sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Hellfest 2010 - originally published @ www.zonapunk.com.br

originally published @ REVISTA COMANDO ROCK: www.comandorock.net

and



Como adiantamos em um curto update em tempo real e com um teclado de computador francês que confundiu e limitou bastante o "caprichar" na matéria, e para quem leu com certeza percebeu a falta de sinais no texto postado há alguns dias, chegou o momento de resumir com detalhes os pontos mais marcantes de nossa aventura à Clisson, França.

Para quem ainda não se situou, Clisson é uma cidadezinha de seis mil habitantes ao lado de Nantes, na verdade 35km de distancia separam os dois pontos. Uma vez por ano, esta pequena e aconchegante cidade recebe um público de no mínimo 30 mil pessoas, e se engana que acha que o fim da tranquilidade durante três dias pode gerar protesto por parte da população. Ao que parece, todos os jovens da cidade se mobilizam e trabalham, ainda que de voluntários, para o festival com o objetivo de manter a cidade limpa e organizada, trazendo ainda mais benefícios para o local e evento.

Por falar no evento, temos a obrigação de destacar a infraestrutura do Hellfest. Desde nossa chegada e com uma reserva feita através do próprio site do festival, se encontrava no saguão do aeroporto uma pessoa devidamente identificada com camiseta do Hellfest, com uma van para levar as pessoas que tinham ingressos ou estavam credenciadas para o evento, praticamente pelo mesmo preço que se gasta com o transporte público da já comentada distancia entre as cidades. Então já é fácil acreditar que dentro do festival existia chuveiros individuais com água quente, acampamento devidamente organizado e com seguranças motorizados para manter a ordem, pontos de informação espalhados para todos os lados. Para quem tinha acesso VIP ou PRESS (imprensa) existia um resevado com um bar, televisões que transmitiam os shows e jogos da Copa do Mundo, mesas ao ar livre, redes para descançar, um bus/internet com diversos computadores portáteis conectados para livre utilização (sem custo adicional), um setor com várias salas para entrevistas equipadas com sofás e decoradas com posters do evento e de outros shows. Outro grande destaque foi a segurança local, todos e sem exceção faziam o perfil do festival, quer dizer, moicanos, headbangers, skins, etc, todos com um único objetivo, trabalhar, levar conforto e bom ambiente. Quando o público vinha surfando pelas cabeças alheias até cair diante do palco, o cidadão era carinhosamente recolhido no colo pelo segurança, colocado no chão e indicado a sair, o mesmo saía com uma cara de satisfação inigualável. Igualzinho no Brasil, onde a maioria dos seguranças são pagodeiros, lutadores e metem o pau na galera...

Bem, vamos ao que interessa, os shows. Por eles nos aventuramos durante cinco dias para trazer informações e imagens. As apresentações no Hellfest acontecem em quatro pontos, dois palcos principais chamados Mainstage 01 & 02 onde, é claro, se apresentam as bandas e maior público. Não muito distante dali outros dois palcos cobertos que muito se asselham a lonas de circo recebiam públicos mais underground, a Rock Hard mais dedicada ao Grind, Death e Black Metal e a Terrorizer que em sua maioria recebeu bandas hardcore.



Nosso dia começou com a curta apresentação do Crowbar ainda as 12:50 da Sexta-Feira. Mas apesar de tudo Kirk Windstein e seu tradicional sludge tiveram tempo para celebrar com estilo seus vinte anos de estrada apesar de não lançarem nada novo há cinco anos. Também não podemos exigir muito de Kirk considerando que está em constante criação com o Down e sua mais recente banda Kingdom of Sorrow com Jamie Jasta (Hatebreed) que inclusive lançou disco este ano. Logo após os franceses do Mass Hysteria fizeram um bom show e seguraram bem o público com um som bastante parececido ao Linkin Park. As 14:20hs o público tomou o primeiro susto do dia, o quase cancelamento de Walls of Jericho que por causa de um problema no aeroporto chegou atrasado ao evento tendo que trocar de horário com os finlandeses do Finntroll, banda de folk metal que tocou antes do KMFDM e seu metal estilo industrial. Ainda com atraso para o novo horário Walls of Jericho finalmente sobe ao Mainstage 02 para alegria dos fans que se expremiam na fila do gargarejo para ver Candace de perto. A bela vocalista e sua banda não decepcionaram com mùsicas como "The American Dream", música título do último álbum e "Feeding Frenzy" também do mesmo registro. Os integrantes fizeram questão de ressaltar que esta foi a primeira apresentação após bons meses de recesso, e para dizer a verdade, para quem ficou todo este tempo parado o show foi excelente. Deftones veio com um show potente com músicas de seu novo disco "Diamond Eyes" mas por motivos, digamos técnicos, não pudemos conferir o set completo oferecido pelos americanos, pois Lou Koller (Sick of it All) nos esperava para um bate-papo nos bastidores.



