sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Primavera Sound Touring Party 2013












Du Baú - Walls of Jericho entrevista (2010)




Sem Pressão!
Walls of Jericho supera uma década de brutalidade musical de forma honesta e definitivamente não quer saber de pressão por parte de gravadoras.  Há anos sem lançar nada, guitarrista e baixista da banda atendem  ao Substance Barcelona 
para deixar claro que disco novo sairá quando a banda desejar e não quando houver um limite imposto por empresas.  Também conta detalhes do verdadeiro título, The American Dream, e do suposto DVD com imagens gravadas no Brasil, que ao final nunca foi lançado.
Por Mauricio Melo



Walls of Jericho já tem mais de uma década na estrada, melhor dizendo que está entrando em seu décimo terceiro ano em atividadade.  Vocês acreditam que o tempo passou muito rápido se dermos uma rápida olhada para trás?

Mike Hasty - Sim, quase não pensamos nisso mas se olharmos para trás e pensarmos no estávamos fazendo há treze anos é como "é maneiro mas nem tanto"

Aaron - Se olharmos pelo lado das mudanças parece até que foi há muito mais tempo.  Quando começamos não existia toda essa internet que existe hoje, então parece que foi há muito mais que treze anos.  Aí sim podemos dizer que houve muitos progressos por exemplo.

Hasty - Foi exatamente no final de uma era...

Aaron - Isso, fomos uma das últimas bandas daquele momento "antigo".

Hasty - Ao invés de estarmos fazendo CDs demos ou lançando músicas online no myspace como fazem atualmente ainda estávamos na época de gravar demos em fitas cassetes...

Aaron - Fizemos milhares de cassetes para distribuir para as pessoas que gostassem de nossas músicas.

Hasty - Falávamos disto outro dia com os integrantes do Biohazard.  Quando o hardcore começou para eles nos anos 80 nunca imaginaram que poderiam chegar tão longe.  Você inicia uma banda, independente de seus objetivos, algumas nem tem objetivos, seja como for, comparado a uma banda agora que tem tantos recursos e tantos meios para colocar seu nome no mercado, etc.  Atualmente somos bastante felizes por tocar, sabíamos no início de tudo que teríamos capacidade para fazer shows e tínhamos esperança de estar numa gravadora um dia e fazer uma ou duas turnês.  Me lembro que só em imaginar a possibilidade já era incrível, agora necessita de quinze braços pra dar conta do recado...
E agora, pede férias?...Não, definitivamente não, amo o que faço.


O que vocês acham de bandas que após um tempo na estrada e conseguir o que realmente querem, que é gravar e estar em turnê, começam a queixar-se da rotina ou da vida que levam?

Hasty - Bem, não estou cansado disto mas entendo perfeitamente quem pensa assim.  Escolha qualquer um ou até mesmo você que muitas vezes viaja para cobrir shows, etc.  Se alguém tem um objetivo que é viajar ao redor do mundo por exemplo e é capaz de fazer isto, é incrível.  Me lembro retornando pra casa após a primeira turnê na Europa, empolgadíssimo.  Agora, após estar aqui umas quinze vezes, apesar de ainda ter seus "encantos" já não é tão empolgante.  Até mesmo os locais onde toca começam a repetir, como "ah! já tocamos aqui uns dois ou tres anos atrás..." e por aí vai.  Algo se perde mas ao mesmo tempo, ainda gosto do que faço, tocar, gravar, viajar.  Prefiro estar aqui tocando do que estar em casa, trabalhando ou não, tanto faz, prefiro estar aqui.

As letras do Walls of Jericho normalmente não são politizadas mas com o título The American Dream muita gente passou a associar o grupo ao lado mais político.  Qual a diferença de temas entre as letras deste para os demais?

Aaron - Não, para este disco simplesmente estávamos enlouquecidos, todos escrevemos as músicas juntos e tinhamos o mesmo sentimento e o mesmo alvo.  Tivemos alguns problemas, não entre nós mas coisas que envolviam a banda e que detestamos e escrevemos o disco neste clima.  Por isso o disco tem este clima de protesto.  Todas as pequenas coisas que nos incomodavam colocamos nas músicas.

