sexta-feira, 24 de abril de 2009

Estrella Damm Primavera Club 08: festival indie passa pelo folk e termina com festa soul


Texto e Foto: Mauricio Melo

Festival fechou 2008 em Barcelona, com Isobell Campbell & Mark Lennegan, entre outras atrações
por Mauricio Melo
de Barcelona, Espanha
[02/01/2009]
Este festival, realizado em Barcelona e Madri como de hábito, demonstrou mais uma vez toda sua força em pleno inverno europeu, e principalmente na capital espanhola, que esgotou entradas para todas as apresentações. Por ser um festival de inverno, as apresentações não foram [obviamente] realizadas ao ar livre. Aqui em Barcelona se resumiram às tradicionais Sala Apolo e Apolo [2] e ao excelente Auditório Fòrum. No Apolo ficaram as apresentações mais rock, indie e os DJ's. O Auditório Fòrum teve as apresentações mais intimistas, mas também de maior público.
Noite de abertura - 10/12
A primeira noite do festival foi realizada no Apolo e contou somente com bandas nacionais. Os encarregados de abrir a foram os madrilenhos do The Joey K-Plan, mais uma dupla no mesmo formato de Black Keys, White Stripes ou The Kills, porém com som apenas instrumental e bem barulhento, sem deixar de lado a melodia. Fizeram uma excelente apresentação de abertura e saíram muito aplaudidos do palco. Em seguida foi a vez da banda local (lo:muêso) que fizeram um excelente show, talvez o melhor da primeira noite. Com músicas como Combinado Magyar, OJ da Jazen e Twelve 2 agradaram em cheio com seu estilo guitar/rock experimental e apesar dos títulos em catalão as músicas são cantadas em inglês. O encerramento ficou a cargo do rock/experimental do grupo 12Twelve, mais uma banda com bastante distorção e nenhuma letra. Fizeram um show bem interessante, mas quem levou o título da noite foi o (lo:muêso).
Segundo dia: primeiras atrações internacionais - 11/12
Segunda noite do festival, também realizada no Apolo recebeu um público maior do que a noite anterior e também suas primeiras atrações internacionais. Nesta noite de quinta-feira, somente duas bandas se apresentaram, ambas britânicas. A primeira da noite foi The Wave Pictures [foto] que lançando seu segundo álbum Instant Coffee Baby [2008], fez um show simples e agradável. Músicas como I Love You Like a Madman e Strange Fruit or David, ambas do segundo álbum, agradaram em cheio ao público catalão. Também não faltaram canções do primeiro trabalho Sophie [2006] como I Want to You Walk all Over Me e Pen Pals. A banda se sentia tão à vontade no palco que o baixista Franic Rozycki entre uma música e outra saiu para ir ao banheiro destinado ao público.
The Wave Pictures tem histórias curiosas em seus dez anos de estrada, à parte de um integrante sair no meio da apresentação para ir ao banheiro. Enquanto esperavam a gravadora lançar oficialmente seu primeiro disco, Instante Coffee Baby, a banda lançou Sophie reunindo gravações caseiras que vendiam em shows, no formato CD-R. Apesar das boas vendas de seus dois discos e de vários shows, os integrantes ainda têm seus empregos convencionais para conseguirem completar as despesas do mês.
Em seguida foi a vez de Darry Haymen & Jack Hayter subirem ao palco para um show dividido em duas partes. A primeira foi destinada a uma sessão acústica onde somente tocaram músicas de Hefner, um trio folk londrino surgido no início dos anos 90 e atualmente extinto - Haymen foi o líder desta banda. A segunda parte recebeu como convidados o mijão Rozycki e ainda o baterista Jonny "Huddersfield" Helm, ambos do The Wave Pictures, para completar a apresentação que a partir de aí misturava músicas de ambas as bandas, lembrando que Darry Haymen é padrinho do The Wave Pictures.
Terceiro dia - Auditório Fòrum abre suas portas para atuações mais íntimas.
Sendo fiel à sua proposta, Estrella Damm Primavera Club traz uma noite que vai de novas promessas a projetos de artistas consagrados do underground. Quem abriu a tarde de sexta-feira, às 17 horas, foi a banda local Manel com excelente apresentação, que confirma o posto de promessa local. Logo em seguida, foi a vez de Wovenhand, banda do enigmático líder do 16 Horsepower, David Eugene Edwards. Entre uma pausa e outra de sua banda oficial, no ano de 2001 surgiu Wovenhand como um projeto paralelo. Deu tão certo que atualmente estão lançando Ten Stones [2008], oficialmente seu quinto trabalho.
A única coisa que podemos lamentar da apresentação sólida que Edwards pode nos oferecer foi o pouco tempo destinado para a mesma, somente 45 minutos foram insuficientes para saciar a sede dos presentes, ainda que tocassem músicas como Horsetail e Kicking Bird do lançamento atual e Deerskin Doll do álbum Mosaic [2006]. completaram o setlist a pesada Tin Finger de Consider the Birds [2004] e porque não brindar seu público com American Wheeze, música de seu outro grupo, 16 Horsepower, presente no disco Hoarse [2001].
Este terceiro dia de festival e o primeiro no Auditório Fòrum ainda reservava mais uma novidade antes das duas atrações principais. Provenientes de São Francisco, sobem ao palco The Dodos. Oficialmente são uma dupla, mas nas apresentações torna-se trio, com Meric Long [violão e voz], Logan Kroeber [bateria] e um misterioso percussionista. Com uma apresentação bem calcada em músicas de seu segundo álbum, Visiter [2008], tocaram Fools, Red and Purple e do anterior, Beware the Maniacs [2006], uma das mais bem recepcionadas de todas, The Ball. Alguém do público ainda pediu Winter, do segundo trabalho, mas já não havia mais tempo, se bem que os rapazes passaram mais de uma hora no palco.