Já de volta aos palcos, desta vez em tempo integral para o Infectious Grooves, que pela primeira vez em sua existência participavam de um festival. Tudo bem que a banda passou um bom tempo inativa mas foi um tempero à mais para todos. A apresentação foi uma grande festa e com direito a participação especial de Mike Clark em duas músicas "The Immigrant Song" e a original suicida "Pledge Your Allegiance" que como imaginado terminou com centenas de pessoas no palco, porém antes Mike Muir e sua banda colocaram o público para dançar e levantar muita poeira com "Violent & Funky", "Don't Stop Spread the Jam", "Boom Boom Boom" e porque não "Punk it Up" e "You Lie...and Yo Breath Stank" do primeiro álbum deste projeto. Muir se mostrou bastante comunicativo com o público francês arriscando algumas palavras no idioma e ressaltando a vitória dos Lakers, deixando claro que Copa do Mundo não é com eles.

Chegava a hora de dar ao festival os momentos mais extremos, músicas mais rápidas, mais berradas, pelo menos neste primeiro dia e nos palcos principais 01 e 02 já que nos secundários a madeira já decia sem pena. Sick of it All foi o encubido de tal momento, algo nada difícil para os novaiorquinos ainda mais chegando ao festival com um disco fresquinho no mercado, Based on True Story, que para quem já escutou pode ter certeza que não deve nada aos anteriores. Foi exatamente com a música que abre o novo álbum "Death or Jail" que abriram o set e já não podíamos pedir mais nada e não havia volta atrás, a poeira subiu para não dissipar durante uma hora com os já clássicos como "Good Lookin Out" e "Stepdown". Lou Koller pedindo bastante cuidado antes da tradicional brincadeira walls of death quando anunciou "Scratch the Surface". Mesmo assim, muitas músicas do novo e do anterior foram tocadas como "Take The Night Off", "Uprising Nation" e "Dominated". Vendo estes rapazes que já superam com sobras os quarenta anos de idade saltando de um lado a outro do palco com seus devidos instrumentos e berrando sem parar, já passo a me sentir mais jovem e é inadimissível escutar alguém na casa dos trinta dizer "isso eu fazia quando era jovem...".


Cinco minutos foi o tempo que separou a demolidora apresentação do Sick of it All dos brasileiros do Sepultura, que por aqui ainda são tratados como banda grande, ao contrário do que parte da imprensa vem tentando fazer pelo mundo afora desde a saída dos irmãos Cavalera. Tocando no Mainstage 01, no horário nobre das 21:10hs, antes de nomes como Arch Enemy, Fear Factory e Biohazard. Que parte do público se pergunta e sonha com a formação original, isso é fato real. Mas que o mesmo vibra com músicas como "Inner Self", "Refuse/Resist", "Troops of Doom" e "Territory" é algo inegável. Tocaram também algumas do mais recente A-Lex como "Moloko Mesto" e "What I Do".

Após os brasileiros tivemos Arch Enemy com seus riffs melodicos e toda simpatia da vocalista Angela. Apesar de um show consideravelmente curto, a banda aproveitou bem seu espaço e não deixou pedra sobre pedras. Entre os destaques da apresentação podemos citar "Snowbound" e "Nemesis".


Com um novo álbum debaixo do braço, o Fear Factory parece ter reencontrado o bom caminho deixado para trás há alguns anos. Mechanize funcionou muito bem ao vivo, ainda mais tendo Gene Hoglan na cozinha destroçando a bateria. Porém não podemos ignorar que músicas como "Demanufacture" e "Replica" foram uma das mais esperadas da noite. Um pedido em especial fez parte do repetido discurso das bandas "queremos o maior mosh-pit já realizado na história do Hellfest" todas as bandas pediam a mesma coisa e no terceiro dia já não se aguentava mais escutar isso e parece que o único que conseguiu tal feito foi o Fear Factory, numa roda que ocupou o Mainstage 01 e parte do 02.