Igualmente foi uma coincidência com a explosão da crise financeira no mundo e nos Estados Unidos?

Hansy - Acho que não...

Aaron - Algumas coisas estavam acontecendo no mesmo momento e que de alguma forma te inspiram mas nenhuma relação direta.

Hansy - Igualmente, para todos os lados utilizam a crise financeira para explorar as pessoas.  Pessoas que tinham bons empregos perderam tudo ou continuam fazendo o mesmo trabalho pela metade dos ganhos que tinham anteriormente mas você tem que aceitar porque é melhor do que estar desempregado.  Daí as empresas descobrem que não necessitam pagar mais se as pessoas fazem por menos.

The American Dream foi lançado há mais de três anos.  Vem algo novo por aí?

Hansy - Estamos tomando um respiro.  Para ser honesto é sobre isto que é o The American Dream.  Acho que estamos frustrados porque a banda se tornou algo que realmente nunca foi e estava fora de nosso controle.

Aaron - Sim, exatamente isto.  Éramos uma banda pequena, onde fazíamos tudo nós mesmo, tipo Do it yourself  e de repente entram umas pessoas no meio da história dizendo que querem te ajudar e não é bem assim, acabamos perdendo o controle de coisas que estávamos acostumados a fazer e ficamos "perdidos".  Agora retomamos o controle da situação e queremos fazer as coisas como tem que ser feito.  Não queremos pressões para lançar isto ou aquilo, quando quisermos um disco novo faremos mas agora mesmo estamos curtindo um tempo "livre".

Hansy - Os últimos dois discos que fizemos tiveram que ser feitos num tempo específico, sair por algo específico, este tipo de disco, este tipo de música, etc. 

Podemos fazer isto mas quando quisermos e não sob pressão.  Se pode começar a compor quando quiser mas sem uma data limite para entregar o trabalho, não é assim que funciona.  Porque dizem que se você não fizer não tem aquele tipo de turnê ou isso e aquilo.  Por este motivo não temos pressa para nada.  Faremos um disco quando sentirmos que temos uma razão para fazê-lo, queremos algo feito por inspiração e não porque tem que ser feito.


O show do Hellfest do anos passado, 2010, foi o primeiro após um longo tempo em inatividade, certo?  Algum motivo em especial?

Hansy -Sim, estivemos seis meses parados.

Aaron - Foram umas férias, nada mais.  Depois do Hellfest iniciamos nossas atividades normais.

Hansy - Sim porque depois de um tempo você já não tem o que fazer e decidimos fazer uns festivais de verão.

Aaron - Ficamos meses sem nos falar, férias total.  Nada de banda, negócios, nada de nada.  Pra dizer a verdade nos encontramos algumas vezes mas, falávamos de guitarras, riffs ou algo gravado mas nada de planos oficiais para a banda.

Hansy - Tivemos um projeto juntos enquanto isso.  Na verdade tudo começou quando nosso baterista saiu da banda anos atrás.  Depois que retornamos com o Walls o projeto ficou de lado, daí quando entramos de "férias" pensamos "Ei! é um bom momento para um disco!".
Então de férias não rolou nada...

Claro que sim, isso é férias pra gente, diversão total (risos). 

Já pensaram em fazer algum álbum conceitual?

Aaron - Não é nosso estilo...

Hansy - Quando não tivermos nada do que nos enfurecer, daí escreveremos algo conceitual.  Daí, com certeza será conceitual enfurecido com alguma coisa (risos).  Também quero dizer que quando falo em estar puto com alguma coisa não queremos que as pessoas pensem que só escrevemos músicas para reclamar das coisas ou que só vemos o lado negativo de tudo.  Mostramos o lado negativo mas pensamos positivamente para tentar melhorar a situação da qual nos queixamos.

Se a banda fosse convidada a fazer parte de uma grande gravadora, aceitaria o convite ou não?