The Giant Sand inicia sua apresentação com um certo atraso, talvez o único do festival. Mesmo assim, o pequeno imprevisto não foi o suficiente para desprestigiá-los ou ameaçar a eterna tranquilidade de Howe Gelb, líder da banda que após a música de abertura se deparou com um público educadamente sentado nas confortáveis cadeiras do auditório. Aproximou-se do microfone e perguntou com sua grave voz, "alguma pergunta?"; o suficiente para quebrar o gelo. Lançando proVISIONS [2008] um disco que apesar de canções com uma roupagem bem folk/country e típicas de Tucson [Arizona-EUA], cidade natal da banda, é um disco com mensagens bastante políticas.
Quando Stranded Pearl foi tocada, a já esperada participação de Isobel Campbell aconteceu. Afinal, assim também foi registrada a canção no disco, e a moça fecharia a noite logo em seguida, apresentando seu projeto com Mark Lennegan. A apresentação dos Giant Sand durou pouco mais de uma hora e foi o suficiente para todos sentirem um pouco o calor do deserto em pleno inverno europeu, com músicas ao estilo Johnny Cash, Dire Straits e Calexico.
O encerramento da primeira noite no Auditório ficou a cargo de Isobell Campbell & Mark Lenegan [ abertura e foto ao lado], que este ano lançaram Sunday at The Devil Dirt. Logo na entrada do auditório, ao recolher o passe para fotografias a informação passada era de que a iluminação para esta apresentação seria bem baixa e que os artistas não abririam mão da atmosfera íntima que gostariam de transmitir, fazendo perfil ao trabalho de estúdio.
E foi assim que Campbell [ex-Belle and Sebastian] e o multi-intérprete Lenegan se apresentaram neste dia. Vale lembrar que a banda que projetou Mark Lenegan foi o Screaming Trees e que após a extinção desta o cantor se envolveu em vários projetos como participações em discos e shows do Queens of the Stone Age, o projeto eletrônico/rock/gospel Soulsavers, The Gutter Twins [dupla com ex-membro do Afghan Whigs], além de sua respeitável carreira solo.
O currículo do rapaz é extenso. Além de toda história que leva a dupla, vale citar que este trabalho de estúdio tem alto nível e o público presente teve a oportunidade de conferir cada acorde de músicas como Salvation, The Flame That Burns, Who Built the Road, além de trabalhos de um e de outro como Little Sadie, de Mark Lenegan, e ainda The Ballad of Broken Seas. Finalizaram a apresentação com Back Burner do disco mais recente. Algumas pessoas reclamaram do clima sombrio e do fato de Lenegan e Campbell não mostrarem seus rostos e nem dizer um olá. Talvez parte do público não tenha entendido o formato da apresentação.
Quarto Dia - Em mais um dia de novidades e rock, a revelação do soul americano rouba a cena
A abertura ficou por conta de Espaldamaceta, que mais serviu para aquecer quem tranquilamente chegava ao Auditório. Em seguida e com uma proposta bem distinta se apresentou High Places com seu Indie/Eletrônico vindo do Brooklyn. Em seguida foi a vez de Abe Vigoda de Los Angeles, mais uma banda que mistura muitos instrumentos na tentativa de fazer algo bem diferente, conseguem com êxito mas os The Dodos agradaram mais na noite anterior com menos. Não vamos interpretar mal, os californianos fizeram excelente show e talvez pudessem ser encaixados em uma das noites do Apolo, junto a outras bandas mais plugadas.
La Buena Vida, outra banda nacional porém com uma levada mais pop, tocou seu primeiro disco Soidemersol [1997] na íntegra acompanhada de uma orquestra, praticamente em versão acústica e com um telão ao fundo onde exibiam imagens de mais de uma década de existência da mesma.
Porém, quem roubou a cena da noite e do festival, foi mesmo Eli "Paperboy" Reed com seu carisma, sua voz rouca e muito soul. Este rapaz de 25 anos de idade tem uma combinação não muito comum aos fãs da música soul: é branco, vem de uma família de classe média americana e nasceu em Boston onde a música soul não tem lá grandes forças. Ao que parece, a cidade ganha nos dias atuais um grande representante. Com muita simpatia colocou o até então comportado público para dançar como já era de se esperar. O que não imaginavam os seguranças do auditório é que Paperboy pedisse para que o público saísse de suas cadeiras e fosse o palco, onde não havia grade de proteção.
Antes da entrada de Eli Reed, o The True Lovers, banda que o acompanha, fez toda uma introdução com um dos saxofonistas chegando até ao microfone e perguntando se é com aquele entusiasmo que querem receber o rapaz de Boston. Com a banda detonando um soul e o saxofonista caprichando no solo, Eli Reed entra em cena bem ao seu estilo, terno, cabelo penteado e com um largo sorriso. Aí sim, vem o momento onde o público sai de seus lugares e dança o show inteiro. Foi assim em I`ll Take my Love With You e [Doin The] Boom Boom, Am I Just Fooling Myself, todas de Roll With You [2008], seu segundo trabalho, além da já conhecida I'm Tired of Wandering. A apresentação terminou com Eli e o público esgotados de tantos passos à lá James Brown. Aquele terninho que Reed utilizava na entrada e seu cabelo penteado ficaram para trás na terceira música, as únicas coisas que não saíram de seu corpo foram o sorriso e a expressão de satisfação.

