E agora, pede férias?...Não, definitivamente não, amo o que faço.


O que vocês acham de bandas que após um tempo na estrada e conseguir o que realmente querem, que é gravar e estar em turnê, começam a queixar-se da rotina ou da vida que levam?

Hasty - Bem, não estou cansado disto mas entendo perfeitamente quem pensa assim.  Escolha qualquer um ou até mesmo você que muitas vezes viaja para cobrir shows, etc.  Se alguém tem um objetivo que é viajar ao redor do mundo por exemplo e é capaz de fazer isto, é incrível.  Me lembro retornando pra casa após a primeira turnê na Europa, empolgadíssimo.  Agora, após estar aqui umas quinze vezes, apesar de ainda ter seus "encantos" já não é tão empolgante.  Até mesmo os locais onde toca começam a repetir, como "ah! já tocamos aqui uns dois ou tres anos atrás..." e por aí vai.  Algo se perde mas ao mesmo tempo, ainda gosto do que faço, tocar, gravar, viajar.  Prefiro estar aqui tocando do que estar em casa, trabalhando ou não, tanto faz, prefiro estar aqui.

As letras do Walls of Jericho normalmente não são politizadas mas com o título The American Dream muita gente passou a associar o grupo ao lado mais político.  Qual a diferença de temas entre as letras deste para os demais?

Aaron - Não, para este disco simplesmente estávamos enlouquecidos, todos escrevemos as músicas juntos e tinhamos o mesmo sentimento e o mesmo alvo.  Tivemos alguns problemas, não entre nós mas coisas que envolviam a banda e que detestamos e escrevemos o disco neste clima.  Por isso o disco tem este clima de protesto.  Todas as pequenas coisas que nos incomodavam colocamos nas músicas.

Igualmente foi uma coincidência com a explosão da crise financeira no mundo e nos Estados Unidos?

Hansy - Acho que não...

Aaron - Algumas coisas estavam acontecendo no mesmo momento e que de alguma forma te inspiram mas nenhuma relação direta.

Hansy - Igualmente, para todos os lados utilizam a crise financeira para explorar as pessoas.  Pessoas que tinham bons empregos perderam tudo ou continuam fazendo o mesmo trabalho pela metade dos ganhos que tinham anteriormente mas você tem que aceitar porque é melhor do que estar desempregado.  Daí as empresas descobrem que não necessitam pagar mais se as pessoas fazem por menos.

The American Dream foi lançado há mais de três anos.  Vem algo novo por aí?

Hansy - Estamos tomando um respiro.  Para ser honesto é sobre isto que é o The American Dream.  Acho que estamos frustrados porque a banda se tornou algo que realmente nunca foi e estava fora de nosso controle.

Aaron - Sim, exatamente isto.  Éramos uma banda pequena, onde fazíamos tudo nós mesmo, tipo Do it yourself  e de repente entram umas pessoas no meio da história dizendo que querem te ajudar e não é bem assim, acabamos perdendo o controle de coisas que estávamos acostumados a fazer e ficamos "perdidos".  Agora retomamos o controle da situação e queremos fazer as coisas como tem que ser feito.  Não queremos pressões para lançar isto ou aquilo, quando quisermos um disco novo faremos mas agora mesmo estamos curtindo um tempo "livre".

Hansy - Os últimos dois discos que fizemos tiveram que ser feitos num tempo específico, sair por algo específico, este tipo de disco, este tipo de música, etc. 

Podemos fazer isto mas quando quisermos e não sob pressão.  Se pode começar a compor quando quiser mas sem uma data limite para entregar o trabalho, não é assim que funciona.  Porque dizem que se você não fizer não tem aquele tipo de turnê ou isso e aquilo.  Por este motivo não temos pressa para nada.  Faremos um disco quando sentirmos que temos uma razão para fazê-lo, queremos algo feito por inspiração e não porque tem que ser feito.


O show do Hellfest do anos passado, 2010, foi o primeiro após um longo tempo em inatividade, certo?  Algum motivo em especial?