Hansy - Desde o momento que tivéssemos liberdade, realmente não me importaria.  O problema com as grandes é o que comentávamos antes, datas para entregar trabalhos, datas para compromissos, etc.  E uma coisa que aprendemos é que não se faz um bom disco se alguém não se sente criativo para aquilo, não se pode chegar e dizer "queremos um disco" e fazemos, não é assim.
Mas sabemos que as grandes trabalham assim...
Veja os festivais como o Hellfest ou Wacken.  Todas as bandas que estiveram na edição de 2010 estarão de volta em 2012 ou a maioria delas estará. Por que?  porque é assim que funciona o ciclo, daqui a dois anos estarão lançando algo novo e é o momento de retornar.  Gravar, lançar, fazer tudo o que pode em dois anos e fazer outra vez, como uma máquina.

A cenda atual é agradável?
Hansy - Acho que muita coisa cresceu desde os anos 90.  Existem grandes bandas straight edges que atualmente a idéia é muito mais aceita agora e ganhou muito espaço.

Walls of Jericho esteve no Brasil em 2009 e anteriormente também esteve captando imagens para um DVD ou algo assim.  Porque o Brasil foi escolhido?
Aaron - A América do Sul é incrível!  Desde a primeira vez que estivemos lá que ficamos impressionados.  Quando surgiu a idéia de gravar um DVD logo veio na cabeça a América do Sul porque era o ideal.  Porém nunca lançamos nada e por isso toda a história do The American Dream, a coisa estava tão descontrolada que o DVD nunca saiu, perderam parte do material, etc.  Gostaríamos de voltar e ter a oportunidade de refaze-lo.


No Brasil?  Qual a possibilidade da banda retornar ao Brasil?

Hansy - Voltaria hoje mesmo, com certeza.

Aaron - O problema é que nunca aparece alguém com esta pergunta "querem ir ao Brasil?" com as passagens na mão (risos).

Hansy - Iremos com certeza, provavelmente sem disco novo.  Definitivamente não teremos disco para apresentar.

Mas do jeito que as pessoas gostam da banda por lá, com certeza vocês não precisam de um disco novo como motivo para tocar no país...

Aaron - De alguma forma quase me sinto obrigado a oferecer algo novo ao público.  Me sinto mal em ir aos países e apresentar sempre a mesma coisa e não oferecer nada novo, é como se estivesse enganando os outros.  Gosto quando apresento algo novo mas fico feliz de que gostem da gente com o que já temos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Du Baú - Napalm Death Entrevista 2009




Para iniciar, parabéns pelo excelente Time Waits for No Slave. Poderia nos contar um pouco sobre o novo álbum, o título e as letras? O Smear era mais concentrado em temas religiosos, com o Time Waits...?
Barney - Falamos mais em auto-realizações e não atacando a alguma coisa diretamente. Todo mundo, individualmente tem o direito da livre escolha. Seria basicamente dizer...encorajar pessoas a olhar o mundo, a todas as coisas que estão ao redor, entender as coisas simples e sentir-se satisfeitas. Fazer com que as pessoas pensem e apreciem um pouco do que tem a seu redor. Parar de pensar um pouco no materialismo e de 
quanto mais coisas necessito conseguir, algumas pessoas só pensam nas coisas materiais. É tempo de apreciar o que se tem a volta, nada mais.
 
No documentário do DVD Punishment in Capitals você comentou que quando esta em tour não costuma escutar música e prefere ler livros. Algum que tenha influenciado na composição do novo disco?
Barney - Realmente, quando estamos em tour não escuto música, já tenho o suficiente. Com relação aos livros tento não ser influenciado por eles, não os vejo como fonte de inspiração ou que cheguem ao ponto de influenciar na minha maneira de escrever. Algumas pessoas fazem ou já fizeram e não acho legal, acho que não me sentiria original sem utilizar minhas idéias para escrever uma letra. Igualmente não muda minha personalidade o que leio nos livros. Respeito muito as obras das pessoas que escrevem mas nenhum tem uma influência direta em minha vida ou para escrever.
 