Oasis lota ginásio em Barcelona


Texto e foto: Mauricio Melo

Com entradas esgotadas há várias semanas, O Oasis fez somente dois shows em terras espanholas, o primeiro em Barcelona, dia 13 de fevereiro, e o segundo na noite seguinte, em Madri. Apesar da organização só liberar credenciais para a imprensa local, este repórter brasileiro conseguiu assistir ao show pagando 40 Euraços de entrada, e ainda driblou a segurança para entrar com a câmera na mão. E quer saber? Valeu a pena. Os Galleghers não decepcionaram antigos e novos fãs, público que variava entre quarentões e adolescentes.

Como de hábito, a música de abertura foi Fuckin In the Bushes, que abre o disco Standing on the Shouder of Giants [2000], levando o público a saltar como se a banda já estivesse no palco. Ao entrar, e antes mesmo de qualquer comunicação com a platéia, soam os primeiros acordes de Rock and Roll Star, a primeira música do álbum de estréia Definitely Maybe [1994]. O que vem a calhar: faz sentido abrir um show com um refrão que diz "Tonight I'm a Rock 'n' Roll Star", embora na época do lançamento, somente os próprios Gallaghers devessem acreditar no próprio futuro.

Lyla vem logo em seguida, esta de um álbum mais recente, Don't Believe the Truth [2005] e a partir de aí começavam as excelentes projeções nos quatro telões de alta definição situados ao fundo do palco, algo parecido ao utilizado pelo U2 na turnê do Elevation. As projeções mudam a cada música e nunca se repetem, mas na verdade é tudo uma colagem de imagens com o mesmo perfil do clipe de Shock o Lightining - tocada após Lyla, pertencente ao disco Dig Your Soul [2008].

