quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Du Baú - Napalm Death Entrevista 2009




Para iniciar, parabéns pelo excelente Time Waits for No Slave. Poderia nos contar um pouco sobre o novo álbum, o título e as letras? O Smear era mais concentrado em temas religiosos, com o Time Waits...?
Barney - Falamos mais em auto-realizações e não atacando a alguma coisa diretamente. Todo mundo, individualmente tem o direito da livre escolha. Seria basicamente dizer...encorajar pessoas a olhar o mundo, a todas as coisas que estão ao redor, entender as coisas simples e sentir-se satisfeitas. Fazer com que as pessoas pensem e apreciem um pouco do que tem a seu redor. Parar de pensar um pouco no materialismo e de 
quanto mais coisas necessito conseguir, algumas pessoas só pensam nas coisas materiais. É tempo de apreciar o que se tem a volta, nada mais.
 
No documentário do DVD Punishment in Capitals você comentou que quando esta em tour não costuma escutar música e prefere ler livros. Algum que tenha influenciado na composição do novo disco?
Barney - Realmente, quando estamos em tour não escuto música, já tenho o suficiente. Com relação aos livros tento não ser influenciado por eles, não os vejo como fonte de inspiração ou que cheguem ao ponto de influenciar na minha maneira de escrever. Algumas pessoas fazem ou já fizeram e não acho legal, acho que não me sentiria original sem utilizar minhas idéias para escrever uma letra. Igualmente não muda minha personalidade o que leio nos livros. Respeito muito as obras das pessoas que escrevem mas nenhum tem uma influência direta em minha vida ou para escrever.
 
Você acredita em conspirações?
Barney - Não de forma direta, acho que acabaria generalizando se digo que acredito em conspirações. Todas as coisas partem de uma individualidade. Acredito por exemplo que os políticos façam coisas ruins e que as pessoas não tem conhecimento? claro que acredito. Algumas pessoas chamam isto de conspirações mas chamo de lógica. Não tenho nenhuma da qual diga exatamente que foi uma grande conspiração até porque quando se levanta a possibilidade de uma se torna tão sensacionalista que perde o senso e não se chega a um resultado. Por exemplo, existe toda esta luta contra o terrorismo mas tenho certeza que estão mais interessados no lucro desta luta do que com uma solução, podemos dizer então que eles mesmos criam estas coisas porém não existem grandes conspirações de forma isolada, não são grandes conspirações, é questão de lógica.
 
No mesmo documentário citado antes, você falou que a banda já passou por duros testes durante estes quase trinta anos. Qual foi a pior experiência que vocês já tiveram com o Napalm e claro, a melhor?
Barney - Acho que tudo o que passamos foi um grande teste. Nos anos noventa por exemplo foi uma década muito ruim para uma banda como a nossa mas não só para o Napalm e sim para a música pesada em geral. Mas seguimos adiante e funcionou, hoje estamos onde estamos e por isso é a melhor experiência.
 
Vejo o Napalm mais como uma variação do hardcore do que outro estilo. Porém, muita gente ainda define a banda como death metal, estas definições sobre a música da banda incomodam? O público varia de acordo com a cidade ou país, algum mais hardcore outros mais metal?
Barney - São influências que temos de ambos estilos. Concordo que o Napalm seja mais uma variação do hardcore, porém temos que concordar que somos tão próximos de um quanto de outro estilo. Não somos uma banda de death metal mas temos grandes influências do gênero, sem dúvidas. Chegamos a um ponto que não nos importa qual definição nos dão, somos o que somos. Não necessariamente existe variação de público em nossos shows. Pessoas criam estas subjeções e não é o caso ter uma variação. O público é sempre misturado, não importa o país ou cidade em que tocamos. Claro que em algumas cidades pode existir um grupo maior relacionado ao metal e outros ao hardcore mas no geral o público é único, não existem divisões.
 
Do mesmo modo que a banda tem seu próprio estilo, muitos dos álbuns tiveram variações bastante latentes. É interessante descobrir que discos mais experimentais e que por vezes receberam alguma crítica negativa tenha exatamente influenciado tanta gente, o Converge por exemplo é uma delas. Podemos considerar que o Napalm estava adiante de seu tempo?
Barney - Sim, poderíamos afirmar que sim sem que isto soe um pouco arrogante. Muita gente que não gostava dos discos naquela época hoje em dia reconhecem o grande valor dos mesmos por diferentes razões. Realmente algumas pessoas comentam que aqueles discos foram uma grande influência, o Converge como você mesmo citou é um destes grupos. Não sou o tipo de pessoa que me preocupo com qual disco foi influente ou não mas ao mesmo tempo fico satisfeito em saber que o que fizemos funcionou de alguma maneira.
 