Para encerrar o primeiro dia de "festa" tivemos Biohazard ainda com o mesmo show de reunião da formação original, ou seja, um setlist com músicas dos três primeiros álbuns. Fato que chamou a atenção foi que a banda deixou de lado os preparativos para a gravação do novo álbum para ir ao festival e retornar a casa no dia seguinte. Parecem ter reencontrado definitivamente seu melhor momento nos palcos com o retorno de Hambel, tudo se encaixa perfeitamente e o novo disco vem promissor. Apesar do horário tardío e um público já cansado após tantos nomes o Biohazard conseguiu fazer bonito desde o início com "Shades of Grey" e "Urban Discipline. Igualmente com "Down for Life" e a rapeada "How it is". Também figuraram "Wrong Side of the Tracks", "Punishment" e finalizaram com "Hold my Own". Uma excelente apresentação que chega em breve no Brasil.

Sábado e segundo dia de festival era o dia mais esperado para o público hardcore, mas baixas de última hora ofuscaram o brilho deste día, ainda que a organização tenha conseguido substitutos à altura, ficou aquele gostinho amargo dos imprevistos que todos os grandes festivais do mundo estão sujeitos a passar. 7 Seconds cancelou junto a Earth Crisis pouco mais de uma semana antes do festival. Foram substituidos porDischarge e Born From Pain que já estava no evento simplesmente ocupou um melhor horário. Porém ao chegar para o show do Wisdom in Chains às 11:20 da manhã tivemos a notícia que o show seria adiado para as duas da tarde no lugar do Skarhead, cancelado de última hora. Três bandas que levariam bom público hardcore ficaram de fora.

Nosso dia então começou pouco depois do previsto no cenário da Terrorizer com Wisdom in Chains e seu old school hardcore e pitadas de street punk. Pouco depois e na mesma lona conferimos Born From Pain com seu hardcore mais moderno e músicas como "The New Hate" e "State of Mind" e apesar de algumas mudanças na formação a banda parece não ter sofrido alterações drásticas em sua maneira de tocar, continuam tão brutais quanto antes. Num rápido intervalo que tivemos, escapamos ao Mainstage 01 para conferir o que o Slash iria oferecer ao público. Numa mistura de esperteza e sinceridade o lendário guitarrista do Guns N' Roses fez um show com músicas que o consagrou como músico em suas bandas anteriores, praticamente ignorando seu último trabalho repleto de participações especiais. Setenta por cento do setlist foi do Guns, algo de Velvet Revolver e um par de canções do lançamento atual. Jogou com inteligencia mas como já comentamos foi sincero e agradou em cheio, algo que o mercenário do Axl deveria estar fazendo, tocando em um grupo que levasse seu nome, um Axl Band por exemplo e rechear o set de Guns. Resultado da apresetação, fãs em êxtase cantando "Paradise City", "Nightrain" com aquele solo que só o Slash consegue dar jeito, "Rocket Queen", "Civil War" e claro, "Sweet Child O' Mine". Diante de tantas músicas dos gunners "Sucker Train Blues" de Velvet Revolver foi quase aperitivo. Sem essa que não dá para curtir só com Slash, o rapaz está acompanhado de uma boa banda e um bom vocalista que faz bem seu papel. 

Em nossa segunda hospedagem na Terrorizer foi a vez de conferir parte da apresentação do As I Lay Dying e seu metal-core cristianizado diante de um bom público. Na sequência, o Discharge provou que ainda está em forma com um show impecável com músicas como "Protest and Survive" e "Never Again", nada mal para quem está na estrada há 33 anos.


Por muito pouco não tivemos outra baixa inesperada, o Agnostic Fronttinha seu baterista sem condições e aos cuidados médicos no hospital da região e um cancelamento seria uma catástrofe para a agência que cuida dos interesses do grupo, já que todas que cancelaram e foram anteriormente mencionadas são da mesma agência. Para não ficar um buraco à aquelas alturas o baterista do Born From Pain quebrou um galho mas tornou a apresentação curta, antes prevista para uma hora, ficou em meros vinte minutos mas nem por isso podemos deixar de elogiar a atitude da banda e a intensidade de seu show. Foram direto nos clássicos como "Victim in Pain", "Your Mistake" e "Crucified". Do Warriors somente "For My Family" e finalizaram com "Gotta Go" e a participação de integrantes do Wisdom in Chains e outros do Born From Pain.