Você acredita em conspirações?
Barney - Não de forma direta, acho que acabaria generalizando se digo que acredito em conspirações. Todas as coisas partem de uma individualidade. Acredito por exemplo que os políticos façam coisas ruins e que as pessoas não tem conhecimento? claro que acredito. Algumas pessoas chamam isto de conspirações mas chamo de lógica. Não tenho nenhuma da qual diga exatamente que foi uma grande conspiração até porque quando se levanta a possibilidade de uma se torna tão sensacionalista que perde o senso e não se chega a um resultado. Por exemplo, existe toda esta luta contra o terrorismo mas tenho certeza que estão mais interessados no lucro desta luta do que com uma solução, podemos dizer então que eles mesmos criam estas coisas porém não existem grandes conspirações de forma isolada, não são grandes conspirações, é questão de lógica.
 
No mesmo documentário citado antes, você falou que a banda já passou por duros testes durante estes quase trinta anos. Qual foi a pior experiência que vocês já tiveram com o Napalm e claro, a melhor?
Barney - Acho que tudo o que passamos foi um grande teste. Nos anos noventa por exemplo foi uma década muito ruim para uma banda como a nossa mas não só para o Napalm e sim para a música pesada em geral. Mas seguimos adiante e funcionou, hoje estamos onde estamos e por isso é a melhor experiência.
 
Vejo o Napalm mais como uma variação do hardcore do que outro estilo. Porém, muita gente ainda define a banda como death metal, estas definições sobre a música da banda incomodam? O público varia de acordo com a cidade ou país, algum mais hardcore outros mais metal?
Barney - São influências que temos de ambos estilos. Concordo que o Napalm seja mais uma variação do hardcore, porém temos que concordar que somos tão próximos de um quanto de outro estilo. Não somos uma banda de death metal mas temos grandes influências do gênero, sem dúvidas. Chegamos a um ponto que não nos importa qual definição nos dão, somos o que somos. Não necessariamente existe variação de público em nossos shows. Pessoas criam estas subjeções e não é o caso ter uma variação. O público é sempre misturado, não importa o país ou cidade em que tocamos. Claro que em algumas cidades pode existir um grupo maior relacionado ao metal e outros ao hardcore mas no geral o público é único, não existem divisões.
 
Do mesmo modo que a banda tem seu próprio estilo, muitos dos álbuns tiveram variações bastante latentes. É interessante descobrir que discos mais experimentais e que por vezes receberam alguma crítica negativa tenha exatamente influenciado tanta gente, o Converge por exemplo é uma delas. Podemos considerar que o Napalm estava adiante de seu tempo?
Barney - Sim, poderíamos afirmar que sim sem que isto soe um pouco arrogante. Muita gente que não gostava dos discos naquela época hoje em dia reconhecem o grande valor dos mesmos por diferentes razões. Realmente algumas pessoas comentam que aqueles discos foram uma grande influência, o Converge como você mesmo citou é um destes grupos. Não sou o tipo de pessoa que me preocupo com qual disco foi influente ou não mas ao mesmo tempo fico satisfeito em saber que o que fizemos funcionou de alguma maneira.
 
Bandas de diferentes estilos admiram e respeitam o Napalm, mesmo aquelas que não gostam, respeitam. Daí existem participações especiais nos discos como Jello Biafra, Jamie Jasta ou John Tardy por exemplo. Quando Jamie Jasta participou algumas pessoas criticaram a participação, como a banda vê estas criticas, a imagem de Jasta talvez tenha favorecido as mesmas?
Barney - As críticas não incomodam de maneira geral. Muita gente não conheceu Jasta antes do Hatebreed. Jamie promovia shows hardcore em sua cidade, inclusive os do Napalm Death, antes mesmo do Hatebreed sonhar em ser alguma coisa. Ele apoiava a cena local e não temos dúvidas de sua originalidade no hardcore. As pessoas colocam em dúvida originalidades sem saber ao certo as origens de outras. Talvez este seja o grande problema da cena hardcore, o fato de quem pode ser mais do que o seguinte. Não me sinto mais punk do que ninguém, o melhor é fazer suas escolhas, fazer a coisa certa e não tentar medir forças com alguém. Não tente ser mais elitista, ser mais do que o próximo porque não é assim que funciona. Sou apenas eu mesmo, sem vaidades.
 