Bandas de diferentes estilos admiram e respeitam o Napalm, mesmo aquelas que não gostam, respeitam. Daí existem participações especiais nos discos como Jello Biafra, Jamie Jasta ou John Tardy por exemplo. Quando Jamie Jasta participou algumas pessoas criticaram a participação, como a banda vê estas criticas, a imagem de Jasta talvez tenha favorecido as mesmas?
Barney - As críticas não incomodam de maneira geral. Muita gente não conheceu Jasta antes do Hatebreed. Jamie promovia shows hardcore em sua cidade, inclusive os do Napalm Death, antes mesmo do Hatebreed sonhar em ser alguma coisa. Ele apoiava a cena local e não temos dúvidas de sua originalidade no hardcore. As pessoas colocam em dúvida originalidades sem saber ao certo as origens de outras. Talvez este seja o grande problema da cena hardcore, o fato de quem pode ser mais do que o seguinte. Não me sinto mais punk do que ninguém, o melhor é fazer suas escolhas, fazer a coisa certa e não tentar medir forças com alguém. Não tente ser mais elitista, ser mais do que o próximo porque não é assim que funciona. Sou apenas eu mesmo, sem vaidades.
 
Sobre a defesa dos animais que é um dos projetos que vocês apoiam. Aqui na Espanha ainda é comum a matança de touros. Recentemente assisti a um programa que após matar o animal existe uma celebração em praça pública e com direito a orquestra e pessoas bem vestidas para assistir o evento e o touro pendurado em praça pública. Dizem que é uma tradição com mais de 700 anos. Após tantos anos o ser humano ainda não evoluiu o suficiente?
Barney - Exatamente. Tradições não existem em momentos assim, não significam nada. Muitas vezes as tradições são colocadas acima da humanidade e isso não é nem metade do problema. Pessoas não enxergam os erros do passado quando o passado não pôde ser interrompido ou visto como um erro, então o que ou como irão aprender deste erro que eles não consideram errado? Não tenho nenhum problema de falar sobre tradições, que se danem! Na Inglaterra existe uma grande divisão de opiniões sobre tradições. Só por serem tradições não devemos contestá-las? Claro que não devemos ficar calados, isso seria ridículo! Estamos nos esforçando durante anos e anos para descobrir uma maneira de ser mais humanos uns com os outros, então porque não podemos aprender desta maneira? Se você me diz algo sobre touradas ou qualquer outro assunto que envolva touros aqui na Espanha, simplesmente não dou a mínima sobre estas tradições, isso tem que parar! É uma humilhação muito grande para todos deixar um animal numa situação como esta.
 
Algumas pessoas dizem que você e mais conhecido por suas opiniões provocativas do que por sua voz. Após ser um critico explicito da politica Bush, você acha que com a eleição de Obama as coisas podem mudar, ou a simples eleição de um presidente americano não faz nenhum milagre se o sistema mundial continuar o mesmo?
Barney - Sim, a resposta está praticamente junto da pergunta. Obama tem boas intenções, é mais pacífico e diplomático. Se o sistema continuar o mesmo os políticos não irão mudar muita coisa, ou nada. O mundo inteiro deveria mudar seu sistema para surtir algum efeito. Da mesma maneira que está acontecendo agora com a crise financeira. Somente quando algo brutal acontece simultâneamente é que existe uma mudança geral. Talvez mude um dia mas isso acontecerá em centenas de anos, não agora.
 
Em algumas de suas passagens pelo Brasil, você visitou alguma instituição ou algum projeto de defesa dos animais ou direitos humanos, já que é um país com bastantes problemas sociais?
Barney - Visitei em outros países mas por lá nunca, até porque não passei tanto tempo assim no Brasil, só mesmo o tempo para os shows. Gostaria muito de ter esta oportunidade e de visitar uma favela ou um projeto social em alguma comunidade por exemplo, muita gente diz que é perigoso mas não tenho nenhum receio, posso ir tranquilamente. Não sei exatamente como funciona, por isso tenho um comentário limitado sobre esta questão.
 