Antes de Jello Biafra finalizar a noite na Terrorizer dois nomes com propostas bem distintas chamavam atenção nos palcos principais, Alice Cooper e Carcass. O primeiro com todo o teatro que lhe pertence, suas interpretações de viúva e músicas como "School's Out" e "Poison" num show que só pelo visual já valeu à pena assistir. O segundo podemos dizer que foi um dos mais esperados do festival. Desde a chegada no acampamento às vésperas do grande início que se escutava nos quatro cantos eram berros guturais do nome da banda, era Carcass pra lá e pra cá. Talvez uma das mais celebradas reuniões dos últimos anos da música extrema e o público brasileiro pôde conferir recentemente a solidez de uma apresentação dos britânicos no ano passado. Apesar de curto como venho repetindo no texto mas isso é um ponto negativo em todos os festivais, apenas uma hora, o show foi impecável. Som cristalino, técnica nas músicas e nojentas projeções num telão ao fundo. "Heartwork" foi uma das que levou o público ao delírio. A arrastada "Carneous Cacofiny" também mereceu destaque junto a "Corporal Jigsore Quandary" ambas de Necroticism. Após deixarem o palco, o presente oferecido ao público foi o vídeo de uma autópsia que com certeza fez alguém jogar o lanche no lixo.


Como citamos anteriormente, ao sair do Carcass ainda deu para pegar o senhor Jello e seu explosivo show. Como já resenhamos por aqui ano passado, o nosso punk-político atacou mais uma vez discursando contra Sarkozy e políticos afins quando anunciou "New Feudalism" e também impactou bastante quem ainda não tinha visto o vocalista entrando vestido de açougueiro ensanguentado durante "Clean as Thistle" e suas incríveis interpretações no palco sobre exploração, escravidão e todo tipo de injustiça, alienação e protesto de forma irônica. Porém o que levanta mesmo o público são as músicas dos Kennedys como "Let's Lynch the Landlord", "California Über Alles" e "Holyday in Cambodia". E já no bis ainda sobrou para "Too Drunk Too Fuck", outro clássico do inesquecível grupo dos anos 80.



Domingo, último dia de Hellfest. Mais um dia de grandes bandas, com menos hardcore e mais metal que nos dias anteriores, lá estávamos para finalizar nossa jornada, que começou um pouco mais tarde após a correria de início. Lá pelas duas da tarde começamos a dar sinal de vida entre os shows do Black Cobra e dos poloneses do Decapitated e um pouco antes do Dying Fetus cancelar sua apresentação sem dar explicações. Mais adiante a banda de metal Saxon abria sua apresentação com o cover do Metallica "Seek and Destroy"(?) e dividindo as atenções um pouco mais tarde estavam Sufocation e Stone Sour de dois integrantes do Slipknot, James Root e Corey Taylor num dos palcos principais e demonstraram já terem superado o trauma com a recente morte do baixista de sua banda principal. Na sequência dois veteranos travavam outra queda de braço, ainda que em estilos diferentes, ExodusDoom dividiam parte do público. Ambos mantém boa forma em cima do palco. E por falar em boa forma, a velha guarda chegava para iniciar o encerramento do festival e o encarregado a iniciar o polimento da chave foi o Motörhead num show muito semelhante ao que apresentaram no Rock in Rio Madrid uma semana antes e podemos selecionar apenas alguns dos clássicos apresentados pela banda como "Killed by Death", "Iron Fist", "Overkill", "Ace of Spades" e algumas do ultimo disco, Motörizer, novo como a excelente "Rock Out", autêntico rock and roll para o último dia de Hellfest oferecido por Lemmy Kilminster e sua banda.

Mas o dia ainda estava há algumas atrações do fim. O Slayer e o seu novo World Painted Blood aterrizavam em Clisson sob grande expectativa. Para muitos um excelente disco, para outros nem tanto mas esta opinião poderia mudar drasticamente ao ver Tom Araya, Kerry King, Hanneman e Lombardo executando pertardos como a música título do álbum ou "Hate Worldwide". Ainda que algum fã extranhasse "Angel of Death" na primeira metade do show e não encerrando a apresentação, na excassa uma hora que ficaram no palco, pouca conversa e muita paulada como "War Esemble", "South of Heaven", "Rainning Blood" e de Christ Illusion, "Jihad".

Para finalizar na Terrorizer ainda tínhamos por diante Dillinger Escape Plan, ainda que Garcia Plays Kyuss fosse oficialmente o encerramento e que para muitos o Dillinger poderia ocupar um posto no palco principal mas para deleite de outros estava de bom tamanho ter a oportunidade de ver a banda num palco pequeno porque se a carroagem continuar no ritmo que está, os días de palcos pequenos estão contados. Como era de se esperar fizeram uma apresentação demolidora, e mesmo para quem já tinha conferido a banda em outras oportunidades afirma que a banda se supera a cada show.