Sobre a defesa dos animais que é um dos projetos que vocês apoiam. Aqui na Espanha ainda é comum a matança de touros. Recentemente assisti a um programa que após matar o animal existe uma celebração em praça pública e com direito a orquestra e pessoas bem vestidas para assistir o evento e o touro pendurado em praça pública. Dizem que é uma tradição com mais de 700 anos. Após tantos anos o ser humano ainda não evoluiu o suficiente?
Barney - Exatamente. Tradições não existem em momentos assim, não significam nada. Muitas vezes as tradições são colocadas acima da humanidade e isso não é nem metade do problema. Pessoas não enxergam os erros do passado quando o passado não pôde ser interrompido ou visto como um erro, então o que ou como irão aprender deste erro que eles não consideram errado? Não tenho nenhum problema de falar sobre tradições, que se danem! Na Inglaterra existe uma grande divisão de opiniões sobre tradições. Só por serem tradições não devemos contestá-las? Claro que não devemos ficar calados, isso seria ridículo! Estamos nos esforçando durante anos e anos para descobrir uma maneira de ser mais humanos uns com os outros, então porque não podemos aprender desta maneira? Se você me diz algo sobre touradas ou qualquer outro assunto que envolva touros aqui na Espanha, simplesmente não dou a mínima sobre estas tradições, isso tem que parar! É uma humilhação muito grande para todos deixar um animal numa situação como esta.
 
Algumas pessoas dizem que você e mais conhecido por suas opiniões provocativas do que por sua voz. Após ser um critico explicito da politica Bush, você acha que com a eleição de Obama as coisas podem mudar, ou a simples eleição de um presidente americano não faz nenhum milagre se o sistema mundial continuar o mesmo?
Barney - Sim, a resposta está praticamente junto da pergunta. Obama tem boas intenções, é mais pacífico e diplomático. Se o sistema continuar o mesmo os políticos não irão mudar muita coisa, ou nada. O mundo inteiro deveria mudar seu sistema para surtir algum efeito. Da mesma maneira que está acontecendo agora com a crise financeira. Somente quando algo brutal acontece simultâneamente é que existe uma mudança geral. Talvez mude um dia mas isso acontecerá em centenas de anos, não agora.
 
Em algumas de suas passagens pelo Brasil, você visitou alguma instituição ou algum projeto de defesa dos animais ou direitos humanos, já que é um país com bastantes problemas sociais?
Barney - Visitei em outros países mas por lá nunca, até porque não passei tanto tempo assim no Brasil, só mesmo o tempo para os shows. Gostaria muito de ter esta oportunidade e de visitar uma favela ou um projeto social em alguma comunidade por exemplo, muita gente diz que é perigoso mas não tenho nenhum receio, posso ir tranquilamente. Não sei exatamente como funciona, por isso tenho um comentário limitado sobre esta questão.
 
Seu estilo de vida, vegetariano, nada de drogas e álcool. Estando em tour é difícil manter a alimentação e como cuidar desta tão personalizada voz?
Barney - Tudo é muito típico quando se está em turnê mas não tão típico quando você imagina. Tudo depende do que sua mente diz. Se você é negativo sobre algo, nunca encontrará o que necessita. Se pensar positivo sempre irá encontrar do que se "alimentar". Não é difícil quando se consegue encontrar um equilíbrio, o controle está todo na mente. Não tenho nenhum cuidado especial para minha voz, só pelo fato de não fumar ou beber já ajuda muito, além do que já citei sobre a alimentação e cuidar da boa forma física, tudo reflete na voz.
 
Existem músicas que não podem faltar no setlist como Scum ou Siege of Power por exemplo. Não se torna cansativo saber que muita gente vai aos shows esperando exatamente estas músicas e acaba deixando os novos trabalhos de lado? Existe a possibilidade de algum dia estas músicas ficarem de fora?
Barney - O setlist não muda muito de um show para outro. Tentamos incluir um pedido ou outro mas não podemos ter dois ou três setlist porque ainda assim seriam parecidos e porque já não podemos fugir de algumas músicas como as que você citou por exemplo.