Quando não tem colagens, o que entra em cena é a imagem de cada integrante nos mesmos telões, à parte do baterista e o tecladista que na verdade são músicos convidados. A grande curiosidade destas projeções no entanto, é que muitas vezes somente aparecem imagens de Liam e Noel, e propositalmente um de frente para o outro. Mas pelo menos no telão eles não brigam.

Apesar de disco novo no mercado, nem todas as músicas deste foram tocadas. Além da já mencionada Shock of the Lightning, também estiveram na set list Bag it Up, e as “Beatles total” I'm Outta Time [Get Off Your], Falling Down, Waiting for the Rapture [muito bem levada por Noel] e Ain't Got Nothin'. Ao perguntar se na platéia existiam britânicos e ser muito bem respondido, Liam dedicou Cigarettes and Alcohol aos compatriotas, esta do primeiro disco que também teve Slide Away, deixando as tradicionais Shakermaker e Live Forever para uma próxima oportunidade.

De Heathen Chemistry [2002] somente a curtinha Songbird deu as caras no setlist. Don't Believe the Truth [2002] teve mais uma música representante com The Importance of Being Idle, com Noel aos vocais. Desprezo total ficou por conta do álbum Be Here Now [1997], nenhum tema deste figurou num show onde até mesmo The Masterplan, título do homônimo álbum lançado em 1998 [na verdade uma sobra de estúdio] foi tocada e bem recepcionada. Deste mesmo álbum, mais uma que ficou de fora foi a tradicional Acquiesce.

Os pontos altos foram Champagne Supernova, Hello e [a pedidos, vindo de uma enorme faixa no meio da multidão] Don't Look Back in Anger, com direito a uma dedicatória especial por parte de um simpático [?] Noel aos que seguravam a faixa. Claro que Wonderwall, do mesmo disco What´s The Story, Morning Glory [1995], um dos clássicos dos anos 1990, não poderia faltar. No bis apareceram Supersonic, em uma versão mais cadenciada, e o cover I Am the Walrus dos Beatles, que fazia parte de seu antigo setlist e que tinha sido substituído por My Generation do The Who, finalizaram a apresentação quase duas horas após seu início. O Oasis, com a Dig Your Soul Tour, definitivamente precisa passar pelo nosso país.

Soulfly - Sala A - Club Apolo -Barcelona - 17/02/09



Soulfly - Sala A - Club Apolo -Barcelona - 17/02/09

Desde que a turnê do Conquer se iniciou na Alemanha, estamos acompanhando diversas apresentações do Soulfly – inclusive hoje, que é véspera de Carnaval no Brasil. Talvez tenhamos na cabeça uma imagem ou doutrina de que esta celebração tem que ser à base de samba, mulatas y otras cositas más, porém está aí um dia que, ao menos em Barcelona, muita coisa boa aconteceu.
Antes do show principal, quem fez a festa dos headbangers foi o Incite, banda de Phoenix (EUA) que, mais uma vez, fez um bom show de abertura.
Aquele aquecimento mencionado pelo Max, que vem antecedendo suas apresentações, quando o público começa a gritar "Blood, Fire, War, Hate" dez minutos antes do show, não aconteceu. Porém, outro fato curioso chamou bastante atenção; quinze minutos antes, quando o roadie entrou no palco para afinar a tradicional guitarra com a bandeira do Brasil estampada, o público vibrou como se fosse um gol em final de copa do mundo! Levando em consideração que não estávamos em um estádio, e que a grande maioria do público não era formada por brasileiros, ficou nítida a força com que Max representa nosso país pelo mundo afora.

Alguns companheiros de imprensa local elogiaram a apresentação, mas lamentaram o fato de muita gente ainda ir ao show do Soulfly para escutar uma dezena de músicas do Sepultura. Acredito não ser por aí, pois após muitos anos de estrada é normal que alguém ainda queira escutar músicas de sua antiga banda – mas que a atual confirma a cada dia que já tem um público fiel, é tema indiscutível.
Pelo menos foi o que se viu nesta noite em Barcelona quando o público vibrou com músicas de A a Z que estavam (e que não estavam) no setlist. Max parecia uma espécie maestro que ia conduzindo seu público da melhor maneira possível (aquele setlist que fica colado nas caixas de retorno serve mesmo como base, porque na última hora ele toca o que se encaixa melhor).