O encerramento oficial do festival ficou por conta do Kiss com sua turnê Sonic Boom Over the Europe. Não sei exatamente dizer se sou a pessoa mais indicada para falar do Kiss, não sou grande fã do grupo mas confesso que mesmo assim, uma vez estando no show, descobre que muitas músicas que fazem parte da trilha sonora de sua vida, infância, adolescencia e por aí vai, vem das guitarras, baixo e bateria de (atualmente) Paul Stanley, Gene Simons, Tommy Thayer e Eric Singer. Vale mesmo à pena por todo show visual que a banda oferece, com um telão e enormes projeções desde que os integrantes supostamente deixam os bastidores até surgir numa plataforma que desce por trás da bateria enquanto o baterista já detona os primeiros acordes de "Modern Day Delilah", a mesma que abre o último álbum da banda Sonic Boom lançado ano passado. Já pegando mais leve com "Cold Gin" e "I Was Mad For Lovin' You". E claro, não podia faltar o show de Simons cuspindo sangue no palco, além de "I Love it Loud" e já em reta final "Rock and Roll All Nite" com uma queima de fogos para encerrar um festival com música pesada, underground para todos os gostos, e nós do Zona Punk conferimos de perto toda esta movimentação. Esperamos uma nova oportunidade ano que vem, e quem sabe em outros festivais também?

Confira abaixo mais algumas fotos deste festival.









ALSO PUBLISHIED @ www.zonapunk.com.br


San Miguel Primavera Sound 2010 c/ Pixies, The xx, Pavement, Autoramas, Superchunk, The Charlatans etc 27/05/2010 - Parc Del Fórum - Barcelona/Espanha

 San Miguel Primavera Sound 2010 c/ Pixies, The xx, Pavement, Autoramas, Superchunk, The Charlatans etc
27/05/2010 - Parc Del Fórum - Barcelona/Espanha

Cardápio de entrada: Pocket shows com Campesinos. 26/05/2010

O já tradicional festival Primavera Sound completou sua primeira década e para celebrar trouxe grandes nomes de variados estilos, revelou novos nomes do cenário independente e ainda incluiu duas bandas brasileiras que fizeram uma apresentação de tirar o chapéu, ainda que em situações bem distintas.

Antes mesmo de encerrar o festival, os organizadores já celebravam a quebra de todos os récordes que este festival poderia proporcionar. Mais de 240 apresentações além de um número de público superior aos cem mil. Não poderíamos esperar menos diante de nomes como Pixies, Pavement, Wilco, Orbital, Broken Social Scene, The Charlatans, Superchunk, Spoon, The Fall e novos baby booms da música internacional como The Drums, The XX e Dum Dum Girls. Sem contar com o Pet Shop Boys, que mesmo diante de muito nariz torcido demonstrou o porque de serem os escolhidos para fechar a festa de primeira década do evento.

Antes mesmo da grande festa no recinto do Fórum a Sala Apolo recebia seus primeiros shows na quarta-feira 26 de Maio, tendo como principal atração Los Campesinos, principal motivo de enormes filas para tentar um lugar na sala com aforo limitado. Há dois anos tocavam em outro festival em Barcelona e passavam praticamente desapercebidos. Atualmente, além deste estarão no Reading/Leeds como uma das principais atrações, além disso, estão com disco novo no mercado, "Romance is Boring" que parece ter sido bem recebido pelo público apesar das críticas negativas por parte da imprensa.

Dia 1 oficial - 27/05/2010 - Originários de Hell City e a missão

Difícil missão tiveram os mato-grossenses do Macaco Bong. O festival mal abria suas portas, ainda em ritmo de últimos ajustes para a grande festa, além de um considerável sol das cinco da tarde e lá estavam nossos brasileiros abrindo os trabalhos no palco Adidas Originals, dedicado a novas tendências nesta edição e não foi nenhuma surpresa de que o grupo fez um excelente show. Apesar do curto tempo, 45 minutos (máximo) para todas as bandas deste palco, Ruy, Bruno e Ynaiã foram responsáveis diretos pelo esvaziamento dos palcos concorrentes, ou seja, bandas que estavam em mesma situação e missão, perderam o pouco que tinham para os Bongs que ao final já contava com bom público. Num rápido encontro após o show, os brazucas estavam felizes pelo feito e disseram não se importar com contratempos. "Temos que começar de alguma maneira e esta é nossa primeira vez na Europa, não podemos conquistar tudo de primeira", comentou o batera. Já o guitarrista Bruno lamentava o fato da maresia e o vento terem atrapalhado um pouco sua performance, "a guitarra estava colante (risos), poderia ter feito melhor". Se ele não fala, ninguém iria perceber porque agradaram bastante.