Há alguns anos você participou do Extreme Noise Terror. Algum projeto em mente ou algo que gostaria de fazer fora do Napalm nos dias atuais?
Barney - Não, nenhum projeto no momento. Não me sinto motivado a iniciar algo fora do Napalm Death. No futuro pode ser, mas atualmente não existe possibilidade. Com o Extreme Noise Terror foi legal mas olhando para trás posso dizer que poderia ter ficado melhor de uma forma geral. Se fosse gravado hoje seria diferente, é claro.
Neste momento acabo fazendo uma pergunta ao Mitch Harris que afinava sua guitarra na mesma sala:
 
Por falar em projeto; Max Cavalera comentou que gostaria de contar com sua presença no Cavalera Conspiracy mas você estava ocupado na época. Se o convite fosse refeito?
Aceitaria com muito prazer, seria brutal. Infelizmente estava muito ocupado na época do convite mas hoje em dia poderia acontecer sem problemas.
 
Alguma banda nova que te chama atenção?
Barney - Nenhuma grande banda no momento. Gosto muito Trap Them por exemplo. Fazem meu estilo e tenho muito respeito pelo trabalho deles.
 
Não existe nenhum membro original do Napalm atualmente, porém após tantos anos juntos vocês são mais originais do que os próprios. A banda perdeu Jesse Pintado alguns anos atrás mas foi forte o suficiente de seguir com força total. Porém se um de vocês sai da banda atualmente pode ser o fim? Esperamos que isso não aconteça.
Barney - Para mim é sempre o fato de quem pode fazer coisas boas para a banda. Não é o caso de quem é membro original ou não, seja no Napalm ou fora, falo de uma maneira geral, sobre todas as bandas. É muito remoto falar sobre isto, poderia chegar e dizer que gosto da banda como um trio por exemplo. Não necessariamente porque gosto deste ou daquele membro e sim porque pode-se fazer uma música melhor, é assim que funciona uma banda. Se as pessoas gostam mais dos antigos tudo bem. Se gostam dos últimos lançamentos ou uma mistura de todo, fica tudo em casa, sem problemas. Quando as pessoas dão muita ênfase sobre qual membro isto ou aquilo acaba se tornando algo chato.
Sobre a possibilidade de seguir adiante com outros membros caso alguém saísse acho que sería viável. Depende do que você determina para seguir adiante. Porém, algumas bandas não tem resistência para continuar e anunciam um fim. Fizemos no passado estas trocas de formação e se faremos de novo... é difícil dizer se realmente seguiríamos ou não, depende muito da situação como por exemplo a saida de Jesse.

A banda está perto de completar 3 décadas, algum lançamento especial para esta data?
Barney - Talvez aconteça mas particularmente acho um pouco "farofa" coisas deste tipo. Trinta anos, uau!!! vamos fazer e acontecer (risos). Algumas bandas até fazem coisas legais mas acho que não faremos nada.

Esta tour chega ao Brasil?
Barney - Talvez. Bem, para ser sincero acredito que sim.

Por Mauricio Melo

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Du Baú - Mastodon Entrevista - 2009



1 - Acredito já estarem cansados de tantas tentativas para definir o estilo do Mastodon.  Alguns chamam de Stoner Metal, Math Metal, Prog Metal, Groove Metal, etc, etc.  Com tantas influências do jazz presentes na bateria, uma acústica bem sofisticada e boas hamonias como é o caso de The Mortal Soil.  Em suas palavras, como definir o som do Mastodon?
Brann: É um pouco estranho que fiquem remoendo isto ou que tipo de música se parece, acredito que venha mais por parte da imprensa tentar definir um estilo, simplesmente por dar uma definição.  Então o que posso dizer é que não sabemos exatamente como definir.
Bill: É difícil mesmo encontrar uma definição, então fica assim mesmo, Prog/Rock, Sludge Metal (risos). 
Brann: Poderíamos dizer que é Crusty/Prog ou algo do gênero porque quando as pessoas escutam a definição de progressivo logo o que vem na cabeça são sintetizadores e alguma associação com bandas como Dream Theater por exemplo e não é exatamente isto que fazemos.
 