A abertura realmente ficou por conta de "Blood, Fire, War, Hate" e a sala Apolo parecia que ia explodir. Abriu-se um mosh-pit enorme e a bagaça estremecia. "Sanctuary" entrou na seqüência e, ainda que o excelente Joe Nunez não toque como Iggor, valeu a pena escutar uma música do Cavalera Conspiracy – ou ao menos um pedaço da mesma, já que não foi tocada na íntegra. A princípio escalada para o meio da apresentação, "Refuse/Resist" entrou como a terceira da noite e, de maneira infalível, levantou o público literalmente, que saltava como se tivesse mola nos pés; que saudades de ver isso... Digo saudades não por escutar esta música – ou lembrar dos tempos do Sepultura – mas sim porque quando outras bandas tocam por aqui, o público não tem a mesma reação. Enquanto isso, Max dava início a sua mais nova mania, a troca da camisetas; desde Napalm Death, Canibal Corpse e Benediction, até a da banda de abertura Incite.
Nosso frontman deu um “foda-se” para o inglês e falava em portunhol constantemente. A galera entendia perfeitamente suas palavras e palavrões, como por exemplo em "Prophecy", durante a qual ele insistia em dizer "Barcelona, vamos agitar essa porra, caralho!". Mesmo sem berimbau, "Primitive" ganhou uma calorosa recepção e ficou confirmado que não necessitamos de samba para fazer um carnaval em qualquer parte do mundo. O mesmo vai para "Tribe" e, posteriormente, "Umbabarauma". "Unleashed" confirmou de vez o êxito do Conquer e as pessoas cantaram e vibraram como se fosse um clássico antigo e "Seek and Strike" igualmente foi explosiva. A pesadíssima "Downstroy" deu uma aliviada no mosh-pit e "Mars" devolveu.
Músicas mais porrada também estiveram presentes, como "Frontlines" e "Molotov". Claro que "Inner Self" não ficou de fora e botou todo mundo para bater cabeça. Mark Rizzo e Bobby Burns segurando bem as bases e Max sempre sorridente, dando um verdadeiro banho d'água na galera. Vale destacar a vitalidade de Rizzo, dando voadoras no palco como um integrante de bandas hardcore nova iorquinas. Joe Nunez então improvisou uma pequena introdução, pausando e chamando a galera, até que a mesma apresentasse a fúria necessária para receber "Roots Blood Roots".
Antes mesmo de se despedirem, tocaram "Polícia", dos Titãs, que levou muita gente ao delírio. Ficou nítida a tentativa de Max de agradar a gregos e troianos, reunindo músicas de todos os álbuns, covers e principais clássicos do Sepultura – e pela cara de “esgotada” da galera dá para dizer que ele conseguiu, ainda que um ou outro com cara de “intelectual do metal” diga que não.


Por Mauricio Melo


ENGLISH VERSION
Since the Conquer tour began in Germany, we are following several presentations of Soulfly. Before the headliners came in though, who prepared the terrain was Incite, the band from Phoenix (USA) who once again did a good opening show.
The ‘warm up’ mentioned by Max, which usually happens moments before the band hits the stage – when the audience starts shouting "Blood, Fire, War, Hate" ten minutes before the show – did not happen this time. However, another curious fact drew much attention; fifteen minutes before the start, when the roadie came on stage to tune that guitar that has the Brazilian flag printed, the public shouted as if it was a goal in the final of the World Cup!