Com um pouco mais de sorte estavam os rapazes do Sic Alps, que além de estarem num palco ao lado da entrada principal, o Pitchfork, ainda tocaram um pouco mais tarde, já recebendo maior público para apresentar seu lo-fi ao melhor estilo Beck. Porém a primeira grande agitação do dia partiu do grupo israelense Monotonix e seu coquetel molotov em forma de música. Imaginem um grupo que não utiliza o palco para apresentar-se, tudo acontesse no meio do público e o melhor é que não ficam em um único lugar, a cada duas ou três músicas colocam os instrumentos nas costas (incluindo bateria) e mudam de lugar. O vocalista tanto pode cantar no chão ou sentar nos ombros de alguém, de quebra segura uma parte da bateria e batuca. É impossível não sentir-se feliz num show destes. Só para concluir, o show acabou com o guitarrista na grade da barricada que supostamente serve para separar público do palco e o restante na arquibancada junto a integrantes do Macaco Bong, e o dia mal começara.

 Um dos palcos principais do evento recebia em seguida a primeira grande atração, The Fall subia ao San Miguel diante de um considerável público. Marc E. Smith demonstrou o porque após mais de três décadas continua adiando sua aposentadoria com temas como "I've Been Dumped" jogando na sequência "Strychnine". Pouco mais de uma hora depois e num verdadeiro choque de gerações, outro grupo britânico aparecia no outro cenário principal. Os jovens do The xx chegavam ao Primavera Sound com a moral de ter sido o grupo revelação do ano anterior, incluindo seu disco de estréia como o melhor debut por muitos veículos especializados do velho continente, além de serem considerados como uma das bandas mais promissoras do ano pela NME, ou seja, não é um hype à mais na situação. Para os fãs já conquistados foi um deleite, ainda mais tocando "Crystalised", "Islands" e "Heart Skipped A Beat" como as três primeiras canções. Para os indies mais radicais, teve gente torcendo o nariz mas nada grave.
 As dez da noite chegava o primeiro grande remanescente dos anos noventa no festival. Após quase uma década sem lançar um LP oSuperchunk, que já anunciou disco novo para este ano, demonstrou de vez ser uma das bandas mais queridas do indie norte-americano, com temas como "Cast Iron" e "Precision Auto" que teve a participação de Tim Harrington do Les Sav Fav, banda que se apresentou no dia seguinte. Não muito distante dali o Mission of Burma e o Crocodiles disputavam a atenção do público, o primeiro com seu post-punk mais explosivo e o segundo levantando poeira com seu shoegaze, além do Broken Social Scene que fizeram o show de apresentação de seu novo álbum, "Forgiveness Rock Record". Numa rápida tentativa de descanso no reservado da Adidas, após horas circulando de um palco a outro, acabei sendo pego de surpresa por uma dupla madrilenha chamada His Majesty the King, era totalmente impossível de ignorar aquela menina mandando ver na guitarra e microfones enquanto seu companheiro detonava nas baquetas, o descanço tinha ido para o espaço mas valeu a surpresa. Bonito também foi ver o forte abraço da dupla atrás do palco ao terminar o show comemorando o feito, que, segundo as palavras da jovem tudo tinha acontecido muito rápido e nem os mesmos esperavam tanta atenção.
 Porém, o grande momento do dia (ou da noite) tinha chegado. Os também norte-americanos do Pavement fizeram um dos shows mais esperados do festival e porque não da década. Talvez a mais doce revanche de um grupo indie, rejeitados por muitos em sua época real, adorados por outros que afirmavam que a banda estava adiante de seu tempo. Responsáveis diretos pela invasão lo-fi e de utilizar o ruído como ferramenta de expressão artística, levaram o público ao delírio com canções como "Cut Your Hair" e "Gold Soundz" num setlist que incluiu facilmente mais de vinte músicas, revisitando assim um vasto repertório de deus cinco discos oficiais de estúdio lançados da década de noventa mas inteiramente calcados em "Crooked Rain Crooked Rain", outra boa pedida foi "Unfair". Grande destaque também para o baixista Mark Ibold que apresentou grande forma, vale lembrar que até ha pouco o mesmo estava como "convidado" no Sonic Youth e ano passado tocou no mesmo palco com esta banda e também para Bob Nastanavich, com certeza o membro mais aclamado do quinteto tocando uma segunda bateria, gaita e até brinquedos. Não faltaram músicas do primeiro trabalho como "Trigger Cut" por exemplo. Não temos dúvidas que todos os fãns foram atendidos nesta bela apresentação mas para muitos a noite não acabaria junto ao Pavement. Uma das opções para fechar a noite eram os britanicos do Fuck Buttons com sua mejestosa barulheira e camadas distorcidas. Uma coisa é certa, a dupla toca alto, muiiiitooo alto numa jam que durou mais de hora sem intervalos.