2 - Ao escutar os discos do Mastodon com mais tranquilidade fica nítida as variações que podem ir de Ozzy (especialmente em Crack the Skye) passando por Alice in Chains e Soundgardem, ainda assim sem perder a pegada hardcore e suja, também caracteristica da banda.  Este lado mais melódico da foi uma tendência natural, uma evolução de acordo com a exigencia do álbum ou alguma influência do produtor?
Bränn: Acabou sendo natural.  Não colocamos nenhuma meta ou maneira de compor, apenas nos reunimos para fazer as músicas e aos poucos fomos evoluindo.
Bill:  Acredito também que tivemos mais tempo para trabalhar neste último álbum.  E definitivamente bons conselhos de Brendan O Brian, quem adicionou bastante coisa e nos ajudou. Ele colocou as coisas bem claras em cima da mesa e nos mostrou direções mais melódicas, é realmente um produtor.
 
3 - Por falar em produtor, o Mastodon trabalhou com o mesmo nos 3 primeiros discos, Matt Bayles.  Porquê a mudança para Brendan O Brian?  Foi uma tentativa de fazer algo mais clássico já que ele trabalhou com bandas mais tradicionais como ACDC e The Black Crowes?
Bränn:  Acho que ele (Brendan O Brian) sempre apresentou uma honestidade sonora com grupos com quem trabalhou e nós queríamos experimentar algo novo e diferente para este quarto trabalho.  Já conheciamos bem o trabalho de Matt Bayles e imaginávamos desde a gravação de Blood Mountain que necessitaríamos de experimentar algo novo, mudar um pouco.  Necessitávamos de um produtor com experiência em rock clássico, estávamos pensando desta maneira.  Não queríamos apenas uma pessoa para apertar o botão de gravar quando tudo já estava pronto.
Bill:  Acho que já produzimos bastante nossa música.  Pegamos as composições e tantamos diferentes maneiras de gravar e dar roupagem as mesmas.  Porém para este disco queríamos alguém ao lado para quando houvesse necessitade pudéssemos contar com esta pessoa.  Como disse Brann não queríamos desta vez apertar o botão de gravar.  Na verdade nunca tínhamos trabalhado com um produtor deste nível.  Tipo conversar antes e debater temas de gravação, procuramos alguém que soubesse o que estava fazendo e encontramos.
Bill:  E como não tínhamos trabalhado antes desta maneira não sabíamos o que iria acontecer.  Matt Bayles é mais um engenheiro de som e não um produtor especificamente.  Com Brendan foi totalmente diferente, ele realmente tem boas idéias e é isso que faz o produtor, apresenta boas idéias.  Além de possuir diversos instrumentos dos quais utilizamos e que deram uma sonoridade diferente neste trabalho e um estúdio bem diferente do que trabalhávamos antes.
 
4 - E quanto tempo durou o processo composição, gravação, etc?
Bränn: Nove meses para escrever, um pouco mais de um mês para gravar.  Não foi difícil, estávamos bem preparados para fazê-lo.
Bill:  Difícil não foi mas trabalhoso, sim.  Não aconteceu da noite para o dia mas realmente estávamos preparados para as gravações.
 
5 - Vocês consideram que esta transformação, a evolução de disco a disco até chegar no nível atual vem sendo lenta ou aconteceu no tempo certo, na medida?
Brann: Sim, não foi uma transformação radical.  Desde Remission até Crack the Skye poderíamos considerar que são trabalhos bem opostos.  Podemos dizer que foi uma transformação gradual.  Passamos 10 anos tocando juntos, levando uma amizade, tentando impressionar uns aos outros escrevendo as músicas e tentando trabalhar melhor nas mesmas.
Bill: Também gostamos de diferentes tipos de música e quando nos juntamos levamos nossas influências e experiêcias pessoias e... tá começando a chover (risos).  Como ia dizendo levamos também experiências pessoais para nossa música.
 