The first song actually was "Blood, Fire, War, Hate" and the Apollo room seemed to explode and a huge mosh-pit opened up. "Sanctuary" came next, and even though excellent drummer Joe Nunez doesn’t play like Iggor, it was worth listening to a song from Cavalera Conspiracy - or at least a teaser, since it was not played in full. Originally planned to be played in the middle of the set, "Refuse/Resist" entered as the third of the night, and foolproof, literally raised the audience, who jumped as if they had springs in their feet. And how I missed that... I mean, when other bands play here, the public doesn’t have the same reaction.
Today Max abandoned the English language and spoke “portunhol” constantly. The crowd understood perfectly when he said "Barcelona, vamos agitar essa porra, caralho!" during "Prophecy". "Primitive" won a warm reception as well as "Tribe" and, later, "Umbabarauma”. "Unleashed" confirmed the success of Conquer and people sang along as if it was an old classic. The ultra-heavy "Downstroy" relieved the mosh-pit and "Mars" returned it.
More badass songs were shot at the public: "Frontline", "Molotov" and, of course, "Inner Self", who put everyone to headbanging. It is worth highlighting Rizzo’s vitality, who was high kicking the air while playing his guitar, like New York hardcore musicians do. Joe Nunez then improvised a short introduction, pausing and calling the crowd, until they had the necessary fury to face "Roots Blood Roots."
Even before they ended, they played "Policia", from Brazilian rock band Titãs, which led many people to ecstasy. It was a clear attempt of Max to please everyone, bringing together songs from all albums, covers and classics from Sepultura - and judging by the tired face of the crowd we can say that he succeeded.
by Mauricio Melo

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Helmet - Sala A - Club Apolo – Barcelona - 03/02/2009



Helmet - Sala A - Club Apolo – Barcelona - 03/02/2009
Apesar das duas décadas de estrada, desde sua formação em Nova Iorque (‘89), a banda de Page Hamilton chegou a Barcelona nos primeiros dias de Fevereiro, mais precisamente no dia 3 na pequena sala A do Club Apolo para, segundo as palavras do próprio líder da banda, sua primeira apresentação oficial na cidade catalã. Porém, a primeira aparição da banda por aqui foi numa turnê do Marilyn Manson na qual o Helmet era banda de abertura e, como mesmo reconheceu Hamilton, um fã do Helmet por mais dedicado que fosse não iria pagar caro e se meter no meio de outra galera e curtir um show de meia hora. De quebra, quem foi assistir ao Manson, tão pouco se importava com o que rolava naquela abertura, então, por uma ou por outra, esta foi considerada a verdadeira passagem da banda pela cidade.

Antes do grande momento, quem deu as cartas foi o trio californiano Totimoshi que, aliás, já teve um disco produzido por Page Hamilton. Fizeram um bom show de abertura, bem ao estilo dos headliners, misturando um pouco com Melvins. No intervalo entre um show e outro, a trilha sonora para relaxar o público foi um bom jazz e bastante Sinatra – vale lembrar que uma das maiores influências de Hamilton é exatamente este estilo musical e Sinatra também é título de uma das músicas do primeiro álbum da banda, Strap it on (‘91).

Chegada a hora, o público já não se continha e pedia insistentemente a entrada do rolo compressor sonoro ao cenário, e não tardou muito para que o simpático Hamilton e seu novo (e jovem) Helmet atendessem ao chamado. Apesar de totalmente reformulado e não conter nenhum outro membro original do grupo (somente Page Hamilton) o característico som com riffs de guitarras repetitivos e distorcidos estão mais presentes do que nunca. Iniciando o set com "Swallowing Everything" do lançamento mais recente, Monochrome (2006) e seguindo com "Renovation" do Aftertaste, de ‘97 (álbum este que marcou o fim do Helmet naquele momento, antes de seu retorno em 2004). "See You Dead" entra em seguida como representante do disco Size Matters, disco que marcou o retorno com o já reformulado grupo em 2004. Hamilton foi aquecendo seu público com excelentes músicas de seus discos menos aclamados para em seguida mostrar, junto a sua simpatia, o Helmet que todos esperavam. E não demorou muito para que isso acontecesse. Apresentando "Iron Head" do marcante álbum Meantime (para muitos, um dos melhores lançamentos da década de noventa) seguida por "Role Model" e "FBA II", também deste já citado álbum, deixou a maior parcela do público realmente satisfeita. Para quebrar um pouco a hegemonia, mas sem sair dos anos noventa, soaram os acordes de "Exactly What You Wanted" e, como mesmo definiu Hamilton em um intervalo entre uma música e outra, “são tantos hits fica até difícil escolher um setlist básico para a apresentação”. Realmente, o que dizer de "Wilma's Rainbow" de Betty (‘94) seguida de "Black Top" do primeiro e já citado disco Strap It On, e na sequência "Unsung" – aquele que foi o carro chefe do disco Meantime e que apresentou o Helmet em definitivo ao mundo?