Dia 2 Oficial - 28/'5/2010 - Pixies esgota entradas e Autoramas levanta poeira com Bacalhau

Neste segundo dia oficial de festival, o que podemos destacar já de cara é a lotação máxima dos ingressos, algo inédito para o Primavera Sound e por um único motivo. O Pixies faria sua segunda aparição na história do festival, seis anos após sua única visita em 2004. Porém não era estrela única do dia apesar de maior, outros grandes nomes marcaram o dia, boas surpresas e também nosso trio brasileiro Autoramas fez um ótimo show. Vamos por partes.

As seis da tarde os texanos do Harlem apresentava músicas de seu recém lançado "Hippies" com seu garage rock com pitadas de rockabilly, mas o que chamava a atenção mesmo era a grande fila que se formava ainda do lado de fora do recinto para conferir de perto o show do Low no auditório do Fórum, situado no subsolo do Parc. Vale lembrar que os shows neste local apresentam um perfil mais intimista, acesso limitado, cadeiras confortáveis além de uma expetacular acústica. Quando o mundo descobriu o estilo definido como slow core, que demonstravam que os susurros podem ser mais estrondosos que os gritos, o grupo Low já estava na estrada há muito, e nesta edição apresentaram na íntegra o disco "The Great Destroyer" e desde já podíamos classificar como um dos shows mais bonitos apresentados neste décimo aniversário.
Logo em seguida e já dentro do Parc del Fòrum duas boas opções dividiam o público. A primeira é o Condo Fucks que talvez você nunca tenha ouvido falar mas com certeza conhece seus integrantes. Condo Fucks não é ninguém menos que Yo La Tengo sob outro nome e claro outra proposta, um garage rock setentero no qual Ira Kaplan, Georgia Hubleye e James McNew estão se divertindo aos montes e tocando em palcos mais alternativos do que nunca com seu disquinho recém lançado, o "Fuckbook". A segunda era um pouco mais sofisticada, Spoontambém chegava sob a batuta de banda grande e público à altura. Igualmente com novo disco no mercado o "Transference" defenderam bem o posto de banda melhor valorisada da década. Músicas como "Don't Make me a Target" do aclamado "Ga Ga Ga Ga Ga" e "Written in Reverse" do mais recente foram muito bem recebidas. Na sequência tivemos outra banda muito aguardada, o Wilco também apresentou seu recém e autointitulado álbum em sua terceira visita ao festival com seu tradicional american rock-country se é que podemos definir assim. Um dos pontos altos foi "Jesus, Etc" de "Yankee Foxtrot Hotel", para fugir um pouco das distorções.
Ainda com o Wilco em reta final de show, nosso Autoramas botava todo mundo no Adidas para dançar o bom rock and roll. Bacalhau, Gabriel Thomaz e a estilosa baixista Flavia Couri levantaram a poeira noite catalana levando músicas em inglês e claro no nosso bom português como "Paciencia". E mesmo quando o trio pensava em encerrar as atividades chegou a notícia que ainda rolaria uns minutos, deu até para levar aquela versão suingada de "Bacalhau" deixando de vez o clima de festa no ar, melhor impossível. Foi um grande orgulho ver as bandas brasileiras chegarem num festival com tantos outros nomes da cena idependente, e o melhor de tudo, agradar em cheio mas a noite estava um pouco distante de acabar.

Duas potências do festival dividiam o público, ainda que alguém pudesse pensar que o Pixies roubaria todo o protagonismo, o Sheelac de Steve Albini fazia sua terceira visita consecutiva ao festival e a quinta num total de dez e garanto que a galera se acotovelava para ver, ignorando Frank Black e sua trupe. Entre os dois palcos, enquanto fazíamos fila para o limitado número de fotógrafos a entrar na barricada, dava para escutar e ver pelo telão Marc Almond levando talvez a música que o consagrou quando fazia parte do Soft Cell, "Tainted Love", música para todos os gostos.
Enfim, chegava o grande momento e uma fotógrafa a meu lado confessava a emoção de estar ali quando as luzes se apagaram e após seis anos o Pixies visitavam novamente Barcelona e o festival que os viu resuscitar em 2004 numa reunião que se tornou um dos acontecimentos da década e que somente ao vivo muita gente se dá conta do que realmente representa o Pixies para o mundo da música. Abrindo com "Cecilia Ann" do "Bossanova" numa sequência que também incluiu "Rock Music" também do mesmo álbum num perfeito convite para uma noite de gala. Noite esta que incluiu uma infinidade de clássicos como "Alec Eiffel", "Debaser" com Kim caprichando no seu contrabaixo, "Where's My Mind" onde dezenas de milhares de pessoas reproduziram o grito de fundo desta música e que com certeza ecoou nos quatro cantos da cidade. Aliás, acredito que todas as músicas foram recepcionadas de igual maneira, "Monkey Gone to Heaven" e porque não "Here Comes Your Man", ambas de "Doolitle". Poderíamos ficar citando canções após outras e a lista seria de dar inveja mas não queremos provocar este sentimento e sim relatar os fatos. Após uma apresentação como esta o jogo estava ganho mas não terminado. Ainda teríamos por diante um Sábado e um encerramento no Domingo.