6 - The Last Baron tem 13 minutos, o mesmo podemos dizer com The Czar.  Crack the Skye é um disco ambicioso?
Brann:  Bem... podemos dizer que saiu desta maneira.
Bill:  Acho que as músicas saíram desta maneira mais por experimentos musicais, colocar pressão entre nós mesmos e tentar algo novo, ainda mais nas músicas citadas.  Especialmente as do meio do álbum, foi o melhor ponto para explorar estes experimentos.
Brann:  Depende de como usar a palavra ambição.  Não fizemos o disco pensando nisso especificamente.  Gravamos o que tinhamos vontade, foi um trabalho demorado e uma obra de quase um ano.  Talvez por isso estas duas músicas tenham ficado assim.  É um disco conceitual onde uma história é contada por capítulos.  Podemos dizer que sim, é ambicioso, existe um objetivo a alcançar.
 
7 - O método de gravação para discos conceituais é o mesmo que para discos convencionais?
Brann: Sim é o mesmo, não existe nenhum segredo.  Pelo menos conosco funciona da mesma maneira.
 
8 - O metal americano é conhecido por suas tradicionais bandas como Slayer, Metallica, Testament.  O Mastodon pertence a uma nova geração.  Estão preparados para assumir o posto  banda referência agora ou num futuro bem próximo?
Brann:  Não queremos assumir um posto, estamos construindo nosso próprio caminho.  Estas bandas tem suas respectivas histórias e queremos ter a nossa.
 
9 - Com quatro discos lançados e muito bem recebidos por público e critica.  Quantos mais para estar entre os grandes de forma definitiva?
Bill: Está aí uma pergunta um pouco complicada, seria como prever o futuro.
Brann:  Realmente é difícil prever mas acredito estarmos no caminho certo, continuamos trabalhando e lançando álbuns de maneira honesta e sincera.
 
10 - Já no segundo álbum, recebendo prêmios de revistas como Kerrang, Terrorizer e Revolver como melhor disco do ano foi surpreendente para o grupo?  Igualmente podemos perguntar pelo sucesso the Crack the Skye que vendeu 41 mill na primeira semana ou as vendas deste novo álbum já é um resultado de bons trabalhos anteriores e o público já compra sabendo que ira encontrar algo de qualidade?
Brann: Sim, os prêmios nos pegou de surpresa.  Apesar de ser um bom disco não imaginávamos de receber tal reconhecimento tão rápido e ficamos felizes com isto.  É muito bom ter um trabalho reconhecido desta maneira.  Com relação ao Crack the Skye acho que o público já confia no nosso trabalho mas igualmente ficamos surpresos com a recepção.
 
11 - Os discos Leviathan e Blood Mountain, claro, vieram mais polidos que o Remission  e o terceiro especificamente já lançado pela Warner, o que gerou algum receio entre os fãs.  Houve alguma pressão na troca de gravadora?
Brann: Sim e não.  O terceiro disco veio mais trabalhado do que os anteriores e como falamos antes foi uma evolução musical onde é difícil escapar.  Apesar de mudarmos de gravadora não houve nenhuma pressão.  Desde que chegamos na Warner trabalhamos com a mesma liberdade de antes.
 
12 - Brent parece ser o mentor do grupo apesar de já sabermos que Brann é o principal ou um dos principais compositores da banda.  No entanto Brent foge da posição de líder colocando-se em um posto secundário.  Isso incomoda o grupo ou da mais liberdade de expressão para cada um dos membros?
Bill: Não acho que Brent possa passar esta imagem apesar de já ter escutado isto em outras ocasiões, acho que temos liberdade e igualdade dentro do grupo.
Brann: Existe uma democracia muito grande dentro do Mastodon.  Após alguns anos juntos somos mais um grupo de amigos do que um grupo de músicos que se reúne para tocar.  Acho que não existe uma liderança dentro da banda, todos conversamos, colocamos idéias sobre a mesa e resolvemos juntos.
 
13 - Já pensaram em fazer algma continuação para aguns dos albuns conceituais ou cada um fica como obra única?
Brann: Nunca pensamos nisto antes.  Acredito que não haverão continuações, são obras únicas e definitivas.
 
14 - Brasil?
Brann:  Definitivamente.  Estamos em turnê com o Metallica e Lamb of God e a previsão é estar na América do Sul em 2010 e o Brasil está incluido nesta viagem.
Bill:  Já estamos ansiosos.

Por Mauricio Melo