Após uma seqüência como está, era de imaginar que o show já estivesse terminando. Mas ainda havia tempo para "Pure", "It's Easy To Get Bored" e "Driving Nowhere", todas de Aftertaste e entre elas "Milquetoast" e "In the Meantime" já no bis. Apesar de não mais contar com outros membros originais na banda, Page Hamilton e seus rapazes demonstraram que o Helmet ainda tem muita lenha para queimar.


Mauricio Melo
Oficialmente publicado por Rockonnection - www.rockonnection.com

ENGLISH VERSION

In spite of the two decades on the road, since they started in New York in ‘89, Page Hamilton’s band arrived in Barcelona on the first days of February, in the small room A of the Apolo Club for – according to the leader himself – their first official show at the Catalan city. The first show of the band in this region actually happened when they came on tour with Marilyn Manson in which Helmet was the opening band but, as Hamilton recognized, “a Helmet fan, even a dedicated one, would not pay a high price and stay amongst a different kind of crowd to enjoy a half an hour set”.
Before the great moment, the band that showed some skills was the trio from California Totimoshi which, as a matter of fact, already has had a CD produced by Page Hamilton. They performed a good opening show, as if they were the headliners, with a sound that reminded me the Melvins in some moments. During the break between one band and the other, the soundtrack chosen to relax the public was some good jazz and Sinatra – it’s worth to remember that one of Hamilton's biggest influences is precisely this type of music and ‘Sinatra’ is also the title of one of the songs from their first album, Strap It On (‘91).
The audience couldn’t restrain themselves anymore and were asking insistently for the entry of the resonant steamroller on stage, and it didn’t take long for Hamilton and his new (and young) Helmet to answer the call. Even though no other original member of the group – but Hamilton – is in the band, the characteristic sound with repetitive and distorted guitar riffs is still there. They started the set with 'Swallowing Everything' from their most recent release, Monochrome (2006) and followed with 'Renovation' from Aftertaste (that was the album that flagged the end of Helmet at that moment). ‘See You Dead’ came next as a representative from Size Matters, album that marked their return with the already re-structured group in 2004. Hamilton kept the audience going with excellent songs from their least acclaimed albums, in order to present next, together with his sympathy, the Helmet everyone was expecting. And it didn’t take long for that to happen.
As they executed ‘Iron Head’ from the outstanding album Meantime (for many people, one of the best releases of the nineties) followed by ‘Roll Model’ and ‘FBA II’, also from this already quoted album, the biggest part of the crowd really couldn’t ask for more. To break a little the hegemony, but without moving away from the nineties, they struck the chords of ‘Exactly What You Wanted’ and, when it was finished, Hamilton said “it’s so many hits that it gets quite difficult to choose a basic set list for the show”. That is true… I mean, what to say about Betty's ‘Wilma's Rainbow’ (‘94) followed by ‘Black Top’ from the first and already mentioned album Strap It On, and right after, ‘Unsung’ – the one that introduced Helmet to the world?
After a sequence like this, it was expected that the show was already about to end. But there was still time for ‘Pure’, ‘It's Easy To Get Bored’ and ‘Driving Nowhere’, all from Aftertaste, and then ‘Milquetoast’ and ‘In the Meantime’ already as the encore. Despite the fact that there are no other original members in the band, Page Hamilton and his boys showed that Helmet still have loads of firewood to burn.

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British Sea Power - um novo Arcade Fire?


Banda inglesa fala com exclusividade à Paradoxo em Barcelona
Por Mauricio Melo e Ana Paula Soares
Foto: Mauricio Melo
O bate-papo discontraído aconteceu no lobby do hotel onde a banda British Sea Power estava hospedada. O guitarrista Martin Noble e o baterista Wood, ao descobrirem-se diante de um brasileiro logo começaram a falar de futebol. Deixaram claro, antes de qualquer pergunta, que adorariam tocar no Brasil um dia. "Para também aproveitar um pouco da viagem para "inesquecíveis férias."
Formada em 2000 na cidade de Brighton, Inglaterra, somente em 2003 a banda deu as caras com o disco The Decline of British Sea Power. Dois anos mais tarde e com um pouco mais de experiência depois, foi a vez de apresentar o álbum Open Season ao mundo. Foi aí que algumas canções começaram a ganhar notoriedade.
Uma mistura de pós-punk e garage rock adicionadas a boas letras é o segredo deste quinteto. O álbum mais recente, Do You Like Rock Music?, lançado ano passado, levou-os a comparações com o Arcade Fire. Mas se olharmos para a história e os discos anteriores dos britânicos, vemos que não é bem por aí. Não custa lembrar que a banda esteve, em 2008, entre os nomes de grandes festivais, como o Primavera Sound de Barcelona e o tradicional Reading/Leeds Festival, na Inglaterra. Se você não gosta de rock, está lendo a entrevista errada.