Dia 3 Oficial 29/05/2010 e encerramento definitivo 30/05/2010

Já em ritmo de encerramento, deixando saudades antecipadas, a organização caprichou nas novidades e em velhos conhecidos do pop. Tivemos por exemplo os catalães do Mujeres com seu garage rock que lotou a pequena arena onde se situava o Adidas. Também as meninas do Dum Dum Girls que além do show principal no Pitchfork ainda tocaram em versão acústica numa tenda Ray-Ban e gratuitamente no Domingo na versão Primavera al Parc, realizada no parque Joan Miró de Barcelona. Tanto os rapazes catalães quanto as americanas fizeram autênticos shows rock and roll. Porém, das revelações do dia a mais aguardade era as dos nova-iorquinos do The Drums. Uma banda que explodiu para público e crítica antes mesmo de ter um LP, bastou um EP e duas canções para se tornarem os queridinhos do mundo no ano de 2010, principalmente com o single "Let's Go Surfing". A grande verdade é que não decepcionaram nos quarenta e cinco minutos que ficaram no palco. O disco será oficialmente lançado nas próximas semanas.


Built to Spill igualmente fez grande apresentação mas teve que dividir o público com outra banda que também celebrava vinte anos de seu primeiro lançamento e que está excurcionando com o formato de tocar o primeiro disco na íntegra: The Charlatans. Alguns fãs saíram decepcionados da tenda Ray-Ban após esperarem a banda por mais de meia hora e passar um certo calor para conferir de perto uma suposta apresentação acústica dos britânicos. O que se viu naquela tarde que antecedia ao show principal foi um par de perguntas com respostas "sim" ou "não" e apenas duas músicas "The Only One I Know" e "Vanity". A banda saciaría mais tarde o desejo dos fãs, ainda que isso não apagasse aquela pontinha de decepção da tarde. No show principal, quebraram o protocolo, tocaram todas a músicas de "Some Friendly" como previsto mas mudaram as ordens das músicas mesmo abrindo com "You're Not Very Well" e terminando com "Sproston Green".

Ainda restavam dois grandes nomes para o fim da festa, os Pet Shop Boys e Orbital. Os primeiros, apesar da rejeição inicial por parte do público ao serem anunciados meses antes, fizeram jus a sua história tocando grandes clássicos do synth-pop dos anos oitenta e noventa, e porque não, dando um toque de despedida e celebração ao décimo aniversário do evento. Com toda uma produção de palco, bailarinos, figurinos e projeções considerada recentemente pelo The Times como a turnê mais deslumbrante do ano, produzido por Es Devlin que arrebatou prêmios de melhor desiner de cenários no ano passado. Tocaram clássicos como "New York City Boy", "Domino Dancing" e já no bis com "Being Boring" e "West Ending Girls", neste que foi o primeiro show da turnê mundial Pandemonium. As três da manhã Orbital também entra para dar seu recado abrindo a noite com "Satan" (convidativo não?) e impressionantes projeções de palco.




Domingo e último dia de maratona, os Black Lips que ano passado estiveram na grande festa, este ano encerraram. Sala Apolo lotada e uma fila de dar voltas no quarteirão na esperança de entrar, por parte do público, e a já esperada loucura desatada no cenário. Garage Rock com letras maiúsculas, copos de cervejas arremessados, stage-divers e muita distorção. A temperatura dentro do recinto superava os quarenta facilmente, "Take My Heart", "Short Fuse", "Drugs", estavam todas lá num show que acabou a capacidade do palco esgotada devido a uma invasão em massa e os integrantes sendo carregados nos ombros.

Parabéns Primavera Sound, pela década realizada e pela festa oferecida, não existe dúvida que este evento já é referência no mundo.