Seu estilo de vida, vegetariano, nada de drogas e álcool. Estando em tour é difícil manter a alimentação e como cuidar desta tão personalizada voz?
Barney - Tudo é muito típico quando se está em turnê mas não tão típico quando você imagina. Tudo depende do que sua mente diz. Se você é negativo sobre algo, nunca encontrará o que necessita. Se pensar positivo sempre irá encontrar do que se "alimentar". Não é difícil quando se consegue encontrar um equilíbrio, o controle está todo na mente. Não tenho nenhum cuidado especial para minha voz, só pelo fato de não fumar ou beber já ajuda muito, além do que já citei sobre a alimentação e cuidar da boa forma física, tudo reflete na voz.
 
Existem músicas que não podem faltar no setlist como Scum ou Siege of Power por exemplo. Não se torna cansativo saber que muita gente vai aos shows esperando exatamente estas músicas e acaba deixando os novos trabalhos de lado? Existe a possibilidade de algum dia estas músicas ficarem de fora?
Barney - O setlist não muda muito de um show para outro. Tentamos incluir um pedido ou outro mas não podemos ter dois ou três setlist porque ainda assim seriam parecidos e porque já não podemos fugir de algumas músicas como as que você citou por exemplo.

Há alguns anos você participou do Extreme Noise Terror. Algum projeto em mente ou algo que gostaria de fazer fora do Napalm nos dias atuais?
Barney - Não, nenhum projeto no momento. Não me sinto motivado a iniciar algo fora do Napalm Death. No futuro pode ser, mas atualmente não existe possibilidade. Com o Extreme Noise Terror foi legal mas olhando para trás posso dizer que poderia ter ficado melhor de uma forma geral. Se fosse gravado hoje seria diferente, é claro.
Neste momento acabo fazendo uma pergunta ao Mitch Harris que afinava sua guitarra na mesma sala:
 
Por falar em projeto; Max Cavalera comentou que gostaria de contar com sua presença no Cavalera Conspiracy mas você estava ocupado na época. Se o convite fosse refeito?
Aceitaria com muito prazer, seria brutal. Infelizmente estava muito ocupado na época do convite mas hoje em dia poderia acontecer sem problemas.
 
Alguma banda nova que te chama atenção?
Barney - Nenhuma grande banda no momento. Gosto muito Trap Them por exemplo. Fazem meu estilo e tenho muito respeito pelo trabalho deles.
 
Não existe nenhum membro original do Napalm atualmente, porém após tantos anos juntos vocês são mais originais do que os próprios. A banda perdeu Jesse Pintado alguns anos atrás mas foi forte o suficiente de seguir com força total. Porém se um de vocês sai da banda atualmente pode ser o fim? Esperamos que isso não aconteça.
Barney - Para mim é sempre o fato de quem pode fazer coisas boas para a banda. Não é o caso de quem é membro original ou não, seja no Napalm ou fora, falo de uma maneira geral, sobre todas as bandas. É muito remoto falar sobre isto, poderia chegar e dizer que gosto da banda como um trio por exemplo. Não necessariamente porque gosto deste ou daquele membro e sim porque pode-se fazer uma música melhor, é assim que funciona uma banda. Se as pessoas gostam mais dos antigos tudo bem. Se gostam dos últimos lançamentos ou uma mistura de todo, fica tudo em casa, sem problemas. Quando as pessoas dão muita ênfase sobre qual membro isto ou aquilo acaba se tornando algo chato.
Sobre a possibilidade de seguir adiante com outros membros caso alguém saísse acho que sería viável. Depende do que você determina para seguir adiante. Porém, algumas bandas não tem resistência para continuar e anunciam um fim. Fizemos no passado estas trocas de formação e se faremos de novo... é difícil dizer se realmente seguiríamos ou não, depende muito da situação como por exemplo a saida de Jesse.

A banda está perto de completar 3 décadas, algum lançamento especial para esta data?
Barney - Talvez aconteça mas particularmente acho um pouco "farofa" coisas deste tipo. Trinta anos, uau!!! vamos fazer e acontecer (risos). Algumas bandas até fazem coisas legais mas acho que não faremos nada.

Esta tour chega ao Brasil?
Barney - Talvez. Bem, para ser sincero acredito que sim.

Por Mauricio Melo

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