Revista Paradoxo - Sei que talvez possa ser um pouco cansativo, porém como se trata em uma banda que ao menos no Brasil ainda está em descoberta, poderia fazer um pequeno resumo da história da formação da banda? As informações que tenho dizem que foi formada em 2000 e logo com os primeiros shows teve uma boa repercussão, e o primeiro album se tornou um dos favoritos da crítica britânica. Algum detalhe mais?

Noble - O de sempre, éramos amigos e desde muito jovens estudávamos juntos, eu era um jovem universitário de psicologia por exemplo. Conversávamos muito sobre música, sobre nossas bandas favoritas como Pavement e nesta época poucas pessoas gostavam de Pavement na escola e na universidade, era como ter um gosto diferente ou para alguns um mal-gosto mas era isto que nos identificava.

RP - Por mais de uma vez a banda foi comparada ao Joy Division. Particularmente, não vejo tanta semelhança. Essas comparações incomodam a banda ou faz parte do show levando em consideração que a música é algo reciclável?

Wood - Acho que fazíamos um post e poderíamos ser comparados a um ou outro, é normal que apareçam comparações e uma banda tão foda como foi o Joy Division acho que ser comparado a eles não faz mal nenhum. Mesmo que tenhamos como objetivo fazer algo diferente.

RP - Então, aproveitanto o assunto das comparações, quais são as principais influências da banda?

Noble - Pavement, Pixies, Joy Division, Velvet Underground e Iggy Pop and The Stooges, também não podemos deixar de fora.

RP - É verdade que Do You Like Rock Music foi, ou pelo menos era para ser, gravado em Montreal?

Noble - Sim, tínhamos três lugares previstos para gravar e um deles era Montreal, pois queríamos aproveitar a atmosfera daquela cidade. Apesar da idéia inicial ser ótima as coisas não saíram como queríamos. Então, em Montreal gravamos uma parte e mixamos e outra parte na República Tcheca.

RP - Um bom produtor, por melhor e mais renomado que seja, pode errar a mão e
estragar um disco ou a banda tem parcela de culpa?


Noble - Normalmente trabalhamos juntos ao engenheiro de som, mixamos o disco juntos e acredito que coisas assim não acontecerão conosco. Não existe somente uma pessoa no comando de tudo. Nos dedicamos ao máximo para fazer com que o disco saia como queremos.

RP - Quem compõe as musicas? Existe alguma fórmula específica ou as compisções vêm de jams, de estúdio? O mesmo vale para as letras.


Wood - Funciona de diferentes maneiras. Alguém chega com uma parte composta, outro com um rascunho de letra, algumas vezes sai de Jams. No início buscávamos fazer juntos e depois começamos a passar as linhas em separado e ao juntar ficavam horríveis mas depois demos sorte.

RP - Como foi participar do Primavera Sound 08 e em seguida do Reading/Leeds? Já passa a ser um bom reconhecimento do trabalho?
Martin - Bandas brilhantes participaram destas edições e estar nestes festivais é sempre bom. Levando em consideração a repercussão de ambos acho que é um bom reconhecimento.

RP - Aquela perguntinha tradicional: planos para o futuro, shows no Brasil? O que acham da ideia?
Wood - América do Sul com certeza, seria brilhante.
Martin - Gostaríamos muito de ir para shows e depois passar férias por alguns meses, curtindo o Brasil [risos]. Sabemos dos problemas que existem, mas também há em muitos lugares e isso não desanima. Gostamos muito de esportes e sempre vemos os brasileiros se destacando. Além da cultura, da comida... definitivamente é um lugar a estar.
Oficialmente publicado por Revista Paradoxo