Hansy -Sim, estivemos seis meses parados.

Aaron - Foram umas férias, nada mais.  Depois do Hellfest iniciamos nossas atividades normais.

Hansy - Sim porque depois de um tempo você já não tem o que fazer e decidimos fazer uns festivais de verão.

Aaron - Ficamos meses sem nos falar, férias total.  Nada de banda, negócios, nada de nada.  Pra dizer a verdade nos encontramos algumas vezes mas, falávamos de guitarras, riffs ou algo gravado mas nada de planos oficiais para a banda.

Hansy - Tivemos um projeto juntos enquanto isso.  Na verdade tudo começou quando nosso baterista saiu da banda anos atrás.  Depois que retornamos com o Walls o projeto ficou de lado, daí quando entramos de "férias" pensamos "Ei! é um bom momento para um disco!".
Então de férias não rolou nada...

Claro que sim, isso é férias pra gente, diversão total (risos). 

Já pensaram em fazer algum álbum conceitual?

Aaron - Não é nosso estilo...

Hansy - Quando não tivermos nada do que nos enfurecer, daí escreveremos algo conceitual.  Daí, com certeza será conceitual enfurecido com alguma coisa (risos).  Também quero dizer que quando falo em estar puto com alguma coisa não queremos que as pessoas pensem que só escrevemos músicas para reclamar das coisas ou que só vemos o lado negativo de tudo.  Mostramos o lado negativo mas pensamos positivamente para tentar melhorar a situação da qual nos queixamos.

Se a banda fosse convidada a fazer parte de uma grande gravadora, aceitaria o convite ou não?

Hansy - Desde o momento que tivéssemos liberdade, realmente não me importaria.  O problema com as grandes é o que comentávamos antes, datas para entregar trabalhos, datas para compromissos, etc.  E uma coisa que aprendemos é que não se faz um bom disco se alguém não se sente criativo para aquilo, não se pode chegar e dizer "queremos um disco" e fazemos, não é assim.
Mas sabemos que as grandes trabalham assim...
Veja os festivais como o Hellfest ou Wacken.  Todas as bandas que estiveram na edição de 2010 estarão de volta em 2012 ou a maioria delas estará. Por que?  porque é assim que funciona o ciclo, daqui a dois anos estarão lançando algo novo e é o momento de retornar.  Gravar, lançar, fazer tudo o que pode em dois anos e fazer outra vez, como uma máquina.

A cenda atual é agradável?
Hansy - Acho que muita coisa cresceu desde os anos 90.  Existem grandes bandas straight edges que atualmente a idéia é muito mais aceita agora e ganhou muito espaço.

Walls of Jericho esteve no Brasil em 2009 e anteriormente também esteve captando imagens para um DVD ou algo assim.  Porque o Brasil foi escolhido?
Aaron - A América do Sul é incrível!  Desde a primeira vez que estivemos lá que ficamos impressionados.  Quando surgiu a idéia de gravar um DVD logo veio na cabeça a América do Sul porque era o ideal.  Porém nunca lançamos nada e por isso toda a história do The American Dream, a coisa estava tão descontrolada que o DVD nunca saiu, perderam parte do material, etc.  Gostaríamos de voltar e ter a oportunidade de refaze-lo.


No Brasil?  Qual a possibilidade da banda retornar ao Brasil?

Hansy - Voltaria hoje mesmo, com certeza.

Aaron - O problema é que nunca aparece alguém com esta pergunta "querem ir ao Brasil?" com as passagens na mão (risos).

Hansy - Iremos com certeza, provavelmente sem disco novo.  Definitivamente não teremos disco para apresentar.

Mas do jeito que as pessoas gostam da banda por lá, com certeza vocês não precisam de um disco novo como motivo para tocar no país...

Aaron - De alguma forma quase me sinto obrigado a oferecer algo novo ao público.  Me sinto mal em ir aos países e apresentar sempre a mesma coisa e não oferecer nada novo, é como se estivesse enganando os outros.  Gosto quando apresento algo novo mas fico feliz de que gostem da gente com o que já temos.

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